segunda-feira, abril 27, 2009

Sociedade unha-de-fome

Sociedade unha-de-fome

Em "A Vida Que Você Pode Salvar", o filósofo Peter Singer diz que indivíduos deveriam fazer mais doações para tirar o mundo da pobreza

DWIGHT GARNER

Você é uma boa pessoa? Seria possível responder que tudo depende de como se define a palavra "boa". Em um mundo de demônios facilmente identificáveis -Osama bin Laden, Bernard Madoff etc.-, a maioria de nós sente que está basicamente do lado dos anjos.
Trabalhamos com afinco, pagamos nossas contas, tentamos criar bem os nossos filhos, fazemos trabalhos voluntários aqui e acolá e, em caso de dúvida, sempre seguimos as normas do bem. Por que então não nos darmos o benefício da dúvida?
O novo livro de Peter Singer sobre a pobreza no mundo, "The Life You Can Save" [A Vida Que Você Pode Salvar, Random House, 206 págs., US$ 22, R$ 49], está aqui para revelar que não somos as pessoas que pensamos ser, quase todos nós.
Em um planeta repleto de sofrimento tão evidente e tão generalizado, escreve, "há algo de profundamente distorcido em nossas visões amplamente aceitas quanto ao que significa viver uma vida de bondade".
Singer, professor de bioética na Universidade Princeton, fez sua carreira a partir do ato de causar desconforto nos outros.
Seu livro mais conhecido, "Libertação Animal", de 1975, está entre os textos fundadores do movimento contemporâneo de defesa dos direitos dos animais. Vem trabalhando com as ideias de seu mais recente livro pelo menos desde 1972, quando publicou o influente artigo "Famine, Affluence, and Morality" [Fome, Afluência e Moralidade].
Singer de forma nenhuma é o único pensador sério sobre a pobreza, mas com "A Vida Que Você Pode Salvar" se tornou instantaneamente o mais legível e o mais enfático entre eles.
O livro é em parte argumentação racional, em parte manifesto, em parte manual de instruções. É um volume que sugere que, diante do fato de que 18 milhões de pessoas morrem desnecessariamente a cada ano nos países em desenvolvimento, "há uma mácula moral em um mundo rico como o nosso".
Não estamos fazendo o suficiente para ajudar nossos irmãos humanos.

Além das intuições
Os seres humanos acreditam intuitivamente que devemos ajudar os outros em seus momentos de necessidade, escreve Singer, "no mínimo quando podemos vê-los e quando somos as únicas pessoas capazes de salvá-los". Mas precisamos ir além dessas intuições, declarou Singer.
E por isso, no começo de "A Vida Que Você Pode Salvar", propõe o seguinte argumento lógico, que citarei na íntegra: "Primeira premissa: sofrimento e morte causados por falta de comida, abrigo e cuidados médicos são males".
"Segunda premissa: se estiver em seu poder impedir que algo de mau aconteça, sem que seja necessário sacrificar nada de importância semelhante, é errado não fazê-lo."
"Terceira premissa: ao doar dinheiro a agências assistenciais, é possível prevenir sofrimento e morte por falta de comida, abrigo e cuidados médicos, sem sacrificar nada de igualmente importante."
"Conclusão: portanto, se você não doa dinheiro a organizações assistenciais, está agindo errado."
Há muitos contra-argumentos que se apresentam de imediato: a economia está em crise. Caridade começa em casa. Trabalho com afinco pelo meu dinheiro. Caridade cria dependência. Algumas organizações de caridade desperdiçam dinheiro demais com suas despesas administrativas.
Mas Singer rebate esses contra-argumentos de maneira convincente, e sua conclusão lógica é praticamente irrefutável. Ajudar os pobres do mundo trará "significado e propósito" às nossas vidas, ele sugere, por meio de ajustes financeiros que, em geral, "pouca diferença farão para o seu bem-estar".

Difícil de engolir
Em seu livro, Singer elogia muita gente que doa até 50% de sua renda anual. Quanto aos restantes de nós, ele propõe uma abordagem mais realista: "Cerca de 5% da renda anual para as pessoas em situação financeira confortável, e bastante mais para os muito ricos".
Alguns dos argumentos de Singer são difíceis de engolir.
"Filantropia para as artes e atividades culturais, em um mundo como este, é moralmente dúbio", ele declara.
O Metropolitan Museum of Art [em Nova York] adquiriu um quadro de Duccio [di Buoninsegna] por US$ 45 milhões em 2004, quantia que, diz Singer, pagaria por operações de catarata para 900 mil pessoas cegas ou quase cegas nos países em desenvolvimento.
Ele prossegue: "Se o museu estiver em chamas, alguém consideraria mais certo salvar o quadro do incêndio do que uma criança?"
O livro tem seus heróis e vilões. Entre os primeiros, temos Bill Gates e James Hong, que enriqueceu ao criar o site "Hot or Not", no qual os visitantes votam sobre a aparência dos demais usuários.
Hong doa 10% do dinheiro que ganha acima dos primeiros US$ 100 mil anuais e opera um segundo site no qual encoraja outras pessoas a assumir compromisso semelhante. Entre os vilões estão os bilionários do software Paul Allen e Larry Ellison. Singer reconhece que Ellison doou US$ 39 milhões em 2007, mas acrescenta que "ainda que Ellison não lucre mais um centavo, poderia doar US$ 39 milhões ao ano pelos próximos 600 anos e ainda reter US$ 1 bilhão para cuidar de sua velhice".
Mas ainda há tempo para Ellison. Como aponta Singer, se Warren Buffett tivesse doado o primeiro milhão que ganhou, não estaria em posição, agora, de doar US$ 31 bilhões.
Em um dos sites de Singer, thelifeyoucansave.com, ele solicita que as pessoas assumam o compromisso de doar dinheiro para combater a pobreza mundial segundo uma escala móvel que propõe (ele mesmo doa 25% de sua renda anual, escreve). Já obteve mais de 1.800 adesões.
"Tendemos a considerar que as pessoas merecem ser mais culpadas por seus atos do que por suas omissões", escreve Singer. Não é preciso concordar com tudo o que ele afirma para sentir que não há o que discutir: no que tange a viver uma vida dita "de bondade", as omissões morais hoje contam mais que nunca.


A íntegra deste texto saiu no "New York Times".

Tradução de Paulo Migliacci.

ONDE ENCOMENDAR
- Livros em inglês podem ser encomendados pelo site www.amazon.com

Este texto foi publicado no caderno Mais! da Folha de São Paulo, de 22 de março de 2009.

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sexta-feira, abril 24, 2009

Pastor dá carona para ovelha na aldeia de Stompetoren, na Holanda



Foto com crédito para a AFP, no UOL.

