sexta-feira, setembro 25, 2009

Futuro sombrio para o fotojornalismo

Futuro parece sombrio para o fotojornalismo

Por DAVID JOLLY

PARIS — Quando os fotojornalistas e seus admiradores se reunirem no sul da França, no final deste mês, na mostra Visa pour l’Image, comemoração anual de seu ofício, muitos profissionais poderão estar se perguntando quanto tempo ainda conseguirão aguentar.
Jornais e revistas têm cortado os orçamentos de fotografia ou fechado suas portas, e as redes de TV reduziram a cobertura noticiosa em favor de material menos caro. Imagens e vídeos amadores tirados com celulares são publicados em sites da web minutos depois dos fatos. Os fotógrafos que tentam ganhar a vida retratando as notícias dizem que há uma crise.
O último sinal de problemas foi o da empresa dona da agência de fotos Gamma, que pediu concordata em 28 de julho após sofrer prejuízo de US$ 4,2 milhões no primeiro semestre, quando suas vendas caíram quase 33%.
A Gamma foi fundada em 1966, pelos fotógrafos Raymond Depardon e Gilles Caron. Juntamente com as agências Sygma, Sipa e a mais antiga Magnum, ela ajudou a fazer de Paris a capital mundial do fotojornalismo.
Um tribunal de Paris deu à dona da Gamma, a agência Eyedea Presse, seis meses para se reorganizar. “Aguentamos até onde pudemos, mas este modelo empresarial não é mais viável”, disse Stéphane Ledoux, executivo-chefe da empresa.
Olivia Riant, porta-voz da Eyedea Pesse, disse que haverá cortes de empregos. “O problema é que a fotografia jornalística está acabada”, ela disse. “Vamos parar de cobrir fatos diários para cobrir temas com maior profundidade.”
A Gamma foi adquirida em 1999 pela Hachette Filipacchi Médias, uma unidade da Lagardère, que a combinou com outras operações para fornecer fotos para suas revistas. Mas o negócio não prosperou, e ela foi vendida em 2007 para o fundo de investimentos Green Recovery. As concorrentes da Gamma não se saíram muito melhor: a Sygma foi adquirida pela Corbis em 1999, e a Sipa, pela Sud Communication em 2001.
O fotojornalismo viveu uma era dourada desde antes da Segunda Guerra Mundial até a década de 70. Revistas como “Time”, “Life” e “Paris Match” —e virtualmente todos os grandes jornais do mundo— tinham orçamentos para empregar legiões de fotógrafos.
Mas, hoje, em uma época de menor receita publicitária e demissões, editores de fotografia de diversas publicações têm de pensar bem antes de mandar um fotógrafo em campo ao custo de US$ 250 por dia, mais despesas.
As grandes agências de notícias —Associated Press, Agence France Presse e Reuters, junto com locomotivas regionais como Kyodo, no Japão, e Xinhua, na China— dominam a fotografia jornalística. Mas o negócio de comercializar e vender fotos digitalizadas é comandado por duas empresas globais: a Getty Images, fundada em 1995, e a Corbis, fundada em 1989 pelo presidente da Microsoft, Bill Gates.
As empresas de fotos de arquivo ganharam destaque ao comprar centenas de arquivos de imagens e disponibilizá-los para venda on-line. Enquanto continuam patrocinando o fotojornalismo, as companhias são na verdade serviços de gerenciamento de direitos autorais de propriedade digital.
Na Getty, 70% das receitas vêm da venda de imagens de arquivo. “Fotojornalismo significa que os fotógrafos podem contar a história em imagens, e havia lugares onde eles podiam publicar essas fotos”, disse o principal executivo da Getty, Jonathan Klein. “No mundo da imprensa, a maioria desses lugares desapareceu desde então.”
Mas, ele acrescenta, há motivos para otimismo, porque “graças à web hoje há bilhões de páginas para os fotógrafos mostrarem seu trabalho”.
Jean-François Leroy, organizador do festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, que começa neste sábado, na França, apontou como outro problema a menor ênfase a temas sérios na mídia. “Os fotógrafos estão produzindo coisas ótimas, mas hoje a mídia só parece se interessar por celebridades”, disse.

Texto do The New York Times, na Folha de São Paulo, de 24 de agosto de 2009.


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