sexta-feira, maio 30, 2008

Desertificação, arenização


- E nesta foto podemos ver o processo da arenização que está assolando parte da Região da Campanha do Rio Grande do Sul.

- Tu queres dizer desertificação...

- Alguns chamam de desertificação, mas desertificação é um termo mais adequado para regiões de clima árido. Aqui na Região da Campanha, o processo chama-se Arenização, por ser clima úmido.

- Vejo que há uma "cerca" de pinus em volta da área arenosa. Com toda a polêmica em torno destas plantas de crescimento rápido como pinus e eucalipto, no caso da arenização, como chamas, é problema ou solução?

- No caso, aqui o proprietário fez esta plantação de pinus para criar uma barreira ao vento nordeste e amenizar o processo de arenização do solo. Ele tomou a iniciativa sem consultar especialistas. A princípio isto pode deter a arenização, mas em geral pinus e eucalipto são mais problema que solução.

- Por que?

- Em geral, sob estas árvores nenhuma outra planta cresce, e, além disso, elas são grandes consumidoras de água. Plantações extensivas delas podem inclusive prejudicar lençóis freáticos.

- E que tipo de planta poderia deter este fenômeno da arenização, sem prejudicar mais o ambiente?

- Uma boa alternativa são os butiás anões. As raízes do butiá anão fazem com que o solo ao seu redor se sedimente, se solidifique. É uma alternativa sugerida pelo Grupo de Pesquisa da Arenização da UFRGS.

As respostas da minha colega do curso de Geografia pareciam simples e fáceis de serem implementadas. Por que será que tão pouca gente comenta isso?

Marcadores: , , , , ,

Cardeal Martini pede reforma da Igreja

Cardeal Martini pede reforma da Igreja
O influente religioso elogia Lutero, defende o debate sobre o celibato e a ordenação de mulheres e reclama uma abertura do Vaticano em termos de sexo

Juan G. Bedoya
Em Madri


"A Igreja deve ter o valor de se reformar." Essa é a idéia principal do cardeal Carlo Maria Martini (nascido em Turim em 1927), um dos grandes eclesiásticos contemporâneos. Com elogios ao reformador protestante Martinho Lutero, o cardeal pede à Igreja Católica "idéias" para discutir, até a possibilidade de ordenar "viri probati" (homens casados, mas de fé comprovada) e mulheres. Também pede uma encíclica que termine com as proibições da Humanae Vitae, emitida por Paulo 6º em 1968 com severas censuras em matéria de sexo.

O cardeal Martini foi reitor da Universidade Gregoriana de Roma, arcebispo da maior diocese do mundo (Milão) e papável. É jesuíta, publica livros, escreve em jornais e debate com intelectuais. Em 1999 pediu diante do Sínodo de Bispos Europeus a convocação de um novo concílio para concluir as reformas postergadas pelo Vaticano II, realizado em Roma entre 1962 e 1965. Agora volta à atualidade porque se publica na Alemanha (pela editora Herder) o livro "Colóquio Noturnos em Jerusalém", como testamento espiritual do grande pensador. É assinado por Georg Sporschill, também jesuíta.

Sem disfarces, o que Martini pede às autoridades do Vaticano é coragem para reformar-se e mudanças concretas, por exemplo, nas políticas sobre o sexo, um assunto que sempre desata os nervos e as iras dos papas, já que são solteiros.

O celibato, afirma Martini, deve ser uma vocação, porque "talvez nem todos tenham o carisma". Espera também a autorização do preservativo. E nem sequer o assusta um debate sobre o sacerdócio negado às mulheres, porque "encomendar cada vez mais paróquias a um pároco ou importar sacerdotes do estrangeiro não é uma solução". Lembra ao Vaticano que no Novo Testamento havia diaconisas.

Vários jornais europeus divulgaram a publicação de "Colóquios Noturnos em Jerusalém", salientando a exortação do cardeal a não se afastar do concílio Vaticano II e a não ter medo de "confrontar-se com os jovens".

Exatamente sobre o sexo entre jovens, Martini pede para não desperdiçar relações e emoções, aprendendo a conservar o melhor para a união matrimonial. E rompe os tabus de Paulo 6º, João Paulo 2º e o atual papa, Joseph Ratzinger. Diz: "Infelizmente, a encíclica Humanae Vitae teve conseqüências negativas. Paulo 6º evitou de forma consciente o problema para os padres conciliares. Quis assumir a responsabilidade de decidir sobre os anticoncepcionais. Essa solidão na decisão não foi, em longo prazo, uma premissa positiva para tratar dos temas da sexualidade e da família."

O cardeal pede um "novo olhar" para o assunto, 40 anos depois do concílio. Quem dirige a Igreja hoje pode "indicar uma via melhor do que a proposta pela Humanae Vitae", afirma.

Sobre a homossexualidade, o cardeal diz com sutileza: "Entre meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociais. Nunca me pediram, nem teria me ocorrido, condená-los."

Martini aparece no livro com toda a sua personalidade, de uma curiosidade intelectual sem limites. A ponto de reconhecer que quando era bispo perguntava a Deus: "Por que não nos dá idéias melhores? Por que não nos faz mais fortes no amor e mais valentes para enfrentar os problemas atuais? Por que temos tão poucos padres?"

Hoje, aposentado e doente - acaba de deixar Jerusalém, onde vivia dedicado a estudar os textos sagrados, para ser tratado por médicos na Itália -, limita-se a "pedir a Deus" que não o abandone.

