A Palestina do Espetáculo Triunfante e o Tempo
Já ouvi falar, ou talvez eu tenha lido em algum lugar que bons livros, ou bons filmes, são aqueles que temos vontade, às vezes necessidade, de reler, ou rever. Pois este “post” da Katarina já foi lido umas três ou quatro vezes por mim. O que traz algumas conseqüências. Por exemplo, apesar de ter lido este tanto, sabe lá se eu realmente entendi o que ela quis dizer. Ou, quando será que virá o próximo “post” a respeito do assunto, ou continuando o assunto? Eu já comentei que os textos do blog dela tem um quê de sublime, e algo de difícil de compreender, o que poderia resultar em obscuridade e prolixidade, mas acredito que não seja isso, mas sim a questão de tentar domar os conceitos e aplicar precisão ao que se está querendo dizer, nos limites do possível. Ainda mais que ela cita como leitora no momento de Anscombe, que, se entendi corretamente é uma filósofa analítica britânica, leitora e intérprete de Wittgenstein, e, curiosamente, católica. Isto tudo está versão em inglês da Wikipédia. O verbete da Wikipédia em português sobre a filósofa é da pobreza de uma única frase.
Quanto à questão de gurus, eu não poderia concordar mais com ela. As pessoas não deveriam procurar por gurus, mas procurar elas mesmas os caminhos que devem seguir em suas vidas. Claro que seguir um guru pode tornar as coisas mais fáceis, mas também pode levar a grandes decepções. E como se poderia esperar, ela mesma se exime de ser, mesmo eleita por terceiros, guru, ou gurua como ela diz.
Quanto ao advento, bem aí é uma questão mais complicada. Eu continuo adepto de um ramo desta religião, que surgiu de uma seita do judaísmo antigo, isto é, o cristianismo. Porém, diferentemente da filósofa Elizabeth Anscombe, eu acabei por me converter a um dos tantos ramos protestantes desta fé. Mas o surgimento de Jesus, para os cristãos em geral, é um advento. O cristianismo propõe alguns eventos que o senso comum pós-iluminista estabelece, na melhor das expectativas como “mitos”. E estes eventos, para os cristãos que estabeleceram uma ortodoxia, dizem que Jesus nasceu de uma virgem, e o caso aqui fica mais complicado, pois a criança gerada no ventre de (Santa) Maria, foi gerada pelo Espírito Santo. Não foi uma inseminação artificial com o sêmen de (São) José, que tecnicamente poderia funcionar sem comprometer a virgindade de Maria. Pois o nascimento de Jesus é um “advento”, por assim dizer. Os Evangelhos canônicos que falam da infância de Jesus, comentam que Ele é o Salvador do mundo, com o livro de Lucas narrando muitos eventos “gloriosos” (fantásticos? maravilhosos?) que acompanham a concepção, o nascimento e a infância de Jesus. O cristianismo então, estabelece, no início de seu surgimento um advento fantástico, e em seu final, um Juízo Final, com um julgamento de vivos e mortos, e, inclusive, crêem alguns, um “rapto”, o arrebatamento dos cristãos próximo da tempo da volta de Jesus ao mundo. Adventos marcam o início, e prevêem o fim do cristianismo. Este grande balão para iniciar a discussão do advento.
Mas acho que o advento dela tem a ver com a mesma questão dos gurus. Se não queremos gurus, não deveríamos aguardar o advento de algo que venha a romper com o universo, ou com a sociedade humana mais ou menos tal qual ela existe hoje. É improvável, pelo que pude compreender da Katarina, que de nossa ordem, digamos natural, coisas sobrenaturais possam acontecer, de maneira a transformar a essência (opa!) dos seres humanos. (Claro que um crente pode continuar acreditando que uma intervenção sobrenatural, divina, venha a realizar esta transformação essencial, mas isto não é a questão aqui.) Acho que a Katarina gostaria de nos relembrar que em nome do “advento”, pequenas e grandes sociedades, crentes ou agnósticas, já perpetraram grandes crimes em nome da nova sociedade adventícia. Todo cuidado então é pouco ao se falar de advento.
