quinta-feira, outubro 28, 2010

A Parada das Vacas (“CowParade”) em Porto Alegre

A Parada das Vacas (“CowParade”) em Porto Alegre

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Tempos atrás vi notícias da Parada das Vacas, isto é, da “CowParade” em São Paulo, e confesso que fiquei com certa inveja. Eu queria que houvesse algo assim aqui em Porto Alegre.

Pois neste final de 2010, meu desejo se realizou. Desde o início do outubro há um desfile de vacas pelas ruas e shoppings de Porto Alegre. Claro, desfile no sentido figurado. Se trata na verdade de uma exposição que está agitando a cidade. São mais de 80 vacas de fibra de vidro, com as mais diversas pinturas. A CowParade está entre nós.

As vacas são um sucesso absoluto. Nos locais de maior afluência de pessoas, a turma se aproxima da vaca, confere a pintura, o nome, e, ou fotografa o bicho de fibra, ou posa para uma foto tirada por um parente ou amigo. Isto é mais visível nas mimosas em parques, praças e shoppings. As colocadas próximas a cruzamentos de maior movimento não tem tanta gente em volta, mas, de qualquer maneira, estão fazendo diferença na paisagem. É bom isso de, digamos assim, a arte invadir a cidade, e provocar agitação entre os cidadãos. Tanto adultos, quanto crianças ficam em volta dos bichos.

Tudo bem que seja uma arte algo ingênua, simples, que se presta mais ao humor e certa ternura que ao questionamento, mas melhor uma arte assim espalhada pela cidade, que arte nenhuma.

Infelizmente também houve atos de vandalismo contra algumas das esculturas. Nem todo mundo é capaz de apreciar a arte. Mas a vida também é assim, nem todo mundo consegue conviver pacificamente e de maneira saudável em sociedade.

Mas, para minha felicidade, as vacas estão por aqui.

Ficam espalhadas pela cidade até o dia 20 de novembro. Depois serão reunidas em exposição no shopping Bourbon Country, de 21 a 30 de novembro.

Vamos aproveitar enquanto podemos vê-las!


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quarta-feira, outubro 27, 2010

A 56a. Feira do Livro de Porto Alegre entre os escombros da Praça da Alfândega

A 56a. Feira do Livro de Porto Alegre entre os escombros da Praça da Alfândega



Na próxima sexta-feira, dia 29 de outubro deve iniciar a 56a. edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Será uma Feira sui generis, porque estará acontecendo sem que tenham terminado as obras de restauração da Praça da Alfândega, do Projeto Monumenta, que visam dar à Praça os ares que ela tinha há 50 anos.


As tais obras começaram após a Feira do Livro do ano passado, e incluem um extenso manejo da vegetação da Praça, e restauração da parte da Avenida Sepúlveda, a avenida que liga o Cais Central à praça. A praça chegou a ser totalmente cercada por um tapume, para que os operários pudessem trabalhar. Mas é certo que quem acompanha a restauração, deve achar que ela ocorre em ritmo lentíssimo.

Agora, por conta da Feira, os tapumes foram parcialmente retirados, e foi como ver a praça em ruínas. A grama virou mato alto, a estátua do Barão do Rio Branco, em frente ao Memorial do Rio Grande do Sul (antiga sede dos Correios), coberto por uma lona plástica, o estátua equestre do General Osório também parcialmente coberto por lona. Um horror.


Uma foto da maquete fixada no tapume que mostra como deveríamos imaginar a Praça da Alfândega após a restauração, indica que a Avenida Sepúlveda deveria receber paralelepípedos até a altura em que esta encontrasse a Rua Sete de Setembro, no centro da praça. Não foi feito ainda, e lançaram um concreto rápido, para receber as barracas da Feira.


Também colocaram uma tela, supostamente para proteger o que foi feito até agora.


Certo é que a Feira está sendo montada em meio a obras na Praça da Alfândega. Deveria ser uma restauração. Enquanto ela não termina, parecem ruínas.


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De repente, a morte - Romeu Tuma, Nestor Kirchner

Nestes últimos dois dias fomos surpreendidos pela morte de dois personagens ilustres.