Além do elogio a Lutero, o cardeal Martini revela suas dúvidas de fé, lembrando as que teve Teresa de Calcutá. Também fala sobre os riscos que um bispo tem de assumir, referindo-se a sua viagem a uma prisão para falar com militantes do grupo terrorista Brigadas Vermelhas. "Os escutei e roguei por eles e inclusive batizei dois gêmeos filhos de pais terroristas, nascidos durante um julgamento", relata.

"Eu tive problemas com Deus", confessa em determinado momento. Foi por não conseguir entender "por que fez seu filho sofrer na cruz". Acrescenta: "Inclusive quando era bispo algumas vezes não conseguia olhar para o crucifixo porque a dúvida me atormentava". Também não conseguia aceitar a morte. "Deus não poderia tê-la poupado aos homens, depois da de Cristo?" Depois entendeu. "Sem a morte não poderíamos nos entregar a Deus. Manteríamos abertas saídas de segurança. Mas não. É preciso entregar a própria esperança a Deus e crer nele."

De Jerusalém a vida se vê de outra maneira, sobretudo as parafernálias de Roma. É o que conta Martini: "Houve uma época em que eu sonhei com uma Igreja na pobreza e na humildade, que não dependesse das potências deste mundo. Uma Igreja que desse espaço para as pessoas que pensam mais além. Uma Igreja que transmitisse valor, especialmente a quem se sente pequeno ou pecador. Uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Depois dos 75 anos decidi rezar pela Igreja".

Nunca mais o "erro de Galileu"
O cardeal Martini sempre se empenhou em estabelecer um terreno comum de discussão entre leigos e católicos, confrontando também aqueles pontos nos quais não há consenso possível. Com essa intenção abriu um dos debates mais saborosos entre intelectuais contemporâneos, publicado em 1995 na Itália com o título de "In cosa crede qui non crede?" (Em que crêem os que não crêem?). Tratava-se de uma série de cartas trocadas entre o cardeal e o escritor Umberto Eco, sobre temas como quando começa a vida humana, o sacerdócio negado à mulher, a ética, ou como encontrar, o laico, a luz do bem. Um setor da hierarquia católica assistiu à controvérsia com indisfarçável incômodo, mas uma década depois o mesmo cardeal Ratzinger, hoje papa Bento 16, enfrentou um debate semelhante com o filósofo alemão Jürgen Habermas sobre a relação entre fé e razão.

O cardeal Martini lamentou em 1995 que sua Igreja vivesse mergulhada em "desolada resignação sobre o presente". Também admitiu diante de Eco o medo da ciência e do futuro. Então o fez "com tesouros de sutileza", ele mesmo reconheceu. Dava como testemunho a prudência de Tomás de Aquino em semelhantes compromissos, por medo de Roma, que esteve a ponto de castigar quem hoje é um de seus guias mais ilustres.

O cardeal, já aposentado - quer dizer, mais livre do que quando exercia responsabilidades hierárquicas -, se expressa no novo livro com a sutileza que usou no debate com Umberto Eco, mas coloca sobre a mesa pontos de vista surpreendentes para seus pares, como o controle da natalidade e os preservativos. Soam também como chicotadas seus elogios a Martinho Lutero e o desafio a Roma para que empreenda com coragem algumas das reformas que o frade alemão reclamou em seu tempo.

No fundo de suas manifestações de hoje, em que o cardeal às vezes parece angustiado - com um sentimento mais trágico de sua fé -, surge o debate interminável do confronto entre a Igreja de Roma e a ciência e o pensamento moderno. Novamente é um jesuíta quem volta a colocar a discussão, para desgosto do Vaticano. A vantagem de Martini é que não está mais ao alcance de nenhuma pedrada. O também jesuíta George Tyrrell, o erudito tomista irlandês, foi castigado sem contemplações e suspenso de seus sacramentos. Inclusive teve negada sua sepultura em um cemitério católico quando morreu em 1909. Seu pecado: reivindicar, como Martini, o direito de cada época a "adaptar a expressão do cristianismo às certezas contemporâneas, para apaziguar o conflito absolutamente desnecessário entre fé e ciência, que é um mero espantalho teológico."

O que buscam todos esses pensadores católicos é espantar qualquer risco de cometer outra vez o erro de Galileu. É outra exigência do cardeal.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Texto do El País, publicado no UOL.

Marcadores: , , , ,

quinta-feira, maio 29, 2008

Repressão a cristãos na Argélia

Rodrigo Coelho
Da BBC Brasil no Cairo

Argélia: Cristãos convertidos são julgados por pregar religião não-islâmica

Seis cristãos convertidos do islamismo podem ser condenados a até dois anos de prisão e a pagar multas de cerca de US$ 8 mil na Argélia, depois de serem acusados de pregar uma religião não-islâmica sem a aprovação do governo.

Os homens, protestantes, são acusados de distribuir material religioso considerado ilegal. O veredicto deve ser anunciado na próxima terça-feira, dia 3 de junho.

Em um caso paralelo, uma mulher, Habiba Kouider, foi processada por ter sido pega portando exemplares da Bíblia, na cidade de Tiaret, a cerca de 400 km da capital Argel.

Ela é acusada de pregar uma religião sem autorização e pode ser condenada a até três anos de cadeia. Kouider nega a acusação.

Exemplo

Alguns jornais argelinos afirmam que o caso de Kouider seria um exemplo de desrespeito à liberdade de consciência, direito garantido pela Constituição do país, que permite, pelo menos no papel, a prática de outras religiões.

Desde 2006, entretanto, as leis argelinas determinam que congregações não-islâmicas e líderes de outras religiões precisam obter licença do governo para poder pregar suas crenças.

Os advogados das vítimas estão sendo pagos pela organização não-governamental American International Christian Concern.

