quinta-feira, junho 14, 2007

"Tri"

Texto recebido pelo correio eletrônico, e atribuído a Luís Augusto Fischer. É possível que seja dele mesmo, mas nunca se sabe, em se tratando de Internet.

Tri

Luís Augusto Fischer (Este é o autor do dicionário de Porto-Alegrês.)


Na minha versão, registrada no Dicionário de Porto-alegrês (breve, em nova e revista edição), tudo começou na altura de 1970: nos gramados do México, a Seleção Canarinho emplacou o tricampeonato mundial de futebol, feito inédito, comovedor, assinalado pelo desempenho simplesmente inacreditável de Pelé, Tostão e, como dizia uma canção da época, mais nove reis do mundo. Tri: na minha lembrança, foi aqui, neste momento, e por causa dele, que em Porto Alegre começamos a usar nosso atual advérbio universal para expressar intensidade.

Ano seguinte, o Colorado emplaca um tricampeonato estadual, nos tempos em que torneios nacionais eram escassos, erráticos e periclitantes, como o Roberto Gomes Pedrosa (em que o Inter sempre se deu melhor que o outro clube gaúcho na disputa, por sinal). Era a seqüência das vitórias que brotaram a partir da inauguração do Beira-Rio, em 1969, e que no plano estadual se estenderia até a segunda metade dos anos 1970, num octa inigualado. Em 71, de todo modo, se reforçava o uso do tri, pelo menos para os torcedores vermelhos.

Ao longo dos anos 70, é verdade, circulou uma gíria que pode ter ajudado na bem sucedida carreira do tri: dizia-se "jóia" uma coisa, uma situação, uma pessoa interessante, bacana, do bem; e não faltava quem dissesse "joli", oxítona, em francês, e ainda enfatizasse adjetivando, "très joli", quer dizer, "muito jóia", ou "tri jóia". Terá tido algum peso na consolidação do nosso tri?

Calhou, depois, que em 1979 o mesmo clube, que nasceu entre gente simples e primeiro acolheu os enjeitados de várias origens, viesse a realizar a façanha de um tricampeonato nacional, desta vez invicto: em 1975, ocorreu a primeira vez de um clube gaúcho ganhar título tão destacado, no ano seguinte um bi quase natural, e em 1979 o tri. Se antes já era generalizado o uso do tri, então passou a ser de regra.

Agora, neste 2007, um novo tri, uma tríplice coroa, como vem sendo chamada a façanha de vencer a Libertadores, o Mundial FIFA e a Recopa Sul-Americana encarreiradas. Nada de servir de exemplo à Terra inteira, porque isso não combina com o temperamento colorado, que tende ao discreto, não ao fanfarrão; pode até não ser nada, na ordem geral do mundo, e realmente só importar para muito poucos; mas uma pequena inflada em nossa combalida auto-estima dá gosto e vem para melhor.

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