Ontem faleceu o senador e ex-delegado Romeu Tuma. No caso de Tuma, a morte não chega tão repentinamente assim. O senador estava internado faz algum tempo, e um portal de notícias havia divulgado sua morte tempos atrás numa barriga que não chegou a ser desmentida com o mesmo destaque da então falsa notícia de morte. O senador tinha 79 anos, e se notabilizou por ser chefe do Dops de São Paulo, no final da década de 1970, o que lançou uma certa sombra de dúvida sobre o senador nestes últimos dias. Também desempenhou o cargo de chefe da Polícia Federal no governo Sarney, e de secretário da Receita Federal. Exercia o mandato de senador desde 1994.

Mais do que o falecimento do senador Romeu Tuma, foi a notícia hoje, no final da manhã do falecimento do ex-presidente argentino, e atual secretário da Unasul, Nestor Kirchner. Kirchner foi o presidente que veio restabelecer certo equilíbrio sobre a Argentina, após o caos que se abateu sobre o país vizinho após o governo Menem. De La Rua foi eleito, mas renunciou diante de grave crise econômica decorrente da conversibilidade peso-dólar que vigorara no governo anterior. Em seguida, três presidentes se sucederam rapidamente tentando achar uma solução. A coisa mais próxima de uma solução no caso da Argentina acabou por ser a eleição de Kirchner em 2003. Kirchner acabou por renegociar uma dívida externa, que até hoje é contestada por alguns credores. E sua esposa, Cristina Fernandez, acabou por sucedê-lo. Após passar mal, foi levado ao hospital, onde veio a falecer, em El Calafate, no sul da Argentina. A notícia do IG, dá contas de lamentações por parte de praticamente todos os dirigentes dos países da América do Sul.


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Se passam os dias: ontem foi aniversário deste blog

Quase deixei passar. Ontem fez 5 cinco anos que este blog está no ar.

Não que ele seja muito importante, mas desde então eu tenho um meio que me bastante satisfatório de expressão.

5 anos. Obrigado pelas visitas e pelos comentários.


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A Questão do Aborto Revisitada

A questão do aborto, revisitada

O ABORTO regressou. Tudo por causa das eleições presidenciais, que trouxeram o tema para cima da mesa com seus cortejos de oportunismo e ignorância.
Concordo com Contardo Calligaris: não se discutem esses temas no calor demagógico de uma eleição.
Por outro lado, se não fosse a eleição, não seria possível ler o importante texto que o meu amigo Antonio Cícero escreveu nesta Folha sábado passado ("A questão do aborto", Ilustrada, 16/10).
Ponto prévio: sou contra a descriminalização do aborto, excetuando casos de perigo para a saúde física ou psíquica da mãe. Não por motivos religiosos, contrariamente ao que Cícero imagina, mas por motivos éticos e políticos, que apresentarei no final.
Dito isso, o texto de Cícero aborda o problema com inteligência e seriedade e merece ser discutido. Diz o poeta brasileiro que, no aborto, é preciso fazer uma distinção importante entre "estar vivo" e "ser um ser vivo", distinção inicialmente operada por Francis Kaplan no livro "O Embrião É um Ser Vivo?".
Para Cícero, um embrião (ou um feto) "está vivo", mas apenas porque depende de um "ser vivo" (a mãe, naturalmente). O embrião (ou o feto), sem o suporte vital, não pode ser considerado um "ser vivo" da mesma forma que o olho humano não o é: o olho humano "está vivo" porque vivo está o ser onde esse olho está alojado. Sem um corpo humano em que pulsa ainda a vida humana, o olho não passa de um órgão inútil e dispensável.
As consequências dessa argumentação de Cícero são óbvias: na questão do aborto, o "ser vivo" (a mãe, a portadora) tem o direito de suspender o que "está vivo" (o embrião, o feto).
Acontece que a argumentação de Cícero propositadamente exclui um pormenor fundamental: o que existe de "potencialidade" no embrião humano. Um olho é apenas um olho, não a promessa do que está para vir; um olho não transporta um tempo futuro e jamais será um organismo dotado de autonomia, desejos, racionalidade e tudo aquilo que reconhecemos como intrinsecamente humano. Um olho cumpre uma função no corpo onde está alojado.
Mas um embrião não tem a dimensão orgânica, estática e funcional de um olho. Cícero até pode ter razão quando nega ao embrião o estatuto pleno de "ser vivo", mas ele vai demasiado longe quando reduz um "ser vivo em potência" a um mero apêndice que "está vivo".
Para retomarmos o quadro dicotômico de Francis Kaplan, a divisão entre "ser vivo" e "estar vivo" não esgota a complexidade moral que um embrião representa. Direi mais: um embrião, pela sua potencialidade manifesta, situa-se a meio desses dois polos radicais.
E a autonomia da mãe? Não deve ser respeitada?
Pessoalmente e excetuando os casos de perigo para a saúde da mãe já citados, eu só poderia admitir a prevalência da autonomia se ela, suspendendo o suporte vital ao embrião, permitisse que ele continuasse por outros meios: naturais (no corpo de uma outra "mãe") ou até artificiais (sustentado por uma qualquer "máquina").
Trata-se, como é evidente, de uma hipótese fantasiosa e de uma impossibilidade prática. O que significa que a suspensão do suporte vital do embrião não representa apenas o fim de algo que "está vivo". Como explica Stephen Schwarz em livro que recomendo aos interessados na matéria ("The Moral Question of Abortion"; a questão moral do aborto), essa suspensão significa a morte de um "ser vivo" em potência; significa, em linguagem prosaica, o roubo de um futuro pela autonomia do presente.
É por isso que a minha posição sobre o aborto nada tem de religiosa. Primeiro, porque não atribuo ao embrião um estatuto pleno de "ser humano" e muito menos de "pessoa humana".
Mas, sobretudo, porque é a dimensão política (e ética) do aborto que me interessa: saber, em suma, qual deve ser a posição de uma sociedade politicamente organizada perante situações em que a cessação de vida pode ocorrer.
Creio que uma sociedade será tão mais civilizada quanto maior for a proteção jurídica concedida a esse "ser vivo em potência". Porque, como diria Henry Miller (1891-1980), escritor americano que está longe de ser um beato, "não conheço maior crime do que matar o que luta para nascer".