A porta-voz para a África da organização, Darara Gubo, disse à BBC Brasil acreditar que atualmente existe um movimento crescente de repressão à conversão ao cristianismo em vários países muçulmanos.

“Em diversas nações islâmicas os cristãos estão sendo processados quando usam sua liberdade religiosa e evangelizam muçulmanos. Isso acontece na Argélia, Irã, Arábia Saudita, Jordânia e muitos outros países”, disse ela.

Gubo afirma que a repressão aumentou na Argélia após a exibição de um documentário que mostrava um aumento do número de cristãos no país.

“Isso (o documentário) gerou muita pressão de outros países do Oriente Médio e da África. Eles consideraram vergonhoso que os muçulmanos estivessem se convertendo.”

O governo da Argélia afirma que existem cerca de 11 mil cristãos no país, cuja população é de cerca de 33 milhões. Grupos religiosos cristãos afirmam que o número de fiéis é bem maior.

Da BBC Brasil.

Marcadores: , , ,

quarta-feira, maio 28, 2008

O Último Folheto

Outra colaboração recebida pelo correio eletrônico:

O ÚLTIMO FOLHETO



Todos os domingos à tarde, depois do culto da manhã na igreja, o pastor e seu filho de 11 anos saíam pela cidade e entregavam folhetos evangelísticos.

Numa tarde de domingo, quando chegou à hora do pastor e seu filho saírem pelas ruas com os folhetos, fazia muito frio lá fora e também chovia muito. O menino se agasalhou e disse:

-'Ok, papai, estou pronto. '

E seu pai perguntou:

-'Pronto para quê?'

-'Pai, está na hora de juntarmos os nossos folhetos e sairmos. '

Seu pai respondeu:

-'Filho, está muito frio lá fora e também está chovendo muito. '

O menino olhou para o pai surpreso e perguntou:

-'Mas, pai, as pessoas não vão para o inferno até mesmo em dias de chuva?'

Seu pai respondeu:

-'Filho, eu não vou sair nesse frio. '

Triste, o menino perguntou:

-'Pai, eu posso ir? Por favor!'

Seu pai hesitou por um momento e depois disse:

-'Filho, você pode ir. Aqui estão os folhetos. Tome cuidado, filho. '

-'Obrigado, pai!'

Então ele saiu no meio daquela chuva. Este menino de onze anos caminhou pelas ruas da cidade de porta em porta entregando folhetos evangelísticos a todos que via.

Depois de caminhar por duas horas na chuva, ele estava todo molhado, mas faltava o último folheto. Ele parou na esquina e procurou por alguém para entregar o folheto, mas as ruas estavam totalmente desertas. Então ele se virou em direção à primeira casa que viu e caminhou pela calçada até a porta e tocou a campainha. Ele tocou a campainha, mas ninguém respondeu. Ele tocou de novo, mais uma vez, mas ninguém abriu a porta. Ele esperou, mas não houve resposta.

Finalmente, este soldadinho de onze anos se virou para ir embora, mas algo o deteve. Mais uma vez, ele se virou para a porta, tocou a campainha e bateu na porta bem forte. Ele esperou, alguma coisa o fazia ficar ali na varanda. Ele tocou de novo e desta vez a porta se abriu bem devagar. De pé na porta estava uma senhora idosa com um olhar muito triste. Ela perguntou gentilmente:

-'O que eu posso fazer por você, meu filho?'

Com olhos radiantes e um sorriso que iluminou o mundo dela, este pequeno menino disse:

-'Senhora, me perdoe se eu estou perturbando, mas eu só gostaria de que JESUS A AMA MUITO e eu vim aqui para lhe entregar o meu último folheto que lhe dirá tudo sobre JESUS e seu grande AMOR. '

Então ele entregou o seu último folheto e se virou para ir embora. Ela o chamou e disse:

-'Obrigada, meu filho!!! E que Deus te abençoe!!!'

Bem, na manhã do seguinte domingo na igreja, o Papai Pastor estava no púlpito. Quando o culto começou ele perguntou:

- 'Alguém tem um testemunho ou algo a dizer?'

Lentamente, na última fila da igreja, uma senhora idosa se pôs de pé. Conforme ela começou a falar, um olhar glorioso transparecia em seu rosto.

- 'Ninguém me conhece nesta igreja. Eu nunca estive aqui. Vocês sabem antes do domingo passado eu não era cristã. Meu marido faleceu a algum tempo deixando-me totalmente sozinha neste mundo. No domingo passado, sendo um dia particularmente frio e chuvoso, eu tinha decidido no meu coração que eu chegaria ao fim da linha, eu não tinha mais esperança ou vontade de viver.

Então eu peguei uma corda e uma cadeira e subi as escadas para o sótão da minha casa. Eu amarrei a corda numa madeira no telhado, subi na cadeira e coloquei a outra ponta da corda em volta do meu pescoço. De pé naquela cadeira, tão só e de coração partido, eu estava a ponto de saltar, quando, de repente, o toque da campainha me assustou. Eu pensei:

-'Vou esperar um minuto e quem quer que seja irá embora. '

Eu esperei e esperei, mas a campainha era insistente; depois a pessoa que estava tocando também começou a bater bem forte. Eu pensei:

-'Quem neste mundo pode ser? Ninguém toca a campainha da minha casa ou vem me visitar. '

Eu afrouxei a corda do meu pescoço e segui em direção à porta, enquanto a campainha soava cada vez mais alta.