E eu nem pensava em falar sobre advento.
A minha grande questão era sobre o tempo. Sim, foi sobre o tempo que eu acabei fazendo comentário ao “post” dela. Lá pelo final, o “post” informa: “Então é isto: este post se chama, na real, Em defesa da realidade do tempo.”, e eu perguntei, o que, afinal, entre tantos conceitos, significa o tempo? Pois, nós humanos estamos acostumados a medir o tempo na nossa escala natural: um dia é uma volta do planeta Terra, em que vivemos, em torno de si mesmo; um ano solar é a soma de 365 dias, mais algumas horas, ou aproximadamente o tempo em que o planeta Terra leva para dar uma volta em torno da estrela chamada Sol; ou um ano lunar que são doze ciclos lunares completos, e as horas são nossa medida para o aparente avanço do sol sobre nossas cabeças, mais o período que ele demora a aparecer após se pôr. Esses ciclos geravam o que viemos a chamar de estações do ano, nas sociedades de clima mais temperado (temperado, huummmm...) em que havia o melhor momento para plantar, para colher, etc, etc. Isto tudo antes da revolução científica. E antes de Einstein e suas teorias da Relatividade.
A vulgarização das teorias da Relatividade informa que a passagem do tempo depende da velocidade do observador, em relação ao objeto observado, sendo que, eventualmente, o observador seja parte do quadro observado. Mas tais coisas só seriam sensíveis ao ser humano comum, se esta velocidade pudesse chegar próxima da velocidade da luz, os tais aproximados 300.000 km/s. Assim, digamos que existissem dois irmãos gêmeos, um foi ser astrônomo, e o outro foi ser astronauta. Este último conseguiu fazer parte de uma missão que iria da Terra a Titã, um satélite de Saturno que fica a quase 1,3 milhão de quilômetros da Terra. Esta missão seria realizada com uma nova espaçonave que alcançaria hipotéticos 255.000 km/s, ou 0,85 vezes a velocidade da luz. A missão estabeleceria que a nave após alcançar Titã, permaneceria 72 horas terrestres em órbita do satélite, e, se fosse possível pousar, 24 horas terrestres coletando material do solo e da atmosfera de lá. Mas que tal? Depois que saísse da atmosfera terrestre a poderosa nave alcançaria Titã em 5 segundos, e levaria outros 5 segundos na viagem de volta. A missão demoraria 96 horas e alguns segundos, mas estes segundos será um período muito maior de tempo para o irmão astrônomo que permaneceu na Terra.
Pois é, Katarina. Que tempo? Qual tempo? O que é tempo?
P.S. Um colega me ajudou com o cálculo. E chegou a conclusão que a diferença de tempo passada entre os dois irmãos gêmeos seria de apenas alguns segundos a mais, e isto se deveria à “pequena” distância existente entre a Terra e Titã. No exemplo clássico, o irmão astronauta iria para fora do Sistema Solar, para um planeta junto à estrela mais próxima da terra, e quando retornasse continuaria relativamente jovem, e o seu irmão seria um homem idoso, quando não já falecido. Mas, insisto, de acordo com as teorias da Relatividade, o tempo ainda passaria mais devagar para um dois.
Marcadores: filosofia, Katarina Peixoto, tempo
2 Comments:
Essa coisa do Tempo ser uma dimensão,"manipulável" pela velocidade ,eu não consigo entender! mas que existe,não tenho dúvidas,inclusive foram feitos testes há alguns anos atrás com um jato em volta da terra,numa velocidade superior a do som, e o tempo "atrasou" 1 minuto...O Tempo é instigante,ele provoca mudanças nas pessoas.Esse seria o Meu Tempo.
abraço
É. É uma coisa complicada.
Valeu a visita e o comentário.
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