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Correio dos EUA divulga imagem de selo dos Simpsons



A família Simpsons ilustra selos postais nos EUA. O serviço postal norte-americano divulgou as imagens de Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie nesta quinta-feira pela manhã.

"Esta é a maior e mais adesiva honra que os Simpsons já receberam", disse o criador e produtor executivo da série, Matt Groening, ao site da "Hollywood Reporter". Foi ele mesmo quem desenhou os retratos dos personagens para os correios.

Os selos valem US$ 0,44 (R$ 0,96) e estão em pré-venda no site do serviço postal americano, que não faz entregas para o Brasil. A série é limitada. No site, os fãs podem também votar no personagem favorito.

Notícia da Folha Online.

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quinta-feira, abril 23, 2009

Wikipédia

Ensaio - Noam Cohen

A Wikipédia e a urbanidade

Em seus sete anos de existência, a Wikipédia tornou-se um dos dez principais sites globais. Ela tem muito menos visitantes que o Google, mas está próxima da Amazon e do eBay. Centenas de milhares de pessoas —algumas anônimas, algumas usando pseudônimos, outras que são quem dizem ser— se uniram até agora para colaborar.
Mas ultimamente os contribuintes da Wikipédia têm-se perguntado em voz alta se estão ficando sem assunto. Artigos óbvios, como "China" e "Moisés", foram reescritos centenas de vezes. Há mais de 2,8 milhões de artigos somente na versão em inglês da Wikipédia. Em março, a enciclopédia ganhou sua primeira memória séria, "The Wikipedia Revolution", por Andrew Lih, um dos primeiros wikipedianos, que escreve sobre como "um bando de desconhecidos criou a maior enciclopédia do mundo".
Mas essas preocupações parecem deslocadas —a Wikipédia não pode ser concluída, assim como a cidade de Nova York. Na verdade, com seus milhões de visitantes e centenas de milhares de voluntários, um número de artigos e línguas faladas sempre em expansão, a Wikipédia talvez seja a coisa mais próxima de uma metrópole on-line.
Como uma cidade, a Wikipédia é maior que a soma de suas partes; por exemplo, os encontros aleatórios lá são muitas vezes mais interessantes que os próprios artigos. A busca por informação parece um passeio por um quarteirão densamente construído de uma antiga capital. Os artigos da Wikipédia podem mandá-lo por caminhos improváveis. Há links que o dirigem para o mesmo artigo em outra língua, o que dá esclarecimentos sobre uma cultura. Passe algum tempo na Wikipédia alemã e você encontrará músicos de jazz com artigos mais longos do que os originais em inglês; há também áreas estranhas de profundo interesse, como "pecherei", a extração de resinas de árvores e as 15 ferramentas diferentes necessárias para esse trabalho.
Em segundo, no final da maioria dos artigos há categorias —bairros improvisados ou organizações cívicas, que dão unidade à enciclopédia virtual.
Até recentemente, a Wikipédia operava com um orçamento de menos de US$ 3 milhões por ano. Hoje ainda são apenas US$ 7 milhões, tudo em doações.
Em "The City in History" (A cidade na história), Lewis Mumford explica como as cidades passaram a existir: "Nos primeiros aglomerados ao redor de um túmulo ou de um símbolo pintado, uma grande pedra ou uma caverna sagrada, temos o início de uma série de instituições cívicas que vão do templo ao observatório astronômico, do teatro à universidade".
Na Wikipédia, um único artigo, por exemplo, sobre os atentados em Mumbai no ano passado, pode ter mais de mil colaboradores. Suas discussões sobre a melhor maneira de escrever o artigo podem ocupar páginas, todas conduzidas por um dos princípios fundamentais da Wikipédia: "Suponha a boa-fé".
A Wikipédia incentiva os colaboradores a imitar a civilidade básica, a confiança, a aceitação cultural e a auto-organização conhecidas de qualquer morador de uma cidade. Por que as pessoas não atacam umas às outras no caminho para casa? Por que elas fazem fila no banco? A polícia pode ser uma resposta óbvia. Mas isso não leva em conta o pacto entre moradores. Desde sua criação, as cidades tiveram de aceitar estranhos, e os habitantes aprendem a ser sutilmente acomodados.
A maravilha da Wikipédia —e das cidades— é que todo o intercâmbio e o estímulo espiritual não tornam a vida lá impossível. Ao contrário, são exatamente o que torna a vida possível.
Como as cidades, a Wikipédia também provoca profunda inquietação. Assim como o mundo teve muitos criacionistas, sociedades de abstinência e ruralistas, há uma classe profissional de céticos da Wikipédia. Eles também têm um comportamento seriamente depravado a denunciar: a Wikipédia constitui um mundo sem especialistas! Um mundo sem canais de notícias comerciais! Um mundo sem uma distinção entre o trivial e o profundo! Um mundo repleto de fatos, mas carente de julgamento!
Tudo isso é vestígio das acusações feitas contra as cidades: elas não produzem nada! Tudo o que fazem é fofoca! Elas não sabem o que é trabalho de verdade!
A discussão representa um verdadeiro choque de ideias. Fica claro pelo relato de Lih que, quase sempre que a Wikipédia encontrou obstáculos, e o projeto poderia ter decidido impor mais restrições sobre quem poderia editar o quê, ela preferiu não o fazer. Isso fez toda a diferença. O acerto dessas opções —pela Wikipédia e pelas cidades— é comprovado a cada vez que um estranho supera seus temores e decide fazer uma visita e passar algum tempo por lá.

Texto do The New York Times, na edição de 06/04/2009, da Folha de São Paulo.


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terça-feira, abril 21, 2009

Gran Torino, ou para onde vai o mundo?

Gran Torino, ou para onde vai o mundo?


Pude assistir o filme Gran Torino, de e com Clint Eastwood, neste final de semana (04/04/2009), e o achei um grande filme. E pensei em chamar este texto de “para onde vão os Estados Unidos?”, mas cheguei à conclusão, que o filme era um pouco mais universal que os Estados Unidos, embora bem localizado ali.


Para onde vai o mundo, ou para onde vamos, talvez seja uma pergunta fundamental. O senhor Walt Kowalski seria um americano típico. É um homem branco, veterano da Guerra da Coréia (1950-1953), que acabou de ficar viúvo, e mora no estado de Michigan (uma rápida olhada no Google Maps, permite ver que neste estado fica a cidade de Grand Rapids, que se não estou enganado é a terra natal do ex-presidente Gerald Ford, a cidade de Flint sobre a qual Michael Moore fez seu documentário “Roger e eu” sobre o fechamento de uma unidade da General Motors ali, e a cidade de Detroit, meca do automóvel nos Estados Unidos). Um homem com tradições, que aparentemente viveu casado com uma só mulher durante sua vida inteira, com a qual ia à missa dominicalmente. Talvez como muitos outros americanos, tem sua coleção de armas de fogo, e mantém o jardim de sua casa muito bem cuidado.