Quando eu abri a porta e vi quem era, eu mal pude acreditar, pois na minha varanda estava o menino mais radiante e angelical que já vi em minha vida. O seu SORRISO, ah, eu nunca poderia descrevê-lo a vocês! As palavras que saíam da sua boca fizeram com que o meu coração que estava morto há muito tempo SALTASSE PARA A VIDA quando ele exclamou com voz de querubim:

-'Senhora, eu só vim aqui para dizer QUE JESUS A AMA MUITO. '

Então ele me entregou este folheto que eu agora tenho em minhas mãos.

Conforme aquele anjinho desaparecia no frio e na chuva, eu fechei a porta e atenciosamente li cada palavra deste folheto.

Então eu subi para o sótão para pegar a minha corda e a cadeira. Eu não iria precisar mais delas. Vocês vêem - eu agora sou uma FILHA FELIZ DE DEUS!!!

Já que o endereço da sua igreja estava no verso deste folheto, eu vim aqui pessoalmente para dizer OBRIGADO ao anjinho de Deus que no momento certo livrou a minha alma de uma eternidade no inferno. '

Não havia quem não tivesse lágrimas nos olhos na igreja. E quando gritos de louvor e honra ao PAI ecoaram por todo o edifício, o Papai Pastor desceu do púlpito e foi em direção a primeira fila onde o seu anjinho estava sentado. Ele tomou o seu filho nos braços e chorou copiosamente.

Provavelmente nenhuma igreja teve um momento tão glorioso como este e provavelmente este universo nunca viu um pai tão transbordante de amor e honra por causa do seu filho...

Exceto um. Este Pai também permitiu que o Seu Filho viesse a um mundo frio e tenebroso. Ele recebeu o Seu Filho de volta com gozo indescritível, todo o céu gritou louvores e honra ao Rei, o Pai assentou o Seu Filho num trono acima de todo principado e potestade e lhe deu um nome que é acima de todo nome.

Bem aventurados são os olhos que vêem esta mensagem. Não deixe que ela se perca, leia-a de novo e passe-a adiante.

Lembre-se: a mensagem de Deus pode fazer a diferença na vida de alguém próximo a você.

Não tenha medo ou vergonha de compartilhar esta mensagem maravilhosa.

Marcadores: , , , , , , ,

segunda-feira, maio 26, 2008

Desastres Naturais


Neste mês de maio o continente Asiático foi assolado por dois tremendos fenômenos naturais. O ciclone que arrasou Mianmar, e o terremoto que devastou uma província da China.

Não que ciclones, ou tufões, ou terremotos sejam fenômenos raros na Ásia, pelo contrário. Mas muito marcante nestes eventos recentes foi o elevado número de vítimas, que se contam na casa das dezenas de milhares em ambos os países. Milhares de mortos era coisa que eu não me lembrava de ouvir desde um terremoto que assolou a Cidade do México, nos anos 1980.

Em 2005 tivemos o furacão Katrina que destruiu New Orleans. A cidade ficou semi-destruída, os prejuízos materiais foram de milhões, talvez bilhões de dólares, mas o número de mortos foi pequeno.

No caso da China, parece que a província não estava preparada para um terremoto da magnitude do que assolou a região. Quando eu digo “não estava preparada”, quero dizer que parece que as construções nas cidades da província de Sichuan não foram feitas para aguentar grandes terremotos, como, por exemplo, as cidades de Japão, que têm toda uma arquitetura destinada a suportar os recorrentes terremotos que assolam aquele país. De forma, que ruíram os prédios, e os seus habitantes foram vítimas. Dezenas de milhares deles.

Quanto a Mianmar, parece que o governo, tão onipotente na hora de reprimir seus cidadãos, quando estes procuraram por mais democracia tempos atrás, se mostrou bastante incompetente na hora de preparar a população para a tempestade. Além disso parece que está se mostrando incompetente também para levar socorro aos sobreviventes, e providenciar funeral às vítimas.

Dezenas de milhares de vítimas. E eu pensando que isto era coisa do século passado...

Marcadores: , ,

Gente que se vai...


Na sequência dos dias, se foram Zélia Gattai, viúva de Jorge Amado, escritora memorialista. Escreveu um livro cujo título era um oximoro, pelo menos no senso comum, “Anarquistas, Graças a Deus”.Tinha 91 anos. E a notícia saiu sábado retrasado.

O senador Jefferson Peres deixa um lugar vago no Senado Federal. Claro, a vaga propriamente dita será preenchida por seu suplente, mas o seu papel de padrão moral para os demais congressistas vai ser difícil de ser desempenhado por outrem. Sempre que se pensava em políticos honestos no Senado, a gente dizia, tem o Simon e o Jefferson Peres. O Senador Simon, tão veemente quando se trata de denunciar problemas no Governo Federal, nas lides regionais deixava (deixa) de questionar problemas evidentes com seus correligionários. Não sabemos como o Senador Peres lidava com a política regional amazonense, mas no plano nacional sua ausência deverá ser sentida. A notícia de seu passamento foi divulgada sexta-feira passada.

Marcadores: , ,

sábado, maio 17, 2008

Níquel Náusea, by Fernando Gonsales


De certa forma, faz sentido.