Texto de João Pereira Coutinho, na Folha de São Paulo, de 19 de outubro de 2010.

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terça-feira, outubro 26, 2010

Adão Iturrusgarai e a Internet

quinta-feira, outubro 21, 2010

Tropa de Elite 2 - Opinião do Vladimir Safatle

Longa usa a lógica da guerra civil para discutir questão da segurança pública

Trama legitima violência policial e trata defesa dos direitos humanos como ladainha ingênua

VLADIMIR SAFATLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O diretor de "Tropa de Elite 2", José Padilha, é alguém que costuma dizer não gostar de filmes "cabeça".
No entanto, seu filme não quer ser apenas mais um thriller de aventura. Através das ações do coronel Nascimento, "Tropa de Elite 2" gostaria de dar sua versão a respeito da irredutibilidade do problema que mais atemoriza a classe média brasileira: a insegurança.
Nesta sequência, Nascimento vive um confronto intestino com um "intelectual de esquerda"; militante dos direitos humanos que, com seu discurso ingênuo, parece existir apenas para atrapalhar as ações duras, porém necessárias, do Bope.

MOLA DO CRIME
Um destes confrontos acaba tendo muita repercussão na mídia, o que leva o governo a deslocar Nascimento para uma subsecretaria de Segurança. Lá, ele descobre a verdadeira mola que alimenta o crime: a corrupção da polícia e seus vínculos orgânicos com a corrupção do poder político.
Nesta nova luta, ele poderá, ao final, reencontrar seu inimigo, tecer uma aliança com o intelectual de esquerda, agora deputado estadual. Aliança feita em nome da luta contra a corrupção do "sistema". Tudo termina em uma CPI contra as milícias.
Assim, depois de ter sido acusado pela imprensa internacional de fazer um filme "fascista", o diretor de "Tropa de Elite 2" parece querer se redimir mostrando ter consciência clara dos problemas representados pela polícia. No entanto, tal consciência apenas mascara o verdadeiro núcleo de sua "visão da sociedade brasileira".

TERRITÓRIO DE GUERRA
As ações violentas, as torturas sistemáticas contra "vagabundos", a compreensão das favelas como território de guerra, as balas perdidas, a humilhação cotidiana contra uma população que vê o Estado e seu aparato policial como inimigos: nada disso explicaria por que a polícia que mais mata no mundo nunca conseguiu vencer a luta contra o crime.
Na verdade, se o método truculento ainda não deu certo, isto seria resultado exclusivo da corrupção generalizada. Tanto é assim que, em dado momento do filme, ficamos sabendo que Nascimento conseguiu, com seu Bope reforçado por helicópteros, limpar uma favela do tráfico em uma operação que mais parece um video game onde cada tiro certo é um ponto.
Tudo seria perfeito se, depois, policiais corruptos não tivessem se aproveitado da nova situação para extorquir dinheiro da população.
Desta forma, neste país onde a polícia tortura mais do que na época do regime militar, a ideia de compreender problemas de segurança pública a partir da lógica de guerra civil parece ter se naturalizado.
Neste país, os intelectuais de esquerda ganhariam mais complacência dos produtores de blockbusters se abandonassem a "ladainha" sobre direitos humanos, escolhessem o lado da classe média assustada e abraçassem a causa monocórdia da luta moralizante contra a corrupção estatal.
Ao menos, eles serviriam para apagar a culpa pelo nosso desejo de violência.