Mas talvez, olhando um pouco mais de perto, o Sr. Kowalski pode não ser tão típico assim, afinal ele é um branco descendente de poloneses, não britânicos anglo-saxões, e ele é católico, não é protestante.


Mas como muitos outros grupos humanos que vieram de diversas partes da Europa no final do século XIX, e início do XX, ele é integrado aos Estados Unidos. Foi condecorado por sua participação na guerra. Trabalhou vários anos em uma fábrica da Ford, onde ajudou a montar o Gran Torino, automóvel esportivo da Ford, fabricado em 1972, que lhe pertence, e dá título ao filme. Também é da Ford a picape com a qual ele se desloca no seu dia-a-dia.


Mas os tempos mudam.


No início do filme, está sendo celebrada uma missa em homenagem à recém-falecida Sra. Kowalski. O padre da paróquia é um jovem (na verdade um jovem bem jovem), ao qual o Sr. Kowalski não dá muita atenção embora a Sra. Kowalski tenha pedido expressamente a ele, o padre, para cuidar do Sr. Kowalski após sua morte (e o padre procura pacientemente cumprir seu compromisso com a Sra. Kowalski). O Sr. Kowalski nunca chegou a ter um relacionamento próximo com seus filhos, e seus netos são incapazes de mostrar um mínimo de respeito no recinto em que está sendo realizado o velório de sua avó. Seus antigos vizinhos, presumivelmente brancos como ele, se mudaram para outros bairros, e as casas ao redor da sua vão sendo tomados por asiáticos e latinos, com seus hábitos exóticos (exóticos para o Sr. Kowalski, claro) e a violência das gangues de jovens.


Thao e Sue são parte da família que habita a casa ao lado da do Sr. Kowalski. São de uma etnia originária do sudeste asiático, provavelmente do Vietnã.


Dois eventos acabarão por fazer com que o Sr. Kowalski se torne próximo da família de Thao e Sue. Primeiro Thao tenta roubar o Gran Torino do Sr. Kowalski para entrar para a gangue de seu primo (do primo de Thao). A seguir, após o fracasso de Thao no roubo, o Sr. Kowalski impede a gangue de espancar (raptar?) Thao. Aparentemente o Sr. Kowalski não está preocupado com o destino de Thao quando impede o espancamento, é que o tumulto gerado chega ao seu jardim, e ele está defendendo sua propriedade. Como forma de arrependimento e reparação a mãe de Thao o obriga a prestar serviços para o Sr. Kowalski. Kowalski aceita a oferta, pois seria um insulto para a mãe de Thao não o fazê-lo.


Pois esta proximidade vai acabar fazendo com que Kowalski vença seus ranços com seus novos vizinhos, sua aparência diferente, seus ritos estranhos, seu comportamento também estranho, suas comidas estranhas, embora cheirosas e saborosas (“melhor do que carne seca”, como é dito em uma cena do filme). Kowalski “adota” Thao, por assim dizer. E quando a gangue que cerca Thao volta a agredir a família asiática, Kowalski fará tudo que estiver ao seu alcance para protegê-la. Ele será o homem contra o mal (a gangue que persegue Thao e Sue) e contra as instituições que não funcionam (a polícia e o sistema judiciário americano), levando a história ao seu “gran finale”.


Há que se lutar contra as nossas limitações, e talvez contra o mundo se este nos parece mal...

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sexta-feira, abril 17, 2009

Ídolo do Inter, Escurinho sofrerá amputação

O ex-jogador Escurinho, ídolo do Inter dos anos 70, terá parte da perna direita amputada nesta sexta-feira, em cirurgia para conter complicações provocadas por diabetes.

Luiz Carlos Machado, 59 anos, o Escurinho, está internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Nos últimos dias, ele vinha se submetendo a tratamentos para regularizar o funcionamento do sistema vascular. Mas a situação se agravou e os médicos não encontram outra solução que não seja o corte logo abaixo do joelho.

Outro ídolo colorado dos anos 70, Sérgio Galocha, também teve parte da perna direita amputada, na década de 90, devido a problema semelhante. Sua doença se estabilizou e hoje ele usa prótese.

Escurinho jogou ao lado de craques como Figueroa, Falcão, Valdomiro, Carpegiani, e se consagrou ao entrar no final das partidas para resolver as dificuldades com gols de cabeça. É considerado o maior cabeceador dos 100 anos do Inter.

Lancepress!

Notícia vista no Terra. Força, Escurinho!


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segunda-feira, abril 13, 2009

Floresta abrigou 1º milharal, diz estudo

Floresta abrigou 1º milharal, diz estudo

Vestígios no México recuam em 1.100 anos a domesticação do cereal e questionam tese de que cultura surgiu no semiárido

Ambiente úmido, porém, impediu preservação das espigas, deixando como evidência de agricultura só resíduos microscópicos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O milho e a abóbora foram domesticados há pelo menos 8.700 anos nas florestas tropicais, segundo evidências encontradas em um abrigo rochoso no sul do México. Até agora achava-se que a origem dessas culturas agrícolas fosse a região do planalto semiárido.
No caso do milho, a descoberta recua em 1.100 anos os primeiros indícios de sua utilização -até agora datados de 7.600 anos atrás. E a data também é 2.500 anos mais antiga que o primeiro uso de milho no planalto mexicano.
O milho descende de um capim selvagem, o teosinto, que os antigos índios selecionaram artificialmente para produzir variedades melhoradas.
"Milho e também possivelmente a abóbora Cucurbita argyrosperma se juntam a um número crescente de plantas agrícolas importantes que se demonstrou terem sido cultivadas e domesticadas no México e na América do Sul entre 10.000 e 7.500 anos atrás, na mesma época em que a agricultura emergiu no Velho Mundo", escreveram os autores em um dos dois artigos sobre a descoberta publicados na última edição da revista científica "PNAS" (www.pnas.org).
Um dos artigos, cujo principal autor é Anthony Ranere, da Universidade Temple (EUA), trata da arqueologia do abrigo rochoso de Xihuatoxtla; o outro trata especificamente das evidências botânicas dessa alimentação pré-histórica: restos de amido e fitólitos (minerais microscópicos presentes em plantas), encontrados em ferramentas de pedra usadas na moagem dos grãos.

