Temporada de Bixos

Início de semestre é sempre a temporada de aparecimento dos bixos.
No início do semestre passado, eu pude ver alguns deles pedindo dinheiro no cruzamento da Ipiranga com a Silva Só. É fácil reconhecer aquele tipo de bixo. Carrega roupas manchadas de tinta, às vezes a mesma tinta está espalhada pelo cabelo, outras vezes o cabelo embranqueceu com generosas porções de farinha. Muitas vezes estão descalços, pois seus calçados foram raptados e só serão devolvidos mediante determinada quantia, que é justamente o que eles vão arrecadar em cruzamentos, criando rotos pedágios solidários improvisados.
Algumas vezes o bixo está disfarçado. Vi uma enquanto aguardava uma lotação na Osvaldo Aranha. A jovem estava carregando cadernos, olhar desconfiado. Após algum tempo na mesma parada de lotação que eu, me perguntou "Aqui passa ônibus que vá para a Protásio Alves?". Eu respondi que ela precisava caminhar até um pouco mais adiante, e, em frente ao Instituto de Educação, atravessar para o corredor de ônibus, e lá esperar pela condução desejada. E lá foi ela caminhando na direção certa. Minutos depois ela voltou, com ar perdido, e perguntou onde era o Instituto de Educação.
Minutos depois, apareceu um rapaz. Este não estava disfarçado. Roupa pintada, calçados desamarrados, cabelo desarrumado. Na Osvaldo Aranha quase na esquina com a Sarmento Leite, ele me pergunta "Como é que eu posso chegar na avenida Salgado Filho?". Foi relativamente simples explicar a ele. Até porque, só alguém recém-chegado a Porto Alegre não saberia ir da esquina da Osvaldo Aranha com a Sarmento Leite até a Salgado Filho.
E ainda tive que ouvir piadinhas com trocadilhos.
Comentei com uma colega que havia visto bixos pedindo numa sinaleira. Ela me respondeu "Mas bicho não pede dinheiro em sinaleira. Quem pede dinheiro em sinaleira é gente!". Rá, rá, rá!...
Dããããã...