sábado, maio 30, 2009

Devemos permanecer leitores

Devemos permanecer leitores

Ronaldo Correia de Brito
Do Recife (PE)

A impressão que fica de "O Leitor Comum", livro de Virgínia Woolf, publicado pela Graphia, é a de que a escritora encadeia os seus textos buscando alcançar um público que se diferencia do crítico e do professor. Ela começa com um ensaio curtíssimo, quase um prólogo, que se ocupa de uma frase de Johnson: "Agrada-me concordar com o leitor comum"; e fecha com um ensaio mais longo sobre Como se deve ler um livro, dizendo: "O único conselho, de fato, que uma pessoa pode dar à outra sobre o ato de ler é não seguir conselho algum, seguir seus próprios instintos, usar suas próprias razões, chegar a suas próprias conclusões".

Em ensaios em que louva Jane Austen, Defoe, Conrad, Thomas Hardy, Scott e outros, o tema do leitor e do crítico aparece sempre. Há quase a sugestão de que uma obra deve possuir clareza e ser escrita para agradar aos leitores; e de que o autor deve contar a verdade sobre si mesmo, revelando-se. Mas é quando escreve Como atacar um contemporâneo e Ficção moderna, que Virgínia Woolf mostra um lado belicoso que não é fácil reconhecer em seus romances e contos. Ela ataca a crítica - "resenhistas nós temos, mas não críticos" -, achando-a contraditória na avaliação dos contemporâneos, nunca coincidindo nas opiniões, mas emitindo os mesmos comentários generosos sobre autores mortos e consagrados.

Nem é preciso ler o subtexto do livro para descobrir as preocupações da autora. Ela busca o reconhecimento do lugar que ocupa na moderna literatura inglesa. Sempre que pode é generosa e condescendente com seu tempo e com o esforço de escrever: "Nenhuma época pode ter sido tão rica quanto a nossa em escritores determinados a expressar as diferenças que os separam do passado e não às semelhanças que os conectam com ele". Embora poucas linhas adiante mergulhe no pessimismo: "Livro após livro nos deixam com a mesma sensação de promessa malograda, de pobreza intelectual, de brilho que foi roubado da vida, mas não transmutado em literatura". E como leitora apaixonada, também aponta defeitos nos autores que ama, para mais adiante reconhecer nesses mesmos defeitos as qualidades que os consagraram.

Todos os ensaios discorrem sobre a permanência e o esquecimento dos livros. E sobre o leitor, o único capaz de mantê-los vivos, através da leitura. Virgínia Woolf temia o esquecimento a que tanto se refere. Insiste na crença do autor na sua obra: "Basta acreditar, nos surpreendemos a dizer, e tudo o mais virá por si mesmo". E parece aceitar um lugar menos privilegiado na história: ... "seria sensato aos escritores do presente renunciar à esperança de criar obras-primas". E um pouco mais esperançosa: "É dos cadernos do presente que as obras-primas do futuro são feitas".

Sentimos que "O leitor comum" foi escrito por uma leitora apaixonada, que também era romancista. Existe um quase enredo entremeando os capítulos, o amor aos livros e seus autores, e um incitamento permanente ao ato de ler. Amor irrestrito, não apenas ao que foi consagrado, mas também ao que desponta. Insegura, talvez, quanto ao futuro do que escrevia, Virgínia Woolf condescende: "Toda literatura, à medida que o tempo passa, tem seus montes de entulho, seus registros de momentos findos e vidas esquecidas contados em tom vacilante e medíocre que se deterioram. Mas ao se entregar aos encantos da leitura de certas tolices você pode se surpreender, ser deveras conquistado, pelas relíquias da humanidade que foram banidas do que se considera modelo".

"O leitor comum" é uma relíquia que nos conquista.

Texto do Terra Magazine.


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quinta-feira, maio 28, 2009

Corpos em Exposição

Corpos em Exposição


Ainda está em cartaz em Porto Alegre, uma exposição de corpos plastificados, obra de um artista (?) europeu que adquiriu alguns cadáveres e os revestiu com resina para lhes manter a textura, os quais em tese poderiam servir para os visitantes como uma lição de anatomia.

Tive duas oportunidades de visitar a tal exposição, uma durante as férias, em uma outra capital, e agora, com a vinda da exposição à Porto Alegre. Em ambas recusei o privilégio, do qual meu filho não se furtou (sim, ele visitou a exposição duas vezes).

Tenho para mim que o corpo humano é sagrado, e tal exposição é muito mais um espaço de diversão do que qualquer outra coisa. Assim, não me agrada me divertir observando cadáveres. Soa conservador? Pois é. Fazer o quê? Me soa macabro.

E hoje, quando eu circulava pela Praça da Matriz, havia um ônibus estacionado. Um cartazete expunha que era uma excursão de uma escola, provavelmente do interior do estado (esqueci de conferir a placa), dirigida a “exposição corpos”. Talvez entre as crianças que visitem a exposição, surja algum grande médico, ou algum grande biólogo. Seria uma maneira de evitar que a exposição fosse uma total futilidade.

Em todo caso, mesmo assim, crianças poderiam ser estimuladas por simulacros de corpos humanos totalmente de resina. Não seria necessário expor cadáveres para tanto.



27/05/2009


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Sassânidas usaram armas químicas contra romanos em batalha no Oriente Médio em 256

Armas química matou soldados romanos

Para reconquistar cidade na atual Síria, exército sassânida usou produtos tóxicos em guerra no ano 256

DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo apresentado num encontro arqueológico internacional revela o primeiro registro do uso de armas químicas no tempo dos romanos.
No ano 256, durante uma batalha na antiga cidade de Dura-Europos, localizada no atual território da Síria, 20 soldados do Império Romano teriam sido mortos por asfixia, dentro de uma galeria. O ataque, feito com betume e cristais de enxofre, partiu dos representantes do Império Sassânida, que tentava reconquistar a cidade que perdera para os romanos.
Os corpos dos combatentes romanos, com suas couraças de ferro, foram encontrados em 1930, mas só com as novas análises feitas agora na Universidade de Leicester, na Inglaterra, descobriu-se o real motivo da morte da tropa de soldados.
Os romanos não tinham marcas de agressão, o que sempre intrigou os arqueólogos. Além disso, estavam empilhados numa passagem subterrânea sob as muralhas, uma galeria com menos de 2 m de altura e 11 m de comprimento.
Vários túneis foram feitos sob as muralhas pelos sassânidas para atravessar os muros por baixo, dizem os cientistas. Mas os romanos também tinham feito túneis de defesa como forma de barrar a entrada do inimigo por via subterrânea.
"Acredito que os sassânidas tenham colocado braseiros no túnel, e quando os romanos entraram nele, as substâncias químicas foram lançadas", diz um dos autores do estudo, Simon James, em comunicado distribuído à imprensa.
Os compostos usados pelo exército asiático teriam liberado densas nuvens tóxicas quando incinerados. "Os romanos perderam a consciência em segundos e morreram em minutos", calcula James.
Apesar da engenhosidade da técnica utilizada, não foi naquela oportunidade que os sassâdidas retomaram a cidade. Escavações posteriores mostraram que Dura-Europos só caiu depois de passar mais tempo cercada, atacada por cima das muralhas com catapultas.
Depois da reconquista, os sassânidas expulsaram os romanos. Muitos dos habitantes foram deportados para a antiga Pérsia. Ao fim, a cidade acabou abandonada, o que permitiu que os vestígios arqueológicos dos combates ficassem preservados por mais de 1.700 anos. Existem poucos registros históricos sobre as batalhas.


Texto da Folha de São Paulo, de 17 de janeiro de 2009.

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A perda de referências na cidade em movimento – O hospital Lazzarotto

A perda de referências na cidade em movimento – O hospital Lazzarotto


O Hospital Lazzarotto ficava na avenida Assis Brasil, ali perto da Volta do Guerino.

Eu não sei porque a Volta do Guerino se chama Volta do Guerino, mas fica ali onde a avenida Assis Brasil se encontra com a Plínio Brasil Milano, e com a Brasiliano Índio de Moraes, entre o Passo d'Areia e o IAPI.

Era um hospital de referência em cardiologia. Minha mãe hospedou parentes e amigos que vinham da cidade de Rio Grande para receber tratamento no Lazzarotto. E atendia a saúde pública.

Mas um dia o hospital fechou. Não sei o motivo, mas fechou.

E por muitos anos aquele prédio vazio ficou ali na Assis Brasil. Quem sabe um dia pudesse ser reativado?...

Algum tempo atrás ele começou a ser demolido.

Rapidamente o prédio vazio passou a um monturo. E depois a um terreno vazio.

Em breve algum novo empreendimento imobiliário na zona norte de Porto Alegre.



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Guerra pela audiência

Em guerra, emissoras sacrificam comercial

A TV brasileira está vivendo um fato novo. Pela primeira vez, há uma disputa equilibrada pelo segundo lugar no Ibope em pleno horário nobre, o dos domingos, principalmente entre 20h e 23h.
O "Fantástico" continua líder, mas não como antes. Com estratégias de guerrilha, SBT, Record e Rede TV! disputam acirradamente a vice-liderança na Grande SP. O fenômeno vem ocorrendo desde março.
No último domingo, o "Fantástico" teve 20,7 pontos de média, o "Domingo Legal", 14,6, o "Domingo Espetacular", 10,8 e o "Pânico", 9,2. Foi um dia atípico, porque o SBT não só dominou o segundo lugar entre 21h e 22h26 como foi líder durante três minutos.
O domingo anterior, 26 de abril, foi mais exemplar do que vem ocorrendo. SBT, Record e Rede TV! se alternaram na vice-liderança entre 21h e 23h.
Para conseguir tal feito, as redes (exceto a Globo) têm sacrificado o comercial. A Record tem ficado até mais de quatro horas sem intervalos.
Domingo passado, o "Domingo Espetacular" teve um break de seis minutos às 18h03 e outro de cinco minutos às 18h10. Só voltou a ter intervalo às 22h15, no final do programa. O "Domingo Legal" teve três intervalos de seis minutos cada em pouco mais de meia hora (das 18h28 às 19h03) e outro pouco antes do encerramento. O "Pânico" fez todos os intervalos (três) na última meia hora.

Este texto é parte da Coluna Outro Canal, de Daniel Castro, na Folha de São Paulo, de 8 de maio de 2009.

Só para constar: o blogueiro estava numa sala de cinema no domingo passado à noite.

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O passado de cada um

O passado de cada um

RIO DE JANEIRO - Volta e meia, o passado do papa atual, o alemão Joseph Ratzinger, é mencionado na mídia como o de um ex-integrante da Juventude Hitlerista. Antes mesmo de se tornar Bento 16, o detalhe de sua biografia já era lembrado por aqueles que não apreciavam as suas posições conservadoras.
Em primeiro lugar, nem todo conservador é necessariamente nazista, nem mesmo de direita. Há esquerdistas militantes que são mais conservadores, reagindo com histeria a qualquer tentativa de alterar o status quo de sua linha ideológica.
Em segundo lugar, na Alemanha dos anos 30, os jovens eram compulsoriamente obrigados a se filiar em organizações do Estado manipuladas pelo partido único, que era o nazista. Não significava uma adesão da juventude à política dominante. Artistas e intelectuais importantes, que nada tinham com o nazismo, eram obrigados a ter a carteirinha do partido para exercerem suas atividades, casos de Herbert Von Karajan e de Martin Heiddeger, para citar apenas dois exemplos notórios.
Na Itália de Mussolini, no mesmo período, os jovens em fase escolar eram forçados a se transformarem em "balillas", vestiam uniformes e participavam dos rituais. Fellini, de Sicca, Monicelli, Mastroianni, Rosselini, Pasolini (este último era comunista de carteirinha) foram "balillas" não por opção pessoal, mas por imposição do Estado fascista.
Na recente visita que o papa fez a Israel, o fato foi novamente lembrado por alguns líderes israelenses. Um recurso vulgar para desqualificar a mensagem de paz que Bento 16 foi levar a dois povos em conflito.

