domingo, março 28, 2010

Feliz Aniversário Porto Alegre!!!<3

Foto de Márcia Werlang, na passagem dos 238 anos de Porto Alegre.

sexta-feira, março 26, 2010

Lançamentos celebram 50 anos de Renato Russo

Lançamentos celebram 50 anos de Renato Russo


Se estivesse vivo, cantor faria aniversário neste sábado (27).


Álbum de duetos traz líder da extinta Legião Urbana em 15 encontros.


Henrique Porto

Do G1, no Rio


Se estivesse vivo, Renato Russo, líder do extinto grupo Legião Urbana, completaria 50 anos neste sábado (27). O aniversário será comemorado com novidades, entre eles um CD, um livro e uma produção para o cinema.


Nas livrarias, Renato é relembrado na obra “Como se não houvesse amanhã”. Organizado pelo escritor Henrique Rodrigues, o livro traz 20 histórias inspiradas em músicas da Legião Urbana, como "Tempo perdido" e "Eduardo e Mônica", cada uma escrita por um autor diferente.


O início da trajetória do ídolo morto em outubro de 1996 também será o tema do filme "Somos tão jovens", de Antônio Carlos Fontoura, que começa a ser rodado em Brasília, no segundo semestre.


Além disso, especiais de TV estão programados para este sábado. A MTV reprisa o "Acústico MTV Legião Urbana" e a entrevista feita por Zeca Camargo com Renato Russo, em 1993. Na TV Globo, o programa "Altas Horas", apresentado por Serginho Groisman, receberá Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, ex-companheiros de Renato na Legião, para falar sobre o grupo e tocar sucessos. Junto com Dado e Marcelo participarão os músicos Rogerio Flausino, Dinho Ouro-Preto, André Gonzáles, Fernando Catatau e Toni Platão.


"Duetos"


Na próxima semana, chega às lojas o álbum “Duetos” (EMI) que, entre registros já conhecidos e outros inéditos, traz Russo em 15 encontros em que divide os vocais com artistas como Dorival Caymmi, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Marisa Monte e Cássia Eller.



Idealizador e produtor executivo do projeto, Marcelo Fróes conta como surgiu a ideia de compilar gravações antigas com novas montagens realizadas a partir de arquivos pessoais do cantor.


“Já existia a vontade de fazer algo assim há bastante tempo. Sempre soube que havia material em quantidade para se montar um álbum. Utilizei 25 fitas, todas muito bem guardadas, que digitalizei e ouvi em um estúdio. Passei alguns dias ouvindo tudo. Selecionei os takes de voz, escolhi as músicas e os artistas que seriam convidados. Tudo com a aprovação da família de Renato”, disse Fróes.



Fita avariada


Mas alguns dos duetos não foram tão simples de resgatar. “Celeste”, demo que Marisa Monte e o cantor gravaram juntos em dezembro de 1993. Na época, Marisa fazia a pré-produção de seu CD “Verde anil amarelo core de rosa e carvão”.


“Foi difícil nem tanto pela qualidade da gravação, mas sim pelo do estado de conservação físico da fita DAT, que é uma mídia bem frágil. A própria Marisa a localizou, e estava amassada. Tive que levar para um estúdio em São Paulo e recuperá-la. Ficamos todos com o coração na mão, sem saber se ia dar certo.


Mas deu. Em cima dessa demo, Marisa e o produtor Carlos Trilha trabalharam o arranjo e inseriram novos instrumentos. Mais tarde, essa canção se transformaria em “Soul parsifal”, lançada pela Legião no álbum ‘A tempestade’, em 1996”, explicou Fróes.


"Uma gata"


A faixa de abertura do CD, “Like a lover” (“O cantador”) permaneceu inédita por 15 anos. De autoria de Dori Caymmi e Nelson Motta — que ganhou uma versão em inglês nos anos 60 — foi finalizada com a voz de Fernanda Takai, da banda mineira Pato Fu.


“Esta é sobra do disco ‘Equilíbrio distante’, de 1995. Já havia sido gravada por Elis Regina na era dos festivais. Renato conhecia a versão em inglês, com o Sergio Mendes & Brasil 66, de um disco que ouvia quando criança. O take que utilizamos para compor este dueto tinha o Renato cantando alguns trechos e cantarolando outros. Então percebi que a voz dela poderia entrar justamente nestes momentos”, disse Fróes, explicando a participação da vocalista do Pato Fu no disco.


“Ele gostava muito do grupo e adorava a Fernanda. Era fã mesmo. Dizia que ela era uma gata, mas de uma forma divertida”, relembrou.


Ainda entre os duetos “virtuais”, em que convidados adicionaram voz posteriormente, a partir de gravações já existentes de Renato Russo, Fróes destaca a participação de Caetano Veloso em “Change partners”. A canção foi gravada por Tom Jobim e Frank Sinatra no álbum clássico lançado pelos dois em 1967.


“Caetano é a única voz masculina entre os duetos póstumos, produzidos por Clemente Magalhães. Em todos os outros tivemos cantoras”, destaca Fróes, listando Leila Pinheiro (“La solitudene”), a italiana Laura Pausini (“Strani amore”), Célia Porto (“Come fa un’onda”), além da supracitada Fernanda Takai.


O repertório de “Duetos” se completa com participações do vocalista da Legião Urbana em discos de outros artistas, como 14 Bis (“Mais uma vez”), Erasmo Carlos (“A carta”), Paulo Ricardo (“A cruz e a espada”), entre outros, além de gravações retiradas de especiais para a TV, caso dos encontros com Herbert Vianna durante “Paralamas & Legião”, produzido pela TV Globo, em 1988; e com a cantora Adriana Calcanhotto no programa “Por acaso”, apresentado por José Maurício Machline.


A parte burocrática do projeto, que envolve licenciamentos e autorizações e poderia atrapalhar na liberação de fonogramas e nas participações de outros cantores, foi bem menos complexa e traumática do que se poderia imaginar. A avaliação é do próprio produtor.


“Dá trabalho, mas a coisa melhorou muito de um tempo pra cá. Antes tudo era ‘não’, até segunda ordem. Porque qualquer coisa envolvia milhões em dinheiro. Hoje as pessoas estão tendo que se unir, porque o mercado acabou. Está enganado quem pensa que este projeto vai render muito dinheiro. Não existe mais isso. Infelizmente já não se vende mais o tanto que vendia antigamente”, lamenta.


"Hipocrisia"


Fróes também se adianta em responder aos críticos, que costumam rotular projetos como este de “caça-níqueis” e “oportunistas”.


“Levo essas porradas porque Renato Russo vende. Isso é uma hipocrisia. Aliás, considero uma grande sacanagem com ele. ‘Duetos’ não foi feito porque vende, e sim porque a família dele me conhece, porque existem fãs interessados em sua obra. E faço porque gosto dele”, desabafa Marcelo, comparando o resgate do espólio do cantor com outros trabalhos.


“Já fiz alguns projetos sobre Jackson do Pandeiro e ninguém nunca falou isso. E Jackson do Pandeiro vende. Aliás, vende muito. Mas nunca se preocuparam em falar mal. Mas é porque não sabem que vende muito ou porque não é famoso no Baixo Gávea”, pontua.


Para a alegria dos fãs, ele adianta que mais material referente ao vocalista da Legião Urbana deve ser editado ainda em 2010.


“Teremos mais coisas sim: sobras, curiosidades... Esse é o ano do Renato, né? Mas as últimas coisas inéditas, que são “Like a lover” e “Celeste”, soltamos no ‘Duetos’. Aguardem”.


Veja o repertório completo de "Duetos":

1 - "Like a lover", com Fernanda Takai

2 - "Celeste", com Marisa Monte

3 - "Vento no litoral", com Cássia Eller

4 - "Mais uma vez", com 14 Bis

5 - "A carta", com Erasmo Carlos"

6 - "A cruz e a espada", com Paulo Ricardo

7 - "Cathedral song/Catedral", com Zélia Duncan

8 - "Change partners", com Caetano Veloso

9 - "Strani amori", com Laura Pausini

10 - "La solitudine", com Leila Pinheiro

11 - "Come fa un'onda", com Célia Porto

12 - "Só louco", com Dorival Caymmi

13 - "Esquadros", com Adriana Calcanhotto

14 - "Nada por mim", com Herbert Vianna

15 - "Summertime", com Cida Moreira



Esta notícia é originária do G1.

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quinta-feira, março 25, 2010

Simpósio



Cartum do Adão Iturrusgarai, na Folha de São Paulo. Faz sentido. Eu mesmo me lembrei de algumas cenas do filme Sem Destino (“Easy Rider”, 1969).

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terça-feira, março 23, 2010

Kate Bush - Wuthering Heights




Kate Bush, do final dos anos 1970, início dos anos 1980. Lembranças de uma antiga propaganda de cigarros.

O linque do vídeo aqui.

E a letra da música disponível aqui.

Só porque ouvi a música no rádio hoje pela manhã...



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Lady Gaga é arte?

Lady Gaga é arte?