Ocultação de evidência
"Parece que os antigos agricultores que nós documentamos no vale do rio Balsas consumiam rotineiramente abóbora e milho domesticados, junto com outras plantas como palmeiras, inhames, legumes e provavelmente outros alimentos que não são tão visíveis no registro porque não produzem fitólitos e grãos de amido identificáveis, ou não eram processados antes de comidos", disse à Folha a principal autora do segundo artigo, Dolores Piperno, arqueobotânica do Museu Nacional de História, Natural, de Washington, e do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical, do Panamá.
As pedras arredondadas usadas para moer as plantas podem parecer comuns para o olhar leigo, mas um arqueólogo logo reconhece sua função. "Pedras que foram usadas para a moagem adquirem padrões de gasto distintos", diz Piperno. E o fato de acharem o amido e os fitólitos nas faces gastas é a melhor prova.
É justamente a dificuldade de encontrar provas da agricultura nas regiões mais úmidas que fazia com que, até a década de 1990, se acreditasse que a domesticação das plantas tivesse acontecido nas regiões mais altas e secas, apesar de fazer mais sentido que isso tivesse acontecido em uma área com clima mais chuvoso e sazonal. O milho pré-histórico tinha sido achado em cavernas do planalto porque o clima seco facilitava a preservação.
"Nosso objetivo principal era documentar a história antiga da domesticação do milho na terra natal do seu ancestral selvagem", afirma Ranere. E essa região, no sudoeste mexicano, era justamente uma área até agora pouco explorada.
A dificuldade de preservação fica clara quando se nota que não foram achados restos de fauna no abrigo. "Ossos animais frequentemente não se preservam bem em contextos tropicais", diz Piperno.
O teosinto pode parecer mais capim do que milho. Mas, como Piperno e colegas mostram, ainda hoje os mexicanos da região usam o teosinto para alimentar porcos e galinhas.
A pesquisadora planeja vir ao Brasil investigar as origens da agricultura na Amazônia, em parceria com o arqueólogo Eduardo Neves, da USP.

Texto da Folha de São Paulo, de 27 de março de 2009.

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ONU aprova resolução contra a difamação de religiões

ADEUS VOLTAIRE

ONU aprova resolução contra a difamação de religiões


DA REUTERS
O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou ontem resolução que recomenda a aprovação de leis contra a difamação de religiões. O texto, proposto pelo Paquistão em nome dos países muçulmanos, foi criticado por governos ocidentais e por uma aliança de grupos ativistas por limitar a liberdade de expressão.
Cerca de 180 organizações religiosas, seculares e de imprensa fizeram campanha contra a resolução, que, afirmam, "pode ser usada para silenciar e intimidar ativistas de direitos humanos, dissidentes religiosos e outras vozes independentes".
A resolução teve apoio de 23 dos 47 membros do Conselho. Onze países rejeitaram o texto, e 13 se abstiveram, entre eles o Brasil.

Texto da Folha de São Paulo, de 27 de março de 2009.


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Suicídios aumentam no Japão e preocupam governo

Suicídios aumentam no Japão e preocupam governo

O aumento no número de suicídios no início deste ano com o agravamento da crise econômica está causando grande preocupação no Japão.

Em janeiro houve um aumento de 15% no número de casos em comparação com o mesmo mês no ano anterior.

Segundo fontes do governo, a preocupação neste ano é maior por causa da crise econômica que afetou seriamente o país no final de 2008.

Pessoas que perderam o emprego nos últimos meses do ano passado começam a passar por dificuldades agora, após o fim do seguro-desemprego.

O benefício é pago por no mínimo três meses a assalariados despedidos e pode ser recebido, dependendo da faixa etária e de outros fatores, por até um ano. Muitos dos que perderam o emprego em novembro de 2008, por exemplo, devem ter recebido a última parcela do seguro agora em março.

'Problema de março'

O final de março é considerado pelas autoridades e especialistas um período crítico.

Chamado na literatura psiquiátrica local de "problema de março", o pico no número de mortes coincide com os exames vestibulares e início da temporada de contratações. Muitos dos que ficam de fora do sistema, sem outras perspectivas, optam por acabar com a própria vida.

Somente em janeiro deste ano, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia, foram registrados 2.645 suicídios. Isto representa um aumento de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram notificados 2.305 casos.

Em 2008, o número total ficou próximo dos 32 mil, ultrapassando a marca dos 30 mil pelo 11º ano consecutivo. No ano anterior, foram registrados 33.093.

A média nacional é de um suicídio a cada 20 minutos. Nas piores épocas, o tempo entre uma morte e outra cai para até 15 minutos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre os países ricos o Japão está em segundo no ranking de suicídios, atrás da Rússia. Lá, a média de suicídios é de 40 a cada 100 mil pessoas. No Japão a média é de 24 e, no Brasil, cinco.

Floresta dos suicidas

A província de Yamanashi é a campeã entre os lugares onde ocorrem suicídios no Japão. Em 2008, a média foi de 40,8 a cada 100 mil pessoas. A explicação é a existência da floresta Aokigahara, também conhecida como "floresta dos suicidas", considerada o segundo lugar mais famoso do mundo para se matar - atrás somente da Ponte Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos.

Pessoas de várias partes do Japão adentram todos os meses a densa floresta e se matam por lá. Parte da popularidade é por causa de um romance chamado Kuroi Jukai (Mar Negro de Árvores, numa tradução livre). A história termina com o casal de namorados se suicidando naquela floresta.

Desde 1950, o local registra todos os anos ao menos 30 suicídios. O governo da província tem investido nos últimos anos em projetos para diminuir o número de mortes e perder o título nada agradável.

"O fato de as pessoas estarem perdendo o emprego nos preocupa muito", admitiu à BBC Brasil Yumi Kimura, 34, chefe do Departamento de Estudos Vitalícios do governo de Yamanashi. "Por isso, começamos uma campanha de prevenção na região com distribuição de pôsteres e cartazes com informações sobre onde procurar ajuda", contou.

O material pode ser encontrado nos táxis, pontos turísticos e hotéis da região. "Também criamos uma rede de comunicação com os moradores locais, que voluntariamente tomam conta dos arredores de suas moradias", disse Yumi. Caso o morador perceba alguma atitude estranha de visitantes, ele comunica a central.

Medidas preventivas

O governo central também trabalha para evitar suicídios no país. O objetivo é reduzir em até 20% o número de suicídios até 2016. Entre as medidas estão o treinamento de conselheiros e o apoio a organizações sem fins lucrativos. Também existe um projeto de realização de palestras de alerta em escolas e empresas.