PS - Como era de praxe no desfile dos antigos blocos carnavalescos, o cronista saúda as autoridades, os rapazes da imprensa e o povo em geral, pedindo passagem para sair de férias.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 14 de maio de 2009.

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quarta-feira, maio 27, 2009

Uma ex-combatente polonesa

JADWIGA JELENSKA MIELZYNSKA (1916-2009)

A história de uma ex-combatente polonesa

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Tendo como pano de fundo a história e a perversidade das tiranias, Jadwiga consegue o prodígio de narrar uma tragédia familiar de modo objetivo e sem ressentimentos", escreveu Maria Adelaide Amaral na contracapa.
O livro se chama "Pão Amargo" e foi escrito em polonês por Jadwiga Mielzynska. Traduzida para o português, a obra conta a história de uma ex-combatente polonesa mandada para a Sibéria durante a Segunda Guerra com a mãe e os três filhos.
No caso, a própria Jadwiga, que, em 1953, veio ao Brasil com a filha Mariela -as únicas que sobreviveram.
Filha de fazendeiros, teve quatro irmãos, um deles morto no campo de concentração de Auschwitz.
"Somos católicos. Os judeus não foram os únicos a serem mortos nos campos pelos nazistas", diz Mariela.
Ainda durante o conflito, trabalhou como enfermeira. Com o marido, que reencontrou na guerra, morou no Egito, na Inglaterra e na Argentina, onde se separou.
Formada em letras, gostava de matemática e "fez de tudo um pouco", antes de virar orientadora de estatística na pós-graduação da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Conhecedora de história, escreveu três livros.
Jadwiga morreu na quinta (14), aos 92, em consequência de problemas cardíacos. Deixa uma filha, três netos e cinco bisnetos. A missa será no dia 1º de junho, pois a família aguarda a chegada da neta que mora na China.

Do obituário da Folha de São Paulo, de 25 de maio de 2009.


É uma tragédia familiar curiosa. Ela foi deportada junto com os filhos para a Sibéria (na sequência de Katyn?). Um irmão morreu em Auschwitz. É uma história que mereceria ser melhor conhecida neste “Pão Amargo” citado.


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terça-feira, maio 26, 2009

A ciência brasileira em outro patamar

Ciência brasileira em novo patamar

SERGIO MACHADO REZENDE

COMO NOTICIOU esta Folha no último dia 6, a produção científica do Brasil, medida pelo número de artigos indexados na base internacional de dados Thomson Reuters-ISI, cresceu 56% em 2008, se comparada com 2007. O país passou da 15ª para a 13ª colocação no ranking mundial de artigos publicados, ultrapassando países com longa tradição científica, como a Rússia e a Holanda.
A notícia foi comemorada pela comunidade científica brasileira, que conta atualmente com 200 mil membros, entre mestres e doutores.
Mas a formação, como é feita hoje, com exigências de cursar disciplinas e fazer pesquisa para elaborar dissertações e teses, só foi iniciada em 1963, quando o professor Alberto Luiz Coimbra criou "na marra" a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) na então Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Somente cinco anos depois o Ministério da Educação regulamentou a pós-graduação, "legalizando" os diplomas concedidos pela Coppe e por outros cursos. E apenas em 1969, com a criação do regime de tempo integral para docentes pesquisadores, os grupos de pesquisa e os cursos de pós-graduação se disseminaram em todo o país e o sistema nacional de ciência e tecnologia (C&T) começou a ganhar dimensão e consistência.
O fato de a nossa ciência ser tão recente é a principal razão para a surpresa da notícia de que o Brasil ultrapassou Rússia e Holanda no ranking de publicações científicas. Mas esse fato não teve comemoração unânime.
Logo surgiram os céticos e críticos perscrutadores.
A primeira crítica é que a ciência brasileira não tem o impacto medido pelas citações na mesma proporção dos artigos publicados. Isso é verdade e decorre, dentre outras razões, da pouca tradição de nossa ciência.
Outra crítica, mais forte, foi a descoberta de que o grande aumento da produção de um ano para outro decorreu da ampliação da base da Reuters. O número de revistas brasileiras indexadas passou de 63, em 2007, para 103, em 2008.
No entanto, a Reuters também aumentou a base das revistas indexadas de todos os países, principalmente daqueles fora do núcleo de longa tradição científica. Em todo o mundo, a base passou de 9.000 para mais de 10 mil, e o número total de artigos indexados cresceu de 960 mil, em 2007, para 1,4 milhão, em 2008 -um salto de 49%.
O aumento do número de artigos do Brasil, proporcionalmente maior que o do restante do mundo, vem consolidar uma tendência das três últimas décadas. A contribuição do país na produção mundial, que em 1981 era de 0,44%, hoje é de 2,12%.
O aumento na formação de pesquisadores e no número de artigos científicos publicados é resultado de um esforço continuado de toda a sociedade. Mas o governo federal teve papel essencial nesse processo, principalmente por meio de suas agências de fomento, CNPq, Finep e Capes.
Assim, compartilho da opinião do ministro da Educação, Fernando Haddad, que creditou essa evolução ao governo federal, mas também ao papel das fundações estaduais de amparo à pesquisa, em especial da Fapesp, e ao trabalho dos cientistas.
A significativa evolução dos últimos anos é decorrente, em grande parte, da prioridade hoje atribuída à ciência e à tecnologia.
O orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia passou de R$ 2,835 bilhões, em 2002, para R$ 6,632 bilhões, em 2008. Nesse mesmo período, o número de bolsas de pós-graduação do CNPq passou de 11.347 para 18.500, e as de pesquisa passaram de 7.765, em 2002, para 12.015. No caso da Capes, as bolsas de pós-graduação passaram de 23.334, em 2002, para 39.892.
Pela primeira vez na história, o país tem um Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação, com prioridades claras e programas com objetivos, metas e orçamentos, os quais totalizam R$ 41 bilhões para projetos em universidades, centros de pesquisa e empresas.
O financiamento à pesquisa científica e tecnológica e à inovação tem estimulado pesquisadores e empresários empreendedores. Um exemplo do aperfeiçoamento dos instrumentos de apoio e da política de C&T está na criação dos 123 institutos nacionais de C&T, que receberam recursos da ordem de R$ 605 milhões.
O caminho para tornar esse setor um dos pilares do desenvolvimento nacional ainda é longo, mas está sendo percorrido com consistência, determinação e velocidade crescentes.


SERGIO MACHADO REZENDE, 68, físico, doutor em física pelo MIT (EUA), professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, é Ministro da Ciência e Tecnologia.

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 25 de maio de 2009.

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A perda de referências na cidade em movimento

A perda de referências na cidade em movimento


Já faz algum tempo, foi lá pela metade do ano passado, se não estou enganado. Talvez até antes.

Meu filho teve alguma indisposição intestinal e como eu precisava trabalhar, pedi à minha cunhada para que ele pudesse ficar na casa dela enquanto se recuperava. Aquela coisa de “só para não deixar a pessoa sozinha”...

A casa fica mais ou menos próxima da Igreja São Jorge, no bairro Partenon.

Depois de deixar o menino lá, segui meu caminho para meu local de trabalho, no centro da cidade, pela avenida Bento Gonçalves.

Pois ali próximo da esquina da Rua Luiz de Camões, senti a falta de algo. Faltava o prédio da Companhia Geral de Indústrias.

De fato, a Companhia Geral de Indústrias já fazia algum tempo que não estava mais ali. Era uma fabricante de fogões que por muito tempo ocupou um prédio espaçoso, na avenida Bento Gonçalves, quase na esquina da Luiz de Camões. E por espaçoso o prédio, era marcante.

Acho que lá pela metade da década de 1980 a fábrica de fogões se mudou para a vizinha cidade de Guaíba, provavelmente em busca de incentivos fiscais. Primeiro deixou ali um pequena revenda de parafusos. Depois o prédio foi ocupado por uma loja, diria que uma grande loja, de materiais de construção e decoração. E depois que esta loja saiu dali, não sei mais quem ocupou o prédio.

Só sei que naquela manhã o prédio já não estava ali. E eu senti falta dele...

Uma placa avisava, que em breve surgiria ali um novo condomínio residencial.

Estes dias passei novamente por ali, e lá estavam os esqueletos dos prédios que substituirão o velho prédio da Companhia Geral de Indústrias.


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domingo, maio 24, 2009

Tomates

Tomates


Hoje a salada de tomates à disposição dos clientes no restaurante que costumo almoçar estava muito boa.


Eu gosto bastante de tomates desde que eu era criança. Quando criança eu comia tomates como muita gente come laranja do céu: descasca, corta uma “tampinha” em cima, e parte para o ataque, com a pequena diferença que os tomates eu não descascava, tirava a tampa fora (a parte que ligava o tomate ao tomateiro), e temperava o tomate com sal à medida que ia comendo, como muita gente faz com “ketchup” e mostarda em sanduíches.


Apesar de tratado como legume, já ouvi falar que o tomate é uma fruta. E pelo que eu disse a respeito da forma como eu comia tomates na infância (e vez por outra ainda como na idade adulta), eu acho que o tomate ser uma fruta faz todo o sentido.


E, como uma fruta, parece que em algum momento da minha infância eu ouvi minha mãe falar que no passado não se achava tomate à disposição durante todo o ano. Como fruta da estação, como melancia no verão, ou laranja do céu no inverno, havia uma estação para o tomate.


Agora, e já faz algum tempo, é possível encontrar tomates em qualquer dia, seja no supermercado, na mercearia, ou no restaurante. Está certo que assim como hoje, os tomates estavam muito bons, há dias em que os tomates estão verdes, e outros em que já passaram do ponto, e isso sem que eu possa perceber que entramos ou saímos da “estação dos tomates”. Aparentemente é uma simples questão da época de distribuição na Ceasa (*). Acredito que os tomates que consumimos m Porto Alegre sejam todos importados. Não me lembro de ouvir falar em produção de tomates na área rural da cidade.


Tempos atrás, um colega ao me ver me servindo fartamente de tomates durante um almoço destes, disse que eu estava ingerindo muitos licopenos. “Licopenos?”, eu perguntei. “É licopenos. Entre outros benefícios auxiliam no combate ao câncer de próstata.”, ele me disse. Ponto para o tomate.


Outro dia, durante uma consulta, a médica me disse que eu estava com sobrepeso e me prescreveu uma dieta alimentar. Para meu alívio, verduras, como o alface, e o tomate estavam liberados para consumo ilimitado. Um alívio. Outro ponto para o tomate.


Felicidade a minha, gostar de tomates.