Na Folha de São Paulo, de 18 de outubro de 2010.


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Israel e Google publicarão na internet manuscritos do mar Morto com textos bíblicos

O departamento israelense de Antiguidades e o gigante americano da internet Google anunciaram nesta terça-feira o lançamento de um projeto para divulgar, na internet, os manuscritos do mar Morto, que contêm alguns dos mais antigos textos bíblicos.

Este plano, com um custo de US$ 3,5 milhões (2,5 milhões de euros), tem por objetivo disponibilizar gratuitamente esses documentos, que possuem cerca de 2.000 anos.

"É a descoberta mais importante do século 20 e vamos compartilhá-la com a tecnologia mais avançada do século 21", afirmou a responsável pelo projeto do departamento israelense de Antiguidades, Pnina Shor, em uma coletiva de imprensa em Jerusalém.

A administração israelense captará imagens em alta definição utilizando uma tecnologia multiespectral desenvolvida pela Nasa, a agência espacial americana.

As imagens serão, posteriormente, publicadas na internet pelo Google em uma base de dados e traduções dos textos colocadas à disposição.

"Todos os que possuem uma conexão à internet poderão acessar algumas das obras mais importantes da humanidade", disse o diretor do centro de pesquisa e desenvolvimento do Google em Israel, Yossi Mattias.

Shor afirmou que as primeiras imagens estarão disponíveis nos próximos meses e o projeto terminará em cinco anos.

Acredita-se que os 900 manuscritos encontrados entre 1947 e 1956 nas grutas de Qumran, no Mar Morto, constituem uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos. No material encontrado, há pergaminhos e papiros com textos religiosos em hebraico, aramaico e grego, assim como o Antigo Testamento mais velho que se conhece.


Notícia da Folha.com .

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Casal consegue ter bebê após 22 anos de tentativas



Um casal que esperou 22 anos para conseguir ter um filho comemorou a chegada de seu primeiro bebê este mês, na Grã-Bretanha.

Susan Comiskey, de 42 anos, deu à luz Anna Margaret apenas um ano após ter vencido uma batalha contra o câncer, que incluiu duas operações e um tratamento de radioterapia.

"Ela é um milagre, um presente", disse o pai, de 55 anos.

Susan e Shane Comiskey se casaram em 1988 e começaram imediatamente a tentar ter filhos, mas não tiveram sucesso.

"Quando as pessoas perguntavam se tínhamos filhos, Shane costumava dizer que já havíamos feito o pedido, mas que o bebê ainda não tinha sido entregue", contou Susan.

Os médicos acreditavam que seus problemas de fertilidade eram causados por um pequeno tumor benigno na glândula pituitária, que teria aumentado os níveis do hormônio prolactina, suspendendo a ovulação e alterando os ciclos menstruais.

Quando o casal foi morar em Liverpool, no norte da Inglaterra, em 2007, Susan começou a se tratar com o especialista em fertilidade Nabil Aziz. Ele receitou remédios para regular seu ciclo reprodutivo, o que aumentou suas chances de conceber de forma natural e também reduziu o tumor.

Câncer

Durante uma consulta em 2008, o médico notou um nódulo no pescoço de Susan.

"Eu já havia visto aquilo, mas não achei nada de mais. Aziz disse que não estava gostando da aparência do nódulo e ligou para a oncologista Alison Waghorn no Hospital Universitário Royal Liverpool, que concordou em me ver quase imediatamente", disse Susan.

Ela foi diagnosticada com câncer de tireoide.

"Foi um choque terrível descobrir que eu tinha câncer, mas mesmo durante o tratamento, eu estava pensando que mais um ano ia se passar sem a chance de ter um bebê."