Porém, o problema é de difícil solução, pois o suicídio é visto como uma opção honrosa pela sociedade japonesa em geral, principalmente nos casos de homens que não conseguem mais garantir o sustento da família e daqueles acusados de corrupção.

Historicamente, a tradição samurai de se matar em nome da honra e o caso dos camicases, que faziam operações suicidas na Segunda Guerra Mundial, dão respaldo ao suicídio. Além disso, as principais religiões do país, o budismo e o xintoísmo, são neutras em relação ao assunto.

Além do governo, algumas empresas têm criado projetos para tentar conter os suicidas. A Companhia Ferroviária Keihin Electric Express, por exemplo, instalou no ano passado, em algumas plataformas de suas estações de trem, uma lâmpada de cor azul. A cor teria o poder de "acalmar" as pessoas.

Segundo a empresa, desde que as lâmpadas foram trocadas, há 11 meses, não ocorreram mais suicídios naquelas plataformas. Outras companhias ferroviárias estão seguindo o exemplo e também começaram a instalar as lâmpadas azuis para realizar um período de experiência.

Texto da BBC Brasil.



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quinta-feira, abril 09, 2009

I Coríntios 11:23-26

Porque eu recebi do SENHOR o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.

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09/04/2009 - Quinta-Feira Santa, Dia de Ofícios de Trevas

Noite para relembrar a última ceia de Jesus com seus discípulos, a posterior agonia no Getsêmani, e a prisão no decorrer da noite.

Traído com um beijo...


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quarta-feira, abril 08, 2009

Igrejas do século XVIII podem ruir em Minas Gerais

Fora da rota turística, igrejas de Minas correm risco de ruir

Má conservação, cupins e infiltrações afetam templos históricos em Congonhas e Mariana

Tombadas pelos patrimônios federal e estadual, igrejas do século 18 estão afastadas do circuito frequentado por visitantes

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CONGONHAS E MARIANA

Longe dos olhos dos turistas, duas igrejas do século 18 em Minas Gerais, tombadas pelos patrimônios estadual e federal e em péssimo estado de conservação, correm o risco de ruir. Uma delas, a de Nossa Senhora da Ajuda, em Congonhas, teve de ser escorada para não cair. Na outra, a de Nossa Senhora do Rosário, em Mariana, nem sequer isso foi feito ainda.
As duas edificações, visitadas pela Folha na semana passada, estão com as estruturas comprometidas e seguem sob ataques de cupins. As duas estão em distritos distantes das sedes das cidades históricas e fora do foco dos visitantes.
Uma amostra de que há tratamento diferenciado ocorreu na quinta-feira. Enquanto a igreja do Rosário, no distrito de Santa Rita Durão, a 37 km da sede de Mariana, clama por urgente intervenção há quatro anos, as autoridades decidiram interditar a igreja de São Francisco de Assis, na sede, apenas 15 dias após o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ter pedido providências.
As duas igrejas de Santa Rita Durão precisam de cuidados urgentes. A do Rosário, entretanto, chama a atenção pelo estado bastante deteriorado da estrutura, com inclinação que acompanha o caimento natural do terreno. Ao andar pelo corredor lateral, percebe-se a instabilidade do piso. A reportagem pôs um copo de vidro deitado no meio do corredor, e ele rolou rapidamente em direção à parede lateral.
O frágil, porém importante exemplar do barroco mineiro, que tem obras de artistas como Francisco Vieira Servas (1720-1811), Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), está inclinando cada vez mais. Tombada desde 1945 pelo Iphan, a igreja já tem recomendação do órgão para ao menos ser escorada até uma solução. O relatório foi passado para a arquidiocese de Mariana, proprietária da edificação, mas nada foi feito.
O Iphan define o problema como recorrente, por causa do solo muito úmido e instável, o que causa a acentuada inclinação na construção de estrutura de madeira com vedação em taipa de pilão e a pau a pique.
A degradação ocorre também pelas infiltrações e cupins, que já atacaram quase todo o entablamento e os portais, além dos elementos artísticos. A pintura do forro está afetada. Há rachaduras e trincas no altar-mor e o altar da lateral direita está cedendo. No lado externo, parte da cimeira caiu.
Em Congonhas, a comunidade do Alto Maranhão está preocupada com a igreja de Nossa Senhora da Ajuda.
O escoramento já foi feito e um projeto de recuperação emergencial acaba de ser aprovado, após intervenção do Ministério Público. Mas não há recursos para as obras.

Fora do lugar
O Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico), que tombou a igreja em 1978, restaura 25 peças do forro da capela-mor, retiradas há dez anos e amontoadas de qualquer jeito na igreja. As peças só poderão voltar ao lugar após as obras estruturais serem feitas.
Sem as obras, as peças do forro do altar continuarão fora do lugar, sujeitas ao desaparecimento, como já ocorreu com as do forro da nave, pintadas por artista desconhecido.
Quase todo o altar principal da igreja também perdeu o douramento original aplicado com folhas de ouro. O motivo: o altar foi lavado com água, provavelmente na ocasião da retirada dos forros da capela-mor. O altar, que está escorado para não cair, está esbranquiçado.
Os problemas estruturais da igreja podem ter como causa as explosões de uma pedreira que fica a 1,5 km dali. Além disso, o tráfego de caminhões pesados a serviço de mineradoras ainda não foi interrompido.
Os caminhões das mineradoras também representam problema para a igreja do Rosário, no distrito de Mariana, mas o tráfego continua liberado.

Notícia da Folha de São Paulo, de 6 de abril de 2009.


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terça-feira, abril 07, 2009

José Simão e a Páscoa

“E Semana Santa virou uma coisa tão comercial, mas tão comercial, que o filho perguntou pro pai: "Pai, Jesus era um coelho?". Rarará! Misturou tudo.”

Trecho da coluna de José Simão, o Macaco Simão, na Folha de São Paulo, de 7 de abril de 2009.