THIAGO NEY


DA REPORTAGEM LOCAL

NESTA semana, a parada de singles dos Estados Unidos ficou marcada por um episódio histórico. O topo da lista foi preenchido por "Telephone". "Telephone" é a sexta (SEXTA) música consecutiva de Lady Gaga a chegar ao nº 1 entre as mais vendidas no país. Lady Gaga tornou-se a única artista (entre homens e mulheres) a conseguir tal feito.
Dançante e com letra mais ou menos provocadora, "Telephone" segue a fórmula dos outros sucessos de Gaga, como "Poker Face", "Bad Romance" e "Paparazzi". Veio acompanhada por um clipe com produção superlativa de nove minutos. No início do filme, aparece Beyoncé. Não è à toa. Lady Gaga e Beyoncé são as duas maiores cantoras pop. Beyoncé é a voz; Gaga é a imagem.

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Com pouco tempo de carreira, Gaga já foi e é chamada de "nova Madonna". As duas guardam algumas semelhanças (a sensualidade latente; o extremo profissionalismo), mas enquanto Madonna tinha postura crítica em relação a temas como religião e feminismo, Gaga é assumidamente superficial.
O clipe de "Telephone", com suas cores berrantes, ironias e onomatopeias como "smacks" que estouram na tela, poderia ter sido feito por alguém como Roy Liechtenstein.
Em seus nove minutos, o clipe/filme exibe uma série de merchandising de empresas como Virgin, Polaroid, Coca-Cola... Há mais referências a marcas conhecidas do que em um livro do Douglas Coupland.

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"O que eu faço é performance. É música pop feita para o Louvre", já disse Lady Gaga em entrevistas. "Escrevo sobre fama, sobre festas e sobre como eu queria que a América de hoje fosse como a New York de Andy Warhol nos anos 1970." Lady Gaga e Andy Warhol.
Para Silas Martí, repórter desta Ilustrada, Gaga é uma nova Andy Warhol, com seu piano estiloso desenhado por Damien Hirst, seu chapéu criado por Frank Gehry.
Opinião compartilhada por Bruno Moreschi, jornalista especialista em artes plásticas: "Ela não teme o comercial, pelo contrário: ela ama o comercial e acha que bobs no cabelo com latinha de Coca-Cola é arte. Assim como Warhol via arte nas sopas. A Lady Gaga sacou, como o Warhol, que sua imagem de artista é algo que deve ser construída 24 horas por dia".

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Posso ir até Deleuze e seu conceito de resistência dentro do sistema? Gaga está inserida e opera dentro do sistema da indústria da música pop: atua ao mesmo tempo como paródia e como afirmação desse sistema.
Priscila Arantes, diretora do Paço das Artes e professora da PUC-SP, compara a cantora com o artista sueco Claes Oldenburg, cujos trabalhos focam a coisa-imagem: "É a estetização do fútil. Você assume a mercantilização daquilo, a estética do vazio. É uma grande questão do contemporâneo".

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Lady Gaga é (pop)art.


Texto do caderno “Ilustrada”, da Folha de São Paulo, de 17 de março de 2010.


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sexta-feira, março 19, 2010

A morte de Fess "Boone" Parker




O ator americano Fess Parker, considerado um ícone americano por ter interpretado Davy Crockett nos anos 50 e Daniel Boone nos anos 70, morreu por causas naturais, segundo a família, nesta quinta-feira, aos 85 anos, em sua casa-vinhedo no Vale de Santa Ynez, na Califórnia.


“O ator, empresário e viticultor Fess E. Parker morreu hoje, 18 de março, em sua casa em Santa Ynez”, destacou o comunicado divulgado pela família que reside neste vale vinícola, 200 km a noroeste de Los Angeles, perto de Santa Bárbara.


Como ator das séries dos anos 1950 Davy Crockett, Rei da Fronteira e Daniel Boone, Parker influenciou milhões de jovens no fim dos anos 1950 e 1960, quando estas histórias “western” para as famílias se tornaram populares no mundo todo.


Nascido no Texas (centro-sul dos EUA), Parker estudou História no começo dos anos 1950 e foi para a Califórnia, onde cursou Teatro na Universidade do Sul da Califórnia.


Na década de 70, trocou a carreira artística pela exploração de imóveis na costa de Santa Bárbara, onde instalou três complexos de alojamentos para férias no estilo de acampamento e um hotel de luxo com 150 quartos de frente para o oceano Pacífico.


A notícia foi vista no blog do Luís Nassif. O blog do Luís Nassif coloca a origem como o R7.


Recentemente eu expliquei que este blogue não é um necrológio. Contudo pessoas que fizeram parte de minha infância através da babá eletrônica continuam a morrer. Muitas tardes devo ter visto episódios de Daniel Boone, não me lembro em qual canal, mas possivelmente na retransmissora local da Rede Globo. A exemplo do que eu disse sobre Missão Impossível, sou incapaz de relembrar qualquer episódio de Daniel Boone, mas a abertura tinha uma cena memorável em que Daniel Boone partia uma tora ao meio através do arremesso de um machadinho...

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quinta-feira, março 18, 2010

Uma vida de acordar...




Liniers, na Folha de So Paulo.

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Sobre Avatar

Eu não ia nem assistir Avatar. Eu não me interesso muito por filme de fantasia. E nem me interessava por ficção científica. Cada vez me interesso mais. A nossa sociedade foi ficando tão boba e os anseios ocidentais são tão idiotas que só filmes desse tipo dão conta de retratar toda a estupidez do imaginário. Eu gostei demais de Avatar, esse é o ponto. Primeiro por conta desse negócio de fazer o avatar dos nativos. E toda essa construção que a gente tem de diferença eigualdade através do corpo. É sempre a partir disso que vamos montando o nosso quadro de afinidades. E aí pra ser na'vi você tem que ser azul. E depois, no final, aquilo de tentar levar acientista e o Jake pro corpo dos na'vi pra sempre e tal. Veja que eu pensei mesmo que Shrek e mesmo A Bela e a Fera eram um marco da superação do corpo. E volta esse resgate todo e tals. Eu gosto muito disso, de olhar pra isso. Mas o melhor do filme, pra mim, foi constatado a partir de um comentário do meu irmão. Que assistiu comigo. Quando avisam os na'vi que os americanos vão invadir. E eles não temem o suficiente. Meu irmão disse "esses na'vi são uns tontos, eles tem que fugir". E eu acho que esse é o xis da gaita de todos esses filmes a respeito daeliminação sistemática do Outro. É que o Outro nunca tem a menor ideia. Do tamanho da maldade na nossa cultura. O quanto somos capazes de ser maus e de não ter escrúpulo. Acho que a gente relativiza tanto pra dar conta mesmo. Da nossa flexibilização moral. Que é quase infinita. E então ninguém é tonto. Nem na'vi nem Incas nem ninguém. Eles apenas não conseguiram imaginar o tamanho do Mal. Porque é realmente uma construção social muito bem engendrada, a nossa maldade. Ela não é da natureza humana. Nós tivemos um trabalho imenso para construí-la e isso nos tornou imbatíveis mesmo. Todos os confrontos com o Ocidente simulam algum tipo de combate inteligível, né? Então temos os EUA fazendo isso e o Iraque respondendo com aquilo. Uma coisa assim. E de repente. Degringola. Todo mundo se lembra da primeira noite de ataque dos EUA ao Iraque. Aquilo que põe fim a qualquer tentativa de interação etc. É avassalador. E com tudo é assim. A empresa vai lá e conversa com a aldeia de pescador. E o líder dos pescadores fala isso, o porta-voz da empresa fala aquilo. E aí panz. Num belo dia são tratores e motosseras passando por cima. E eu acho que é isso que mais incomoda todo mundo por aqui. A gente sabe que toda negociação, todo diálogo é uma ilusão. E aí aquelechefe dos fuzileiros no filme. Impaciente com a simulação. E ele fica num papel de vilão, mas na verdade é o herói. Porque todo mundo ali conhecia o desfecho e só ele tratava com transparência. Então eu gostei muito de toda essa construção no filme. Que a gente já sabe o desfecho e assiste ele ser adiado e tals. Como todo mundo, eu acho que o final não deveria ter sido feliz. E embora eu ache que ainda é recorrente, discordo demais do "amor pela natureza"como alternativa para a maldade. Parece ser a única que encontramos. E então o final é sempre pobre. Se eu acho que a eliminação do Outro pelo ocidente deve ser ainda discutida, considero que precisamos de outras alternativas para o incômodo. E eu não tenho ideia de qual seria. Os dois focos de resistência "humana"* também me agradaram. A cientista pelo motivo óbvio. Oirmão da Phoebe chega a verbalizar. Essa merda paga a sua ciência. E isso é um ponto. Porque essa ideologia de combate à maldade através da natureza, acaba combatendo a própria ciência. A gente sabe que a ciência é o maior pilar do capitalismo e não é possível que ela seja usada para outros fins que não o da eliminação dos obstáculos para o capital. Introdução ao marxismo de boteco, eu sei. Mas é a pura verdade. O Jake porque os motivos dele são todos extremamente individuais. Primeiro ele quer andar. Depois ele se apaixona por uma na'vi. O único papel que vale a pena é o da moça que pilota o helicóptero. Ela seria a única antissistêmica. E veja que ela não fez papagaiada de vestir avatar azul nem nada. Ela apenas se opôs e tal. Como a gente pensa que faz. Nós pensamos que essa lógica da maldade acontece fora da gente e tal. Enfim. Eu gostei do filme por esses motivos. E por aqueles outros. Eu gostei da rede em que eles dormem. E dos troncos da floresta. Achei bonito.

*Na verdade, humanos norte-americanos.