Susan terminou o tratamento em 2009 e em janeiro deste ano, começou a sentir enjoos. Ela logo imaginou que o câncer tivesse se espalhado.

"Meus ciclos (menstruais) sempre foram um pouco estranhos, então não fiz a ligação entre uma coisa e outra. Depois de um mês ou dois, eu pensei 'Quem sabe?' e fiz um teste de gravidez. Deu positivo. Eu quase desmaiei", disse ela.

"Eu fiz três testes no mesmo dia e todos deram positivo. Ainda assim eu só acreditei quando meu clínico geral confirmou. Finalmente havíamos começado a jornada pela qual esperamos por tanto tempo."

"Nós dois choramos. Não contamos para ninguém no início e ainda ficamos nos perguntando se iria durar, se realmente iria acontecer."

Susan e Shane, que são pastores de uma igreja em Liverpool, agradecem aos médicos e a Deus por terem tornado seu sonho realidade.

"Nunca perdemos as esperanças de que Deus atenderia nossas preces um dia e espero que nossa história sirva de inspiração para quem ainda está esperando por seu bebê."


Notícia da BBC Brasil, no UOL.

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terça-feira, outubro 19, 2010

Kazantzakis e Deus

Durante toda a sua vida, o autor grego Nikos Kazantzakis (Zorba, A Ultima Tentação de Cristo) foi um homem absolutamente coerente. Embora abordasse temas religiosos em muitos de seus livros – como uma excelente biografia de São Francisco de Assis – sempre considerou a si mesmo como um ateu convicto. Pois é deste ateu convicto, uma das mais belas definições de Deus que eu conheço:

“Nos olhamos com perplexidade a parte mais alta da espiral de força que governa o Universo. E a chamamos de Deus. Poderíamos dar qualquer outro nome: Abismo, Mistério, Escuridão Absoluta, Luz Total, Matéria, Espírito, Suprema Esperança, Supremo Desespero, Silêncio. Mas nós a chamamos de Deus, porque só este nome – por razões misteriosas – é capaz de sacudir com vigor o nosso coração. E, não resta dúvida, esta sacudida é absolutamente indispensável para permitir o contacto com as emoções básicas do ser humano, que sempre estão além de qualquer explicação ou lógica.”


Do blog do Paulo Coelho.

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segunda-feira, outubro 18, 2010

A heroína corrói a Rússia

A heroína corrói a Rússia


Marie Jégo


Mais mortífera que o terrorismo, mais destrutiva que o álcool, a heroína é o flagelo número um na Rússia, país de população instável, único Estado industrial onde a expectativa de vida caiu consideravelmente nesses últimos 30 anos (60 anos para os homens). Segundo o general Viktor Ivanov, chefe do serviço de combate às drogas, todo ano 30 mil pessoas morrem vítimas do consumo de heroína, ou seja, bem mais que o saldo de mortos (13.500) da guerra afegã-soviética (1979-1989).


Embora a produção mundial de ópio tenha caído (8.890 toneladas em 2007, 7.754 toneladas em 2009), a Rússia absorve 21% da heroína produzida no Afeganistão, ou seja, 70 toneladas por ano. Vladimir Putin nomeou um de seus mais fiéis aliados – Viktor Ivanov, ex-oficial da KGB, como ele – para chefiar o combate ao narcotráfico, em vão. Os serviços competentes apreendem somente 4% das cargas transportadas para a Rússia. Impotentes, os serviços de Ivanov se limitam a constatar que 2 milhões de jovens, com idade entre 18 e 39 anos, são consumidores regulares.


Essa “geração perdida”, principal vítima da contaminação pelo vírus da Aids, pode ser vista nas grandes cidades industriais dos Montes Urais, no coração do tráfego rodoviário, ferroviário e aéreo com a Ásia Central. A droga passa pela Rússia através da fronteira com o Cazaquistão, com 7.000 quilômetros de extensão, e difícil de ser controlada.


Na Ásia Central, a antiga rota da seda funciona sem parar. Os países pobres e minados pela instabilidade e pela corrupção, tais como o Tadjiquistão e o Quirguistão, são pontos de passagem obrigatórios. Osh, a grande cidade do sul do país, palco de violentos massacres anti-uzbeques em junho, está no centro do tráfico.