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Por trás da máscara de Fantomas

GUERINO CICON (1933-2009)

Por trás da máscara de Fantomas

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não era nada mole liquidar Fantomas, um homem de pedra nos ringues, já alertava o locutor. Herói do telecatch -espetáculo de luta livre popularizado pela TV entre os anos 60 e 80 no país-, o mascarado justiceiro escondia sob a fantasia preta com detalhes brancos a identidade de Guerino Cicon, um marceneiro de Piracicaba (SP) de quase dois metros e mais de 100 kg.
E não adiantava recorrer a táticas torpes, como "chutar violentamente a região baixa" de Fantomas. Moicano e Cantinflas já tentaram isso numa luta e nada conseguiram.
De uma família de italianos, mudou-se para SP nos anos 60. Praticava natação e halterofilia, o que o ajudou a entrar no mundo das lutas, área em que foi muito feliz, diz a filha Idely, com a voz embargada.
Ela lembra que os shows costumavam fechar o Pacaembu, de tão cheio. Seu pai conheceu o país em turnês.
Nos combates, Guerino fingia ter uma das pernas endurecidas. Era uma tática. E ele já se machucou de verdade? A princípio, a filha diz que não. Depois lembra que o pai já quebrou o dente, a clavícula, um dedo, entre outros.
Depois que as lutas acabaram, trabalhou como segurança, até se aposentar. Há cerca de um ano, vivendo na Cohab, passou a sofrer com problemas circulatórios e de diabetes. Estava internado há cinco meses e teve um dedo, e depois a perna, amputados.
"Quero colocar uma faixa em frente ao hospital Tatuapé para agradecer ao tratamento que tivemos", diz a filha.
Guerino morreu sábado, 28, aos 75 anos. Deixa duas filhas, quatro netos e três bisnetos. A missa de sétimo dia foi ontem, em São Paulo.

Obituário da Folha de São Paulo, de 6 de abril de 2009.

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Entre salvação e a ruína - patrimônio histórico em Santa Rita Durão, distrito de Mariana, MG

Entre a salvação e a ruína

PEDRO QUEIROZ LEITE

NOS MEUS dias de estudante em Mariana, MG, um amigo me dizia, em tom de brincadeira e crítica, que aquela era a única cidade que ele conhecera onde o patrimônio histórico não só era "tombado, como também escorado". O objeto de seu comentário era um antigo sobrado que agonizava em plena praça Cláudio Manoel, defronte à Sé de Mariana, durante anos mal sustentado por escoras de madeira, numa eterna iminência de queda.
Hoje, o prédio encontra-se restaurado, mas vários outros não tiveram a mesma sorte: foram ao chão, por descuido de seus proprietários e dos poderes públicos. E tal se deu na rua Direita, um dos "cartões-postais" da cidade.
Se isso foi possível na turística primeira capital de Minas Gerais, com suas imponentes igrejas, da Sé, de São Francisco, de São Pedro dos Clérigos e de Nossa Senhora do Carmo -cujo interior, riquíssimo, foi praticamente todo devorado pelo fogo, em 1999-, imagine o que poderia ocorrer em distritos afastados da sede do município.
Pois não é preciso mais imaginar: já está acontecendo, em Santa Rita Durão, distante pouco mais de 20 km de Mariana. Berço do poeta árcade -autor do épico "Caramuru"- cujo nome, em 1895, substituiria o de Inficionado, denominação primeira do lugar, esse distrito marianense possui dois preciosos templos do século 18 que estão se desfazendo ante os olhos da população. A matriz de Nossa Senhora de Nazaré, cuja construção teve início em 1729 e que foi tombada em 1945, passa por uma restauração que já completou o décimo aniversário sem que melhora alguma possa ser vista.
As infiltrações de água danificam suas paredes, o entablamento, o piso e, principalmente, a pintura do forro, de João Batista de Figueiredo, datada de 1778 e que se encontra quase completamente destruída. Além disso, a falta de vigilância permitiu que parte de sua decoração de talha fosse arrancada dali. E dizem que nem sequer o foi na calada da noite...
Já a capela de Nossa Senhora do Rosário, uma joia do rococó, igualmente tombada em 1945 e que tem excelentes pinturas nos forros da capela-mor e da nave -estas, pelo menos, restauradas em 2000-, apresenta um avançado estágio de deterioração estrutural. Suas paredes de taipa pendem para o lado e nelas se observam grandes e profundas rachaduras. Tal inclinação permitiu que o reboco, em muitas partes externas, ruísse de seus suportes e provocou o deslocamento dos retábulos colaterais.
A situação ainda é mais grave quando se recorda que num deles, o colateral esquerdo, existe uma obra atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que está seriamente ameaçada. Ou seja, nem o Aleijadinho está a salvo em Santa Rita Durão, Mariana. Ao descaso dos órgãos públicos, que não investigam tais fatos ou não tomam as medidas cabíveis para saná-los, soma-se o pouco caso dos interesses privados. Em visita recente (janeiro de 2009), fomos informados pelos moradores que, em razão da queda de uma ponte em março de 2008, os caminhões das mineradoras que exploram a região têm desviado seus trajetos costumeiros e acabam por passar perto da capela, comprometendo ainda mais suas fundações.
Como se vê, trata-se menos de um caso de esquecimento e mais de verdadeira omissão. Que se compreende, mas não se justifica, pelo fato de o distrito não se situar nas rotas turísticas principais, por ser distante da sede e pelo número pouco elevado de habitantes -ou por serem eles pouco influentes do ponto de vista político. Por outro lado, são várias e bem conhecidas as autoridades que poderiam dar um basta a essa vexaminosa situação: a Arquidiocese de Mariana, proprietária dos prédios, o governo municipal, o estadual e o federal, quer diretamente, quer por meio de seus institutos de preservação do patrimônio ou de incentivo ao turismo.
A iniciativa privada também deveria fazer algo por eles, seja pelo seu potencial de atração de visitantes, seja como marketing social -moeda tão apreciada hoje em dia por entidades que, muitas vezes, parecem sofrer de uma consciência um pouco pesada. Em tempos de tão cantada e decantada crise econômica, pedir recursos para a proteção do patrimônio deve soar a alguns ouvidos como um verdadeiro absurdo. Mas relíquias do nosso passado, diferentemente de lucros e investimentos, não podem ser refeitas a cada novo ano fiscal. São obras únicas e insubstituíveis.
Registramos aqui a denúncia e cobramos céleres providências por parte dos responsáveis. É salvarmos os templos ou incluí-los numa outra modalidade turística ou arqueológica: a visitação e o estudo das ruínas do século 18 mineiro.

PEDRO QUEIROZ LEITE, historiador, é mestrando em história social pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e aluno do curso de especialização em cultura e arte barroca da Universidade Federal de Ouro Preto.

Texto publicado na Folha de São Paulo, em 27 de março de 2009.

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Força na peruca

FORÇA NA PERUCA

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Xampu, só para cabelos oleosos; condicionador, nem pensar. "O risco de escorregar é maior", explica a atriz Joana de Toledo Piza, 30, que ficará pendurada pelo cabelo em número que será apresentado amanhã, na segunda edição do Festival Paulista de Circo, em Limeira (interior de SP). "Por conta da gravidade, com a prática o cabelo cresce mais rápido, pois sustenta o corpo. Dizem que até a pessoa cresce", conta a artista, que lava o cabelo diariamente e não usa secador.

Trecho da coluna da Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, de 25 de março de 2009. Achei fascinante.