Aliás, você sabe o que o tomate foi fazer no banco? Não? Foi tirar o extrato! :)



15/05/2009


* Ceasa, para quem não sabe é a central de distribuição de produtos naturais aqui de Porto Alegre. Ali, durante as madrugadas, são comercializadas vastas quantidades de frutas, legumes e verduras, e também flores.

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Chuva em Roma



Trajados como legionários, membros do Grupo Histórico Romano desfilam pelas ruas da capital italiana nos festejos da fundação da Cidade Eterna, celebrada em 21 de abril.

Nota da Folha de São Paulo, de 20 de abril de 2009. Foto Chris Helgren, para a Reuters.

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O Campeonato Mundial da Ciência

O Campeonato Mundial da Ciência

RENATO DAGNINO

O NÚMERO de artigos de brasileiros que aparecem nas 10 mil melhores revistas que constituem a base considerada para o campeonato cresceu 56% no último ano.
O país agora ocupa a 13ª colocação no ranking. Sem querer estragar prazeres dos que festejam a notícia, vale recomendar moderação: o número de revistas brasileiras que integram a base passou de 63, em 2007, para 103, em 2008 (conforme o artigo "Inusitado aumento da produção científica", de Rogerio Meneghini, publicado neste espaço na última terça).
Os mais otimistas dizem que, com 30 mil artigos (2,12% do total mundial), estamos próximos da Coreia, um posto acima, com 35 mil. Um país que, por usar sua ciência para fazer tecnologia e desenvolver a economia, estaria nos mostrando o caminho que vai dos artigos ao bem-estar social.
Mas há setores da comunidade de pesquisa que questionam o significado disso que é visto como o Campeonato Mundial da Ciência, no qual os artigos publicados nas revistas em que se joga o jogo são os gols marcados pelos cientistas-jogadores. Quase todas essas revistas, aliás, em países desenvolvidos.
Os questionamentos podem ser entendidos como associados a outros quatro campeonatos.
O primeiro, interno ao "campo" da ciência, sugere que o Campeonato da Ciência Publicada é a "segunda divisão". A primeira seria o Campeonato da Ciência Citada. Nele, o gol não é o número de artigos publicados, mas o número de vezes que ele é citado.
Dizem os críticos: os artigos de brasileiros são citados bem abaixo da média mundial, e estimativas mostram que a superioridade coreana nesse campeonato é de quase 3 para 1.
O segundo questionamento avança para o Campeonato da Tecnologia. Os gols, aqui, são as patentes depositadas nos EUA. Os artilheiros, diferentemente do que ocorre lá, não são as empresas, mas as universidades. Apesar do seu paradoxal esforço, a superioridade coreana é de 30 para 1.
Os críticos dizem que o resultado desse campeonato não depende daquele da ciência e que o crescimento das publicações é simples consequência do aumento do número de mestres e doutores. Como as empresas não precisam fazer pesquisa, não os empregam e não patenteiam -e esse campeonato também está perdido.
O terceiro envolve o Campeonato da Produção, entendido pela comunidade de pesquisa como o penúltimo elo da cadeia linear de inovação que ela usa como modelo para elaborar a política de ciência e tecnologia. Nele, o gol é a participação dos produtos "high-tech" nas exportações do país.
Aqui, a superioridade do país tomado como modelo (Coreia) é de 3 para 1.
Como no Campeonato da Tecnologia, os críticos estão mais interessados no jogo que ocorre no "campo" da empresa, da produção. Eles têm mostrado aos que elaboram a política de C&T, e que só jogam no "campo" da ciência, que seus campeonatos são de outros esportes. E que o sucesso no Campeonato da Ciência Publicada pode ser bom para quem dele participa, mas não para o que eles alegam ser os "interesses do país".
O quarto questionamento tem a ver com o Campeonato da Tecnologia Social. Nele, o "campo" não é o da empresa, mas o dos movimentos sociais. Aqui, fazer gol é aplicar diretamente nosso potencial de C&T para o desenvolvimento social sem esperar que ele ocorra por meio das empresas. É lutar para sair da "lanterna" nesse torneio.
Os críticos sabem que isso exige muita criatividade, originalidade e conhecimento. Não há receita de como desenvolver, com os empreendimentos solidários, soluções adequadas do ponto de vista social, técnico e ambiental. Isso que é imprescindível na nossa situação e nunca foi feito antes.
Nesse caso, o poder dos críticos é muito menor. Mas eles estão conseguindo mostrar a seus pares que querem um país mais justo e sustentável que seu campeonato é o mais importante. E que centenas de trabalhos científicos já mostraram que vencê-lo não é consequência linear de bons resultados nos campeonatos anteriores.
O fato de não sabermos produzir conhecimento científico e tecnológico compatível com valores morais (e ambientais) e interesses econômicos alternativos nem conceber mecanismos institucionais para fomentá-lo exige uma reorientação da política de C&T. É injustificável que nosso plano de C&T aloque menos de 2% de seus recursos para o seu quarto eixo, "C&T para o Desenvolvimento Social".
Depende da capacidade de mobilização e convencimento desses jogadores-críticos que estão entrando em campo para transformar o Campeonato da Ciência Publicada no Campeonato da Tecnologia Social, nossa chance de construir um país melhor.


RENATO DAGNINO , 59, mestre em economia do desenvolvimento e doutor em ciências humanas, é professor titular de política científica e tecnológica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 14 de maio de 2009.

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Inusitado aumento da produção científica

Inusitado aumento da produção científica

ROGERIO MENEGHINI

FOI UM choque para milhares de pesquisadores científicos brasileiros ler a reportagem da editoria Ciência desta Folha no dia 6 de maio. Ela relatava a divulgação do ministro da Educação, Fernando Haddad, de que a produção científica brasileira tinha crescido 56% de 2007 a 2008, segundo a mundialmente reconhecida base internacional de dados Thomson Reuters-ISI.
Um choque que não era propriamente de contentamento, mas de estupefação. Acostumados com a lida de números em suas pesquisas e familiarizados com o curso modesto dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil, era difícil encontrar uma explicação para o aumento inusitado em nível mundial em um ano, levando o país para a 13ª posição entre as nações na publicação de artigos científicos.
O portal de periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, órgão do Ministério da Educação) que permite o acesso ao ISI provavelmente teve um de seus maiores níveis de visitas, no anseio dos pesquisadores de constatar se o aumento era de fato o anunciado. E era.
Porém, a explicação do ministro e de algumas autoridades presentes ao evento da divulgação, de que o aumento se devia à política em nível federal de fomento à pesquisa, não fazia eco em mentes perscrutadoras por dever de ofício.
Muitas hipóteses foram levantadas, havendo até colegas que ironizavam ser um evento raro de desova de artigos científicos engavetados, como a desova de tartarugas marinhas. Por estar numa função que permite maior descortínio da produção científica, a explicação para o fato não me demorou. A base de dados Web of Science-ISI, utilizada nessa pesquisa, mostrou, sim, um aumento que o Brasil liderou: o de revistas científicas nacionais indexadas nessa base.
Em 2006, eram 26. Essa quantidade passou para 63 em 2007 e para 103 em 2008. Um aumento insólito, em contexto mundial: o número quadruplicou em dois anos! Qual seria a explicação para isso? A Thomson Reuters-ISI é uma empresa comercial, visando lucro, mas buscando manter a imagem de indexar o núcleo das melhores revistas científicas do mundo (10 mil entre 100 mil). Segundo a própria empresa, a sua política de seleção continua sendo a de medir o impacto por meio das citações dos artigos das revistas, mas iniciou um procedimento de espraiar o universo das revistas do ponto de vista regional e temático.
O Brasil certamente marcou ponto nos três itens. Com isso, o número de artigos em suas revistas aumentou de 4.056, em 2007, para 12.502, em 2008. Ou seja, um aumento de 8.446 artigos, devido ao aumento de revistas e também ao maior número de artigos por revista, uma vez que a indexação no ISI exerceu maior atração sobre os autores.
Isso significa que cerca de 80% do aumento de artigos anunciado pelo ministro Haddad advieram de um setor em que o governo federal investe de forma absolutamente inexpressiva: R$ 10 milhões em 2008, divididos entre o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Capes, para cerca de 240 revistas nacionais. Isso representa cerca de 0,4% dos orçamentos das duas instituições. Para comparação, os Estados Unidos gastam 200 vezes mais em revistas científicas.
A única iniciativa brasileira para melhorar as suas revistas, além da dedicação dos editores, é o programa SciELO (www.scielo.br), criado em 1997 por meio de uma parceria entre a Fapesp (Fundação de amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde).
SciELO exerce no Brasil um papel semelhante ao do ISI, o de indexar as melhores revistas brasileiras, selecionadas por critérios de qualidade, mas vai além, pois disponibiliza os artigos com textos completos em acesso aberto. Hoje são 205 revistas.
É importante frisar que, das 103 revistas brasileiras indexadas no ISI mencionadas acima, 81 estão na base SciELO. O orçamento executado do programa para 2009 é de R$ 2,5 milhões, 80% provenientes da Fapesp (recursos do Estado de São Paulo) e 10% do CNPq (recursos federais). Tem-se assim a história real do aumento expressivo da produção científica brasileira em 2008 na base ISI.


ROGERIO MENEGHINI é coordenador científico do programa SciELO de revistas científicas brasileiras, professor titular aposentado do Instituto de Química da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências. Foi presidente da primeira Comissão de Avaliação da USP (1993-1997).

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 12 de maio de 2009.

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Produção científica cresce 56% no Brasil

Produção científica cresce 56% no Brasil

País foi o que teve maior aumento no número de artigos publicados entre 2007 e 2008, subindo de 15º para 13º no ranking

Análise de qualidade da ciência nacional, porém, mostra desempenho abaixo da média mundial em total de citações em 21 áreas