Um uzbeque originário de Batken (ao sul de Osh), preferindo manter-se anônimo, conta: “Desde o fim dos anos 1990, toda minha família vive do tráfico, uma verdadeira dinastia. Meus tios, meus irmãos, meus primos ganharam uma fortuna com o dinheiro da droga”. Em um país onde o salário médio não passa de 70 euros (R$ 163), o dinheiro da droga é uma tentação fácil. Comprado a US$ 1.500 no Afeganistão, o quilo da heroína atinge US$ 6 mil quando chega à fronteira do Cazaquistão, e US$ 50 mil em Moscou.


O Quirguistão, que em vinte anos foi palco de dois massacres étnicos (Uzgen em 1990, Osh e Jalal-Abad em 2010) e de duas revoluções (deposição do presidente Askar Akayev em 2005 e de Kurmanbek Bakiyev em abril de 2010), minado pela economia pálida e dependente de ajuda internacional, é um elo importante na rota da heroína. As cargas viajam da fronteira tadjique, ao sul, até Osh. De lá, duas vias são possíveis: para o Uzbequistão a oeste ou para o Cazaquistão ao norte. Para terminar na Rússia.


A divisão das tarefas se faz de acordo com as realidades étnicas do sul quirguiz: “Os uzbeques transportam, os quirguizes dirigem”, explica nosso interlocutor. Como em todo o espaço pós-soviético, as estruturas de segurança e os governadores de região estão envolvidos: “É impossível passar qualquer coisa sem o aval das autoridades locais, que recebem até 70% das transações”. Não é de se surpreender que o sul do país tenha visto a ascensão, nesses últimos anos, de barões locais prontos a desafiar o governo central.


Durante o mandato do presidente Bakiyev (2005-2010), originário do sul, o dinheiro da droga correu abundante. Em 2008, o presidente mandou fechar, sem maiores explicações, o serviço de combate ao narcotráfico do ministério do Interior. Em 2009, aboliu a Agência de Controle de Narcóticos. Ao mesmo tempo, criou um fundo de investimentos e de inovações, pouco preocupado em relação à natureza dos fundos investidos, colocando em sua direção seu filho Maxime. O presidente Bakiyev hoje vive exilado em Minsk, mas seus partidários ainda são muito poderosos. Dizem que seu irmão Janych, que dirigia os serviços de segurança, hoje passa a maior parte de seu tempo entre o sul quirguiz e o Tadjiquistão. Prova de que os pró-Bakiyev são fortes, seu partido Ata-Jourt venceu as legislativas do dia 10 de outubro. Esses “sulistas” agora são a principal força do novo Parlamento, ponta de lança do projeto de república parlamentar lançado pela nova presidente Roza Otunbayeva.


Talvez o parlamentarismo acalme a situação no cenário político quirguiz, mas não terá efeitos sobre o tráfico. “O maior problema é a corrupção”, acredita o analista russo Alexandre Zelitchenko, citado pelo jornal “Komsomolskaia Pravda” do dia 8 de outubro. Mesmo se o Tadjiquistão, o Quirguistão e o Cazaquistão começassem a controlar melhor suas fronteiras, a corrupção dos altos funcionários e dos policiais parece invencível na Ásia Central e na Rússia.


No dia 1º de julho de 2009, dois oficiais do “Narkokontrol” russo foram encontrados mortos por overdose nos recintos do centro de combate às drogas da região oeste de Moscou. A investigação se apressou em concluir uma “intoxicação alimentar”. Seria porque uma das vítimas, Konstantin Khrustalyov, era genro do general Korzhakov, veterano da KGB e ex-guarda costas de Boris Yeltsin? Não se contam mais os casos de cumplicidade entre traficantes e os serviços de segurança. O estranho nome dado ao serviço de combate ao narcotráfico talvez tenha algo a ver com isso: “Serviço Federal para Controle do Fluxo de Drogas”. Como se o problema não fosse impedir o tráfico, e sim controlá-lo!”


Tradução: Lana Lim



Notícia do Le Monde, republicada no UOL.


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quinta-feira, outubro 14, 2010

Codevilla, o fotógrafo



Ou pelo linque, aqui.

Visto no TV Elétrica .

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quarta-feira, outubro 13, 2010

Tropa de Elite 2 - Avaliação preliminar e sumária

No final de semana fui assistir o filme Tropa de Elite 2 no cinema.

Posso dizer que o filme é tão bom quanto o primeiro, isto é, quem gostou do primeiro filme, Tropa de Elite, de 2007, tende a gostar deste igualmente.

É um filme tenso. Quando saí da sessão percebi que estava com as mãos geladas, um sintoma meu de bastante tensão.

