sexta-feira, agosto 11, 2006

Súplica à América.



SÓ PARA COLORADOS !!!

Quando a bola chutada por Alex roçou a trave, eu viajei no tempo. Voltei a ser criança, deitado em meu quarto escuro. Minha janela se iluminava pelos fogos. Vi jogadores em branco e preto correndo para abraçar o gordo goleiro Almeida. Por um átimo, tive nítida a imagem do Sarriá colorado de 1989. Mas um urro de força sobre-humana me despertou do pesadelo. Como há 17 anos, meus olhos estavam mareados. A lembrança da vitória paraguaia começava a sumir da memória. Ao meu redor, vi braços apontando para as estrelas e escutei divinos e impublicáveis impropérios. Eu já não sentia mais a dor que carregava há quase duas décadas. Às margens do Guaíba, eu sentei. E chorei.

Enquanto as lágrimas pingavam no solo santo, fui arremessado na corrente do tempo novamente. Estava na arquibancada fria do Gigante, onde hoje se erguem os imponentes camarotes. Ouvia os mais velhos. Desconhecidos, em sua maioria. Entre cervejas e amendoins, narravam as façanhas do mágico time dos anos 70. Contavam da habilidade de Lula. Do cotovelo de Dom Elias. De Escurinho, o predestinado. De Minelli e seus triângulos. De Caçapava anulando Rivelino. Do mítico Manguita e de tantos outros. Mas todos, sem exceção, se empolgavam ao lembrar da maestria do camisa 5, deus de rara técnica. Havia os mais antigos ainda, que me descreviam o incrível Rolo Compressor, os Eucaliptos, Vicente Rao, Larry, Bodinho, Chinesinho, Odorico, Oreco, Nena, os Gre-Nais do passado, goleadas homéricas e uma infinidade de craques e seus feitos, que me pareciam saídos de um conto.

Porém, quando a bola rolava, eu tentava apoiar um time que não estava à altura daquelas histórias. Enquanto o rival empilhava títulos, eu colecionava frustrações. Tinha a certeza inabalável de que havia nascido na época errada. Sentia que perdera nossa época de ouro. Mesmo assim, meu coloradismo arraigado desde o berço só fazia crescer. Nem eu mesmo entendia porque continuava amando tanto aquele clube. Quando Oscar Ruiz apontou o centro do campo, na quinta-feira, eu compreendi. Eu vi a mística alvi-rubra aflorando. Eu vi a vida sendo escrita. Foi reservado para nós, para a nossa geração, levar o Internacional e sua senda de vitórias à plaga mais distante.

No momento de desbravar novas terras, a história e seus ciclos nos traz de novo um adversário de força incontestável. Como em 75, contra o Cruzeiro, de Nelinho, Raul e Piazza, uma máquina mineira de jogar bola. Hoje, a coisa parece ser ainda mais complicada.

Prepara-te, torcedor! Tu vais viver as duas semanas mais nervosas de tua vida. Vais sonhar com a vitória e ter pesadelos com a derrota. Quando acordar, sorrirás tranqüilo, ciente de que o verdadeiro sonho ainda está vivo. Os ponteiros de teu relógio não andarão e parecerão retroceder. As folhas de teu calendário teimarão em não cair. Serás fustigado por todos os lados, por quem teme a tua glória. Mas tenhas a certeza absoluta, irmão, de que não estarás sozinho.

Para onde tu olhares, verás uma camisa vermelha. Elas se multiplicarão como por obra e graça divina. Nas ruas da cidade. Por onde passares. Em tua mente. Em teu corpo. Use-a. Celebre-a. Ame com ela e a ela. Teus problemas ficam para depois. Teu trabalho fica para depois. Tuas contas ficam para depois. Tua saúde e teu futuro ficam para depois. Tua vida é teu clube e teu clube é tua vida. Respire Inter. Coma e beba Inter. Durma e acorde cada vez mais Inter. Serás colorado antes de seres filho. Serás colorado antes de seres pai, antes de seres marido e mulher. Serás colorado antes de seres humano. Tu és um seguidor. E nada vai te separar na hora mais importante da história de teu time. Da tua história. Da nossa história. Apoie, sempre e incondicionalmente. Cante a pleno pulmão e quando não o tiver mais. Não esmorecerás nunca! Tu nasceste da negação e és filho da persistência. A garra foi criada à imagem e semelhança da torcida colorada.