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

De 2007 para 2008, a produção científica brasileira cresceu 56% e o país passou da 15ª para a 13ª colocação no ranking mundial de artigos publicados em revistas especializadas.
No entanto, a qualidade dessa produção -medida pelo número de citações que um artigo gera após ser publicado- continua abaixo da média mundial.
Os dados que mostram o crescimento da produção científica brasileira foram divulgados ontem pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, em evento na Academia Brasileira de Ciências no Rio, e foram produzidos a partir da base de dados Thomson-ISI.
Já a informação sobre o impacto da produção acadêmica brasileira consta do site do instituto Thomson Reuters (sciencewatch.com/dr/sci/09/may3-092). Os dados mais recentes foram divulgados no dia 3 deste mês.
No aspecto quantitativo, o Brasil foi o país que mais cresceu na lista das 20 nações com mais artigos publicados em periódicos científicos indexados pelo ISI. Em 2008, 30.145 artigos de instituições brasileiras foram aceitos nessas publicações. Em 2007, esse número era de 19.436.
Com o crescimento, o Brasil ultrapassou Rússia e Holanda no ranking. Esses 30 mil artigos representam 2,12% da produção mundial.
Já a dimensão qualitativa -pesquisada entre 2003 e 2007, intervalo maior de tempo para captar melhor o número de citações a um artigo em outros textos acadêmicos- mostra que a área em que o Brasil mais se aproxima da média mundial de citações é matemática, em que cada texto mereceu 1,28 citação, 11% abaixo da média mundial, de 1,44.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, considerou "alvissareiro" o crescimento brasileiro e disse que isso reflete o aumento do fomento à pesquisa no país.
"Estar em 13º é muito bom. Estamos colados, por exemplo, na Coreia do Sul. Claro que nossa população é muito maior, mas também é verdade que os sul-coreanos investiram brutalmente em pesquisa nos últimos anos. Se continuarmos nesta marcha, estaremos bem", afirmou Palis.
Ele explica que uma das razões que contribuíram para o Brasil ultrapassar a Rússia foi o fato de este país ter perdido excelentes pesquisadores para os países ocidentais.
O especialista em cienciometria (que estuda a produtividade em pesquisa) Rogerio Meneghini foi cauteloso na análise do crescimento brasileiro.
Para ele é importante analisar não apenas o número de artigos publicados, mas também sua repercussão. Ele lembra também que, mesmo no caso da base Thomson-ISI, há revistas com níveis de qualidade que variam bastante.
Para o ministro da Educação, contribuiu para esse resultado o aumento do número de mestres e doutores no Brasil, que saiu de 13,5 mil para 40,6 mil de 1996 a 2007- e o crescimento das bolsas concedidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de 19 mil para 41 mil no mesmo período.
"Estamos vivendo um momento em que foi possível aumentar em mais de 50% a produção brasileira. Isso aconteceu graças ao trabalho do MEC e do Ministério de Ciência e Tecnologia", disse Haddad.
Para o presidente da Capes, Jorge Guimarães, é preciso ter em consideração que a repercussão de um artigo leva mais tempo para ser captada. "Um artigo publicado em 2008 ainda não está sendo citado. Isso vale para nós e para todos os países. Para medir o impacto, é preciso olhar mais para trás."
Além disso, diz, países desenvolvidos levam vantagem por terem mais tradição no meio científico e pelo fato de seus pesquisadores participarem de um número muito maior de congressos internacionais, o que aumenta a visibilidade dos artigos publicados.
Guimarães admite, no entanto, que é preciso melhorar também nesse aspecto. "Também estamos crescendo no número de citações, mas não com a mesma velocidade."

Notícia da Folha de São Paulo, de 6 de maio de 2009.


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José Onofre (1942-2009)

JOSÉ ONOFRE KROB JARDIM (1942-2009)

O maior crítico do país, segundo Paulo Francis

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Deveria haver alguém para acompanhar José Onofre, ficar atento às suas frases e anotá-las, para que não se perdessem. Segundo Vera, ex-mulher do jornalista, era isso o que dizia Luis Fernando Veríssimo sobre o amigo.
Foram muitos os que admiraram a habilidade de Zé com as palavras. "Paulo Francis dizia que ele era o maior crítico brasileiro", lembra Vera. Escrevia sobre cinema e literatura.
Natural de Bagé (RS), começou a trabalhar na Viação Férrea do RS, fazendo serviços burocráticos. Em 1967, tornou-se chefe do departamento audiovisual do colégio Israelita Brasileiro. Dois anos depois, deu início à carreira jornalística, ao entrar no "Zero Hora".
Antes de vir a SP, ainda passou por uma agência de propaganda e pela rádio e TV Difusora. Trabalhou na editora Abril, revista "Senhor", "IstoÉ", "O Estado de S. Paulo", "Gazeta Mercantil" e "Carta Capital". No início e em meados dos anos 80, colaborou com esta Folha.
"Zé amava o [Ernest] Hemingway. Ele tinha até uma foto linda do escritor, com aquela barba, na parede de casa. Amava também John Wayne." Vera diz que ele vivia grudado aos livros. Autor de "Sobra de Guerra", também adorava gatos.
Morreu anteontem, aos 66, após parada cardiorrespiratória. Sofria de diabetes e problemas renais. Estava em coma havia 45 dias. O enterro foi ontem, em Porto Alegre. Não teve filhos.

Obituário da Folha de São Paulo, de 21 de maio de 2009. Eu costumava lê-lo na CartaCapital.


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segunda-feira, maio 18, 2009

A nova ideia é mais difícil de deglutir

A nova ideia é mais difícil de deglutir


A nova reforma ortográfica da língua portuguesa cortou os acentos em palavras paroxítonas com ditongos abertos “ei” e “oi” (antes da reforma escreveríamos “éi” e “ói”).

Me parece que para certas palavras que não usamos com muita frequência, como onomatopéia, até que não será tão difícil pensar em onomatopeia.


Já Coreia, e não Coréia, já e mais difícil.


E a palavra ideia e algo quase impensável sem o acento, de tanto que a utilizamos no dia a dia. É uma palavra de uso frequente, e por isso mesmo, cada vez que a vejo na nova grafia parece que algo está faltando. E de fato, está. A reforma varreu o acento. Mas eu tenho vontade de colocá-lo de volta lá.


Não é a toa que existe um blog de um conhecido meu que proclama em alto e bom som que é escrito “em português antigo” (acho que antigo é aquele resultante da reforma ortográfica de 1971 – mais ou menos...).


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A Ascensorista que lê

A Ascensorista que lê


Hoje quando peguei o elevador para ir almoçar, a ascensorista que pilotava o elevador estava lendo.

Lendo um jornal. E lendo como estava, lendo ficou enquanto em entrava no aparelho, e, sem tirar os olhos das folhas, fechou a porta após mim.


Assim foi com os demais passageiros, nos andares seguintes. O elevador parava, a porta se abria, o(s) passageiro (s) embarcava (m), mas a moça, impassível, permanecia fixa ao jornal.


Em determinado andar, um passageiro entrou e bateu, de propósito, no jornal. Como se tirada de um transe hipnótico, ela levantou os olhos em direção àquele passageiro invasivo.


Para nada. Numa fração de segundo, seus olhos voltaram ao jornal.


E assim foi até a chegada ao térreo.



Quando eu voltei do intervalo do almoço, aconteceu de o mesmo elevador ser o que estava disponível para voltar ao meu andar.


Mas a ascensorista já não lia. Provavelmente acabara de ler o jornal.


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A bibliotecária e a "catalogação na fonte"

REGINA CARNEIRO (1921-2009)

A bibliotecária e a "catalogação na fonte"

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Livros, há de todos os tipos. Grandalhões, miúdos, com fotos e/ou ilustrações, ou os que trazem só palavras. Boa parte possui uma ficha, logo no começo, com nome do autor, título, ano e assunto. Graças a Regina Carneiro.
No Brasil, a ideia de que as obras deveriam sair das gráficas com essas informações, adotando-se assim o sistema de "catalogação na fonte", partiu dela, nos anos 70.
Ex-professora de biblioteconomia da USP, foi também bibliotecária-chefe da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Zanizer Chaves, hoje no mesmo cargo que Regina teve na câmara, lembra: "Ela descobriu que a biblioteca do Congresso, em Washington, usava um padrão e foi até lá ver como era".
Regina foi a primeira a defender a "catalogação na fonte" para o mercado editorial brasileiro, facilitando a troca de informações sobre obras.
Como lembra o sobrinho Marcello, que herdou da tia uma coleção inteira de Machado de Assis, ela era uma "devoradora de livros". Tinha uma queda por contos de autores ingleses.
Segundo Luís, sobrinho-neto com quem ela morava, Regina estava com muita vontade de rever os cinco sobrinhos de Ribeirão Preto. Na terça, Dia de Tiradentes, os cinco vieram visitá-la. Dois dias depois, morreu aos 87, após dar entrada no hospital com início de pneumonia. Sofreu uma trombose.
A missa de sétimo dia será hoje, às 10h, na paróquia São José, SP. Não deixa filhos.

Obituário publicado na Folha de São Paulo, de 29 de abril de 2009.


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Galícia quer adotar o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa

Galícia, na Espanha, também quer adotar o novo Acordo Ortográfico

LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Galícia, comunidade autônoma da Espanha, quer adotar o Acordo Ortográfico. A comunidade, de menos de 3 milhões de habitantes, fala as línguas galega e castelhana, mas a recém-criada Academia Galega da Língua Portuguesa pleiteia a entrada na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), para, posteriormente, adotar o Acordo, firmado apenas entre os países de língua lusófona.
Uma das principais razões, segundo a academia, é que os galegos consideram a língua galega mais próxima do português que do espanhol.
Para tal, a instituição enviou um documento ao governo galego pedindo formalmente a adesão da região à CPLP. O processo deverá demorar, já que houve troca de governo na comunidade e o governo espanhol também precisa aceitar o pedido.
A academia está preparada: mesmo sabendo que o processo de integração, se ocorrer, será lento, organizou um documento com cerca de 700 vocábulos, apenas particularidades da língua. A ideia é que essa obra seja um adendo ao Volp ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"). "Nosso contributo está restrito a particularismos. Não é um vocabulário como o da ABL, mas fizemos a nossa parte", disse Ângelo Cristóvão, secretário da Academia Galega da Língua Portuguesa.

Notícia da Folha de São Paulo, de 15 de abril de 2009.


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Morreu J.G. Ballard, autor de O Império do Sol

Morre aos 78 o escritor J. G. Ballard

DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor J. G. Ballard morreu ontem, aos 78 anos, em sua casa em Londres. Ballard sofria de câncer de próstata, mas o comunicado oficial de sua agente, Margaret Hanbury, diz apenas que ele morreu "vítima de uma doença prolongada".
Nascido em Xangai (China), o escritor é considerado um dos renovadores da ficção científica. No entanto, sua obra mais conhecida é "O Império do Sol", romance autobiográfico que narra a sua infância passada em um campo de prisioneiros japonês, na China, durante a 2ª Guerra Mundial. Em 1987, Steven Spielberg adaptou a obra para o cinema.
Em 1996, o canadense David Cronenberg transpôs para as telas "Crash - Estranhos Prazeres", polêmico romance de Ballard que tem como protagonistas pessoas que relacionam seu prazer sexual com acidentes de carro.
A Companhia das Letras publicou no Brasil "Terroristas do Milênio", "O Reino do Amanhã" e "Crash". A BestBolso editou recentemente "O Império...".

Notícia vista na Folha de São Paulo, de 20 de abril de 2009.


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Bento 16, um papa político no Oriente Médio

Bento 16, um papa político no Oriente Médio

Stéphanie Le Bars

Três destinos sensíveis, quatro assuntos de peso. Durante uma semana e quase trinta discursos na Jordânia, em Israel e nos territórios palestinos ocupados, o papa Bento 16 tinha pelo menos sete boas razões para tropeçar. Não chegou nem perto. Bento 16 dominou de forma geral os aspectos geopolíticos da região, ainda que, ao longo da viagem que terminou na sexta-feira (15), ele não tenha conseguido evitar todos os obstáculos previsíveis em um contexto em que a religião tem parte com a política. Sem deixar de lado sua rigidez e seu registro de teólogo, o papa falou de política e se transformou em defensor do diálogo entre as religiões e as culturas.

Para essa 12ª viagem ao exterior, a agenda era ambiciosa. E o contexto, desfavorável. Bento 16 deveria promover o diálogo interreligioso com os muçulmanos, ainda mais com os judeus; incentivar a paz entre Israel e os territórios palestinos e pressionar pela criação de um Estado palestino; apoiar a presença de cristãos na região.