Contudo, penso que o diretor José Padilha começou a ficar ambicioso demais.

E, como ouvi outra pessoa, falar, é bem possível que em breve venhamos a assistir Tropa de Elite 3 nos cinemas.

Por enquanto era isso, espero ter condições de um comentário mais elaborado em breve.


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Se passam os dias: John Lennon, Renato Russo e os mineiros chilenos

No dia 9 de outubro passado, o cantor e compositor John Lennon teria completado 70 anos. Foi inclusive homenageado pelo Google na data.

No dia 11, se completaram 14 anos que estamos sem o também cantor e compositor Renato Russo, vocalista da Legião Urbana.

E hoje, o governo chileno está conseguindo resgatar um grupo de mineiros que estava preso há cerca de dois meses, após um acidente na mina em que trabalhavam, no deserto de Atacama, norte do país. Estes mineiros tiveram a felicidade de sobreviver ao acidente, pois muitas das notícias que recebemos sobre problemas em minas resultam nas mortes dos mineiros. Em tempos recentes houve mortes em minas na China e na Rússia, por exemplo. Por conta do acidente chileno, a imprensa brasileira relembrou até um acidente que gerou a morte de mineiros no estado de Santa Catarina, com posterior abandono da mina sinistrada. São 33 os mineiros a serem resgatados. Por volta de 16 h, 20 deles já haviam voltado à superfície. O resgate se desenvolve em ritmo de “reality show”, com intensa cobertura da imprensa de todo o mundo.


Atualização: cerca de 22 h, e os 33 mineiros chilenos foram resgatados.


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Questões de estado, questões privadas

Lobby cristão e casamento gay

EM MAIO PASSADO, durante uma visita ao santuário de Fátima, o papa Bento 16 declarou que o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo estão entre os mais "insidiosos e perigosos desafios ao bem comum".
Atualmente, quase todas as igrejas cristãs (curiosamente alinhadas com as posições do papa) negociam seu apoio aos candidatos à presidência cobrando posições contra a descriminalização do aborto e contra o casamento gay.
Em 2000, segundo o censo, havia, no Brasil, 125 milhões de católicos, 26 milhões de evangélicos e 12 milhões de sem religião. É lógico que os principais candidatos inventem jeitos de ficar, quanto mais possível, em cima do muro -tentando satisfazer o lobby cristão, mas sem alienar totalmente as simpatias de laicos, agnósticos e livres pensadores (minoritários, mas bastante presentes entre os formadores de opinião).
Adoraria que as campanhas eleitorais fossem mais corajosas, menos preocupadas em não contrariar quem pensa diferente do candidato. Adoraria também que soubéssemos votar sem exigir que nosso candidato pense exatamente como nós. Mas não é esse meu tema de hoje.
Voltemos à declaração do papa, que junta aborto e casamento gay numa mesma condenação e, claro, tenta pressionar os poderes públicos, mundo afora. Para ele, o que é pecado para a igreja deve ser também crime para o Estado.
No fundo, com poucas exceções, as igrejas almejam um Estado confessional, ou seja, querem que o Estado seja regido por leis conformes às normas da religião que elas professam. De novo, as igrejas gostariam de uma sociedade em que seja crime tudo o que, para elas, é pecado: o sonho escondido de qualquer Roma é Teerã ou a Cabul do Talibã.
Há práticas sexuais que você julga escandalosas? Está difícil reprimir sua própria conduta? Nenhum problema, a polícia dos costumes vigiará para que ninguém se dedique ao sexo oral, ao sexo anal ou a transar com camisinha.
Para se defender contra esse pesadelo (que, ele sim, é um "insidioso e perigoso desafio ao bem comum"), em princípio, o Estado laico evita conceber e promulgar leis só porque elas satisfariam os preceitos de uma confissão qualquer. As leis do Estado laico tentam valer por sua racionalidade própria, sem a ajuda de deus algum e de igreja alguma.
Por exemplo, é proibido roubar e matar, mas essa proibição não é justificada pelo fato de que essas condutas são estigmatizadas nas tábuas dos dez mandamentos bíblicos. Para proibir furtos e assassinatos, não é preciso recorrer a Deus, basta notar que esses atos limitam brutalmente a liberdade do outro (o assaltado ou o assassinado).
Agora, imaginemos que você se oponha ao casamento gay invocando a santidade do matrimônio. Se você acha que o casamento é um sacramento divino que só pode ser selado entre um homem e uma mulher, você tem sorte, pois vive numa democracia laica e sua liberdade é total: você poderá não se casar nunca com uma pessoa do mesmo sexo. Ou seja, você poderá manter quanto quiser a santidade e a sacramentalidade de SEU casamento.
Acha pouca coisa? Pense bem: você poderia ser cidadão de uma teocracia gay, na qual o Estado lhe imporia de casar com alguém do mesmo sexo.
Argumento bizarro? Nem tanto: quem ambiciona impor sua moral privada como legislação pública deveria sempre pensar seriamente na hipótese de a legislação pública ser moldada por uma outra moral privada, diferente da dele.
Parêntese: Se você acha que essa história de casamento gay é sem relevância, visto que a união estável já é permitida etc., leia "Histórias de Amor num País sem Lei. A Homoafetividade Vista pelos Tribunais - Casos Reais", de Sylvia Amaral (editora Scortecci).
PS. Sobre a dobradinha sugerida pela declaração do papa: talvez, para o pontífice, aborto e casamento gay sejam unidos na mesma condenação por serem ambos consequências da fraqueza da carne (que, obstinadamente, quer gozar sem se reproduzir).
Mas, numa perspectiva laica, a questão do aborto e de sua descriminalização não tem como ser resolvida pelas mesmas considerações que acabo de fazer para o casamento gay. Ou seja, não há como dizer: se você for contra, não faça, mas deixe abortar quem for a favor. Vou voltar ao assunto, apresentando alguns dilemas que talvez nos ajudem a pensar.

Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo, de 30/09/2010 . Destaque do blogueiro.

Curiosamente esta postura de moral privada a não ser respaldada pelo estado poderia validar arranjos de casamentos poligâmicos ou poliândricos. Que tal?


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quarta-feira, outubro 06, 2010

Começa a montagem da Feira do Livro de Porto Alegre

A montagem da estrutura para a Feira do Livro de Porto Alegre, edição de 2010, já começou, mesmo que a Praça da Alfândega ainda esteja em ruínas, isto é, sendo reformada...

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sábado, outubro 02, 2010

Despedida de Solteiro...

Despedida de solteiro: tradição ou desculpa?

JOVEM DEMAIS ou não, você certamente já pensou em casamento. Talvez como um desejo para o futuro ou como algo a ser evitado de qualquer forma. Eu achava que nunca me casaria, mas aqui estou, feliz e casada.
Recentemente, uma amiga de 19 anos anunciou que iria se casar. Os pais dela gastaram uma fortuna na festa. Na noite anterior, ela postou no Facebook: "O que acontece em uma despedida de solteiro?". A pergunta ingênua vindo de uma menina prestes a se tornar esposa gerou uma discussão de 55 comentários. Um dos amigos do noivo deixou escapar a presença de garotas pagas na festa em São Paulo.
No dia seguinte, todos sabiam da notícia. Depois de ter feito o noivo admitir uma traição durante a bebedeira com os amigos, ela cancelou a cerimônia e postou: "Tradição ou desculpa furada?". Eu apoiei sua decisão. Se algum homem ou mulher entra em um casamento com a mentalidade de que a diversão acabou, então não há motivo para casamento.
Em vez de se lamentar, minha amiga celebrou: "Viva minha intuição, antes cedo do que tarde! Champanhe e bolo para todas as amigas!". O noivo, "muito bolado", parecia não acreditar. "Eu achei que não estava fazendo nada errado!", postou na sua página.
No passado, a tradição tinha uma finalidade específica: mulheres deviam se casar virgens e, até o dia da cerimônia, o noivo podia visitar casas de baixo meretrício, mas não podia brincar com a noiva. Com a data do casamento marcada, ele se despedia da esbórnia com um ritual de passagem.
Hoje em dia, quase ninguém se casa antes de transar. Na minha opinião de casada, além de a tradição ser uma desculpa para causar ou questionar a decisão, deve servir de alerta para qualquer noiva ou noivo a caminho do altar. Afinal, são tempos modernos, e as mulheres têm as mesmas oportunidades que os homens.

Texto de Mayra Dias Gomes, na Folhateen.

Além de um posicionamento indicando que os tempos são outros, que não os de, digamos, 1957, achei muito curioso que toda esta discussão tenha se dado via Facebook, e por aí tenha acabado uma promessa de casamento.

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