segunda-feira, agosto 21, 2006

Piadas vencidas


Texto recebido por correio eletrônico, e, depois, constatado que havia sido publicado no jornal Zero Hora.

Piadas vencidas



RUBEM PENZ


Todos os brasileiros conhecem o traço gaúcho da bipolaridade. Somos sempre contra ou a favor. Estamos cá ou lá. Amigo ou inimigo. Colorado ou gremista. E, como o futebol permeia as relações numa esfera de paixão, vermelhos e tricolores provocam-se mutuamente do cafezinho matinal ao último chope noturno, quase todos os dias. Porém, até mesmo esta tradicional rivalidade precisa passar por reciclagens de vez em quando, sob pena de perder a graça. O meu Inter, ao conquistar a Copa Libertadores da América de 2006, prestou uma bela contribuição para este intento. A partir de agora, para os gremistas está desatualizada uma série de piadas prontas, às quais bastava trocar a data e o campeonato.

Por exemplo: comparar a equipe do Internacional com a cerveja Polar, que ninguém conhece porque vende só no Rio Grande do Sul - numa alusão às dezenas de campeonatos estaduais do colorado. Finalmente, desta piada expirou a validade. Ela já estava morna e sem gás. Outra piadinha que não faz mais sentido é a do comunicado da Operação Golfinho, usada para dizer que nós morremos outra vez na praia. (Aliás, aqui cabe um parêntese: o técnico Abel Braga, com este título sul-americano, quebrou a escrita de ser o mais famoso treinador de vice-campeões!)

Agora, a mais emblemática piada sobre o Inter morreu de morte matada - e com 30 anos de atraso. Ela dizia que precisávamos trocar o nome da equipe para Nacional, pois não havia nenhuma taça verdadeiramente internacional em nossa sala de troféus. Demos cabo desta gracinha num embate glorioso, uma vez que competíamos contra o São Paulo, tricampeão da Copa Libertadores da América e do Mundial de Clubes. Mais: detentor de ambos os títulos no momento. Ainda, de inhapa, também tricolor! Melhor do que isso, só se vencermos o Barcelona (do Ronaldinho Gaúcho) em dezembro no Japão.

Voltando ao tema, o título ora conquistado pelo colorado gaúcho é mais do que um divisor de águas em sua própria história. É a tardia equiparação ao rival porto-alegrense, orgulhoso que é de suas conquistas históricas, com toda a razão. Representa, também, o fim de um sem-número de humilhações impostas por tricolores aos jovens torcedores vermelhos, pois muitos não eram nascidos no período de feitos relevantes dos anos 70 e 80. Aos gremistas, depois de passada esta pequena trégua dos "merecidos parabéns", restará o apelo à criatividade no momento de passar uma nova flauta. As piadas que citei perderam o sentido e apodrecerão no esquecimento. Diferente da nossa lembrança impiedosa das passagens do rival pela segunda divisão nacional.

Colorados de todo o mundo, vamos aproveitar o momento! Poucas horas depois do feito, tudo virou História. Por obra e graça da Fada Madrinha, eu estava lá no Estádio Beira-Rio, testemunhando a glória do desporto nacional!

http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1%C2%A7ion%3DHome&edition=6241&template=&start=1§ion=&source=a1264432.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=



RUBEM PENZ - Músico, cronista e, obviamente, colorado