Origem: A Feminista.

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terça-feira, março 16, 2010

Este blog não é um necrológio...

Este blog não é um necrológio...


...Apesar de ficar parecendo, eu reconheço. Reconheço porque, como dono do blog, não pude deixar de perceber que enfileirei quatro “posts” sobre mortes.


Para reafirmar que este blog não é um necrológio, vou tentar explicar os motivos destes “posts” enfileirados relacionados à morte.


O primeiro, sobre um clérigo muçulmano sunita, é sobre a presença de importantes lideranças muçulmanas que não são intolerantes. Segundo a notícia, este homem declarara que determinada veste imposta às mulheres muçulmanas era uma tradição, não uma regra doutrinária; o terrorismo é contra o islamismo; a excisão do clitóris de meninas não era coisa aprovada por ele; e ele também foi capaz de apertar a mão de um dirigente do estado de Israel. Era uma notícia sobre a morte do imame, mas o importante eram suas posições equilibradas a respeito da ética muçulmana.


O segundo “post”, sobre a morte de “seu” Alfredo, é sobre morte, mas, na verdade, foi uma expressão do meu sentimento de luto quando soube da notícia.


O terceiro, sobre a morte de ator Peter Graves, é relacionado com as memórias da minha infância. Como eu disse, muitas vezes vi episódios da série Missão Impossível. Minha irmã era uma fã, e eu via junto com ela.


Por fim, quando comento sobre o assassinato do cartunista Glauco, estou expressando minha perplexidade pela violência que pode irromper no nossa dia a dia, e brutalmente ceifar uma vida, assim, de repente.


Depois de refletir sobre tudo isso, não estou certo que eu tenha convencido a mim mesmo que este blog não é um necrológio. Mas há coisas subjacentes ao necrológio: ética da religião, luto, memória, violência. Todos estes “posts” são manifestação de certa perplexidade diante da fragilidade da vida.



16/03/2010


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Liniers... de novo

GLAUCO (1957 - 2010)


Vez por outra a violência nos invade e nos choca. Nos deixa perplexos, catatônicos. Me senti assim quando soube da notícia da morte do cartunista Glauco, na manhã de sexta-feira passada, dia 12.


Eu ouvia o rádio, adiando o momento de levantar da cama para ir trabalhar, quando o narrador divulgou a notícia do assassinato do cartunista e de seu filho Raony, um jovem com 25 anos, em decorrência de um assalto.


Depois a notícia mudou, e o assassino seria um jovem, possivelmente sob efeito de drogas, e que seria conhecido da família de Glauco. A relação teria se dado através de um culto do Daime, que Glauco liderava em um templo que ficava anexo à sua casa, em São Paulo.


Na verdade, não sei se este esclarecimento melhora ou piora a perplexidade pela estupidez da morte do cartunista.


E eu nem era grande fã de Glauco. Mas acho que ninguém merece morrer desta maneira.


A charge acima, em sua homenagem, foi publicada na Folha de São Paulo, do dia 13.

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Ator da série "Missão Impossível", Peter Graves morre nos EUA

Ator da série "Missão Impossível", Peter Graves morre nos EUA

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da France Presse, em Los Angeles

O ator americano Peter Graves, famoso pelo personagem Jim Phelps na série de televisão "Missão Impossível", morreu no domingo em casa, em Los Angeles, aos 83 anos.

O ator foi encontrado morto dentro de casa, no bairro de Pacific Palisades, ao oeste de Los Angeles. De acordo com a polícia, o ator morreu de causas naturais.

Em quase 60 anos de carreira, Peter Aurness, conhecido com o nome artístico de Peter Graves, participou de 130 filmes e séries de televisão.

O ator apareceu em filmes como "Stalag 17" de Billy Wilder e "A Noite do Caçador", de Charles Laughton. Também trabalhou com o diretor John Ford.

No entanto, foi na televisão em que ficou famoso, em 1967, com a série "Missão Impossível", na qual interpretou o principal personagem, Jim Phelps, um agente secreto que tinha que superar diversas dificuldades para o êxito das operações.

Notícia visto na Folha Online.

Imagem vista no Revista TV Séries, via Google Imagens.

Na minha infância vi muitos episódios da série Missão Impossível, de 1967, na televisão durante os anos 1970. Sou incapaz de lembrar o enredo de qualquer um deles, mas a música tema (obviamente a mesma dos recentes filmes com Tom Cruise), enquanto um "pavio" passava pela tela mostrando imagens do episódio a ser apresentado, se tornou inesquecível. E claro, a fita que delegava a missão "impossível" ao personagem Jim Phelps sempre se auto-destruiria em 10 segundos (ou seriam 5?)...


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quarta-feira, março 10, 2010

Salmos 116: 14, 15

Salmos 116: 14, 15

Cumprirei os meus votos ao Senhor,

Na presença de todo o seu povo.

Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos.


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“Morreu o Seu Alfredo”

“Morreu o Seu Alfredo”


Assim começou o meu dia nesta quarta-feira. Juntamente com a troca de cumprimentos de bom dia, recebi de minha vizinha a notícia do falecimento de importante membro da igreja que eu costumava freqüentar.


Engoli em seco a notícia, e desci a rua em direção à condução que me levaria ao trabalho. E logo a tristeza tomou conta, e lágrimas desceram pelo meu rosto.


Seu Alfredo morreu. Ainda que eu estivesse algo afastado da freqüência regular aos cultos da igreja, não pude deixar de pensar que nunca mais poderia compartilhar momentos com ele que me foram bastante prazerosos. Orar juntos. Estar juntos numa classe de escola dominical. Uma classe de escola dominical é um momento em membros de igrejas protestantes se reúnem para estudar juntos a Bíblia. Nesta igreja é às 9 h 15 min de cada domingo. Antes da realização do culto, que ocorre às 10 h 30 min.


Boas lembranças tenho do Seu Alfredo. Por exemplo, sua simpatia. Era muito mais comum vê-lo sorrindo, que vê-lo amuado. Normalmente tinha palavras de incentivo a dar. Nas tais classes da escola dominical de que falei acima, ele tinha palavras interessantes, relevantes. Uma vez me repreendeu quando eu utilizava palavras por demais etéreas para falar do livro do Apocalipse. Desde que uma vez alguém me falou que toda a riqueza lingüística utilizada pelo narrador para falar da Nova Jerusalém no último livro da Bíblia era incapaz de mostrar como a tal cidade em que Deus faria morada com os homens seria de fato, e eu acreditei nisso, ficou difícil falar no mundo do porvir. O texto do Apocalipse é assim: “e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu./ E tinha a glória de Deus;/ e a sua luz era semelhante a uma pedra / preciosíssima, / como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. (…) / E a cidade de ouro puro, / semelhante a vidro puro.” . Está no capitulo 21 do livro de Apocalipse. Para seu Alfredo o porvir era a esperança da ressurreição, como na carta de Paulo aos Coríntios. Como Jesus ressuscitou, os que crêem nele também haveriam de ressuscitar. E dessa ressurreição resultariam rencontros. Rencontros com os entes queridos que se foram antes de nós. E naquele momento, Seu Alfredo lembrou o pai dele. O porvir haveria de ser a ressurreição da carne e a alegria dos rencontros. Não à toa, me emociono enquanto escrevo isso. Seu Alfredo morreu crendo na ressurreição.


Nos nossos poucos momentos de convivência me lembro de passagens narradas de sua vida. A convicção de sua crença em Jesus, as iniciativas de testemunhar sobre isso. As atividades como pregador leigo, como diácono de igrejas. Uma pessoa que procurou, dentro de seu entendimento, viver como “luz do mundo” tal como Jesus diz no Sermão do Monte.


Pois é. Morreu o Seu Alfredo. Já não mais poderei orar com ele. Segundo me contaram estava com 93 anos. A vida neste mundo é curta!...


10/03/2010.


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Morre o imame Tantaui, a mais elevada autoridade sunita

O xeque Mohamed Sayed Tantaui, grande imame de Al Azhar (Egito), a maior autoridade do Islã sunita, morreu nesta quarta-feira, na Arábia Saudita, de ataque cardíaco, anunciaram meios oficiais de imprensa.

O xeque Tantaui, um moderado de 81 anos, "morreu na quarta-feira na capital saudita, Riad, depois de um ataque cardíaco súbito", quando estava no aeroporto internacional da cidade, de volta do Cairo, acrescentou a agência.

Segundo a fonte, ele foi levado de emergência para um hospital.

O religioso, ligado ao poder, mas polêmico, estava na Arábia Saudita para assistir à entrega do prêmio internacional do rei Faysal, na noite de terça-feira.

A TV egípcia divulgou imagens da mesquita de Al Azhar com música solene ao fundo após o anúncio do falecimento do imame que, de acordo com um de seus filhos, deve ser enterrado em Medina (Arábia Saudita), o segundo lugar santo do Islã.

"O mundo islâmico e árabe perde um homem de saber e um jurisconsulto que tinha se dedicado a tudo o que fosse bom para o Islã e para os muçulmanos", declarou a direção de Al Azhar, em um comunicado.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, convalescente de uma cirurgia na Alemanha, saudou em um comunicado "um defensor do espírito de moderação, despertar e perdão" do Islã.