Em 16 de agosto, tu viverás um dia mágico. Verás uma procissão sem igual. De todos os pagos e rincões, as almas se abalarão até o Gigante. Tu jogarás junto.
Por ti e pela tua família. Pelos que estão vivos e pelos que ainda hão de nascer. Não te preocupes com os que já se foram. Pois eles estarão lá, contigo. O trabalho de um colorado começa nesta vida e continua na próxima. Dos círculos infernais por onde Dante passeou, ao sétimo céu, espíritos imortais estarão presentes e darão seu apoio. Históricos e anônimos. De boa ou má índole. Todos colorados em sua essência.

Tu não te preocuparás com o clima. Chuva ou sol. Calor ou frio. Mesmo que o céu mande pedras ou enxofre. Nada te impedirá. Tu estarás no Beira-Rio. Em pé nas arquibancadas, tu olharás para o gramado. Sentirás que o lema criado para a competição mais importante do século está defasado. Já é guerra há muito tempo. Tu não vês mais jogadores. Eles não usam mais uniformes. Vestem armaduras de um rubro sagrado. São templários de tua nação. Travam uma cruzada pacífica, de amor e vibração. Trazem consigo toda a história deste clube e dessa terra. Têm o peito de aço, tal qual Dario. E a humildade de Tesourinha, que jogava por tão somente dois litros de leite. São chimangos e maragatos. São Terra e Cambará. São lanceiros negros, brancos e vermelhos. São o mais fino exemplar da raça gaudéria. Fortes. Aguerridos. Bravos. Contam com toda a virtude derramada sobre o Pampa. Honram ao teu Internacional. Como tu sempre pediste. E te darão a Libertadores, ainda que tardia.

Que esta seja a aurora precursora de tua verdadeira época de glórias, meu Colorado. Que tu tenhas valor e constância. Que tua luta não seja ímpia, nem injusta. Que tuas façanhas sirvam de modelo, enfim, à toda a terra.

Salve, Bodinho, Dom Elias e também o Falcão. Salve, Tinga, Sóbis e Fernandão. Salve, Feijó, Ballvé, Carvalho e os Poppe Leão. Salve, Minelli, Ênio Andrade, Teté e o Abelão.
Salve, ramo de louros, invicto e tri-campeão. Salve, quinta estrela, roubada no Zveittão. Salve, sete Waldomiro, das vaias à redenção. Salve, Célio Silva chutando a bola e o chão. Salve, poeta Nelson Silva. Meu respeito e adoração.

Salve, ao teu Celeiros de Ases, nossa máxima exaltação. Salve, passado alvi-rubro, festa no meu coração. Salve, Rolo Compressor, toda a glória e tradição! Salve, Gol Iluminado, mar vermelho, êxtase e explosão. Salve, velho coreano. Que falta fazes, irmão! Salve, Dunga, Taffarel, Renteria e Perdigão. Por que não? Salve, Librelatto, és anjo rubro e branco junto ao Pai da criação. Salve, Gre-Nal do Século, exemplo de superação. Salve, Fabiano e a inesquecível humilhação. Salve, à Doze, à Fico, à Popular e à Nação! Salve, Salve, à torcida do povão. A maior e melhor desse rincão! Salve, o S, o C e o I, entrelaçados em força e paixão. Salve, Manto Sagrado, objeto de adoração. Salve, Gigante, minha vida e inspiração. Salve, Colorado, muito mais que a religião. Salve, enfim, à América, nossa guerra e obsessão!


E todos salvem a ti, Internacional. Que Deus te ilumine e os céus te guiem em tua maior batalha. Como o filho curvado frente ao pai, eu me ajoelho. Peço a benção e estendo a mão. A ti, rogo essa prece. Te saúdo em oração.

Toda a honra e toda a força, agora, a ti pertencem. Teu legado alvi-rubro será inexorável e eterno como o Tempo. Como o Vento. Defenderei teu nome, tuas cores e tua bandeira. Contra tudo e contra todos. Ontem, hoje e todo o sempre. Nesse mundo e nos outros.

Te dedico a vida e suplico a América.

Em nome de toda a família colorada.

E que assim seja.

Emanuel Neves