Marcadores:

terça-feira, maio 13, 2008

Cascas de Banana

Cascas de banana

RIO DE JANEIRO - A vida é complicada mesmo. Ninguém precisa seguir o lema do finado Chacrinha, a quem se atribui a frase "eu não vim para explicar, vim para complicar", ou "confundir", o que dá na mesma. A vida se confunde e complica por si mesma, sem necessidade de apelos e palavras de ordem.
Guimarães Rosa, tal como o Abelardo Barbosa, que gostava de afirmações definitivas, dizia que "viver é muito perigoso". Com o devido respeito ao criador de "Sagarana", e igualmente ao homem da Buzina, prefiro a complicação ao perigo do Rosa e à confusão do Chacrinha.
Podia dar exemplos sobre a complicação humana, exemplos atuais -o tarado austríaco, os travestis do Ronaldo. Mas prefiro contar a história daquele eremita que se retirou da vida profana e passou a viver junto a um pequeno rio. Comia todos os dias uma banana e jogava a casca no rio. Num momento de fraqueza, em sua prece matutina, reclamou do Senhor da vida que levava, comendo banana todos os dias.
Após muito meditar e invocar santo Antão, padroeiro dos eremitas, tomou a decisão que lhe aparecia como a melhor. Resolveu mudar de lugar, seguindo sempre o curso do mesmo rio, até que encontrou, quilômetros à frente, um outro eremita, que comia todos os dias as cascas de banana que ele jogava fora. Não se tratava de um campeonato para ver quem era mais asceta do que o outro. De alguma forma, os dois se bastavam com o que tinham: o primeiro com a banana, o segundo com as cascas da banana.
O encontro trouxe uma complicação inesperada para os dois eremitas que haviam decidido levar uma vida sem complicações.
Voltaram à cidade e encararam a vida com mais humildade, fazendo parte da complicação geral, ampliando-a com uma quitanda, onde vendiam bananas sem casca e cascas sem banana.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 6 de maio de 2008.

Marcadores:

segunda-feira, maio 12, 2008

Campeão Mundial Sub-15

Eu soube pelo saite Comunique-se, na semana passada que Internacional e Fluminense iriam decidir a final da fase brasileira da Copa Nike Sub-15. O vencedor seria campeão da fase brasileira e iria disputar a fase mundial desta Copa Nike.
Foi nesta Copa Nike que o Internacional se sagrou Campeão Mundial Sub-15, no ano 2000. Por alguns anos, este era o título mundial que os colorados tinham para opor aos gremistas. Embora houvesse mais um. Um campeonato mundial de futebol de salão, conseguido em parceria com a Ulbra, a Universidade Luterana do Brasil. Contudo, o departamento de futebol de salão foi posteriormente fechado.
A partir de 2006, o Internacional finalmente conseguiu alcançar os títulos internacionais. A Libertadores da América, com gosto de final de Campeonato Brasileiro, ganha em cima do São Paulo. O Mundial Interclubes, ganho em cima do milionário Barcelona da Espanha. Campeões Mundiais então. Tal e qual, ou talvez até em posição mais vantajosa que, o rival.
Ah sim. A garotada do Internacional perdeu para a do Fluminense nos pênaltis. 5 a 4, após um empate sem gols no tempo regulamentar. A notícia está no saite do Inter.

Marcadores: , , ,

sábado, maio 10, 2008

Juan Gelman

De pé contra a morte

SÃO PAULO - Juan Gelman recebeu anteontem, na Espanha, o prêmio Cervantes. Pena que, no Brasil, poucos conheçam esse poeta e jornalista argentino, 78 anos, uma extraordinária figura humana. Gelman teve a penosa honra de ter sido condenado à morte duas vezes, por entidades opostas, aliás.
Em ambos os casos, por olhar para os fatos e dizer que os fatos eram como eram.
Primeiro, pela ditadura argentina do período 1976/83. Acusava-a de praticar um autêntico genocídio, do qual foi vítima direta. Seu filho e sua nora "desapareceram" (foram seqüestrados e mortos). Sua neta, nascida durante o cativeiro dos pais, também esteve desaparecida até que o avô conseguiu resgatá-la.
Depois, foi condenado à morte pelo grupo "montoneros", a que pertenceu. Por dizer que a luta armada a que se dedicavam estava perdida -e estava.
O exílio (no México) impediu, provavelmente, que ambas as sentenças fossem executadas, para o bem de quem acredita na vida, na vida civilizada, quero dizer.
Ao receber o prêmio, Gelman fez um comício contra apagar-se o passado. "Dizem que não há que remover o passado, que não há que ter olhos na nuca, que é preciso olhar para a frente e não encarniçar-se em abrir velhas feridas. (...) As feridas não estão fechadas. Latejam no subsolo da sociedade como um câncer sem sossego. Seu único tratamento é a verdade. E, em seguida, a justiça. Só assim é possível o olvido verdadeiro."
Mas a melhor parte do discurso foi a defesa da poesia, "nestes tempos de penúria". Perguntou, citando o poeta alemão Friedrich Hölderlin (1770-1843), para que serve a poesia, "em um mundo em que a cada três segundos e meio morre uma criança de menos de cinco anos de enfermidades curáveis, de fome, de pobreza?". Respondeu: "Aí entra a poesia: de pé contra a morte".

Texto de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo, de 25 de abril de 2008.

Marcadores: , , ,

Mais Níquel Náusea



By Fernando Gonsales, na Folha de São Paulo.