Discreto, de barba curta e acostumado a falar em voz baixa, o imame Tantaui havia sido nomeado, em março de 1996, por Mubarak, chefe de Al Azhar. A instituição é considerada o primeiro lugar de ensino do Islã sunita, majoritário no mundo muçulmano, e um centro importante de difusão de fatwas (decretos religiosos), destinados ao mundo sunita.

A universidade de Al Azhar, adjunta à mesquita de mesmo nome na antiga Cairo islâmica, foi fundada no século X e recebe estudantes do mundo muçulmano.

"Era um homem de grande piedade, um homem santo, uma referência para o Egito e todo o mundo sunita", disse Mohammad Abd el Saleh, um aposentado do bairro.

Por várias vezes, Tantaui tomou posições moderadas sobre assuntos religiosos sensíveis, em um país seduzido por um Islã moralista inspirado pela Irmandade Muçulmana e pelo salafismo.

Em outubro passado, causou forte polêmica ao afirmar que o 'niqab', o véu integral que só deixa aparentes os olhos das muçulmanas, era "uma tradição" e não uma obrigação religiosa.

Ele já havia condenado o terrorismo, ao considerar que "o extremismo é o inimigo do Islã".

Opôs-se à excisão - mutilação genital - das meninas, ao contrário de seu antecessor, o ultraconservador xeque Gad al Haq.

Em 2008, foi criticado por apertar a mão do israelense Shimon Peres, durante conferência em Nova York.

Nascido em 1928, no povoado de Salim (província de Sohag, 290 km ao sul do Cairo) e formado na Faculdade de Teologia em 1966, escreveu muitos livros sobre a interpretação do Alcorão.

Notícia da AFP, no UOL.

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segunda-feira, março 08, 2010

Simon Axler sai de cena

Simon Axler sai de cena

QUANTAS vezes, leitores? Quantas vezes pensamos que a nossa vida seria melhor se os outros a tornassem melhor? No trabalho, na amizade. No amor, especialmente no amor. A crença patética, e tão moderna, de que seremos salvos por terceiros.
Salvos por alguém: as falhas e os medos que não soubemos resolver em privado, de nós para nós, serão sublimados e redimidos pela generosidade de estranhos. Nunca são. Nunca podem ser. Onde quer que estejamos; com quem quer que estejamos, nós também estaremos lá. Com todas as falhas, com todos os medos e com a evidência dolorosa de que ambos foram amplificados pelo desespero do náufrago. Quem acredita no amor como uma forma de salvação não merece amor nem salvação.
Mas como evitar esse ato de fé? Olhem para Konstantin Gavrilovich, uma das grandes personagens trágicas do teatro. Em "A Gaivota", de Tchécov, Konstantin não escreve nem ama para cumprir um desígnio inegociável, interior; para ser, em evocação de Rilke nas cartas ao jovem poeta, o que não pode deixar de ser.
Ele escreve e ama como os infelizes mendigam: esperando ver nos outros e receber dos outros o que ele não vê ou possui em si próprio. Algum talento, ou o reconhecimento desse talento. Algum afeto, ou a reciprocidade desse afeto. Alguma redenção, ou a possibilidade de uma redenção. Konstantin termina como começara: só e perdido.
Disse "Konstantin", mas poderia ter dito "Simon Axler", personagem de Philip Roth em novo livro que revisita Tchécov e dividiu a crítica. Não dividiu a mim. E repito o que escrevi nesta Folha a respeito de "Indignação" ou "Homem Comum": os grandes livros de Roth não são mais os livros grandes, como "Fantasma Sai de Cena" ou "Complô contra a América". O melhor de Roth está hoje em pequenas narrativas despojadas de qualquer ornamento literário: peças de velhice, sobre a velhice, e por isso habitadas por toda a urgência.
"The Humbling" (ainda não lançado no Brasil) é a história banal de um homem extraordinário: o referido Simon Axler, ator com carreira longa e emérita, que perde o talento sem explicação racional. Uma noite, em cima do palco, as palavras desaparecem. Corrijo. As palavras não desaparecem. Pelo contrário, tornam-se presentes, dolorosamente difíceis e presentes, como se houvesse nesse excesso de consciência a descoberta fatal, aterradora, da profunda artificialidade de tudo. Cada frase, cada gesto, cada pausa ou silêncio -analisados obsessivamente, desencantadamente, até a paralisia. Axler é uma sombra de Axler.
A sanidade entra em regressão. O casamento definha e desaparece. O suicídio, ou a tentação do suicídio, começa o seu namoro infernal. Mas então acontece o último ato da peça existencial de Axler: uma mulher mais jovem entra em cena para contracenar com um homem preparado para sair dela. O cenário é Roth "vintage", concedo, e há quem desista de Roth precisamente por isso: por essa repetição de uma repetição de uma repetição. Aviso que o desencanto é desnecessário: a relação de Axler e Pegeen não é só, como em narrativas anteriores de Roth, o pretexto para que noções de "desejo" e "dever" (o dilema essencial do autor) cumpram a sua dialética macabra.
Em "The Humbling", o amor de Axler por Pegeen é uma forma de respiração artificial: como Konstantin em "A Gaivota", Axler respira com o oxigênio de terceiros. Alenta-se com esse oxigênio, revive com ele e até se concede a um futuro porque ele existe, porque Pegeen existe, e não porque Axler existe. Haverá forma mais perversa de existência? Não creio. Nenhuma sombra sobrevive à extinção da luz que lhe dá uma aparência de vida. Resta saber se Axler resistirá ao momento banal, demasiado banal, em que, para citar o próprio Roth, "ela [Pegeen] queria apenas libertar-se dele e satisfazer o desejo comum e suficientemente humano de seguir em frente e tentar algo de novo".
Durante anos, quando lia ou assistia à citada peça de Tchécov, acreditava sempre que Konstantin talvez pudesse ter sobrevivido se Nina o tivesse amado; se Arkadina, a mãe, o tivesse amado; ou até, em profissão de fé literária, se Konstantin tivesse perseguido a sua arte por amor à arte, e não em competição fátua com Trigorin. Philip Roth destroça essas crenças românticas. Ao encenar literalmente o último ato de "A Gaivota", e ao conceder a Axler o papel de Konstantin, Roth concede ao seu personagem um último regresso e uma última verdade: a de que somos nós, e apenas nós, os autores primevos da nossa perdição, ou da nossa clemência.

Texto de João Pereira Coutinho, na Folha de São Paulo, de 5 de janeiro de 2010.

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quinta-feira, março 04, 2010

Manifesto de apoio a Denise Bottmann

rompendo o silêncio para manifestar o meu apoio a denise bottmann, tradutora e editora do blog não gosto de plágio, que está sendo processada pela editora landmark que busca, além de indenizações, a remoção do nãogosto da internet.

vale lembrar que, ao denunciar os plágios, a denise apresenta um trabalho sério e criterioso. os tradutores jorio dauster, heloisa jahn, ivo barroso e ivone benedetti publicaram um manifesto em defesa da denise. a luta dela é uma luta em nome do respeito ao leitor, da tradução e de todos nós tradutores. para dar aderir ao manifesto, há o abaixo-assinado online. já assinei e assinarei quantas vezes for preciso.

o manifesto na íntegra:

Manifesto de apoio a Denise Bottmann

Causou comoção entre todos os profissionais ligados aos meios editoriais do País a notícia de mais um processo movido contra a tradutora Denise Bottmann, em decorrência de denúncias de plágio de tradução, por ela veiculadas em seu blogue Não Gosto de Plágio.

Diante do número de plágios desmascarados ao longo dos últimos anos por essa incansável profissional, ficou claro que a extensão de tal delito é muito maior do que qualquer um poderia imaginar quando das primeiras descobertas. Desta vez o processo é movido pela Editora Landmark, que apresentou em juízo as seguintes pretensões: vultosa indenização por pretensos danos morais e materiais; publicidade restrita (ou seja, andamento do processo sob sigilo de justiça); remoção do blogue Não Gosto de Plágio da internet, invocando o “direito de esquecimento”; antecipação dos efeitos da tutela de mérito (ou seja, determinação da remoção imediata do blog antes do exame do mérito da ação impetrada).

O fato é que, em pouco tempo, o referido blogue se tornou amplamente conhecido e converteu-se num ponto de referência certamente incômodo para os que, até seu advento, não eram molestados no tranquilo afã de copiar traduções esgotadas e lançá-las no mercado com nomes reais ou fictícios, nem de longe assemelhados aos dos verdadeiros tradutores. Assim, considerando a necessidade de que essas denúncias não só tenham prosseguimento, mas também se ampliem e aperfeiçoem, nós, abaixo assinados, nos mobilizamos a favor do desmascaramento de uma prática que:

1. fere a Lei de Direitos Autorais, que considera o tradutor como autor de obra derivada e salvaguarda seus direitos morais e patrimoniais;

2. configura concorrência desleal, pois as editoras de má-fé, não arcando com os custos dos direitos de tradução ou não pagando por uma retradução, põem em desvantagem as editoras que, pautando-se pela idoneidade, assumem tais custos;

3. atenta contra nosso patrimônio cultural, ao disseminar a cópia fraudulenta de obras muitas vezes assinadas originalmente por nomes reconhecidos e estimados de nossa literatura.

Pelos motivos acima, confiando que a justiça realmente será feita, publicamos esta manifestação de apoio aos esforços de Denise Bottmann, conclamando à adesão todas as pessoas interessadas no combate à prática delituosa do plágio e no enriquecimento das interações culturais neste país.