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segunda-feira, abril 06, 2009

Emeio

Vi estes dias, não tenho certeza onde, mas possivelmente em alguma página do jornal Correio do Povo, que a Academia Brasileira de Letras – ABL havia liberado uma nova edição de guia ortográfico da língua portuguesa, e que nesta edição aparecia a grafia para a “nova” palavra emeio, que vem a ser o aportuguesamento de “e-mail”, que é uma contração para “eletronic mail”, ou correio eletrônico.

Sem dúvida, a ABL optou pela semelhança fonética. Poderia tentar um aportuguesamento mais completo, como, por exemplo, “e-mensagem”, que ficaria por “eletrônica mensagem”, que, por sua vez nos remeteria ao original em inglês já citado acima.

“Emeio”, segue a semelhança fonética, como suas predecessoras xampu (“shampoo”) e uísque (“whisky”).

Hoje pude ver a nova palavra já empregada no blog do Sílvio Meira.

E estamos conversados.

Provavelmente quem acompanhe este blog começará a constatar o uso da palavra emeio por aqui.


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Luiz Felipe Pondé: "Gran Torino"

”Gran Torino

CLINT EASTWOOD é o melhor cineasta dos EUA. Não vejo nenhum herdeiro de sua coragem. Quase todo mundo teme a opressiva esquerda cultural americana que faz de qualquer pessoa uma vaquinha de presépio. Eastwood é um herdeiro da narrativa trágica norte-americana: enquanto o homem enfrenta sozinho a vastidão do ódio e da indiferença, testemunha os detalhes da beleza solitária de alguns dos seus semelhantes.
A cultura contemporânea é vítima da mania de ver a si mesma como agente do "bem comum" e, neste movimento, acaba por repetir, a exaustão, a ideia de que o homem seja capaz de escapar do destino. Esta posição é presa de uma dedução falsa: (1) sou "progressista" (otimismo social), logo, (2) tenho coragem. A lengalenga politicamente correta, que só agrada aos amantes de clichês (o "outro" é bom, os gays são bons, mães solteiras são legais, a democracia é linda, o multiculturalismo é o Éden), estimula a covardia estética.
Qual destino? Nas palavras do personagem que Eastwood interpreta em "Gran Torino" (um carro modelo 1972, grande objeto de desejo no enredo do filme que carrega seu nome): "o mundo nunca foi justo". Afirmações como estas normalmente são entendidas, pelos amantes dos "clichês de presépio", como sendo contra a liberdade humana.
Nada mais ridículo, quando você está diante de um artista que rompe a ditadura da arte "progressista": Eastwood leva ao limite a consciência trágica de que o ser humano está enredado numa teia que o esmaga, mas nem por isso os valores humanos como coragem, amor, generosidade, valem menos, se você está disposto a enfrentar essa teia.
Esta é a máxima que escapa aos olhos cegos de medo de que, ao final, o homem seja uma paixão inútil. Seríamos nós uma sombra que se bate contra o vento que passa? Já nos "Os Imperdoáveis", Eastwood, relendo o faroeste (estilo estético que trata do mito americano da coragem que se bate com a fronteira do mundo), dizia que, afinal, a razão da transformação de um assassino (com um talento imbatível para matar) em um bom esposo e pai de família era a ausência do álcool.
Nada mais terrível, para uma cultura "de presépio", do que deduzir a diferença moral da presença ou não de uma mera substância química, ou seja, uma forma de materialismo miserável.
Em "Sobre Meninos e Lobos", ele marcará a diferença entre você ser ou não fraco: o personagem vivido por Tim Robbins é um fraco desde a infância, quando entra no carro dos pedófilos e permanece inseguro sempre, a ponto de escolher uma mulher que o entrega para a morte, enquanto o outro (vivido por Sean Penn), sempre acima de dramas comuns de consciência e que tem a filha assassinada, terá, ao final da trama, na sua deliciosa esposa, a reafirmação de seu valor como homem e pai de suas filhas.
Em "Menina de Ouro", Eastwood, ousadamente, descreve a "vida de uma santa" (a dedicada e generosa pugilista) destruída pela inveja e pelo azar: um golpe baixo a lança a tetraplegia e a eutanásia. Aqui ele toca o máximo da descrição de como o mundo esmaga a virtude e a beleza. Em "Gran Torino", Eastwood interpreta um velho herói da guerra da Coreia, morando entre asiáticos nos EUA. Gangues étnicas cortam o cotidiano do bairro decadente. Seus filhos são interesseiros e desinteressados pelo velho pai viúvo.
Os dois filhos da vizinha vietnamita serão seus parceiros na luta solitária contra a violência interna a comunidade asiática. Essa menina corajosa e esse menino tímido, mas resistente à violência, serão seus verdadeiros herdeiros. O velho herói percebe, sempre nos detalhes, a virtude de ambos e se põe ao lado deles. Eastwood é o velho "conservador" que se revela capaz de superar as "diferenças" em nome da resistência que esses adolescentes oferecem a violência de seus irmãos de sangue. Relendo as velhas cenas de duelos, Eastwood define a essência do heroi: quem quer verdadeiramente vencer o mal, não pode temer a morte. O filme supera o maniqueísmo bobo que a cultura barata da esquerda americana nos obriga a respirar. Para além da falsa oposição entre reacionários e progressistas, o cineasta aponta para o verdadeiro nó da condição humana, hoje e sempre: quem tem coragem de enfrentar o mundo sem ser parte do rebanho?
Ao final, o jovem vietnamita passeia com seu troféu: o Gran Torino, o símbolo da nostalgia de um tempo onde as pessoas sabiam que o destino é sempre imperdoável.

Texto de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo, de 20 de março de 2009.


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sábado, abril 04, 2009

04/04/2009: Centenário

O texto abaixo, atribuído ao jornalista Joelmir Beting, foi recebido pelo correio eletrônico. A mensagem dizia que o texto seria publicado no blog do jornalista e no jornal Lance. Visitando os dois saites, não encontrei nada a respeito, mas gostei do texto. Aí vai:

Internacional, 100

Naquela noite de 1969, nos Eucaliptos, Tesourinha e Carlitos viram as luzes se apagando no estádio. Foram até as goleiras , retiraram as redes do velho campo colorado, e deixaram nuas as traves naquelas trevas. Era a última cerimônica antes da inauguração do Beira-Rio. Onde iniciaria o ciclo vitorioso e virtuoso que começou com um Falcão imperial nos anos 70 e acabou num Gabiru iluminado na noite japonesa e mundial, em 2006.

