Hiperconsumo e Resignação
A Felicidade Paradoxal (Companhia das Letras, 400 págs., R$ 54) é um tratado verboso das feições sociais, econômicas e psicológicas do hiperconsumo no Primeiro Mundo, um desvario que Gilles Lipovetsky debulha com perfeição, sem o dom da brevidade. Enxergando só a França, ele chama de felicidade paradoxal aquela do consumidor infeliz, padecendo da eterna carência de conforto psíquico, além da miséria afetiva e sexual persistente.
Apesar da infinita de prazeres, evasões e lazeres, tal consumidor é incapaz de aplacar comportamentos desenfreados, excessivos e mais um sem-número de frustrações e desordens subjetivas, com a hipertrofia sexual imaginária. Viver resume-se à patética maratona contra mínimas doenças, poluição e obesidade para ganhar qualidade de vida., aí incluída a boa consciência. Triunfou, na opinião de Lipovetsky, o “homem medíocre” e indiferente, realimentado por um pensamento mágico, apesar da esmagadora dominação tecnocientífica.
Nesta sociedade hedonista liberal, as ofertas de felicidade são restritas. No mundo do trabalho multiplicam-se “as discordâncias entre o desejável e o efetivo, o imaginário e o real, as aspirações e a experiências vivida e cotidiana”, mesmo para os abençoados.
Pobres, pretos, migrantes e desvalidos experimentam o “quase nada” e o medo permanente do “cada vez menos”, vivendo um pauperismo mais humilhante, já que os ideais hiperconsumistas são universais. Daí o crescimento exponencial da criminalidade juvenil, produto do desemprego irredutível.
Com sistemas educacionais por toda parte degradados, pergunta-se o ensaísta se a humanidade está possuída por uma síndrome da irreflexão, atingida por uma avançada letargia, um “êxtase sonambúlico”. A ciência faz propostas aqui e ali para a sobrevivência do planeta. A vã filosofia do “é assim mesmo e assim será” é só resignação.
Texto de Márcia Mendes de Almeida, na seção “Bravo!”, da revista CartaCapital, de 10 de outubro de 2007, n. 465.
Apesar da infinita de prazeres, evasões e lazeres, tal consumidor é incapaz de aplacar comportamentos desenfreados, excessivos e mais um sem-número de frustrações e desordens subjetivas, com a hipertrofia sexual imaginária. Viver resume-se à patética maratona contra mínimas doenças, poluição e obesidade para ganhar qualidade de vida., aí incluída a boa consciência. Triunfou, na opinião de Lipovetsky, o “homem medíocre” e indiferente, realimentado por um pensamento mágico, apesar da esmagadora dominação tecnocientífica.
Nesta sociedade hedonista liberal, as ofertas de felicidade são restritas. No mundo do trabalho multiplicam-se “as discordâncias entre o desejável e o efetivo, o imaginário e o real, as aspirações e a experiências vivida e cotidiana”, mesmo para os abençoados.
Pobres, pretos, migrantes e desvalidos experimentam o “quase nada” e o medo permanente do “cada vez menos”, vivendo um pauperismo mais humilhante, já que os ideais hiperconsumistas são universais. Daí o crescimento exponencial da criminalidade juvenil, produto do desemprego irredutível.
Com sistemas educacionais por toda parte degradados, pergunta-se o ensaísta se a humanidade está possuída por uma síndrome da irreflexão, atingida por uma avançada letargia, um “êxtase sonambúlico”. A ciência faz propostas aqui e ali para a sobrevivência do planeta. A vã filosofia do “é assim mesmo e assim será” é só resignação.
Texto de Márcia Mendes de Almeida, na seção “Bravo!”, da revista CartaCapital, de 10 de outubro de 2007, n. 465.
Marcadores: consumismo, existência, Gilles Lipovetsky, hiperconsumo, pós-modernismo, pós-moderno
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