quinta-feira, setembro 18, 2008

O papo-cabeça cansa

O papo-cabeça cansa

Hoje tive a oportunidade de ter vários “papo-cabeças” com alguns colegas de serviço.

Os assuntos são os mais variados. Num primeiro momento, versaram, por exemplo, sobre a melhor forma de temperar feijão, ao mesmo tempo em que cogitávamos com seria o funcionamento dos famosos e super poderosos computadores da marca Cray, usando um sistema operacional muito popular, e inclusive muito pirateado, mas também conhecido por não ser dos mais estáveis e robustos, sem falar sobre a melhor maneira de empunhar uma vassoura para limpar a terra derrubada de um vaso, questionando os ímpetos feministas de uma colega.

Em outro momento, alguém chegou para conversar sobre uma famosa foto feita por Robert Capa, do miliciano caído durante a Guerra Civil Espanhola. A foto era falsa, uma montagem? Este alguém havia descoberto um texto que defendia a autenticidade do momento captado por Capa. Ou seja o momento captado por Capa, na sua foto, seria como o momento crítico em que uma foto é batida, segundo a idéia de Henri Cartier-Bresson. Falamos de máquinas fotográficas Leica, e de como esta tradicional marca de material ótico e fotográfico estava passando por dificuldades financeiras. E Isto trouxe novamente Cartier-Bresson à tona. Afinal Cartier-Bresson foi um fiel usuário desta marca alemã. Claro, que, em se falando de Leica, também se falou do custo altíssimo das câmeras desta marca. E ainda houve tempo para falar sobre diplomas universitários, e conceitos geográficos tais como “charneca”. Tanta conversa, tanta discussão, tanta eloqüência em tão pouco tempo cansa um pouco.

Mais tarde ainda outro colega resolveu conversar sobre assuntos diversos mas o assunto inicial foi o assunto anterior, e a charneca foi o ponto de partida, e falamos de charneca, de pântanos, de Arthur Conan Doyle, e da criação mais famosa deste, o detetive Sherlock Holmes. De charnecas e pântanos, passamos à turfa, e ao uísque, e daí sobre as diversas bebidas destiladas de álcool que existem mundo afora, como o saquê de arroz japonês, ou o “uísque” de milho americano (o famoso Jack Daniel's). E não sei porquê comentamos que os americanos têm o costume de fornecer exemplos quando falam de alguma coisa, e que isso demonstrava, talvez, uma dificuldade em formular conceitos por parte daquele povo, se bem que isso pode ser uma forma de tentar tornar o conceito menos abstrato e mais concreto. Além disso, falamos de línguas, e de quantas línguas, meu colegas gostaria de dominar, ao menos para ler. Falamos sobre inglês, alemã, francês, italiano, espanhol, e de línguas não indo-germânicas, como o basco, o finlandês e o estoniano. Por fim, ficamos falando das semelhanças entre o árabe e o hebraico, que, afinal, são línguas semíticas. Sem contar que o povo búlgaro falava o búlgaro, que era uma língua eslava, provavelmente resultante da acomodação do idioma russo arcaico ao povo búlgaro, que etnicamente seria mais aparentado dos turcos, do que dos eslavos. E comentamos sobre a Europa Central, e de como a Áustria, a Hungria, e a Romênia, países geograficamente próximos uns dos outros falavam línguas bem diferentes uma da outra (para esclarecer, na Áustria se fala alemão, na Hungria, o húngaro, ou magiar, e na Romênia, o romeno, uma língua neolatina, parente do italiano e do português, portanto). E ainda deu tempo de falar sobre como os homens criam identidades para si. Sejam individuais, sejam nacionais.

Ufa!

O papo-cabeça cansa. Não que seja ruim. Mas deve ser por isso que o papo cabeça tem melhor lugar à mesa de algum bar, eventualmente à mesa de algum lar, e sobre esta mesa normalmente há alguma comida, e sempre uma bebida. Tanto que o papo se esgota, ou quando se esgota o tempo disponível dos dialogantes, ou o estoque de comida e bebida (ou a disponibilidade de numerário para adquirir mais).


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