Ficou tudo escuro nos Eucaliptos no último ato da velha cancha naquele entrevado ano brasileiro de 1969. Em 14 de dezembro de 1975, a tarde de Porto Alegre estava cinza. Até um raio de sol iluminar a grande área onde o ainda maior Figuerou subiu para anotar o gol do primeiro dos três Brasileiros da glória do desporto nacional naqueles anos 70. O maior time do país em uma das nossas melhores décadas. O melhor campeão brasileiro por aproveitamento, no bicampeonato, em 1976. O único campeão invicto nacional, em 1979.

O Internacional centenário. O clube da família italiana Poppe que deixou São Paulo para fazer a vida em Porto Alegre, em 1909. Tentaram jogar bola no clube alemão – não deixaram. Tentaram jogar tênis, remar, dar tiro – não deixaram. Então, juntaram um time de estudantes e comerciários para fazer um clube que deixasse entrar gente de todas as cores e credos. Dois negros assinaram a ata. O primeiro “colored” da Liga da Canela Preta (Dirceu Alves) atuou pelo clube em 1925, enquanto o rival só foi aceitar um negro em 1952 – justamente o Tesourinha, glória gaudéria nos anos 40, na década do Rolo Compressor que durou 11 anos, e dez títulos estaduais.

Inter que ergueu estádios com o torcedor que vestiu a camisa, arregaçou as mangas, e construiu arquibancadas de

Cimento armado e amado. Inter que apagou as luzes dos Eucaliptos para acender um gigante no Beira-Rio e ascender aos maiores lugares de pódios brasileiros, sul-americanos e mundiais. Superando potências e preconceitos, fincando a bandeira colorada da terra gaúcha no gramado do outro lado da Terra, vencendo um gaúcho genial como Ronaldinho e um Barcelona invencível aos olhos da bola.

Mas quem ousa duvidar da pelota que peleia? Dizem que o futebol gaúcho só é duro, só é viril. Diz quem não viu o

Inter de Minelli, fortaleza técnica, tática e física. O Rolo inovador no preparo atlético e no apetite por gols. O

futebol que ganhou o mundo em 2006 marcando como gaúcho, e contra-atacando como o alagoano Gabiru. Campeão com gringos como Figueroa, Villalba, Benítez, Ruben Páz, Gamarra, Guiñazú e D’Alessandro, com forasteiros como Fernandão, Valdomiro, Manga, Falcão, Bodinho, Dario, Larry, Lúcio, Nilmar, Mário Sérgio, Alexandre Pato, gaúchos como Tesourinha, Carlitos, Oreco, Nena, Taffarel, Carpegiani, Chinesinho, Batista, Mauro Galvão, Dunga, Flávio, Paulinho, Claudiomiro, Jair.

Tantos de todos. Nada mais internacional. Poucos como o Internacional centenário. Aquele time de excluídos que, em 100 anos, hoje tem o sétimo maior número de sócios do planeta. São mais de 83 mil que têm mais que uma carteirinha. Eles têm um clube para amar que não depende de documento. Números e nomes não sabem contar o que uma bandeira vermelha pode fazer à sombra de um eucalipto. Uma bandeira vermelha pode ensolarar um estádio apagado, uma tarde cinzenta, e o mundo na terra do Sol Nascente. Aquele que iluminou Figueroa, aquele que inspirou Gabiru, aquele que neste 4 de abril vai nascer mais vermelho.

Atualização: Este blogueiro não sabe onde estava com a cabeça quando referiu Joelmir Beting, lá em cima. O nome correto é Mauro Beting. Nem todo Beting é Joelmir.

E o texto está sim, no blog do Mauro. Confira.


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Centenário Colorado

O texto abaixo foi recebido pelo correio eletrônico. Este blog desconhece a autoria.


Centenário Colorado

"Tu podes ser de Caçapava, de Vacaria ou do Ceará.
Tu podes ser Branco, Índio ou Escurinho.
Tu podes ser um Figueroa, como o Elias, ou um Silva, como o Célio.
Teu "apellido" poder ser Paz, Benitez ou Gamarra, mas teu apelido pode ser Oreco, Nena ou Guina.
Tu podes ser chamado de Claudião ou de Fernandão, mas também podem te chamar de Jajá ou de Teté.
Tu podes ser um Claudiomiro, mas também podes ser Magrão.
Tu podes ser um Gato, como o Fernandez, ou um Pato, como o Alexandre.
Tu podes ser um Tesourinha, mas também, um Bodinho.
Tu podes ser um Falcão, ou simplesmente, um Gabiru.
Tu podes ser tudo isso e muito mais, mas tu sempre serás um só.
Não importa a tua origem ou a tua cor.
Não importa o teu nome nem o teu apelido.
Não importa o teu tamanho nem a tua idade.
Tua pele é vermelha, tu és um colorado.
Tu és Internacional e, hoje, tu tens 100 anos de idade.

Feliz Aniversário!"


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sexta-feira, abril 03, 2009

O Estado laico

O Estado laico

RIO DE JANEIRO - Ainda a propósito da excomunhão dos médicos que praticaram aborto legal numa menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto, uma das besteiras mais divulgadas por comentaristas de diversos feitios e tamanhos é a de que o Estado é leigo. Sim, é leigo desde a Proclamação da República, mas se comprometeu, em todas as Constituições republicanas, a respeitar a liberdade de crença e de culto.
Como o candomblé, as muitas seitas espíritas e os diversos ramos do protestantismo, incluindo a proliferação dos ritos evangélicos, o catolicismo romano tem uma visão do homem e da sociedade apoiada nos textos bíblicos, na literatura patrística e no próprio (e acidentado) percurso na história do ocidente ao longo de 2.000 anos
Uma excomunhão, como já lembrei aqui, na crônica "Comunhão e excomunhão", só diz respeito ao católico romano praticante, que aceita livremente o núcleo de uma doutrina que frequentemente discorda e até mesmo agride o estágio da ciência e da moral de determinadas épocas.
Entre outras asneiras, li que o arcebispo de Recife condenou ao inferno a vítima do estupro. Nem o papa tem poder de condenar quem quer que seja ao inferno. É uma atribuição de Deus que nem sempre acompanha o juízo de nenhum dos cultos existentes em seu nome.
Como agnóstico militante, mas formado em um contexto cristão e católico, compreendo -mas não chego a justificar- o ato daquele arcebispo.
Fazendo reportagem sobre o candomblé da Bahia, assessorado por Jorge Amado, fui impedido de entrar num recinto dedicado a Oxalá. Teria de me submeter a ritos complicados, a descargas que me tornassem digno de penetrar em sítio tão sagrado. Não me senti prejudicado no meu direito de ir e vir que o Estado leigo me garante.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 24 de março de 2009.

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