sábado, janeiro 07, 2006

"Imagine" - John Lennon

Filho,

Outro dia me disseste que gostavas da música "Imagine", do ex-Beatle John Lennon. Eu, obviamente, disse que em matéria de Beatles gostava mais do Paul McCartney. E que achava que a música Imagine era um hino ao ateísmo, e que portanto, não podia concordar com o conteúdo dela. Abaixo há cópias da letra original, e de uma tradução fidedigna, que foi retirada do saite "Pegue.com" ( http://www.pegue.com/traducao/letras/Imagine.html ) .

Imagine
John Lennon

Imagine there's no heaven,
It's easy if you try,
No hell below us,
Above us only sky,
Imagine all the people
living for today...

Imagine there's no countries,
It isnt hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people
living life in peace...

Imagine no possessions,
I wonder if you can,
No need for greed or hunger,
A brotherhood of men,
imagine all the people
Sharing all the world...

You may say I'm a dreamer,
but Im not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one


Imagine
John Lennon


Imagine que não exista nenhum paraíso,
É fácil se você tentar.
Nenhum inferno abaixo de nós,
Sobre nós apenas o firmamento.
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje...

Imagine que não exista nenhum país,
Não é difícil de fazer.
Nada porque matar ou porque morrer,
Nenhuma religião também.
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz...

Imagine nenhuma propriedade,
Eu me pergunto se você consegue.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.

Você talvez diga que sou um sonhador,
Mas eu não o único.
Eu espero que algum dia você junte-se a nós,
E o mundo viverá como um único.



E a música começa com negações de céu e inferno, coisas fundamentais ao Cristianismo, mesmo que não haja total clareza sobre o que significam céu e inferno. Se não há céu, nem inferno, também não precisa haver Deus, ou o diabo. Não precisa ir muito longe. A música segue dizendo para imaginar não haver religião. Talvez o poeta esteja falando em religião institucionalizada, com dogmas, cleros, escrituras, e não no sentimento que conduz cada ser humano à busca de Deus, mas eu duvido muito que seja isso. Me parece que ele descarta Deus mesmo.

Ele ainda fala em imaginar que não exista nenhum país. Contudo, países existem. Mesmo que seja uma grande abstração, os homens lutam e morrem por um país. Dentro da história da humanidade, os homens constituíram países. Eu penso na terra de Emanuel Kant, Koenigsberg: era parte de algum reino alemão quando o filósofo era vivo. Assim passou todo o século XIX, e iniciou o século XX. Contudo, em 1919, a cidade se tornou polonesa. E desde 1945 é um enclave russo entre os territórios da Polônia e da Lituânia, e agora se chama Kaliningrado. A cidade trocou de mãos, de língua, e provavelmente de população. Mas os homens sempre continuaram matando e morrendo por ela (e por outras também).

É legal pensar em fim da ganância e da fome, e numa irmandade de homens, mas em nome de quais valores, e a que preço essa utopia, ou sonho como diz o poeta, deve ser erguido (se é que deve mesmo)?

Pois é, filho. Pode me chamar de fundamentalista!