Heloisa Jahn
Jorio Dauster
Ivo Barroso
Ivone C Benedetti

IMPORTANTE: Se você quiser aderir a este manifesto, saiba que temos um abaixo-assinado em:

http://www.petitiononline.com/Bottmann/petition.html

Vá até lá e junte-se a nós!

Visto no blog Implicante.

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Abraço



Liniers, na Folha de São Paulo.

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terça-feira, março 02, 2010

Invictus - O que pode ser maior?

A versão da história recente da África do Sul que nos conta Clint Eastwood em seu filme Invictus diz que em meados dos anos 1990, Nelson Mandela procurava unir o país, extremamente cindido entre os brancos, principalmente os africâners, descendentes de holandeses que se estabeleceram na região desde o século XVII, e a maioria negra. E para isso ele utilizará o Copa do Mundo de Rugby.

Acontece que a seleção sul-africana de rugby era extremamente identificada com a minoria branca, que se beneficiara do recentemente extinto regime do apartheid. Sobre isso, há no início do filme uma partida amistosa entre a seleção inglesa e a sul-africana. Mandela vai prestigiar a partida. Mas, na torcida, o time sul-africano recebe apoio da minoria branca. Os poucos negros sul-africanos presentes no estádio torcem pela Inglaterra.

Mandela então, toma medidas para unir o país em torno desta seleção. A Copa do Mundo de Rugby de 1995 deveria se realizar na África do Sul. A princípio o time sul-africano parecia fraco. E a maioria negra não parecia muito interessada no rugby. Estava muito mais interessada no nosso futebol. Mas Mandela estava determinado. Repele praticamente uma moção do seu partido para que as configurações de uniforme da seleção do país seja extinta. Convoca o capitão da equipe sul-africana para tomar chá e chamá-lo à "grandeza". Manda a equipe fazer divulgação entre a população negra e pobre do país.

E os planos funcionam. Pelo menos no filme. Aquela seleção, a princípio desacreditada, conquista pela primeira vez a Copa do Mundo para a África do Sul. E a população sul-africana, toda ela, sai vibrando pelas ruas do país, após a conquista. Afinal, o que pode ser maior que a conquista do Copa do Mundo? E, é claro, a gente sai do cinema se sentindo muito bem.

Mas há algo que me incomodou: o tom excessivamente professoral, ou a excessiva postura, digamos, de estadista do Mandela encarnado pelo ator Morgan Freeman. Ele é constantemente posto a falar de perdão, reconciliação, e viabilização da nação multi-colorida (quanto à pele). Está certo que Mandela tinha base moral para chamar seus concidadãos ao perdão e à reconciliação, afinal ele mesmo havia passado trina anos nas cadeias do apartheid, por conta de sua militância, mas este papel de Mandela no filme me pareceu meio excessivo. Não só eu: "É possível, ou desejável, perdoar tudo? Em que medida certas iniciativas de reconciliação não são simplesmente impotência para punir os culpados? Perdoar é o mesmo que esquecer e apagar a memória dos crimes passados? " . Esta palavras entre as aspas são de Maurício Santoro, no seu blog Todos os Fogos, o Fogo.

Mas, de qualquer maneira, mostra como o esporte pode servir para aliviar conflitos sociais. Nenhuma novidade aí. Se pensarmos em futebol, desde a Copa do Mundo de 1934 os fascistas já se aproveitavam da união nacional que o esporte pode proporcionar. Em tempos recentes, podemos lembrar das ditaduras brasileira e argentina nas copas de 1970 e 1978 respectivamente. Ou a Alemanha recentemente reunificada comemorando a conquista da Copa de 1990.

Para além de tudo, o filme torna o rugby, um esporte até simpático. Para mim, era francamente coisa de brutamontes. E, a propósito, você sabia que a África do Sul ganhou novamente o título da Copa do Mundo realizada em 2007, na França? E no ano que vem haverá nova edição da Copa de Rugby, na Nova Zelândia?

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O Futuro da Memória, de Gordon Bell e Jim Gemmell

A evocação do Big Brother de George Orwell – que a todos observa, controla e comanda –, quando surge, é sempre pejorativa. Seja por causa do Big Brother, o programa de televisão (que, aliás, tem pouco a ver com isso); seja por causa do medo de que o estado ou “as empresas” ou algum ditador venha(m), futuramente, a fazer isso. Contudo: algo de que não nos damos conta é que estamos, mais e mais, despejando, naturalmente, nossos dados, e registrando nosso dia a dia, e nossos movimentos, através da internet e de dispositivos a ela conectados. Por exemplo, nossos e-mails: quem usa uma ferramenta como o Gmail, ou similar para webmail, está registrando, por escrito, parte dos seus dias – para que, no mínimo, o Google acesse e saiba tudo o que houver ali para saber. Do mesmo jeito, quem tira fotos e, continuamente, as publica na Web. Ou, ainda, as “redes sociais”, onde registramos nossas relações, nossos círculos, nossos laços afetivos. Ou, mais prosaicamente, os bancos e as empresas de cartão de crédito, que estocam as informações sobre tudo o que consumimos, nossos hábitos, nossas preferências. Gordon Bell e Jim Gemmell, em O Futuro da Memória (Campus), simplesmente defendem que não há como fugir – e que esse processo, talvez, não seja tão trágico quanto previu Orwell em 1984. Bell e Gemmell acreditam que, no futuro, com a queda histórica no preço de armazenamento, processamento e transmissão de informações (Lei de Moore), nossa vida inteira registrada não vai custar muito caro. E com um buscador extremamente poderoso – como um Google (auto)biográfico –, poderemos resgatar desde imagens até cenas inteiras, desde conversas até vivências inteiras. É o que estão chamando de Total Recall. As implicações, em muitas áreas, são incontáveis. Implicações éticas, inclusive. Pessoas mortas, por exemplo, nunca deixarão de “existir” – por causa de seus registros. E talvez o “memorioso”, do conto de Borges, finalmente se materialize – com o alcance, infinito, da tecnologia... (Lembrando que leva, justamente, uma vida para reconstituir toda uma vida...)

Visto no Digestivo Cultural.

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Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo

Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo




Juliane Von Mittelstaedt, Christoph Schult, Daniel Steinvorth, Thilo Thielke, Volkhard Windfuhr



A ascensão do extremismo islâmico coloca uma pressão cada vez maior sobre os cristãos que vivem em países muçulmanos, que são vítimas de assassinatos, violência e discriminação. Os cristãos agora são considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo. Paradoxalmente, sua maior esperança vem do Islã politicamente moderado.



Kevin Ang é mais cauteloso hoje em dia. Ele espia ao redor, dá uma olhada para a esquerda para a longa fileira de lojas, e depois para a direita em direção à praça, para checar se não há ninguém por perto. Só então o zelador da igreja tira sua chave, destranca o portão, e entra na Igreja Metro Tabernacle num subúrbio de Kuala Lumpur.



A corrente de ar vira páginas queimadas da Bíblia. As paredes estão cobertas de fuligem e a igreja cheira a plástico queimado. A Igreja Metro Tabernacle foi a primeira de onze igrejas a serem incendiadas por muçulmanos revoltados – tudo por causa de uma palavra: “Alá”, sussurra Kevin Ang.



Tudo começou com uma questão – se os cristãos daqui, assim como os muçulmanos, poderiam chamar seu deus de “Alá”, uma vez que eles não têm nenhuma outra palavra ou língua à sua disposição. Os muçulmanos alegam que Alá é deles, tanto a palavra quanto o deus, e temem que se os cristãos puderem usar a mesma palavra para seu próprio deus, isso poderia desencaminhar os fiéis muçulmanos.



Durante três anos isto era proibido e o governo confiscou Bíblias que mencionavam “Alá”. Então, em 31 de dezembro do ano passado, o mais alto tribunal da Malásia chegou a uma decisão: o deus cristão também poderia ser chamado de Alá.



Os imãs protestaram e cidadãos enfurecidos jogaram coquetéis Molotov nas igrejas. Então, como se isso não bastasse, o primeiro-ministro Najib Razak declarou que não podia impedir as pessoas de protestarem contra determinados assuntos no país – e alguns interpretaram isso como um convite para a ação violenta. Primeiro as igrejas foram incendiadas, depois o outro lado revidou colocando cabeças de porcos na frente de duas mesquitas. Entre os habitantes da Malásia, 60% são muçulmanos e 9% são cristãos, com o restante composto por hindus, budistas e sikhs. Eles conseguiram viver bem juntos, até agora.



É um batalha por causa de uma única palavra, mas há muito mais envolvido. O conflito tem a ver com a questão de quais direitos a minoria cristã da Malásia deve ter. Mais que isso, é uma questão política. A Organização Nacional dos Malaios Unidos, no poder, está perdendo sua base de apoio para os islamitas linha dura – e quer reconquistá-la por meio de políticas religiosas.



Essas políticas estão sendo bem recebidas. Alguns dos Estados da Malásia interpretam a Sharia, o sistema islâmico de lei e ordem, de forma particularmente rígida. O país, que já foi liberal, está a caminho de abrir mão da liberdade religiosa – e o conceito de ordem está sendo definido de forma cada vez mais rígida. Se uma mulher muçulmana beber cerveja, ela pode ser punida com seis chibatadas. Algumas regiões também proíbem coisas como batons chamativos, maquiagem pesada, ou sapatos de salto alto.