Marcadores: ,

História Contrafactual

História contrafactual

DOIS PODEROSOS símbolos históricos brasileiros estavam em exibição nesta semana, ou deveriam estar. Em resumo, "Tiradentes", de um lado, e "1808", do outro.
Trata-se de mitologias em certa medida inventadas: o mito cultivado pela Velha República, no século 19, em torno do alferes Joaquim José da Silva Xavier, ante a nova mitologia que vem emergindo com a reabilitação do príncipe herdeiro dom João no bicentenário de sua chegada ao Rio de Janeiro a fim de estabelecer uma corte européia transoceânica em solo brasileiro.
Os mineiros modernos fazem tudo o que podem a cada Dia de Tiradentes, como fizeram na segunda-feira, para fazer da solene lembrança de aspirações tragicamente abortadas de independência, república progressista e constitucional e soberania nacional -defendidas por Tiradentes e seus colegas de conspiração em 1789- um circo político paroquiano. Os cariocas, enquanto isso, fizeram da celebração do 1808 uma desculpa para "re-portuguesar" a historiografia do período e celebrar todas as coisas que Tiradentes havia tentado rejeitar e repudiar: monarquia, deferência e sujeição às preocupações e envolvimentos europeus.
Estranhamente, não sabemos que aparência tinha Tiradentes. Os fragmentos de documentação que sobrevivem do século 18 indicam, porém, que era carismático, persuasivo, contencioso, inimigo das convenções e corajoso. Para "1808", por outro lado, temos um rosto definido com muita clareza em múltiplos retratos: o príncipe regente, dom João, era certamente desprovido de carisma, cronicamente indeciso, muito acomodado e excessivamente gordo e feio.
Mas um desses homens, Tiradentes, fracassou, enquanto o outro, dom João, apesar de toda a sua indecisão, agiu quando era necessário agir e tomou a extraordinária medida de transferir a corte portuguesa ao Brasil -onde ele estaria seguro contra as ameaças de Napoleão e do exército deste, bem como mais independente da Grã-Bretanha e de sua poderosa marinha. Tiradentes tentou mudar a história; dom João conseguiu.
As conseqüências desse fracasso e desse sucesso, sem dúvida, ajudaram a fazer do Brasil o que ele é. O legado de dom João envolvia continuidade, autoridade, centralismo, burocracia e unidade territorial. O caminho da rebelião, democracia, federalismo e cidadania participativa que Tiradentes propunha não foi seguido.
Será que o Brasil teria se saído melhor caso Tiradentes tivesse triunfado? É impossível dizer. Mas certamente teria sido diferente.

Texto de Kenneth Maxwell, com tradução de Paulo Migliacci, na Folha de São Paulo, de 24 de abril de 2008 (para assinantes).

Marcadores: , ,

Mudanças Radicais

Mudanças radicais

RIO DE JANEIRO - Muita gente não sabe -nem precisa saber-, mas, nos primeiros tempos da Revolução de 30, que acabou com a República Velha e iniciou a nova, foi publicado no "Diário Oficial"" um decreto cuja transcendência revelou o ânimo revolucionário daquele movimento.
Por ato do chefe do governo então provisório, que provisoriamente ficaria no poder por 15 anos, o nome da Escola Naval de Guerra foi mudado para Escola de Guerra Naval.
Depois de 30, tivemos outras tentativas de revolução, inclusive a de 1964, que mudou o nome do próprio país. Éramos então os Estados Unidos do Brasil, e passamos a ser República Federativa do Brasil. Ignoro se a mudança do nome alterou alguma coisa no desempenho nacional, mas, para mim, pessoalmente, valeu uma crise profissional que me obrigou a pedir demissão do jornal em que trabalhava.
Deu-se que os comandos militares anunciavam um novo ato institucional, que seria o segundo da série, até chegar ao quinto, em dezembro de 1968. Havia muita especulação sobre o seu conteúdo, e eu tive a péssima idéia de imaginar como seria o novo instrumento legal que nos regeria dali por diante. Em seu artigo primeiro, declarei que "Os Estados Unidos do Brasil, a partir desta data, será o Brasil dos Estados Unidos".
Bem ou mal, eu estava no clima revolucionário que dominava a nação. Mudando nomes, muda-se alguma coisa. Lembro um esplêndido bife que comi, certa vez, num restaurante suspeito de Paris, freqüentado por aquilo que o dono chamava de "damas da noite". Teria efeitos afrodisíacos e tinha o nome de "Filé ao molho Pompadour".
Anos depois, fui convidado a cear num convento perto de Perúgia. Ali as freiras me serviram o mesmo bife, mas com o nome de "Filé ao molho Santa Terezinha".

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 24 de abril de 2008 (para assinantes).

Marcadores: ,

quarta-feira, maio 07, 2008

Chico Bacon, by Caco Galhardo

terça-feira, maio 06, 2008

Internacional 8 x 1 Juventude, Internacional Campeão Gaúcho de Futebol 2008

Fazia algum tempo que este blogue não tocava no assunto futebol.

Ontem foi a final do Campeonato Gaúcho de Futebol 2008, e o meu time, o Inter, sagrou-se campeão, com uma vitória arrasadora sobre o Juventude.

Curioso é que eu estava receoso do que pudesse acontecer ontem. A situação me lembrava o Campeonato Gaúcho de 1998, onde os mesmos times se defrontaram e o Juventude levou a taça para Caxias do Sul, o que valeu a demissão do então técnico colorado Celso Roth.

Como em 1998, o Internacional precisava vencer no Beira-Rio, e, se não me falha a memória, em 1998 a situação do Inter era mais fácil do que ontem. O time precisava de uma vitória simples para ser campeão. Ontem o Inter precisava vencer por diferença de dois gols.

De quebra, o Juventude tem fama de ser “touca” para o Internacional. Não bastasse esta vitória em 1998, no ano seguinte, 1999, o Juventude meteu uma goleada de 4 a 0 no Inter, em pleno estádio Beira-Rio, e desclassificou o Inter na Copa do Brasil daquele ano (naquele ano de 1999 o Juventude acabaria por se tornar Campeão da Copa do Brasil ao vencer o Botafogo do Rio de Janeiro, na partida final). Nós, colorados, costumamos dizer que o Juventude endurece com o Inter, e amolece com o Grêmio, rival porto-alegrense.