O diálogo entre islâmicos e cristãos, que se tornou uma grande aposta do pontificado desde a controvérsia suscitada pelo discurso do papa em Regensburgo (Baviera) - no qual os muçulmanos haviam entendido uma crítica ao Islã -, esteve no cerne da etapa jordaniana e da passagem por Jerusalém. Apesar das tentativas de recuperação política por parte de dirigentes muçulmanos, foram dados passos importantes. Só a visita ao Domo da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, constitui um sinal significativo da confiança entre uma parte das elites muçulmanas e o Vaticano.

O balanço é menos positivo para as relações entre judeus e cristãos e para a imagem do papa na sociedade israelense. Bento 16, que supostamente deveria sanar um período de tensões com o mundo judeu, perturbado pela retirada da excomunhão do bispo negacionista Richard Williamson, perdeu uma boa chance, do ponto de vista israelense. Para alguns rabinos israelenses, seu discurso em Yad Vashem, distante demais, não chamou atenção o suficiente para o papel da Igreja no antissemitismo.

Esse conflito não questionará as relações que já existem entre judeus e cristãos, mas as declarações de boa vontade não serão o suficiente para remover, como esperava Bento 16 no começo da viagem, "os obstáculos para a reconciliação de cristãos e judeus".

O diálogo interreligioso, seja bilateral ou trilateral, está longe de estar maduro, apesar de uma vontade, bem compartilhada pelos dirigentes religiosos, de defendê-lo. A imagem do papa apertando a mão de um rabino e de um dignitário druso em Nazaré será uma das imagens-símbolo dessa viagem. Na essência, o papa quis chamar a atenção mais para os "valores comuns" às três religiões do que para as diferenças. Ainda que ele continue sem enveredar pelo caminho de um diálogo teológico, trata-se de uma evolução sensível para um papa que, no início de seu pontificado, havia considerado urgente eliminar o dicastério [subdivisão da cúria romana] encarregado do diálogo interreligioso. Ele o restabeleceu após a controvérsia de Regensburgo. Mesmo assim, as tensões e a desconfiança nesse terreno fazem pensar sobre a possibilidade de uma coexistência tranquila e duradoura.

Mas é na questão entre israelenses e palestinos que esse papa, normalmente tão pouco político, surpreendeu. A viagem, feita pouco mais de quatro meses depois da ofensiva israelense em Gaza e algumas semanas após a chegada de um novo governo israelense que está mais para "falcão" do que para "pomba", parecia minada. Os palestinos temiam que essa viagem acabasse constituindo uma carta branca dada à política israelense. O papa tinha "ciência" dessas dificuldades, segundo o porta-voz do Vaticano, e é preciso reconhecer que nada disso aconteceu.

Preocupado em conservar uma posição "equilibrada", Bento 16 evocou "a segurança de Israel" e condenou o "terrorismo", dando ao mesmo tempo sinais fortes de apoio e de compreensão aos palestinos; ele pediu com insistência pela criação de um Estado palestino. Com exceção da espinhosa questão de Jerusalém, classificada como "cidade da paz, lar espiritual para os judeus, cristãos e muçulmanos", e de sua reticência, ressaltada pelos palestinos, em falar de uma "ocupação" israelense, o papa não evitou quase nenhuma questão que seus anfitriões da Cisjordânia pudessem querer que ele levantasse.

Como um diplomata respeitoso das resoluções das Nações Unidas, ele evocou, às vezes com força, a situação em Gaza, as dificuldades causadas pelo muro de separação, a questão dos refugiados, o acesso aos lugares santos, os prisioneiros políticos... "Os muros podem ser derrubados", proclamou em Belém o papa alemão, surpreso com a descoberta do dispositivo construído por Israel a alguns meses do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Ainda que a palavra papal não tenha o peso da de um Barack Obama, essa esperança continuará sendo uma das frases-chave de sua viagem.

Em compensação, o encontro entre o papa e os cristãos do Oriente constitui um dos pontos fracos da viagem. Sua presença nas diversas missas, em Amã, Jerusalém ou Nazaré, muitas vezes foi ofuscada pela de milhares de peregrinos estrangeiros. O pedido que o papa lhes fez, de serem os vetores de paz e dos "construtores de pontes" pode parecer fora de sincronia em um contexto marcado por uma constante diminuição de seu número no local e das tensões entre as comunidades.

Tradução: Lana Lim

Notícia do Le Monde, reproduzida no UOL.

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Papa conclui delicada peregrinação à Terra Santa

Papa conclui delicada peregrinação à Terra Santa

JERUSALÉM, Israel (AFP) — O Papa Bento XVI concluiu nesta sexta-feira uma peregrinação de oito dias à Terra Santa durante a qual defendeu com firmeza a criação de um Estado palestino, tentou sanar feridas com os judeus e exigiu, em numerosas ocasiões, a paz para o Oriente Médio.

No avião que o levou de volta a Roma, que pousou no início da tarde no aeroporto de Ciampanino, o Papa declarou à imprensa que havia observado um "profundo desejo de paz" no Oriente Médio.

"Existem grandes dificuldades como vimos e ouvimos, mas também notamos um grande desejo de paz por parte de todos", acrescentou.

O Papa pediu durante a viagem a reconciliação entre palestinos e israelenses e, de forma clara, defendeu, sem hesitação, a criação de "dois Estados" como única saída para o conflito, durante a viagem mais política das 12 que realizou em quatro anos de pontificado, e que começou na Jordânia, prosseguindo por Israel e Cisjordânia.

"Que a solução de dois Estados seja uma realidade, que não seja um sonho", afirmou o Papa ao despedir-se do presidente israelense Shimon Peres e do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, firme opositor dessa opção, nesta sexta-feira, no aeroporto Ben Gurión de Tel Aviv.

O Sumo Pontífice, que acabava de visitar o lugar onde Cristo nasceu e foi sepultado, reiterou, como "amigo de palestinos e israelenses", seu pedido de solução negociada.

"Apelo a todos os povos destas terras para que não se derrame mais sangue: Não mais combates, não mais terrorismo, não mais guerra!", clamou o Papa.

"Que se reconheça universalmente o direito à existência do Estado de Israel, para que viva em paz e seguro dentro de fronteiras internacionalmente aceitas", acrescentou.

Peres, por sua vez, convidou o Papa a "ajudá-lo a despojar o terrorismo de uma dimensão religiosa", enquanto que na véspera Netanyahu havia solicitado que "denunciasse com firmeza as ameaças do Irã de destruir Israel".

Sua comovente visita a um campo de refugiados palestinos, às portas de Belém, na Cisjordânia, durante a qual denunciou o embargo israelense a Gaza assim como o "trágico" muro de separação construído por Israel, perto de onde estava, foi considerado um dos momentos de mais emoção de sua viagem.

A visita do pontífice, de origem alemã, gerou também polêmica entre os judeus, que consideraram muito tímido seu discurso pronunciado no Memorial Yad Vashem, de recordação dos seis milhões de judeus vítimas do genocídio nazista.

No entanto, o Papa reiterou claramente sua condenação ao holocausto, para no dar lugar a dúvidas, depois da denúncia da imprensa israelense de que tivesse sido membro das Juventudes Hitlerianas, o que foi oficialmente desmentido pelo Vaticano.

O Papa recordou sua visita ao Memorial como "um dos momentos mais solenes" de sua estada de cinco dias a Israel e a comparou à realizada há três anos ao campo de extermínio de Auschwitz.

Bento XVI, que tirou os sapatos em Jerusalém, para entrar na Mesquita da Rocha - um dos lugares mais sagrados do Islã- e apertou as mãos de sobreviventes do Holocausto, deixou mensagem no Muro de Lamentações e se reuniu com os dois grandes rabinos.

Bento XVI teve palavras de aproximação com as outras religiões, em particular a muçulmana, e fez um apelo à unidade dos cristãos ante o patriarca greco-ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III.

Notícia da AFP, via Google.


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Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Bento XVI reafirma conceito de doutrina tradicional da Igreja sobre a família

As melopeias em baixo profundo das igrejas orientais, a voz grave por baixo da melodia que é cantada pelos chantres, marcou o final da missa presidida pelo Papa Bento XVI em Nazaré (Galileia, norte de Israel). Uma ocasião que o Papa encontrou para, perante cerca de 50 mil pessoas, deplorar as tensões dos últimos anos na região, entre cristãos e muçulmanos.

Nazaré é o lugar de referência maior para os cristãos da Terra Santa. Aqui viveu Jesus (para poucos investigadores, o Nazareno nasceu mesmo em Nazaré e não em Belém). Na Galileia ele viveu a maior parte dos seus dois a três anos de vida pública, antes de ir para Jerusalém, onde seria crucificado.

Por isso, os cristãos desta região norte de Israel sentem-se especialmente motivados com a presença do Papa em Nazaré. “Estamos muito contentes que o Papa nos venha visitar. Ele lembra-nos os tempos antigos em que vivemos com o homem Jesus Cristo de Nazaré: os discípulos, os apóstolos, eram todos desta região”, diz ao PÚBLICO o arcebispo da Igreja Católica Melquita, Elias Chacour.

Responsável máximo, na Galileia, da maior comunidade católica de Israel, com cerca de 76 mil crentes, Chacour saudou esta manhã o Papa no início da missa. “O santo padre vem como peregrino visitar os lugares santos e vem como pastor para visitar os cristãos e para os encorajar a ficar; uma palavra do Papa vale todos os discursos que os políticos possam fazer”, acrescenta o arcebispo.

Celebrada num grande anfiteatro ao ar livre, a missa foi, até agora, o maior momento de festa dos cristãos que vivem em Israel, na Palestina e em países vizinhos. Em Belém, ontem, Bento XVI já experimentara esse sentimento, mas a multidão de Nazaré suplantou os cerca de quatro ou cinco mil crentes que ontem estiveram no lugar onde a tradição diz que Jesus nasceu.

“Nos últimos anos, infelizmente, Nazaré conheceu tensões que feriram as relações entre cristãos e muçulmanos”, afirmou o Papa na homilia. “Que cada um rejeite o poder destruidor do ódio e os preconceitos, que levam a morte à alma das pessoas antes de matar os corpos.”

O Papa referiu-se ainda à família – a missa assinalava o encerramento do Ano da Família, proclamado pelos católicos da Galileia. Tomando o exemplo da família de Nazaré, Bento XVI referiu-se à doutrina tradicional da Igreja sobre o tema: a família está “fundada sobre a fidelidade de um homem e de uma mulher unidos para toda a vida na aliança do matrimónio”. Esta “verdade fundamental” deve ser redescoberta como “base da sociedade”, acrescentou.


Notícia de Publico, Portugal.


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Na Cisjordânia, papa defende criação de Estado Palestino

Na Cisjordânia, papa defende criação de Estado Palestino

O papa Bento 16 defendeu nesta quarta-feira a criação de um estado Palestino durante uma visita a Belém, na Cisjordânia, parte do giro de uma semana que realiza pelo Oriente Médio.

"A Santa Sé apoia o direito do seu povo a um território palestino soberano na terra de seus antepassados, em paz com seus vizinhos e dentro de fronteiras reconhecidas internacionalmente", disse o pontífice durante uma coletiva de imprensa na casa do presidente palestino, Mahmoud Abbas.

O governo de Israel, comandado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, até agora vem se recusando a endossar a proposta para a criação de um Estado palestino.