Expulsos, sequestrados e mortos


Não só na Malásia, mas em muitos países em todo o mundo muçulmano, a religião ganhou influência sobre a política governamental nas últimas duas décadas. O grupo militante islâmico Hamas controla a Faixa de Gaza, enquanto milícias islamitas lutam contra os governos da Nigéria e Filipinas. Somália, Afeganistão, Paquistão e Iêmen caíram, em grande extensão, nas mãos dos islamitas. E onde os islamitas não estão no poder hoje, os partidos seculares no governo tentam ultrapassar os grupos mais religiosos assumindo uma tendência de direita.



Isso pode ser visto de certa forma no Egito, Argélia, Sudão, Indonésia, e também na Malásia. Embora a islamização frequentemente tenha mais a ver com política do que com religião, e embora não leve necessariamente à perseguição de cristãos, pode-se dizer ainda assim que, onde quer que o Islã ganhe importância, a liberdade para membros de outras crenças diminui.



Há 2,2 bilhões de cristãos em todo o mundo. A organização não-governamental Open Doors calcula que 100 milhões de cristãos são ameaçados ou perseguidos. Eles não têm permissão para construir igrejas, comprar Bíblias ou conseguir empregos. Esta é a forma menos ofensiva de discriminação e afeta a maioria desses 100 mil cristãos. A versão mais bruta inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato.



Margot Kässmann, que é bispo e foi chefe da Igreja Protestante na Alemanha antes de deixar o cargo em 24 de fevereiro, acredita que os cristãos são “o grupo religioso mais perseguido globalmente”. As 22 igrejas regionais alemãs proclamaram este domingo como o primeiro dia de homenagem aos cristãos perseguidos. Kässmann disse que queria mostrar solidariedade para com outros cristãos que “têm grande dificuldade de viver de acordo com sua crença em países como a Indonésia, Índia, Iraque ou Turquia”.



Há exemplos contrários, é claro. No Líbano e na Síria, os cristãos não são discriminados, e, na verdade, desempenham um papel importante na política e na sociedade. Além disso, a perseguição contra os cristãos não é de forma alguma um domínio exclusivo dos fanáticos muçulmanos – os cristãos também são presos, agredidos e assassinados em países como o Laos, Vietnã, China e Eritreia.



Lento genocídio” contra os cristãos


A Open Doors edita um “índice de perseguição” global. A Coreia do Norte, onde dezenas de milhares de cristãos estão presos em campos de trabalho forçado, esteve no topo da lista por muitos anos. Ela é seguida pelo Irã, Arábia Saudita, Somália, Maldivas e Afeganistão. Entre os dez primeiros países da lista, oito são islâmicos, e quase todos têm o Islã como sua religião oficial



A perseguição sistemática de cristãos no século 20 – por comunistas na União Soviética e na China, mas também pelos nazistas – custou muito mais vidas do que qualquer outra coisa que tenha acontecido até o momento no século 21. Agora, entretanto, não são apenas os regimes totalitários que perseguem os cristãos, mas também moradores de Estados islâmicos, fundamentalistas fanáticos, e seitas religiosas – e com frequência simples cidadãos considerados fiéis.



Foi-se a era da tolerância, em que os cristãos, chamados de “Povo do Livro”, desfrutavam de um alto grau de liberdade religiosa sob a proteção de sultões muçulmanos, enquanto a Europa medieval bania judeus e muçulmanos do continente ou até mesmo os queimava vivos. Também se foi o apogeu do secularismo árabe pós 2ª Guerra Mundial, quando árabes cristãos avançaram nas hierarquias políticas.



À medida que o Islã político ficou mais forte, a agressão por parte de devotos deixou de se concentrar apenas nos regimes políticos corruptos locais, mas também e cada vez mais contra a influência ostensivamente corrupta dos cristãos ocidentais, motivo pelo qual as minorias cristãs foram consideradas responsáveis. Uma nova tendência começou, desta vez com os cristãos como vítimas.



No Iraque, por exemplo, grupos terroristas sunitas perseguem especialmente pessoas de outras religiões. O último censo do Iraque em 1987 mostrou que havia 1,4 milhão de cristãos vivendo no país. No começo da invasão norte-americana em 2003, eles eram 550 mil, e atualmente o número está está pouco abaixo dos 400 mil. Os especialistas falam num “lento genocídio”.



As pessoas estão morrendo de medo”


A situação na região da cidade de Mosul, no norte do Iraque, é especialmente dramática. A cidade de Alqosh fica no alto das montanhas sobre Mosul, a segunda maior cidade iraquiana. Bassam Bashir, 41, pode ver sua antiga cidade natal quando olha pela janela. Mosul fica a apenas 40 quilômetros dali, mas é inacessível. A cidade é mais perigosa que Bagdá, especialmente para homens como Bassam Bashir, um católico caldeu, professor e fugitivo dentro de seu próprio país.



Desde o dia em que a milícia sequestrou seu pai de sua loja, em agosto de 2008, Bashir passou a temer por sua vida e pela vida de sua família. A polícia encontrou o corpo de seu pai dois dias depois no bairro de Sinaa, no rio Tigre, perfurado por balas. Não houve nenhum pedido de resgate. O pai de Bashir morreu pelo simples motivo de ser cristão.



E ninguém afirma ter visto nada. “É claro que alguém viu alguma coisa”, diz Bashir. “Mas as pessoas em Mosul estão morrendo de medo.”

Uma semana depois, integrantes da milícia cortaram a garganta do irmão de Bashir, Tarik, como num sacrifício de ovelhas. “Eu mesmo enterrei meu irmão”, explica Bashir. Junto com sua mulher Nafa e suas duas filhas, ele fugiu para Alqosh no mesmo dia. A cidade está está cercada por vinhedos e uma milícia cristã armada vigia a entrada.



Aprovação tácita do Estado


Os familiares de Bashir não foram os únicos a se mudar para Alqosh à medida que a série de assassinatos continuou em Mosul. Dezesseis cristãos foram mortos na semana seguinte, e bombas explodiram em frente às igrejas. Homens que passavam de carro gritaram para os cristãos que eles podiam escolher – ou saíam de Mosul ou se convertiam ao Islã. Das 1.500 famílias cristãs da cidade, apenas 50 ficaram. Bassam Bashir diz que não voltará antes de lamentar a morte de seu pai e seu irmão em paz. Outros que perderam totalmente a esperança fugiram para países vizinhos como a Jordânia e muitos mais foram para a Síria.



Em muitos países islâmicos, os cristãos são perseguidos menos brutalmente do que no Iraque, mas não menos efetivamente. Em muitos casos, a perseguição têm a aprovação tácita do governo. Na Argélia, por exemplo, ela tomou a forma de notícias de jornal sobre um padre que tentou converter muçulmanos ou insultou o profeta Maomé – e que divulgaram o endereço do padre, numa clara convocação para a população fazer justiça com as próprias mãos. Ou um canal de televisão pública pode veicular programas com títulos como “Nas Garras da Ignorância”, que descreve os cristãos como satanistas que convertem muçulmanos com o auxílio de drogas. Isso aconteceu no Uzbequistão, que está no décimo lugar do “índice de perseguição” da Open Doors.



A blasfêmia também é outra justificativa frequentemente usada. Insultar os valores fundamentais do Islã é uma ofensa passível de punição em muitos países islâmicos. A justificativa é com frequência usada contra a oposição, quer sejam jornalistas, dissidentes ou cristãos. Imran Masih, por exemplo, cristão dono de uma loja em Faisalabad, no Paquistão, foi condenado à prisão perpétua em 11 de janeiro, de acordo com as seções 195A e B do código penal do Paquistão, que tratam do crime de ofender sentimentos religiosos ao dessacralizar o Alcorão. Um outro dono de loja o acusou de queimar páginas do Alcorão. Masih diz que ele queimou apenas documentos antigos da loja.



É um caso típico para o Paquistão, onde a lei contra a blasfêmia parece convidar ao abuso – é uma forma fácil para qualquer um se livrar de um inimigo. No ano passado, 125 cristãos foram acusados de blasfêmia no Paquistão. Dezenas dos que já foram sentenciados estão agora esperando sua execução.



Não nos sentimos seguros aqui”


A perseguição tolerada pelo governo acontece até mesmo na Turquia, o país mais secular e moderno do mundo muçulmano, onde cerca de 110 mil cristãos representam menos de um quarto de 1% da população – mas são discriminados assim mesmo. A perseguição não é tão aberta ou brutal quanto no vizinho Iraque, mas as consequências são semelhantes. Os cristãos na Turquia, que estavam bem acima dos 2 milhões no século 19, estão lutando para continuar a existir.



É o que acontece no sudeste do país, por exemplo, em Tur Abdin, cujo nome significa “montanha dos servos de Deus”. É uma região montanhosa cheia de campos, picos e vários mosteiros de séculos de existência. O local abriga os assírios sírios ortodoxos, ou arameus, como denominam a si mesmos, membros de um dos grupos cristãos mais antigos do mundo. De acordo com a lenda, foram os três reis magos que levaram o sistema de crenças cristão de Belém para lá. Os habitantes de Tur Abdin ainda falam aramaico, a língua usada por Jesus de Nazaré.