Mas este foi um ano diferente. Para começar, na semi-final, o Juventude despachou o Grêmio. E, por incrível que pareça, em pleno estádio Olímpico, depois de ter perdido em Caxias do Sul.

Quando da primeira partida da decisão do Campeonato, o Juventude venceu com um gol feito aos 48 minutos do segundo tempo, numa falha do Fernandão.

Com o meu receio, eu nem fui para a frente da TV para acompanhar o jogo. Fiquei escutando o rádio. Lá pela metade do primeiro tempo, veio o primeiro gol do Inter. Em seguida, novo gol. E antes do intervalo, ainda viriam mais dois. Parecia que estava morta a cobra, pelada a coruja.

Não estava. No início do segundo tempo de jogo, mais dois gols. O placar já era de 6 a 0. Um placar impressionante.

O Juventude teria seu gol de honra, feito pelo zagueiro Índio, do Internacional, marcando contra. Mas antes que a partida terminasse, ainda haveria mais dois gols do Inter, sendo o último feito pelo goleiro do Inter, o Clemer, batendo pênalti, aos 45 minutos.

Placar final: Internacional 8, Juventude 1. Um massacre. Um placar para ficar na história, e que dificilmente será repetido em qualquer final de qualquer campeonato.

Internacional de Porto Alegre Campeão Gaúcho. Pela 38ª vez!


Marcadores: , ,

Vencido pela Internet

Quem conhece a Internet, “A Grande Rede”, sabe que ela é um manancial infinito de informações de todo tipo, inclusive aquelas que talvez não devessem estar tão acessíveis (como a técnica para produzir bombas, por exemplo). Tudo está lá, informação em escala astronômica, muito além da dimensão humana.

Apesar disso, eu costumava achar que eu tinha uma boa relação com A Rede, procurando os assuntos que me interessavam e acessando-os mais ou menos regularmente.

Nos últimos anos, tem-se falado numa “Web 2.0”, que seria a introdução de uma série de ferramentas para que os seres humanos pudessem interagir mais com A Rede. Algumas dessas ferramentas seriam as redes sociais, da qual a mais famosa e utilizada no Brasil é o Orkut, mas também o MySpace, ou o Facebook. Outra seriam os saites para compartilhamento de vídeo como o You Tube, ou o Daily Motion. Haveria ainda os saites para compartilhamento de fotografias, como o Flickr. E talvez, a ferramente primordial, o blog, ou blogue aportuguesado, que vem de “weblog”, ou seja, registro na Internet, que começou a se popularizar como diário de adolescentes de qualquer idade nA Rede, mas que logo foi adaptado para publicação de todo tipo de conteúdo, inclusive este “meta-conteúdo” que você está lendo aqui.

Para acompanhar a produção de tanta gente publicando tantos conteúdos diferentes, surgiram os “feeds” e o “rss”, mecanismos para que o leitor interessado possa acompanhar quando alguém publicou conteúdo novo em um blogue, ou resolveu compartilhar uma nova foto nA Rede. Estes feeds / rss's são acompanhados por softwares especializados que informam quando um novo conteúdo está disponível. Eu, por exemplo, utilizo o Google Reader, disponibilizado pelo Google, que me permite ler meus “feeds” em qualquer computador ligado à Internet.

Eu devo assinar o conteúdo de uns 50 blogs. Apenas isso me tornou um homem vencido pela Internet. Já não consigo acompanhar a publicação dos blogs que assino, nem consigo ver muitos dos imeils que chegam à minha caixa postal eletrônica. A avalanche de informações que eu mesmo tentei me impor para acompanhar me soterrou.


Marcadores: , ,

Vantagens de um monoglota

Vantagens de um monoglota

ROBERTO MUYLAERT

Por ser monoglota, o presidente Lula está sempre à vontade, em qualquer entrevista que enfrente, nos diversos países que visita