O papa disse ainda que os palestinos deveriam resistir "à tentação de lançar mão de atos de violência".

Após a visita à casa do presidente palestino, o pontífice celebrou uma missa na Praça da Manjedoura, local onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo teria nascido.

Oração pelo fim do embargo

Durante a homilia, Bento 16 disse que seu coração "estava com aqueles atingidos pelo conflito em Gaza", e acrescentou "estar rezando pelo fim do embargo ao território palestino".

Apesar de a população cristã de Belém ter reduzido significativamente nos últimos anos, o papa teve uma recepção calorosa por parte de milhares de cristãos locais e peregrinos vindos de outros lugares do mundo.

Apesar do pesado esquema de segurança, o ambiente na Praça da Manjedoura era de tranquilidade, segundo o correspondente da BBC que acompanha a viagem do papa, David Willey.

O papa vai passar o seu terceiro dia de visita à Terra Santa em território palestino. Ainda nesta quarta-feira ele visita um campo de refugiados palestino em Belém, ao lado do muro construído por Israel na Cisjordânia.

O pontífice ainda deverá se reunir com representantes da pequena comunidade católica em Gaza, que obtiveram permissão especial pelas autoridades israelenses para viajar a Belém.

Texto da BBC Brasil.


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Prece em Belém

Muhammed Muheisen/Associated Press

PRECE
Meninas cristãs palestinas rezam na Igreja da Natividade, em Belém, Cisjordânia, erguida onde se acredita ter sido o local de nascimento de Jesus Cristo; o papa Bento 16, que ficará no Oriente Médio ao longo desta semana e visitou ontem a Jordânia, pediu aos cristãos da região que contribuam com a paz

Da Folha de São Paulo, em 11 de maio de 2009.

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sábado, maio 16, 2009

Papa diz desejar que muro na Cisjordânia "caia logo"

Papa diz desejar que muro na Cisjordânia "caia logo"

Em visita a Belém, Bento 16 também criticou embargo israelense à faixa de Gaza

Pontífice disse entender a preocupação de Israel com própria segurança e exortou jovens palestinos a não usar de violência e terrorismo


DA REDAÇÃO

Em visita a Belém (Cisjordânia), cidade administrada pela Autoridade Nacional Palestina, o papa Bento 16 defendeu ontem vários temas caros aos palestinos em seu enfrentamento político com Israel.
Pela segunda vez em sua viagem de uma semana à Terra Santa, Bento 16 apoiou a existência do Estado palestino.
O pontífice também se referiu especificamente ao muro erguido na região, para controlar o acesso de palestinos a Jerusalém e outras partes de Israel, condenando a construção "que invade seus territórios, separando vizinhos e dividindo famílias".
Em sua escala na cidade em que, segundo a Bíblia, Jesus Cristo nasceu, o papa disse que "embora muros possam ser facilmente construídos, sabemos que não duram para sempre".
"Muros podem ser derrubados. Antes, no entanto, é preciso desfazer os muros que construímos ao redor de nossos corações", afirmou. "Meu desejo para vocês, povo da Palestina, é de que isso aconteça logo."
No discurso feito em uma escola num campo de refugiados, Bento 16 disse que o muro, logo ao lado, era o símbolo do impasse nas relações entre israelenses e palestinos.
Completando o pacote de declarações caras aos palestinos, o papa afirmou que rezava para que o embargo que Israel impõe à faixa de Gaza, governada pelo grupo radical Hamas, "fosse suspenso em breve". Em janeiro, cerca de 1.400 pessoas foram mortas ali em ofensiva do Exército israelense.

"Frieza"
Embora sem tomar partido nas disputas locais e tendo lembrado que é preciso abrir mão do uso de violência, a mensagem do líder católico na peregrinação que se iniciou na última sexta-feira foi muito mais bem recebida entre muçulmanos do que entre judeus.
Desde segunda-feira Bento 16 tem sido criticado em Israel pelo que muitos viram como uma atitude de "frieza" ao visitar o Memorial do Holocausto e por não ter pedido desculpas explícitas por atos da Igreja Católica e pela responsabilidade da Alemanha nazista no assassinato em massa de judeus.
Sua defesa do Estado palestino também desagrada ao governo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que se opõem à solução encampada pela ONU.
Falando aos palestinos, Bento 16 disse compreender que eles se sintam frequentemente "frustrados": "Suas aspirações legítimas por um lar permanente, por um Estado palestino independente, continuam insatisfeitas". No entanto, reconheceu que há razões para as preocupações com segurança de Israel e pediu que a população local não lance mão de "atos de violência ou de terrorismo" como consequência de seu sentimento de frustração.
"Nos dois lados do muro, é necessária uma grande coragem para que se possa superar o medo e a desconfiança."

Com agências internacionais

Notícia publicada na Folha de São Paulo, de 14 de maio de 2009.

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"Saber não formal"

Governo quer certificar "saber não formal"

Trabalhadores que nunca frequentaram cursos de formação poderão receber diploma mediante exame

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Joel da Cunha Ferreira, 28, mal tinha aprendido a ler e escrever quando trocou os cadernos por tijolos e a mochila por sacos de cimento. Hoje, ganha a vida como pedreiro, ladrilheiro, pintor e encanador. Mas, a partir de junho, poderá ver tudo o que aprendeu longe das salas de aula reconhecido pelo Ministério da Educação.
Em gestação na pasta, o programa nacional de formação e certificação pretende transformar os institutos federais de educação, ciência e tecnologia, antes conhecidos como escolas técnicas, em "centros certificadores de saberes não formais".
"O trabalhador poderá procurar uma instituição da rede para fazer exames de avaliação de competências. Se aprovado, vai receber um certificado que valida aqueles conhecimentos construídos fora da escola", diz o superintendente de assuntos institucionais da Setec (Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica), Luiz Caldas.
Segundo ele, o programa aumentará também a oferta de cursos de formação inicial para os trabalhadores, integrando o ensino fundamental com o aprendizado técnico em áreas como construção civil, metal-mecânica, gastronomia e turismo, entre outros. Quatro institutos federais, de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Mato Grosso, já deram início ao projeto piloto, firmando parcerias com as prefeituras das cidades participantes, que ajudaram na seleção dos primeiros alunos e, em alguns casos, até cederam as salas onde os cursos são ministrados.
A experiência servirá como base para a definição das diretrizes nacionais do programa. Caldas diz que o objetivo é obter a adesão do maior número possível de unidades da rede de educação técnica nacional. "Vamos começar em junho com algumas unidades e esse número vai crescer com o tempo", explica. "Nossa ideia é ter um programa expressivo e aproveitar da melhor forma o potencial da rede, que está em expansão e terá pelo menos 354 unidades até o fim de 2010."
Apesar disso, o superintendente prevê que será necessário estabelecer um critério de seleção para o programa, que será oferecido gratuitamente. "Sabemos que a demanda será maior que a oferta e por isso estamos definindo uma forma transparente de seleção", diz.
Ele ressalta ainda que a formatação dos cursos e dos exames de avaliação levará em conta as necessidades e as exigências do mercado. Segundo ele, entidades representativas dos diferentes setores serão chamadas a opinar sobre o projeto. "Queremos dar legitimidade ao processo", afirma.
Para Caldas, a medida facilitará a inclusão social de pessoas que hoje são alijadas do mercado formal de trabalho. "Há uma série de setores mais estruturados a que o trabalhador simplesmente não tem acesso."
No caso da construção civil, por exemplo, são poucos os pedreiros como Ferreira, que sempre trabalhou em casas de família, que conseguem deixar a informalidade. Sem nada que comprove seus conhecimentos na área, eles precisam contar com a sorte para ter a primeira experiência registrada em carteira - o que, quando não ocorre, acaba praticamente inviabilizando o ingresso nas grandes empresas do setor.
"Nas empresas de construção, a contratação da mão-de-obra operacional é toda feita em cima da carteira profissional", diz o vice-presidente de relação capital e trabalho do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Haruo Ishikawa, ele próprio dono de uma empresa de engenharia. "Ninguém costuma fazer teste com o trabalhador."
Situação parecida ocorre no setor de panificação, outro que deve ser atendido pelo programa do MEC. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Padeiros de São Paulo, Valter da Silva Rocha, é comum o trabalhador passar por outras funções, como caixa e balconista, antes de chegar aos fornos como ajudante de padeiro.
Muitas vezes, porém, a mudança de cargo não é registrada na carteira de trabalho, o que dificulta a comprovação da experiência quando o trabalhador procura outra oportunidade de emprego. "Sem curso e sem registro, a pessoa tem que achar alguém que dê uma chance para ela", diz Rocha.
Os dois sindicalistas consideram positiva a iniciativa, mas ressaltam que o número de beneficiados tem que ser significativo para haver impacto.

Notícia da Folha de São Paulo, de 11 de maio de 2009.


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sexta-feira, maio 15, 2009

Filmes de Israel contrastam com realidade beligerante

Filmes de Israel contrastam com realidade beligerante

"Valsa com Bashir" é exibido em um momento crucial do conflito no país

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Filmes recentes de Israel contrastam com a beligerância da sociedade israelense, como ficou claro nas últimas eleições. Pacifismo, chamados à convivência, oposição ao confronto, já muitas vezes com emprego de força militar, são traços comuns a esses filmes, pelo menos aos que têm chegado por aqui.
Ao mesmo tempo se informa que foram fabricadas, por encomenda do Exército de Israel, camisetas com os dizeres "Um tiro e dois mortos". Como espécie de legenda gráfica, foi impresso, embaixo, o desenho de uma muçulmana grávida.
Outros dizeres são "Confirmar a morte". Trocando em miúdos, disparar à queima-roupa nas cabeças de feridos. "Minha maior preocupação é a perda de humanidade em guerras prolongadas", disse o chefe do Estado-Maior do Exército de Israel. A informação é a de que as camisetas são usadas unicamente nos quartéis, não nas ruas, à vista da população.
Também ficou confinado aos quartéis outro fato com igual gravidade. A presença de rabinos, junto aos soldados, no limiar da invasão de Gaza, pregando uma guerra religiosa e não de segurança nacional, de reação aos foguetes disparados pelo Hamas, na versão oficial.
O que se vê em filmes como "Lemon Tree" e "A Banda", recém-exibidos em SP, e "Valsa com Bashir", em cartaz nos cinemas, é como se fora o outro lado de uma mesma moeda.
No primeiro, uma plantação de limões de uma palestina, junto à casa do ministro da Defesa de Israel, deve ser derrubada, porque é fichada como ameaça terrorista. Mas as trocas de olhares entre a dona dos limões e a mulher da alta autoridade refletem uma comunhão de angústias diante de tamanho absurdo. Por que não conviver em paz? É a pergunta da própria mulher do ministro.
O arrazoado belicista do marido se limita a uma única e fatigada linha de pensamento, a de uma impossibilidade milenar. A tonalidade forte é a troca de olhares entre elas, como se não pudessem falar entre si.

