Inter, Grande e Justo Campeão
O futebol é um jogo maravilhoso.
E crudelíssimo.
Com seis minutos de um jogo tenso como era óbvio que seria, o São Paulo preocupou o Beira-Rio tingido de vermelho.
Danilo exigiu uma grandiosa defesa de Clemer num chute de fora da área e Lugano perdeu um gol feito, embaixo da trave.
O Inter, que parecia outra vez muito nervoso como no jogo diante do Libertad, tratou logo de equilibrar a partida, com lances perigosos nas bolas cruzadas, porém menos agudos que os dos paulistas.
A torcida colorada ajudava com seu comovente estímulo, mas, também, atrapalhava com o fumacê de seus sinalizadores, que obrigou a paralisação do jogo.
E foi num momento de relativa calmaria que Rogério Ceni, o mito, falhou dramaticamente, ao soltar uma bola cruzada e fácil, molhada, é verdade, para Fernandão fazer 1 a 0 e o Gigante da Beira-Rio explodir como uma bomba atômica.
O goleiro essencial dos dois tris e da campanha tricolor até aqui, falhara, como um ser humano qualquer.
O título inédito era cada vez mais palpável.
E o tetra precisaria de, pelo menos, dois gols.
Daí em diante, o Inter tomou mais conta da partida.
Rafael Sóbis não dava sossego na frente e Bolivar brilhava atrás, mas ele, e mais três colorados, tomaram cartão amarelo do ótimo árbitro argentino Horácio Elizondo, que apitou a abertura e a final da Copa da Alemanha, situação preocupante para o time gaúcho no segundo tempo.
Principalmente porque, aos 5 minutos, em posição legal, Fabão, como Edcarlos no primeiro jogo, fez o time paulista renascer, ao empatar o jogo que era bem controlado pelo Inter no reinício.
Fazia 410 minutos que o Inter não tomava um gol em casa na Libertadores.
Um calafrio percorreu as arquibancadas do Beira-Rio, geladas pelo tempo frio em Porto Alegre e quentes pela temperatura do jogo.
Danilo deu lugar a Lenílson e Richarlyson a Thiago.
O São Paulo avisava: tudo ou nada.
Mas, aos 20 minutos, um sonho virou realidade e outro acabou.
Rogério fez milagre na cabeçada de Fernandão, mas a bola sobrou para Tinga, símbolo deste Inter forte, fazer 2 a 1, seu primeiro, e merecido, gol na Libertadores.
Primeiro, único e extraordinariamente fundamental.
Por excesso de Elizondo e bobeada de Tinga, que levantou a camisa para mostrar uma mensagem religiosa, o gaúcho, que já tinha cartão amarelo, acabou expulso, seu último ato com a camisa vermelha, pois vai para o futebol alemão encantar os europeus.
Sai Edcarlos, entra Alex Dias.
Quem acredita em São Paulo, acredita em milagres.
Abel Braga tira Alex, bota Michel, aos 34.
O São Paulo pressiona, cai de pé, mas cai, como tem sido habitual no confronto direto entre os dois times, os melhores do país, os melhores das Américas.
Porque, como no tênis, parece que o jogo tricolor não encaixa com o colorado.
Melhor para os gaúchos, que não têm nada com isso.
Sóbis sai, entra Ediglê.
Faltavam só oito minutos para a América ficar vermelha de norte a sul.
Aos 39, Júnior chuta, Clemer também falha, menos que Rogério, mas falha, e Lenílson empata.
O Inter não podia tomar mais um.
A prorrogação, 10 contra 11, e sem ataque, seria um inferno.
Que jogo!
Que times!
Ah, Dunga colorado, se a Seleção jogasse assim na Copa.
Tomara que jogue daqui em diante.
Bola para o mato, bola para o rio, que o São Paulo não dá trégua, como um torniquete.
Dramático, fabuloso, épico!
Porque Clemer faz defesa fabulosa na cabeçada de Alex Dias, aos 44.
Na verdade, ninguém merecia perder. E até houve empate.
Mas o Inter ganhou.
E com justiça.
Porque foi campeão no Morumbi.
Para fazer a festa na sua casa.
Que venha o Barcelona, do gremista Ronaldinho.
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