EXISTEM PALAVRAS corriqueiras em francês que ajudam a definir o status internacional de um brasileiro, mesmo que ele não domine o idioma gaulês. Em certas camadas sociais são bem conhecidas, e quase obrigatórias, expressões como "noblesse oblige", "à propos", "faute de mieux". E não é que noutro dia o presidente Lula soltou um garboso "en passant"? Seguido por um comentário dele mesmo: "Nada mal para quem há algum tempo dizia "menas gente'".
Enquanto nos regozijamos com o seu vocabulário internacional enriquecido, devemos lembrá-lo, sem ironia, de que uma das vantagens que ele leva como presidente do Brasil é o fato de ser um monoglota convicto, que ganhou o mundo sem se preocupar em falar outro idioma. E sem complexo de inferioridade por não ser poliglota, característica que comunga com os norte-americanos.
Nesse quesito, eles são insuperáveis. Conheci um dirigente de filial de uma multinacional americana situada no Brasil que, depois de cinco anos vivendo por aqui, continuava fazendo seus discursos em inglês. O divertido é que ele fazia questão de terminar a fala com um sonoro "obrigado", pronunciado com certa dificuldade, após o que abria o sorriso da vitória, como a dizer: "Não passei incólume pelo idioma do país que me acolheu tão bem nos últimos cinco anos".
É sábio o protocolo que manda cada presidente se expressar em sua própria língua, condição de igualdade garantida pelos intérpretes, para a comunicação entre líderes de países soberanos.
Das cordas vocais de Lula saem, mundo afora, vocábulos pronunciados na nossa língua portuguesa, para que as altas patentes de governos estrangeiros comecem a se acostumar, desde já, com o som do idioma de um país que, segundo "The Economist", poderá ser uma superpotência de petróleo, assim como é gigante agrícola.
Por falar em poliglota, não há nada mais extenuante para quem tem bom domínio de um idioma estrangeiro do que entrar numa longa reunião de alto nível, no exterior, com grandes interesses em jogo, tendo de desenvolver um raciocínio complexo em outra língua, com o esforço adicional e simultâneo de encontrar as palavras exatas, no momento certo, para expor suas idéias. Em tal situação, a inteligência aparente do indivíduo baixa de 20% a 30% em relação a quem debate em seu próprio idioma.
Nesse quesito, os brasileiros são campeões do servilismo idiomático, estando sempre prontos a tentar falar a língua alheia, mesmo sem conhecê-la direito. Já vi um brasileiro na Disney (EUA) mostrando erudição à moça que recolhia seus ingressos: "Parla espanhol?".
Eu mesmo me flagrei, quando estive na China, tentando dialogar com um habitante local, amável monoglota lá da língua deles. Ele sorria e me oferecia chá o tempo todo. Colonizado, tentei me entender com ele em inglês, que se mostrou tão ineficaz, como instrumento de comunicação, como se eu tivesse usado a minha própria língua em primeiro lugar.
Tenho um tio que implica com quem conhece muitos idiomas, segundo ele, cultura de "porteiro de hotel". O que ele prestigia é o português bem falado, indignando-se com a desnecessária e deselegante sucessão de gerúndios com que somos contemplados diariamente. Em especial nos serviços de telemarketing e no atendimento das companhias telefônicas e de TV por assinatura.
Situa-se ali o ninho da serpente dos gerúndios inúteis, pronunciados pelas "gerundivas", funcionárias que atendem ao telefone dessas empresas. Durante a infindável espera para ser atendido, uma gravação assegura que "sua ligação é muito importante para nós", "malgré tout".
Brasileiro achava que falava castelhano, até acontecer aquele discurso pronunciado na língua de Cervantes, num país hispânico, em insólita prosódia com sotaque maranhense, pelo então presidente Sarney, para estupefação de hispânicos e lusófonos. Por ser monoglota, o presidente Lula está sempre à vontade, em qualquer entrevista que enfrente, nos diversos países que visita. Fernando Henrique Cardoso, embora nascido "la bas", como eles dizem, brilhou na Assembléia Nacional Francesa falando no idioma pátrio deles. Mas, durante o solene discurso, deve ter ficado com as mãos frias.
E não se diga que há compatriotas que falam tão bem a língua dos outros que podem debater no idioma deles de igual para igual. Não é verdade: quem fala como eles pensa como eles.


ROBERTO MUYLAERT, 73, é jornalista, editor e escritor. Foi presidente da TV Cultura de São Paulo de 1986 a 1995 e ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (governo FHC).

Marcadores: ,

Das Crônicas do Heuser: Sobe!

Sobe!

Por Paulo Heuser

O Zé chegava em casa, no típico fim de dia. Desviou dos cocôs de cachorro, no passeio, sorriu para o porteiro, verificou a caixa de correio e entrou no elevador. Quando pressionou o botão do quinto andar, a luz acendeu, e logo apagou. - Droga de elevador - pensou ele. Nova tentativa, mesmo resultado. A luz vermelha acendia, para apagar em seguida. Praguejando, ele insistiu. Ficou apertando o botão, até que o elevador entendeu sua intenção de subir. Com a luz do botão apagada, que fosse. O elevador finalmente se moveu. Cinco andares não era muito. Zé acompanhou indiferente a mudança dos números no indicador do andar. Dois, três, quatro, seis... Naquele catatonismo pós-expediente, ele não percebeu imediatamente a ausência do cinco. Percebeu que algo não estava certo quando o indicador virou no dez. Havia apenas nove andares no prédio. – Droga de manutenção! – exclamou. Quando o mostrador indicou a passagem do nonagésimo nono andar, a luz vermelha do alarme de perigo acendeu na cabeça do Zé. Pensando melhor, não era apenas o indicador que parecia errado, pois o tempo de percurso estava anormalmente longo. Aqueles segundos, ele não sabia exatamente quantos, transformavam-se em longos minutos, sem perspectiva de um fim próximo.

Zé tentou ligar para o porteiro, a partir do celular. Recebeu um indicativo de ausência de sinal, enquanto o mostrador indicava que haviam ultrapassado o nongentésimo andar. Resignado, ele pressionou o botão de alarme. Ouviu apenas o som de uma sirene muito distante, que se afastava cada vez mais. O mostrador passou a exibir 1k, quando passaram pelo nongentésimo nonagésimo nono andar. – Finalmente parou – pensou ele, pois os números indicados pararam de crescer. Aquele 1k ficou estático. Por algum tempo, até que mudou para 1,1k. Não havia parado. Apenas mudou a escala, medindo de mil em mil andares. Zé dormiu encolhido no canto do elevador, tiritando de frio.

O mostrador não indicava andar nenhum, quando a porta do elevador se abriu. – Consertaram esta droga! – pensou Zé, enquanto tentava adaptar os olhos àquela luz muito intensa, do lado de fora, onde um dos vultos dizia:

- Outro, chegou outro!

- Como é que este veio? – perguntou o segundo vulto ao primeiro.

- De elevador...

- De elevador? Mas, como?

- Deu problema no quinto andar e alguém se esqueceu de tirar a ponte. Veio direto.

- Menos mal, há como mandá-lo de volta. Ainda bem que este não veio de balões de aniversário!

- Desce!

prheuser@gmail.com

www.pauloheuser.blogspot.com

www.sulmix.com.br

Marcadores: ,

Quadlog, by Laerte