quarta-feira, agosto 09, 2006

Verão de Despedidas - Do Blog Bagdá em Chamas



Os moradores de Bagdá estão sendo sistematicamente postos para fora da cidade. Algumas famílias acordam e descobrem uma bala de metralhadora e uma carta em um envelope com as palavras deixe esta área ou... . Os culpados por esses ataques e ameaças são osseguidores de Sadr o exército Mehdy. É de conhecimento geral, embora ninguém ouse dizer isto em voz alta. No mês passado nós tivemos duas famílias diferentes hospedadas em nossa casa, após terem abandonado seus bairros devido às ameaças de morte e ataques. Não são apenas os sunitas também xiitas, árabes e curdos a maioria de áreas de classe média são alvo das milícias.

Outras áreas estão sendo tomadas por islamistas armados. Os americanos não têm controle nenhum nessas áreas. Ou talvez eles não querem simplesmente controlar porque quando há algum confronto entre a milícia de Sadr e outra milícia em algum bairro residencial, eles simplesmente cercam a área e vêem o que acontece.

Desde o início de julho, os homens de nossa área têm patrulhado as ruas. Alguns deles patrulham os telhados e outros sentam próximos de barricadas caseiras que foram erguidas nas avenidas para esta área. Não há maneira de confiar nos americanos ou no governo. Você só pode ter esperança de que sua família e seus amigos permanecerão vivos não a salvo, não seguros apenas vivos. Isto está de bom tamanho.

Para mim, junho marcou o primeiro mês em que eu não ousei sair de casa sem um véu ou um lenço sobre a cabeça. Normalmente eu não uso véu, mas não é mais possível dirigir em Bagdá sem um. Não é uma boa idéia. (Veja que quando eu digo dirigir eu realmente quero dizer sentar no banco de trás do carro - eu não dirijo há um longo tempo). Sair com a cabeça descoberta ou andar, seja de carro ou a pé, coloca seus membros da família em perigo junto com você. Você se arrisca a ouvir algo que não gostaria, e seu pai, ou irmão, ou primo, ou tio, não podem simplesmente deixar por isso mesmo. Eu já não dirijo por um longo tempo. Se você é uma mulher, você corre o risco de ser atacada.

Eu olho para minhas roupas mais velhas os jeans, as camisetas, as calças coloridas e é como estudar o guarda-roupas de um outro país, de uma outra vida. Havia um tempo, alguns anos atrás, quando você poderia, mais ou menos, vestir o que você quisesse, se você não fosse para um lugar público. Se você fosse para a casa de parentes ou amigos, você poderia usar calças e blusas, ou jeans, coisas que você não usaria no dia a dia. Eu não faço mais isso, pois sempre há o risco de o seu carro ser parado e checado por uma milícia ou outra.

Não há leis que digam que você tenha que usar um véu (ainda), mas há os homens vestidos de negro e de turbante, os extremistas e fanáticos que foram liberados pela ocupação, e em algum ponto, você não mais os desafia. Você não mais quer ser visto. Eu sintoque o véu, preto ou branco, voando ao acaso sobre a minha cabeça me torna invisível em certo grau quando eu saio porta a fora é mais fácil se misturar na massa se você está envolta em preto. Se você é uma mulher, você não quer atenção você não quer atenção da polícia iraquiana, você não quer isto das milícia de uniformes negros, você não quer isto dos soldados americanos. Você não quer ser notada ou vista.

Obviamente, eu não tenho nada contra o véu, tanto quanto ele seja usado por opção. Muitas de minhas parentes e amigas o usam. A maioria delas começou a usar depois da guerra. Isto começou como uma maneira de evitar problemas ou atenção indesejada, e agora elas continuam usando pois não faz sentido deixar de usá-lo. O que está acontecendo ao país?

Eu percebi o quão comum isto tinha se tornado no meio de julho quando M., uma amiga de infância, veio se despedir antes de deixar o país. Ela entrou em casa, e reclamou do calor e das ruas, seu irmão logo atrás dela. Isto me levou para o final da visita com uma peculiaridade que me tocou. Ela estava se aprontando para sair antes do pôr do sol, e pegou seu véu bege, dobrado ao seu lado. Enquanto ela me falava de um vizinho que fora baleado, ela abriu o véu com um gesto, ajeitou-o sobre sua cabeça como uma profissional, e o amarrou sob seu queixo com uma tarimbada habilidade. Tudo isso sem um espelho como se ela tivesse feito isso mais de uma centena de vezes... o que seria ótimo, se M. não fosse uma cristã.

Se M. pode usar um véu sem reclamar, eu também posso.

Eu disse adeus no último mês para mais gente do que eu posso contar. Algumas despedidas foram rápidas e furtivas do jeito que você diz à noite para um vizinho que sofreu uma ameaça de morte, e está partindo ao nascer da autora, silenciosamente.

Algumas despedidas foram longas e emotivas, com parentes e amigos que não agüentam mais viver em um país se partindo.

Muitas das despedidas foram feitas de maneira estóica quase casual - com um sorriso amarelo emoldurando os rostos e as palavras, te vejo em breve... Só para sair querendo morrer com o fardo da partida de mais um ser amado.

Durante estes tempos, eu me lembro de um discurso de Bush, em 2003: Um dos grandes objetivos, ele disse, era o retorno jubiloso dos exilados iraquianos para seu país após a queda de Saddam. Eu gostaria de ver alguns números dos iraquianos atualmente forado país que você está ocupando... Sem mencionar os deslocados internos, que abandonaram suas casas e cidades.

Às vezes eu me pergunto se nós jamais saberemos o número das centenas de milhares de iraquianos neste verão desolador. Eu me pergunto quantos deles realmente voltarão. Para onde eles irão? O que eles farão? É tempo de seguí-los? É tempo de lavar as mãos arespeito do país, e tentar encontrar uma vida estável em algum outro lugar?

Postado em 5 de agosto.