quarta-feira, setembro 30, 2009

Mãe "silencia" resto do seu cérebro para ouvir choro de bebê

Mãe "silencia" resto do seu cérebro para ouvir choro de bebê

Estudo feito com camundongos sugere papel de hormônio feminino na inibição do córtex auditivo

RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pesquisadores mostraram como as mães desenvolvem um ouvido tão aguçado para o choro de seus bebês. Não é que os seus cérebros valorizem mais os chamados dos filhotes. Eles, na verdade, diminuem o volume de todo o resto.
"Você pode imaginar um refletor em cima de um cantor em um palco. Se as outras luzes do palco estão todas acesas, o refletor não destaca tanto o artista. Mas, se está tudo na escuridão, o mesmo refletor destaca o cantor muito bem", disse à Folha Robert Liu, da Emory University, em Atlanta, EUA.
"Nós achamos que as mães têm uma inibição que reduz a atividade nas áreas do córtex auditivo que não estão direcionadas especificamente para o chamado do filhote."
Os pesquisadores utilizaram na experiência, publicada na última edição do periódico "Neuron", fêmeas de camundongo com filhotes e fêmeas virgens. Eles gravaram o chamado de filhotes e exibiram-no para todas elas. Enquanto isso, observaram a atividade das células dos seus cérebros.
Áreas diferentes do córtex auditivo respondem por diferentes frequências ouvidas.
As áreas relacionadas à frequência dos gritos dos filhotes ficaram ativas nos dois grupos. Entretanto, o resto do córtex auditivo das mães se "apagou" com mais intensidade e por mais tempo. Isso ajuda a mãe a reconhecer os chamados de um bebê mesmo que em um ambiente muito barulhento.
Ainda não se sabe como ocorrem essas mudanças no cérebro materno. Segundo Liu, pode ser que o cérebro das mães tenha sido reprogramado pelos hormônios para desligar com mais facilidade áreas auditivas não utilizadas para escutar bebês -sejam filhos delas ou não.
É possível também que as mães tenham "exercitado" o seu cérebro para focalizar a sua concentração no grito dos bebês camundongos.
Apostando na primeira hipótese, Liu e colegas querem agora saber como os hormônios femininos criam o fenômeno.

Texto da Folha de São Paulo, de 15 de junho de 2009.

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