sábado, fevereiro 28, 2009

Revolutionary Road, ou Foi Apenas um Sonho, ou ainda Queria Ser Katarina Peixoto

Revolutionary Road, ou Foi Apenas um Sonho, ou ainda Queria Ser Katarina Peixoto


Katarina Peixoto acredito que seja filósofa, e a conheci (conheci?) pelo blog dela, o Palestina do Espetáculo Triunfante , pelo qual ela fazia análises bem interessantes sobre diversos temas, muitas vezes seu alvo eram os filmes, o cinema. Infelizmente o Palestina do Espetáculo Triunfante tem estado inativo desde de junho de 2008. A referência a ela é que quando vou escrever sobre uma história que me causou grande impacto, como foi o caso de Revolutionary Road, também fico me perguntando o que diria Katarina Peixoto, e se conseguirei, ou conseguiria, criar comentários sofisticados e eruditos como os que ela criava.

Revolutionary Road, ou Foi Apenas um Sonho, na tradução pobre feita para o público brasileiro, é um filme do diretor britânico Sam Mendes, mais uma vez sobre a vida nos subúrbios dos Estados Unidos, ou sobre parte da classe média americana. Estrelam o filme Leonardo di Caprio e Kate Winslet, o casal que cerca de dez anos atrás estrelou a superprodução Titanic. Apesar do mesmo casal de atores, não há Titanic aqui. A história se passa no estado de Connecticut, em 1955. É um drama denso e contido.

A cena inicial do filme é uma festa, e nela estão April (Kate Winslet), que acabará por se tornar a Sra. Wheeler, e Frank (di Caprio). Nesta cena inicial April diz que quer se tornar atriz, enquanto Frank revela não saber o que quer da vida. Muda a cena, e vemos April com olhar abatido, no encerramento de uma peça teatral. Aparentemente a atuação de April não foi convincente, e a peça não foi um sucesso. Frank assistiu a peça e foi buscar April para levá-la para casa. Mas o fracasso da peça gera uma discussão entre eles no caminho de volta. Esta discussão não é apenas uma discussão, é um sintoma da aparente falta de sentido em que a vida do casal se transformou, apesar da boa casa no subúrbio e da razoável vida que levam.
April Wheeler na verdade está sufocada pela vida medíocre que se podia levar nos subúrbios norte-americanos na década de 1950. Vida esta bem exemplificada na chegada de Frank à estação central de onde ele se dirige para o seu local de trabalho, em Connecticut. Na cena, uma massa de homens descem dos trens, todos com ternos cinzas, azuis, pretos, todos em tons pastel, todos com os mesmos tipos de chapéu.

April gostaria de sair dali. Fugir da vida medíocre, sem sentido, comum, como dizem os personagens em determinado ponto do filme, da vida vazia e sem esperanças que há no subúrbio. Coloca suas esperanças numa mudança de ares, numa mudança, ir para a Europa, ou sair do subúrbio. O marido aparentemente concorda, mas uma nova gravidez, não prevista e indesejada, e uma oferta de melhoria de emprego para Frank vem barrar esta saída. Sem contar o "pacto da mediocridade" lutando contra o projeto de sonho de April. Sejam os vizinhos, sejam os colegas de trabalho de Frank, todos afirmam que o projeto é infantil, apressado, impensado...

E se pensamos que o diretor é Sam Mendes, podemos nos lembrar do outro filme dele sobre o subúrbio americano, Beleza Americana ("American Beauty"), de dez anos atrás. Lá é também a vida medíocre do subúrbio que é retratada. Lá seus vizinhos podem estar conspirando contra você, mesmo que eles não façam isso por um mal deliberado. E também lá, é um personagem desajustado que é o aparente ser equilibrado do lugar. Em Beleza Americana é um adolescente que faz tráfico miúdo de drogas ilícitas.

Em Revolutionary Road, somos apresentados a John Givings (Michael Shannon), o filho da corretora de imóveis Helen Givings, um matemático que sofreu um colapso nervoso, e por isso acabou internado em um manicômio, onde foi submetido inclusive a tratamento de choques elétricos. A Sra. Givings foi quem vendeu a casa aos Wheelers, e estabeleceu relações de amizade com April. Ela pede a April que o casal possa se encontrar com John. Isto poderia ser um bom estímulo para ele tentar retomar uma vida normal.

Colocado a par do projeto da viagem, John apóia o casal, embora ressalte que não deveria ser necessário eles irem tão longe para encontrarem esperanças e sentido para as vidas deles. Quando os empecilhos aparecem, John se revolta contra a reviravolta do casal. É ele quem coloca algum realismo no sistema de aparências da vida suburbana. Eis novamente, o desajustado como sinal de equilíbrio.

