sábado, novembro 18, 2006

Outro Que se Vai: Milton Friedman

O economista Milton Friedman faleceu ontem, quinta-feira, aos 94 anos, nos Estados Unidos.
Um dos economistas mais famosos do mundo, e, sem dúvida, o mais famoso a partir da segunda metade do século XX. Foi professor na Universidade de Chicago, e de lá, professou que o melhor governo era o menor governo. Popularizou a frase "there is no such thing as a free lunch", ou "não existe almoço grátis", o que significa que se alguém está recebendo algum benefício econômico, alguém pagou por isso (por exemplo, segundo esta idéia, as passagens de ônibus em Porto Alegre deveriam ser mais baratas se não houvesse gratuidade para idosos, e desconto de 50% para estudantes [claro que as aposentadorias são uma lástima, e, em tese estudantes ganham menos que um profissional formado, ou mesmo não ganham nada, mas isto é uma outra história]). Como o melhor governo é o menor governo para Friedman, ao governo caberia regular a oferta de moeda no mercado, reduzindo-a durante processos inflacionários, e aumentando-a durante período recessivos. Eis o motivo pelo qual, Friedman e seus discípulos receberam o rótulo de "monetaristas".
É curiosa nossa história (nossa, humana).
No final do longo ciclo especulativo que culminou com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a onda de miséria que se espalhou a partir de então, com o conselho do economista inglês John Meynard Keynes (que foi o outro grande economista do século XX), os governos foram incentivados a intervir na economia, de maneira a prover emprego e diminuir a agudeza das trocas de ciclos econômicos. E assim foi nos Estados Unidos e na Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial e até os anos 1970, quando a expansão econômica diminuiu seu ritmo, e a inflação nos Estados Unidos chegou a dois dígitos. Foi por essa época que Friedman começou a popularizar a idéia que coisas tais como auxílio-desemprego ou aposentadorias generosas eram coisas que desincentivavam o crescimento da economia, e parte de suas proposições começaram a ser praticadas por Margaret Thatcher no Reino Unido, e Ronald Reagan nos Estados Unidos. Este inclusive, em sua campanha para presidente dizia algo como "as pessoas pensam que o governo faz parte da solução, mas na verdade o governo é parte do problema". Por conta disso, o governo Reagan começou a diminuir os benefícios sociais oferecidos pelo governo federal norte-americano, e também por conta disso, o então presidente do FED ("Federal Reserve", o equivalente americano ao Banco Central) Paul Voelcker aumentou assustadoramente a taxa de juros dos títulos do tesouro americano, a melhor forma de retirar dinheiro do mercado. A inflação desabou e os países subdesenvolvidos, o México à frente, mas também o Brasil, quebraram. Ainda por conta do menor governo, o então presidente Reagan tratou de diminuir impostos, o que, dizem, beneficiou a parcela mais rica da sociedade estadunidense.
Foram as idéias de Friedman também que inspiraram a reforma previdenciária promovida pelo governo Pinochet, no Chile, no final dos anos 1970. E também são elas que fornecem boa parte da bagagem teórica que inspira o que hoje se convencionou chamar de "neoliberalismo".
É bem possível que as idéias preconizadas por Friedman estimulassem a atividade e o progresso econômico. É provável também que tais idéias tenham como efeito colateral o fortalecimento dos já privilegiados economicamente, e a miséria aos menos privilegiados, miséria esta que tende a crescer e se tornar acintosa por conta do fim dos "amortecedores" sociais tais como auxílios para desempregados e doentes, ou pensões e aposentadorias.
De maneira geral, as pessoas tendem a ter reações passionais diante das idéias de Friedman, ou as adoram, ou as detestam. O debate continua...