Comentário do Cartunista Caco Galhardo a Respeito da Morte de Joseph Barbera, na Folha de São Paulo, de 20 de Dezembro de 2006
CACO GALHARDO
COLUNISTA DA FOLHA
Anteontem, aos 95 anos, morreu Joseph Barbera. Isso quer dizer que desde então está rolando um tremendo banquete de filé de brontossauro oferecido por são Pedro, no melhor restaurante do Paraíso.
William Hanna, seu eterno parceiro, já está por lá desde 2001. Juntos, criaram uma genial prole que vai de Flintstones, Manda-Chuva, Tom e Jerry, Jetsons, Zé Colméia, Scooby-Doo até Penélope Charmosa. Olha que só listei alguns, a relação dos personagens dos estúdios Hanna Barbera é coisa de louco. Estão entre meus melhores amigos de infância e de toda uma geração.
Não é pouca coisa. Quem é que nunca assistiu a um episódio dos Flintstones? Ou a um desenho do Tom e Jerry?
Joseph Barbera trabalhava em banco, aí veio a Grande Depressão americana e ele partiu para os "cartoons". Provavelmente o pai o aconselhou: "Escute aqui, rapaz, esse negócio de mercado financeiro não dá grana, vá desenhar uns bonecos engraçados que você fica rico!".
Sábias palavras. Barbera catou o pincel e foi para os estúdios de animação em Hollywood. Seu forte, além dos desenhos, era a criação das histórias e roteiros. Em um belo dia, conheceu William Hanna, que tinha mais jeito para cuidar dos negócios. Pediram as contas, abriram o próprio estúdio e começaram sua revoluçãozinha. Após eles, a história da animação nunca mais seria a mesma.
Revival
E aí pinta um revival fortíssimo: é muito privilégio crescer na companhia de Fred Flintstone e Barney Rubble, de El-Roy e Senhor Spacely, de Batatinha e Guarda Belo, Chumbinho e Bacamarte, Salsicha e Velma, Dick Vigarista e Irmãos Rocha, Dom Pixote e Coelho Ricochete, Urso do Cabelo Duro e Jonny Quest, e por aí vai.
Tudo isso é influência constante nas melhores animações produzidas hoje em dia, e não tem absolutamente nada a ver com loiras desmioladas e programas infantis que só incitam a erotização precoce e tratam a molecada não como crianças, mas como consumidores-mirins. Para o inferno com os escroques que infestam as TVs promovendo todo esse lixo. Cabongue!!!!
O que foi isso, Pepe Legal?
Joseph Barbera se foi, William Hanna também. Pegaram, no melhor estilo Leão da Montanha, saída pela esquerda. Mas a obra deles continua por aí. Então temos mais de homenagear os caras. Bandinha do exército e salva de trocentos tiros de canhão, por favor!
Meus amigos de infância ficaram definitivamente sem pai nem mãe, ou melhor, sem pai nem pai, e não se pode passar batido por um acontecimento desses. Tem de homenagear e, acima de tudo, rever e mostrar para os filhos, sempre, os bons e velhos desenhos Hanna-Barbera. São quase todos muito bons.
É o tipo da coisa que não envelhece nunca. Nós, por outro lado, envelhecemos na marra e chegamos ao fim, como chegou o Barbera. Mas certamente, em meio ao banquete celestial de filé de brontossauro, em algum momento ele virou para seu compadre e sussurrou, com um sorriso de canto de boca e olhar cúmplice: "A gente mandou bem, né?".
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