Das Crônicas do Heuser: A História Reescrita
Lembrei-me de uma aula de Psicologia da Educação B, ao ler o jornal que mencionava um artigo publicado na revista francesa L'Express da semana passada. Aquela aula foi prática. Grupos de alunos, de cada área, davam aulas aos colegas. Os alunos da Licenciatura em História prepararam uma aula sobre exatamente isso: História. Mostraram como se observa a história, as fontes, etc. Ficou bem claro que ao falarmos de história, falamos de eventos no tempo, protagonizados por alguém e observados por alguém. Não há história sem o homem.
Parece bem evidente que os mesmos eventos podem ser vistos com olhos diferentes, conforme o tempo. Reescrevemos a história, conforme caem barreiras, pudores, preconceitos e medos. Vilões de hoje poderão ser os heróis de amanhã, e vice-versa. Adolf Hitler foi de ídolo a vilão, para não se dizer monstro. Entre os heróis de ontem e vilões de hoje, incluía-se Josef Stalin, o Paisinho dos Povos, aquela figura com cara de vovô bondoso e hábitos genocidas. Pois o Painho soviético mandou matar entre três milhões de pessoas, na estatística mais otimista, e nove milhões de pessoas. Outros falam de números ainda maiores. Stalin disputa o troféu do genocídio com Hitler, com o cambojano Pol Pot e outros não tão bem – ou mal – sucedidos, alguns bem atuais.
Stalin passou de herói a vilão. Até há pouco. O  governo russo mandou seus historiadores reescreverem a história russa,  materializando o livro História Contemporânea da Rússia – 1945-2006. E o Painho  soviético brilhou novamente como herói. Esqueceram-se da época em que o homem  esteve mais ocupado, exterminando gente, antes de 1945. Em abril de 1940, na  floresta polonesa de Katyn, 22.500 oficiais poloneses foram mortos pelas tropas  russas, comandas por Beria, braço direito (e esquerdo?) de Stalin. Hitler acabou  levando a culpa pelo episódio, somente esclarecida oficialmente em 1992. Na nova  releitura da história russa, Stalin aparece como o homem que transformou a  Rússia na superpotência do pós-guerra, o que não deixa de ser verdade. Porém,  esquecer as purgas políticas é um grande erro histórico. Os Gulags, as Katyns,  os expurgos e as deportações foram esquecidos. Restou o bom homem. Muitos  historiadores reclamaram. O governo russo, no entanto, alega que os  historiadores que estudaram História, pagos pelo estado, devem escrever aquilo  que o povo (governo?) quer ler. Ou seja, mandam reescrever a história conforme  lhes convêm. Sabe-se que a história muito recente pode ser relatada de modo  muito diferente pelos periódicos, conforme seus alinhamentos políticos. Contudo,  um estado moderno mandar reescrever a história não tão recente, dessa forma, é  bizarro. O que descobriremos a seguir? Tenho medo das releituras que farão por  aqui.
Marcadores: escrever a História, História


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