O mundo sabe bem mais sobre o genocídio cometido contra os armênios pelas tropas otomanas em 1915 e 1916, mas dezenas de milhares de assírios também foram assassinados durante a 1ª Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 500 mil assírios viviam em Tur Abdin no começo do século 20. Hoje há apenas 3 mil. Um tribunal distrital turco ameaçou, no ano passado, tomar posse do centro espiritual assírio, o mosteiro Mor Gabriel de 1.600 anos de idade, porque acreditava-se que os monges haviam adquirido terras de forma ilegal. Três vilarejos muçulmanos vizinhos reclamaram que sentiam-se discriminados por causa do mosteiro, que abriga quatro monges, 14 freiras e 40 estudantes atrás de seus muros.



“Mesmo que não queira admitir, a Turquia tem um problema com pessoas de outras religiões”, diz Ishok Demir, um jovem suíço de ascendência aramaica, que vive com seus pais perto de Mor Gabriel. “Nós não nos sentimos seguros aqui.”

Mais que qualquer coisa, isso tem a ver com o lugar permanente que os armênios, assírios, gregos, católicos e protestantes têm nas teorias de conspiração nacionalistas do país. Esses grupos sempre foram vistos como traidores, descrentes, espiões e pessoas que insultam a nação turca. De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa Pew, sediado nos EUA, 46% dos turcos veem o cristianismo como uma religião violenta. Num estudo turco mais recente, 42% dos entrevistados disseram que não aceitariam cristãos como vizinhos.

Os repetidos assassinatos de cristãos, portanto, não são uma surpresa. Em 2006, por exemplo, um padre católico foi assassinado em Trabzon, na costa do Mar Negro. Em 2007, três missionários cristãos foram assassinados em Malatya, uma cidade no leste da Turquia. Os responsáveis pelo crime eram nacionalistas radicais, cuja ideologia era uma mistura de patriotismo exagerado, racismo e Islã.



Convertidos correm grande risco


Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo, entretanto, enfrentam um perigo ainda maior do que os próprios cristãos tradicionais. A apostasia, ou a renúncia ao Islã, é castigada com a morte de acordo com a lei islâmica – e a pena de morte ainda se aplica no Irã, Iêmen, Afeganistão, Somália, Mauritânia, Paquistão, Qatar e Arábia Saudita.



Até no Egito, um país secular, os convertidos atraem a cólera do governo. O ministro da religião defendeu a legalidade da pena de morte para os convertidos – embora o Egito não tenha uma lei como esta – com o argumento de que a renúncia ao Islã é alta traição. Esses sentimentos fizeram com que Mohammed Hegazy, 27, convertido para a Igreja Cóptica Ortodoxa, passasse a se esconder há dois anos. Ele foi o primeiro convertido no Egito a tentar fazer com que sua religião nova aparecesse oficialmente em sua carteira de identidade expedida pelo governo. Quando seu pedido foi recusado, ele tornou o caso público. Inúmeros clérigos pediram a sua morte em resposta.



Os coptas são a maior comunidade cristã do mundo árabe, e cerca de 8 milhões de egípcios pertencem à Igreja Cóptica. Eles são proibidos de ocupar altas posições no governo, no serviço diplomático e militar, assim como de desfrutar de vários benefícios estatais. As universidades têm cotas para alunos coptas consideradas menores do que a porcentagem que eles representam na população.

Não é permitido construir novas igrejas, e as antigas estão caindo aos pedaços por causa da falta de dinheiro e de permissão para reforma. Quando as meninas são sequestradas e convertidas à força, a polícia não intervém. Milhares de porcos também foram mortos sob o pretexto de combater a gripe suína. Naturalmente, todos os porcos pertenciam a cristãos.



O vírus cristão


Seis coptas foram massacrados em 6 de janeiro – quando os coptas celebram a noite de Natal – em Nag Hammadi, uma pequena cidade 80 quilômetros ao norte do Vale dos Reis. Previsivelmente, o porta-voz da Assembleia do Povo, a câmara baixa do parlamento egípcio, chamou isso de “um ato criminoso isolado”. Quando acrescentou que os responsáveis queriam se vingar do estupro de uma jovem muçulmana por parte um copta, isso quase pareceu uma desculpa. O governo parece pronto a reconhecer o crime no Egito, mas não por tensão religiosa. Sempre que conflitos entre grupos religiosos acontecem, o governo encontra causas seculares por trás deles, como disputas por terras, vingança por algum crime ou disputas pessoais.



Nag Hammadi, com 30 mil moradores, é uma poeirenta cidade comercial no Nilo. Mesmo antes dos assassinatos, era um lugar onde os cristãos e os muçulmanos desconfiavam uns dos outros. Os dois grupos trabalham juntos e moram próximos, mas vivem, casam-se e morrem separadamente. A superstição é generalizada e os muçulmanos, por exemplo, temem pegar o “vírus cristão” ao comer junto com um copta. Não surpreende que esses assassinatos tenham acontecido em Nag Hammadi, nem que depois deles tenham se seguido os piores atos de violência religiosa em anos. Lojas cristãs e casas muçulmanas foram incendiadas, e 28 cristãos e 14 muçulmanos foram presos.



Nag Hammadi agora está cercada, com seguranças armados em uniformes negros guardando as estradas para entrar e sair da cidade. Eles certificam-se de que nenhum morador deixe a cidade e nenhum jornalista entre nela.



Três suspeitos foram presos desde então. Todos eles têm fichas criminais. Um admitiu o crime, mas depois negou, dizendo que havia sido coagido pelo serviço de inteligência. O governo parece querer que o assunto desapareça o mais rápido possível. Os supostos assassinos provavelmente serão libertados assim que o furor passar.



Mais direitos para os cristãos?


Mas também há pequenos indícios de que a situação de cristãos acuados em países islâmicos possa melhorar – dependendo do tanto que recuarem o nacionalismo e a radicalização do Islã político.



Uma das contradições do mundo islâmico é que a maior esperança para os cristãos parece surgir exatamente do campo do Islã político. Na Turquia, foi Recep Tayyip Erdogan, um ex-islamita e agora primeiro-ministro do país, que prometeu mais direitos aos poucos cristãos remanescentes no país. Ele aponta para a história do Império Otomano, no qual os cristãos e judeus tiveram de pagar um imposto especial por muito tempo, mas em troca, tinham a garantia de liberdade de religião e viviam como cidadãos respeitados.



Uma atitude mais relaxada em relação as minorias certamente representaria um progresso para a Turquia.



Tradução: Eloise De Vylder



Notícia da Der Spiegel, republicada no UOL.



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segunda-feira, março 01, 2010

Sherlock Holmes - vale a pipoca

Fui ver Sherlock Holmes, a versão de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. no papel título, e Jude Law como o Dr. Watson.

Não quero me estender muito aqui. Apenas algumas impressões. Nesta versão, Sherlock não é muito dado à higiene, ao contrário do parceiro Watson, um homem aparentemente limpinho, e extremamente elegante.

Mas ambos são muito cerebrais.

E a recriação daquela Londres da segunda metade do século XIX é muito impressionante.

E as cenas de luta, como deveriam, são muito impactantes.

Como eu disse no título, vale a pipoca.

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Estado de Emergência

Estado de emergência


O romancista Martin Amis descreve uma visita que fez ao escritor John Updike, internado em um hospital, e reflete sobre o sistema de saúde dos EUA e o "American way of life"

MARTIN AMIS


Os EUA estão doentes com a saúde: os EUA, onde derrames e ataques cardíacos vêm acompanhados de uma etiqueta de preço e onde médicos agem como locadores de barracos em favelas ou criminosos que lucram com guerras. E os americanos admiram isso -essa triagem que passa pelo bolso.
John Updike [1932-2009], ou o fantasma de John Updike, ficaria interessado (mas não surpreso) ao descobrir que, no ano de sua morte, aconteceu uma rebelião nas bases contra o sistema de saúde defendido pela administração atual.
Os americanos acreditam na autoridade descentralizada, na escolha individual e no que chamam de "responsabilidade fiscal" (ou seja, impostos muito baixos); eles rejeitam o "Estado babá", que, escandalosamente, protege o cidadão apático "do berço até o túmulo".
Os americanos pagam por sua chegada e sua saída deste mundo -chegadas caras e saídas realmente exorbitantes.
Meu único encontro cara a cara com John Updike -uma entrevista de duas horas- aconteceu em um hospital de Massachusetts (onde ele seria submetido a cirurgia para a extração de uma verruga pré-cancerosa da mão direita). Foi em 1987; eu tinha 38 anos, e ele, 55.
E 22 anos mais tarde, em 27 de janeiro de 2009, John Updike sucumbiria ao câncer de pulmão -em um hospital de Massachusetts.
Naquele dia de verão, a cafeteria do hospital, chocante por suas dimensões, era cenário de todas as variedades possíveis de debilidade.

"Gostamos da vida"
Em meio a essa morbidez, Updike estava intensamente vivo. A hiperatividade de suas impressões sensoriais era palpável -quase audível. "Meu Deus", disse com alegria, "estamos cercados por todo tipo de americanos doentes! Olhe para os óculos daquela mulher."
Uma senhora passou por nós, tateando para se orientar, usando o que poderiam ser óculos de proteção de um soldador. "Acho que ela realmente não quer que luz nenhuma chegue a seus olhos... Meu Deus, olhe para ele. Olhe para os ombros dele! Veja as pernas daquela menina."
Sobre o porquê de gostarmos de determinados personagens literários, Updike é inequívoco: "Gostamos da vida".
Gostamos da vida; e a vida ainda é vida, mais vida ainda, possivelmente, quando se encontra ameaçada não apenas pela enfermidade, mas também pela mais aguda pressão financeira. Sim, estamos nos EUA, onde a doença representa um desastre duplo (e onde os custos médicos contribuem para 62% das falências).