Demônios
Exorcizar demônios, foi como um crítico tratou "Bashir". O diretor Ari Folman estaria prestando um serviço ao seu país, e essa seria sua convicção, mostrando a responsabilidade de Israel no massacre num campo de refugiados palestinos no Líbano em 1982. Bashir foi um cruzado cristão eleito presidente libanês e assassinado.
Seus falangistas, com a complacência do Exército invasor, o de Israel, executaram a matança. Não faltou a figura de Ariel Sharon, comandante da invasão, mais tarde primeiro-ministro, hoje em vida vegetativa.
Cálculos variando entre 328 e 3.500 assassinados. Os depoentes e o que eles dizem são superpostos por desenhos, casando palavras e as ações correspondentes. O que é visto como redefinição do gênero documentário. É exibido numa hora crucial. Ou Israel, acusado pela ONU e pela Human Rights Watch de crimes de guerra, aceita a criação de um Estado palestino ou nada feito.

Texto publicado na Folha de São Paulo, de 6 de maio de 2009.


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quinta-feira, maio 14, 2009

Papa celebra missa para 40 mil em Nazaré

O papa Bento 16 chegou na manhã desta quinta-feira à cidade de Nazaré, no norte de Israel, e celebrou uma missa com a participação de cerca de 40 mil pessoas, perto do Monte do Precipício, de onde segundo a tradição cristã, Jesus foi atirado após um sermão.

Durante a missa, o papa usou o tema da Anunciação, pois Nazaré é considerada a cidade onde Maria foi informada do futuro nascimento de Jesus, para defender a "família tradicional, seguindo o exemplo da Sagrada Família".

A cidade de Nazaré investiu esforços significativos para se preparar para a visita de Bento 16. O anfiteatro no Monte do Precipício foi construído em menos de dois meses.

Árabes israelenses

Na visita à Nazaré, o papa se encontra com um segmento da população desta região que ainda não havia encontrado - os cidadãos árabes israelenses.

Nazaré é uma das maiores cidades árabes de Israel. Os árabes israelenses constituem cerca de 20% da população do país. Aproximadamente 10% deles são cristãos.

Os árabes israelenses têm uma identidade ambígua. A maioria se define como palestino. Muitos dos cidadãos árabes israelenses se dizem "palestinos de 48", ou seja, aqueles que permaneceram em Israel depois da guerra árabe-israelense de 1948, quando grande parte da população palestina foi expulsa ou fugiu, gerando o problema dos refugiados palestinos.

Durante a missa no Monte do Precipício, o bispo Elias Shakur falou dos problemas dos árabes cristãos em Israel e destacou o caso das aldeias cristãs de Birim e Ikrit, que foram destruídas pelas tropas israelenses em 1948.

Os moradores tornaram-se cidadãos israelenses depois da criação do Estado de Israel e exigem a devolução de suas terras.

Ainda nesta quinta-feira, o papa deverá se encontrar em Nazaré com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.

Esse será o primeiro encontro mais longo dos dois líderes desde a chegada do pontífice à região, quando Netanyahu o recebeu no aeroporto internacional Ben Gurion.

Durante sua visita, o papa manifestou opiniões contrárias às posições do atual governo israelense em relação à solução do conflito com os palestinos.

Bento 16 defendeu a criação de um Estado Palestino independente e soberano, posição que o premiê Netanyahu não aceita.

Durante sua passagem pela cidade palestina de Belém, na terça-feira, o papa também criticou a barreira construída por Israel na Cisjordânia e solidarizou-se com os refugiados palestinos no campo de refugiados de Aida.

Notícia da BBC Brasil.

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quarta-feira, maio 13, 2009

José Simão vê a passagem do Papa pela Terra Santa

E o papa em Israel? Diz que o papa foi visitar o lago da Galileia, resolveu dar uma volta de barco e perguntou o preço pro barqueiro: "Oitenta dólares". "O quê? Tá louco? Oitenta dólares?" "Mas esse é o lago onde Jesus andou sobre as águas." "Também, por esse preço!"

Publicado na Folha de São Paulo, de 12 de maio de 2009.

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terça-feira, maio 12, 2009

Xeque palestino interrompe discurso do Papa em Jerusalém

JERUSALÉM - O Papa Bento XVI teve seu discurso nesta segunda-feira interrompido por um xeque palestino durante um encontro para promover o diálogo entre muçulmanos, cristãos e judeus em Jerusalém. Sob os olhos espantados de representantes do Vaticano, do Patriarca Latino de Jerusalém, Fuad Twal e de membros do rabinato de Israel, o xeque palestino Taisir al-Tamimi, chefe das cortes islâmicas da Autoridade Nacional Palestina, interrompeu as palavras do Pontífice pedindo que Bento XVI atuasse por uma paz justa no Oriente Médio.

- Peço que veja uma paz justa. Uma paz justa significa um Estado Palestino em que Israel não mate mulheres e crianças e onde não se destruam mesquitas como em Gaza - gritou o xeque.

Diante do constrangimento, os convidados da platéia tentaram calá-lo, sem sucesso.

- Israel destrói cidades Palestinas e constrói assentamentos em terras Palestinas. Jerusalém vai ser sempre a capital do povo palestino. Espero que líderes de outras religiões defendam os palestinos e suas terras - bradou Tamimi, em árabe.

O Papa se limitou a observar a demonstração de fúria em silêncio e se retirou antes mesmo do fim da cerimônia oficial e da troca de presentes entre os participantes.

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, tentou minimizar o incidente. Em nota divulgada à imprensa, ele criticou a postura do líder muçulmano e reiterou que a intervenção não fazia parte do cerimonial. Segundo ele, a atitude foi um revés ao objetivo do encontro e da promoção do diálogo.

- Esperamos que o incidente não manche a missão do Papa em promover a paz e o diálogo interreligioso, como já afirmara em diversas ocasiões. Esperamos ainda que o diálogo não seja prejudicado por este incidente - afirmou Lombardi.

Notícia de O Globo online.

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segunda-feira, maio 11, 2009

Católicos de Gaza esperam apoio de Bento XVI

Contentes com visita, católicos de Gaza esperam apoio de Bento 16

DO "FINANCIAL TIMES", NA CIDADE DE GAZA


Para a pequena comunidade católica da faixa de Gaza, a chegada do papa Bento 16 a Israel e à Cisjordânia, na semana que vem, oferece uma rara oportunidade de escapar, nem que por apenas um dia, à miséria de um território assolado pela guerra.
Como a maioria dos 286 católicos que vivem na faixa de Gaza, Jabrah al-Najjar, 61, solicitou permissão às autoridades israelenses para assistir à missa que o papa celebrará em Belém na quarta-feira. O governo israelense indicou que, para a ocasião, suspenderá as restrições de viagem severas que incidem sobre os moradores de Gaza, mas os líderes católicos antecipam que um máximo de 250 autorizações será concedido, e nem todas para católicos. Para Najjar, a espera pela autorização é atormentadora. Mas ele disse: "Estou extremamente feliz com a visita do papa. Para mim, significa amor, paz e irmandade".
A visita do papa oferece um raro momento de alegria para as pequenas e decrescentes comunidades católicas que restam em Israel e nos territórios palestinos. A menor delas é a de Gaza, onde 50 famílias católicas formam uma minoria dentro da minoria, já que respondem por apenas uma fração da comunidade cristã de 3.000 habitantes, dominada por membros da Igreja Ortodoxa Grega.
A recente ofensiva israelense contra Gaza significa que alguns cristãos esperam do papa palavras de condenação e protesto. A expectativa é que Bento 16 no mínimo coloque em destaque a situação desesperadora que os cristãos e os muçulmanos de Gaza enfrentam. O pequeno grupo de católicos de Gaza, que vive em meio a uma comunidade de 1,5 milhão de muçulmanos, governada pelo grupo islâmico Hamas, insiste em que as duas comunidades hoje vivem lado a lado em larga medida sem tensões, a despeito de ataques extremistas esporádicos a instituições cristãs.
Najjar aponta que os cristãos de Gaza não precisam trabalhar nas manhãs de domingo para que possam ir à missa. A comunidade pode importar vinho, a fim de celebrar a comunhão, e as mulheres cristãs podem andar na rua sem véus. "Nós [cristãos e muçulmanos] compartilhamos tudo, temos uma história comum, um futuro comum e uma luta comum contra a ocupação", diz Hussam al Taweel, líder da comunidade ortodoxa grega.
Para a decepção de muitos dos cristãos de Gaza, o papa não visitará em pessoa a sua pequena e problemática comunidade. Mas no mínimo, diz Taweel, os cidadãos de Gaza esperam que ele faça "um forte discurso político em defesa de nosso [palestino] direito à independência". Entre todos os lugares, este pequeno território, acrescenta, "precisa especialmente de seu cuidado e de sua proteção".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Texto da Folha de São Paulo, de 9 de maio de 2009.

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Papa chega a Tel Aviv em meio a tensão entre Vaticano e Israel

Papa chega a Tel Aviv em meio a tensão entre Vaticano e Israel

O papa Bento 16 desembarcou em Tel-Aviv na manhã desta segunda-feira, iniciando uma visita de cinco dias a Israel e aos territórios palestinos, definida pelo Vaticano como "peregrinação pela paz".

A visita, a primeira de Bento 16 à região, ocorre sob forte esquema de segurança e em um momento de tensão nas relações entre o Vaticano e Israel, por causa da recente suspensão da excomunhão do bispo católico britânico Richard Williamson, que negou o Holocausto.

Para garantir a segurança do papa, tanto Israel como a Autoridade Palestina prepararam fortes esquemas de segurança.

Em Israel, cerca de 80 mil policiais e agentes de segurança deverão participar da "Operação Batina Branca".

Durante a visita à cidade palestina de Belém, na Cisjordânia, a Guarda Presidencial, considerada a principal unidade de elite da Autoridade Palestina, será responsável pela segurança do papa.

'Caminho para a paz'

Ao receber o papa no aeroporto internacional Bem Gurion, em Tel Aviv, o presidente de Israel, Shimon Peres, disse esperar que a visita ajude a "pavimentar o caminho para a paz".

Em seu discurso na chegada, o papa mencionou a questão da criação do Estado palestino.

"Peço a todos os responsáveis que explorem todas as avenidas de possibilidades em busca de uma solução justa para as dificuldades pendentes", afirmou. "Para que ambos os povos possam viver em paz em uma terra própria dentro de fronteiras seguras e reconhecidas internacionalmente."

Bento 16 afirmou que Israel e o Vaticano têm muitos valores em comum, incluindo o desejo de colocar a religião em seu devido lugar na sociedade.

Ele disse ainda que rezaria pelos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto e prometeu combater o anti-semitismo em todo o mundo.

"Eu terei a oportunidade de honrar a memória dos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto", afirmou. "Infelizmente, o anti-semitismo continua a elevar sua feia cabeça em muitas partes do mundo. Isso é totalmente inaceitável", disse.

Holocausto

Em seu primeiro dia de peregrinação à Terra Santa, Bento 16 visita a cidade de Jerusalém, onde se reunirá com o presidente de Israel, Shimon Peres, visitará o Museu do Holocausto Yad Vashem e participará de um encontro inter-religioso.

A visita ao Museu do Holocausto deverá ser um momento particularmente delicado, por causa de atitudes recentes do papa ligadas ao Holocausto e que despertaram indignação em Israel.

A decisão de Bento 16 de suspender a excomunhão do bispo Richard Williamson gerou fortes protestos por parte de líderes políticos e religiosos do país.

Outra decisão polêmica foi a de aprovar a beatificação do papa Pio 12, acusado por vários historiadores de ser omisso em relação ao extermínio de seis milhões de judeus, pelo regime nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.