Há mais. Haveria mais a ser dito. O que eu disse sobre o filme, para mim já é suficiente. Quais os limites para os nossos sonhos? São "apenas sonhos" como na tradução pobre, ou são ilusões? Que sentido pode ter a vida de uma família aparentemente comum? Há de se buscar um sentido? O filme de Sam Mendes não veio para dar respostas, só tornar mais claras as interrogações. Questionar. Se deve esperar mais do que isto de filmes?

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sexta-feira, fevereiro 27, 2009

O caos informativo em perspectiva

O caos informativo em perspectiva

Carlos Castilhos

A questão do caos informativo mereceu comentários de vários leitores do post anterior. Como se trata de um tema complexo vale a pena aprofundar a troca de idéias, porque ele já está afetando a nossa forma de perceber o noticiário da imprensa, como mostrou o caso Paula.

A palavra caos ganhou uma conotação negativa ao longo dos últimos anos ao ser associada a confusão, desorientação e desordem num contexto onde a ordem e a disciplina eram conceitos acima de qualquer dúvida.


Mas no ambiente atual, marcado pela transição da era analógica para a digital (não apenas na TV), a expressão está associada cada vez mais à idéia de complexidade e ausência de consenso. É justamente esta percepção que um número crescente de consumidores de informações começa a ter ao ler o noticiário sobre a crise econômica, por exemplo.


A cada dia surgem versões novas e geralmente contraditórias. Notícias otimistas se alternam com as pessimistas. O que parecia certo num momento deixa de sê-lo no seguinte, devido ao surgimento de um dado mais recente. Este fenômeno não é novo. O inédito é a sua intensidade e complexidade. Daí a nossa sensação de perplexidade e desorientação.


Tudo isto acontece porque a internet e a digitalização eletrônica geraram uma avalancha de informações depois que ficou muito fácil e barato publicar dados, notícias e fatos na Web. Os dados desta avalancha impressionam:


a) Estima-se que, só em 2008, foram publicados na Web documentos que dariam para encher 70 mil novas Bibliotecas do Congresso norte-americano, a maior do mundo, com um acervo (em 2002) de 17 milhões de livros;

b) Outra estimativa, garante que no ano passado, o total de documentos novos digitalizados na Web dividido pelos 6,76 bilhões de habitantes do planeta (em março de 2009) daria para cada ser humano uma pilha de livros de 32 metros de altura (um edifício de nove andares)[1]


Estes números impactam não apenas pelo seu significado atual mas principalmente porque eles tendem a crescer, na medida em que a internet está em ampliação contínua. Com base nisso fica fácil perceber que a complexidade informativa tende também a aumentar.


A base deste aumento de complexidade está num raciocínio matemático simples: quanto mais pessoas ingressarem na rede produzindo informações, mais complexa ela se torna. Uma rede de cinco pessoas tem 10 conexões informativas possíveis. Uma rede de 10 pessoas, passa a ter 45 conexões. E se o conjunto subir para 15 membros, eles passam a ter 105 conexões possíveis, como vocês podem ver no gráfico.[2]

A complexidade da rede aumenta de forma muito mais rápida que o número de participantes. Se levarmos em conta que estas conexões são basicamente informações sendo passadas de uma pessoa para outra, dá para ter uma idéia aproximada do que é este tal de caos informativo, já que cada pessoa tem uma percepção diferente porque sua forma de captar a realidade depende de fatores como perfil psicológico, experiência de vida, estado emocional no momento da ação, interesses em jogo, grau de educação etc.


O gráfico com 15 pessoas em rede já é complexo. Imagine-se se formos tentar desenhar um com quase um bilhão de internautas, o número aproximado de pessoas com acesso à internet em todo mundo, hoje. Neste contexto, a palavra caos ganha outra percepção. Não se trata mais de desordem, mas de uma situação complexa diante da qual não adianta fechar os olhos e tentar esquecê-la. É o nosso desafio atual tentar descobrir como conviver com ela.


[1] Estimativas calculadas com base nos dados publicados em 2003, pelo estudo How Much Information, da Escola de Sistemas e Gerência da Informação, da Universidade da Califórnia (Berkeley).

[2] Imagem reproduzida do livro Here Comes Everybody, de Clay Shirky, página 27 .


Texto original do Observatório da Imprensa.

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quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Fim de férias.

Mas foi possível responder todos os comentários atrasados, tanto deste blog, quanto do Ainda a Mosca Azul. Claro que para aqueles comentários que eu achei que havia algo a responder. Se algum comentarista estava desapontado com o silêncio do blogueiro, pode conferir, se é que se lembra quando e em qual nota fez o comentário.

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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Fevereiro de 2009

Blogueiro em férias!...

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