Voo em um 747
Updike estava eufórico, fascinado, absorto; Updike estava vivo. Recordamos as rebeliões somáticas, as reviravoltas horríveis e as épicas internações hospitalares suportadas por Coelho Angstrom, o anti-herói da série de romances de Updike -Coelho, tão exuberante e dinâmico (e também frouxo e esclerótico) quanto a América que personifica.
E dramas e ansiedades médicas iriam se intrometer cada vez mais na ficção posterior de Updike. Mas talvez "A Cidade", conto de 1981 da coletânea "Confie em Mim" [ed. Rocco, esgotado], se destaque como a visita mais agudamente cristalizada feita por Updike à terra dos doentes.
"Uma obra de perfeição joyciana", disse eu. Na realidade não é inteiramente perfeita e não é nem um pouco joyciana, para mérito dela. "A Cidade" é puro Updike: ao mesmo tempo embaraçosamente íntimo e grandiosamente universal.
A primeira oração nos insere no clima ("Seu estômago começou a doer no avião, quando os motores mudaram de intensidade para a descida"), e a segunda nos dá a primeira contração nervosa de negação ou da busca por uma causa aproximada: "Carson primeiro atribuiu sua dor aos amendoins salgados e liofilizados" -no avião, consumira dois pacotes deles, com um coquetel de uísque, no meio da manhã.
Ao desembarcar, ele continua, vingativamente, a responsabilizar os amendoins. Na fila do táxi, o primeiro sintoma decisivo o convence a faltar a seus compromissos e ir diretamente ao hotel: "Uma onda repentina e transparente de náusea, como um mergulho no voo do 747".
Ele visita a farmácia do hotel e então compra o remédio patenteado já familiar: um vidro de Maalox.
"O remédio tinha gosto de giz, era desagradável e, após um instante de hesitação, deu à dor um toque novo, como se fosse pela ação de minúsculos dentes arenosos."
Reunindo os últimos fiapos de sua força de vontade (e desejoso de ouvir uma voz humana), telefona para a recepção. Um jovem recepcionista recomenda alegremente o pronto-socorro do hospital da cidade.


"Quando chega a conta, essa é a parte realmente dolorosa; todos os americanos têm seguro... com milhões de exceções, é claro"


Doença e pobreza
Após um percurso de duração "surpreendente" em um táxi, ele chega à "mansão vasta e reluzente"; ele espera "entregar por completo o peso de seu corpo, mas, em vez disso, se viu obrigado a carregá-lo através de uma série de novos esforços -formulários a serem preenchidos, comprovantes a serem fornecidos de sua capacidade financeira de estar doente".
Essa última frase, com sua pequena ironia encabulada, é o primeiro reconhecimento, feito no conto, desse barbarismo peculiar americano: a sinergia fatal entre saúde pública e ganho particular.
Updike, como homem, aceita o "American way", mas, como artista, tem consciência de suas deformações. Sua mente subliminar sabe que estar doente nos EUA não é como estar doente em qualquer outro lugar. E não pode ser certo, pode?
Que a desigualdade persiga você até seu leito de morte?
Os agentes médicos que processam Carson não demonstram nenhuma empatia vocacional; são aparições "esquivas" que dão a impressão de ter coisas muito melhores a fazer e de que deveriam, na realidade, estar em outro lugar -num jantar, digamos, ou de outro modo imersos em "um festivo mundo doméstico" do qual Carson "despencou há muito tempo".
Adoecer invariavelmente envolve um rebaixamento do eu; se você é americano, esse rebaixamento é também socioeconômico. É bastante simples: se você se sentir doente nos EUA, também se sentirá pobre.
Após uma bateria de exames, é levado a um leito na área de espera. Durante a noite, ele abre os olhos, e um médico novo e mais grandioso o está observando: "Ele tinha muita consciência de que, embora o horário devasso e o ambiente indecoroso se tivessem tornado seu habitat próprio, o médico era saudável e deveria ter uma casa decente, uma família, uma rotina à qual retornar".

Dólares e centavos
Uma apendicite é triunfalmente diagnosticada; o cirurgião de ar divino o operará imediatamente; a "promoção de status" de Carson infunde um novo "esprit de corps" na equipe médica; "sobre rodas macias e velozes", ele flutua para o teatro de operações.
A felicidade persiste e se ramifica, e a segunda metade de "A Cidade" é uma das odes de Updike ao renascimento comunitário -renascimento no ambiente americano harmônico.
O renascer envolve uma regressão. O polido cirurgião lhe dá instruções breves "sobre comer e andar e ir ao banheiro -todas coisas que teriam que ser aprendidas de novo".
Agora a realidade conspira para agradá-lo, e sua gratidão chega a tudo que o cerca.
Nesse momento, Carson já não sangra nada mais perigoso que dólares e centavos. Seus médicos indiferentes, sempre prestes a partir para algum lugar mais agradável, passam para vê-lo -por um preço.
Mas ele é americano e não nota isso: "Todos faziam suas visitas de maneira tão agradável e casual -como se estivessem apenas dando uma passada por ali- que Carson ficou espantado, meses mais tarde, ao descobrir que cada visita estava marcada, com data e hora, nas folhas de serviços do hospital cuja fatura lhe foi enviada num relatório extenso feito em impressora matricial".

Olhos ocupados
"Joyciano, você acha?", perguntou Updike quando nosso encontro chegava ao fim. "Em sua perfeição. Ou quase perfeição"
"Bem, nada é perfeito. Um poema curto pode ser perfeito, mas um conto de qualquer comprimento em pouco tempo fica aberto aos "pecados naturais da linguagem". Na frase de [T.S.] Eliot."
Eu disse: "Você sabe que Nabokov, quando lecionava, costumava atribuir notas aos contos que eles estudavam. A pior nota que ele deu foi um Z menos, mas Joyce ganhou um A triplo mais por "Os Mortos" [de "Dublinenses']. Talvez desse a você a mesma nota por "A Cidade". Ele disse que amava sua prosa, é verdade?"
"Disse. Assinou sua cartinha "cordialmente". Foi bastante minimalista, essa cartinha. Fez-me desconfiar que Nabokov só amava minha prosa quando ela elogiava a prosa de Nabokov... Eu estava querendo perguntar: você já leu "Finnegan's Wake" [de Joyce]?"
"Inteiro? Não. Apenas o começo, o fim e alguns trechinhos no meio."
"Eu também. Mmm. Surpreendente. Achei que você tinha o ar de um homem que tivesse lido "Finnegan's Wake"."
Eu me senti lisonjeado -provavelmente de modo equivocado. Que tipo de ar seria esse, afinal? Obsessivo, de óculos grossos, onanista.
"Nabokov descreveu "Ulisses" como "um livro nobre'", falei.
"Mas chamou "Finnegan's Wake" de "um ronco na outra sala"... Não me conformo com o ar alegre dessas pessoas. Elas estão no hospital. E isso lhes está custando os tubos."
"Quando chega a conta, essa é a parte realmente dolorosa.
Mas todos os americanos têm seguro. Com a exceção dos milhões que não têm, é claro."
"Isso me parece grotesco. Pagar a conta." Ele falou: "A medicina socializada pareceria grotesca a nós.
Não pagar, não poder escolher, não dispor de sua panóplia de poderes discricionários -quando se trata de algo tão importante quanto a vida e a morte. Seria antiamericano".
Os leitores atuais de "A Cidade" ficarão surpresos com quanto se fuma no hospital de Updike. Mas havia uma seção de fumantes também na cafeteria do Mass General, e após alguma hesitação perguntei se poderíamos nos transferir para lá por dez minutos: "Enquanto fumo um cigarro".
"Sim, é claro", disse ele. Updike saudou a transferência para outra mesa: ela lhe proporcionou mais americanos doentes aos quais olhar. "Isto também é grotesco", falei. "Fumar em um hospital.
Bom, imagino que deve ser bom para os negócios."
"Invejo você. Eu parei."
Hoje, olhando a metragem dos livros de Updike em minhas estantes, tenho dificuldade em acreditar que ele tenha sido viciado em qualquer coisa senão na ética do trabalho. Ah, e na vida, é claro.
Aqueles seus olhos ocupados, a expressão de sua boca (como se contivesse com dificuldade uma euforia imensa e misteriosa), seus cabelos em formato de turbante ainda crescendo fortes, suas mãos na bandeja de chá tão mais firmes que as minhas ("deixe que carrego isso") -as minhas, que tremeram diante do tamanho e do vigor de sua presença e seu talento.
Naquele dia no hospital Mass General, John Updike estava vivo.




MARTIN AMIS
é inglês, autor de "The Pregnant Widow" (A Viúva Grávida, sem previsão de lançamento no Brasil) e "Casa de Encontros" (Cia. das Letras). A íntegra deste texto saiu no "The Times". Copyright: 2009 Martin Amis.
Tradução de Clara Allain .

Texto publicado no caderno Mais! da Folha de São Paulo, de 14 de fevereiro de 2010.

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