O diretor do Museu do Holocausto, Avner Shalev, afirmou esperar que, durante a visita, o papa "destaque a importância da memória do Holocausto no presente e também no futuro".

De acordo com Shalev, antes da visita o Vaticano tinha se comprometido a abrir, dentro de cinco anos, seus arquivos relativos ao período da Segunda Guerra Mundial, o que permitirá que pesquisadores esclareçam dúvidas sobre o Pio 12 e seu comportamento em relação ao Holocausto.

No segundo dia da visita, nesta terça-feira, o papa deverá se encontrar, em Jerusalém, com os principais líderes das religiões judaica e muçulmana.

Bento 16 irá à Cúpula da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, considerado o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos e se encontrará com o Grão Mufti de Jerusalém , Akram A-Sabri.

Esse encontro também deverá ser particularmente sensível, por causa da grande indignação causada no mundo muçulmano pelo discurso do papa na Alemanha em 2006, em que estabeleceu uma correlação entre o Islamismo e a violência.

No discurso, Bento 16 citou um imperador bizantino que disse que Maomé só trouxe "coisas más e desumanas para o mundo".

O Movimento Islâmico em Israel, um dos principais grupos políticos da comunidade árabe que vive em Israel, convocou a população árabe a boicotar a visita do papa.

Equilíbrio

Na terça-feira o papa também deverá visitar o Muro das Lamentações, considerado o lugar mais sagrado da religião judaica, e depois se reunirá com os Rabinos Chefes de Israel.

O Patriarca Latino de Jerusalém e principal autoridade da Igreja Católica na região, Dom Fouad Twal, expressou preocupação com a visita do Bento 16.

"O que mais me preocupa é o discurso que o papa fará aqui", disse Twal ao jornal Haaretz. "Se ele disser uma palavra a mais em favor dos muçulmanos, terei problemas, ou uma palavra a mais em favor do judeus, também terei problemas. No final da visita ele voltará para Roma e eu ficarei aqui para arcar com as consequências".

"A Guerra de Gaza deixou uma tensão que dificulta muito a coordenação da visita entre israelenses e palestinos", acrescentou o patriarca.

Dom Fouad Twal também disse esperar que a visita do papa ajude a comunidade cristã na região.


Twal, que é responsável pela comunidade cristã na Terra Santa, incluindo Israel, os territórios palestinos e a Jordânia, disse que o problema concreto mais urgente que a Igreja Católica enfrenta nesta região são as restrições impostas pelo Exército israelense à liberdade de movimentação dos representantes da igreja.

"Nos pontos de checagem do Exército israelense na Cisjordânia nem a batina ajuda", afirmou.

"As barreiras e pontos de checagem dificultam a vida dos palestinos em geral e também de nossos padres e freiras. É difícil chegar aos hospitais, aos funerais, aos casamentos, todo o funcionamento da igreja é prejudicado".

Na quarta-feira o papa deverá visitar Belém, na Cisjordânia, onde fará uma missa na Praça da Manjedoura e se encontrará com o presidente palestino Mahmoud Abbas.

A quinta-feira será dedicada a uma visita à Basilica da Anunciação, em Nazaré e uma missa no Monte do Precipício.

A Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, será o último lugar que o papa visitará, na sexta-feira, antes de retornar a Roma.


A notícia é da BBC Brasil.

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sábado, maio 09, 2009

O Santo Padre Bento XVI vai à Terra Santa

O Santo Padre Bento XVI vai à Terra Santa


Ao acessar a Internet hoje pela manhã vi manchetes sobre uma viagem do Papa Bento XVI à Terra Santa. Segundo o jornal eletrônico Último Segundo, o Santo Padre inicia sua viagem pela Jordânia, onde ficará quatro dias, e depois passará pelos territórios palestinos ocupados na Cisjordânia, indo ás cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, fundamentais para a tradição cristã, e passará também pelo território do Estado de Israel.


Me parece que como todo cristão devoto, o Papa Bento XVI num caso como este, se torna um simples peregrino. Um discípulo andando pelos locais descrito pela Sagrada Escritura Cristã. O jornal diz que ele passará pelo monte Nebo, de onde, segundo a tradição, Moisés viu a Terra Prometida, mas sabia que não poderia alcançá-la, porque Deus não o permitiria. A notícia informa que quando a visibilidade é boa, é possível avistar Jerusalém a partir do monte. Também visitará a margem oriental do rio Jordão, onde foram encontradas ruínas de pias batismais romanas do século IV. O Papa anterior, João Paulo II, esteve ali no início desta década, e, tendo em vista estas ruínas, então recém descobertas, inferiu, e estabeleceu, que a margem oriental deveria ter sido também o local onde Jesus teria sido batizado por João Batista.


O Papa Bento XVI pelo seu passado de teólogo apologista da doutrina católica, ex-chefe da Congregação para Doutrina da Fé, que muitos gostam de lembrar que é a sucessora da Inquisição, e pelas suas posições como Papa mesmo, que mais se assemelham a de um teólogo apologista da doutrina que às posições de um pastor de almas, como acontecia com o Papa João Paulo II, tendo a não ser tão benquisto. O semblante de Bento XVI é mais, digamos assim, carregado, e menos simpático que o de João Paulo II. Mas me parece que as posições teológicas são semelhantes. Sendo assim, um teólogo conservador, sem a simpatia do Papa anterior, Bento XVI tem mais dificuldades em cativar as pessoas. Mas eu vejo o atual Papa com simpatia. Muito mais simpatia que antipatia.


A notícia do Último Segundo informa ainda que a Jordânia possui uma minoria de cerca de 6% de cristãos, a maioria destes dividida entre católicos romanos e ortodoxos gregos. O s muçulmanos são os outros 94%, 92% deles sunitas e 2% xiitas. E um cristão devoto, e peregrino por aquelas terras, deve lembrar o passado com saudades. Antes do surgimento do islamismo e sua expansão a partir do século VII, a maioria da população onde hoje fica a Jordânia deveria ser cristã, pelo menos nominalmente. Curiosamente o texto comenta que o Papa sai de uma Europa que está se tornando cada vez mais descrente, para uma terra onde a crença ainda é vital. E diz esta notícia que isso aproximaria mais o Papa dos cidadãos jordanianos do que talvez ele estivesse dos europeus descrentes. Não tenho certeza se isto é verdadeiro, ou apenas para preencher colunas de texto, ou talvez ainda, para agradar os muçulmanos da Jordânia, dos Territórios Ocupados e de Israel (sim, há muçulmanos em Israel; são minoria mas estão lá).


Por fim, o texto fala ainda do contexto político da visita do atual Papa, comparando-o com o contexto da visita de João Paulo II. Os tempos são mais complicados agora. João Paulo II, pôde falar de uma solução de dois estados para judeus e palestinos. O atual governo israelense não quer falar em dois estados (o que me leva para aquela questão que se não querem dois estados, precisam dar direitos de cidadãos aos palestinos, mas aí Israel deveria também deixar de seu um estado de caráter judeu, caráter judeu este que os atuais e anteriores governos de Israel sempre fazem questão de enfatizar). Além disso a liderança palestina está dividida com o Fatah governando a Cisjordânia, e o Hamas governando a Faixa de Gaza. Definitivamente um contexto político mais complicado aguarda Bento XVI.


Veremos o que nos dirão os próximos dias sobre a visita de Bento XVI à Terra Santa.


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quarta-feira, maio 06, 2009

Valsa com Bashir (Waltz with Bashir)

Valsa com Bashir (Waltz with Bashir)


A primeira referência que eu me lembro ao filme Valsa com Bashir foi no blog Implicante por Natureza. Acho que era candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E tratava da invasão de Israel ao Líbano em 1982.


E o filme é algo desconcertante, pois ele é anunciado como um documentário, e é uma animação. Normalmente estamos acostumados a assistir documentários com imagens captadas de alguma reportagem, ou depoimentos, ou debates capturados pelo documentarista, como acontece nos filmes de Eduardo Coutinho, ou de Errol Morris. E neste filme, Valsa com Bashir, há depoimentos, e estes depoimentos estão lá em forma de animação. A animação é normalmente dublada pelo próprio entrevistado, mas nem sempre. Em alguns depoimentos, a personagem que aparece na animação é dublada por um terceiro. Imagine!


É um filme produzido em Israel, falado em hebraico, co-produzido pela Alemanha e França.


Bashir é Bashir Gemayel. Presidente eleito do Líbano, e assassinado num atentado à bomba na sede de seu partido/milícia, dias antes de tomar posse, durante a guerra civil naquele país. No mesmo período havia regiões do Líbano ocupadas por Israel e outras pela Síria.


O filme começa com uma matilha correndo por uma cidade, imagino que a cidade seja Tel Aviv. Eles se juntam e param diante do apartamento de um homem que os encara atemorizado. Os cães são parte do sonho (ou pesadelo) recorrente deste homem.


Este homem procura um amigo. O amigo é um cineasta que é o diretor e roteirista Ari Folman. O homem conta seu sonho, sonho que ele é capaz de decifrar. Os cães do sonho que o assombra são os cães que ele matou quando serviu como parte das tropas que invadiram o Líbano em 1982. Ele era o franco-atirador do pelotão que devia matar os cães, pois estes percebem a presença de estranhos (como é o caso dos soldados de Israel) e latem, alertando os “terroristas” (isto é, os guerrilheiros) palestinos que o exército israelense pretende eliminar em sua incursão em território libanês.


Folman, que também servia ao exército israelense naquela guerra, contudo, não lembra o papel que ele exerceu. Suas memórias sobre o episódio estão como que apagadas.


Assim ele parte em busca de suas memórias. Procura um psicólogo. Procura outros soldados contemporâneos seus.


O que também acaba por se tornar meio desconcertante. Um dos colegas revela seu enjôo enquanto é transportado por via marítima para atacar o Líbano. Após o enjôo no mar, quando chega à terra seu pelotão massacra uma família libanesa cujo carro inadvertidamente se aproximou do pelotão recém-iniciado na guerra. Os soldados daquele pelotão estavam mortos de medo do que quer que os esperasse.


Outro ex-combatente narra sua experiência como parte da tripulação de um tanque merkava (suponho que fosse merkava, se tratava de um blindado pesado). Este tanque era parte de um esquadrão que avançava em direção ao Líbano pelo litoral do Mediterrâneo. Quando o comandante deste tanque em que o depoente estava é morto por um franco-atirador, a tripulação do tanque corre em debandada, legítimo salve-se quem puder, em direção ao mar, enquanto os demais tanques do esquadrão batem em retirada.


Pensei com os meus botões que era só o que me faltava. Um filme que retrata soldados israelenses na invasão do Líbano como vítimas.


Mas eu estava enganado.


Quando chega a Beirute o jovem Folman vê o Aeroporto Internacional de Beirute semi-destruído e saqueado, ocupado pelas tropas israelenses.


E no QG, recebe a notícia que Bashir foi assassinado. Bashir era o líder da falange cristã do Líbano - um grupo de cristãos maronitas, que recentemente havia sido eleito presidente, como já foi dito acima. A falange era aliada de Israel em 1982.


E assim, Folman vai recuperando a memória de seu papel na invasão de 1982. E com ele vamos nós na sua jornada catártica para revelar aquilo que por mais de vinte anos ele vem recalcando.

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