terça-feira, setembro 16, 2008

Centro: O olhar de quem é de fora

O olhar de quem é de fora

Ah, o Centro.

Como moradora do Menino Deus, nunca tive a oportunidade de andar pelas ruas de meu bairro e esbarrar em pessoas diferentes a cada esquina. São índios, loiros, morenos, ruivos, calvos, grisalhos, negros, albinos, crianças, idosos, gente sem idade definida, pedintes, compro-ouro-corto-cabelos, mágicos, prostitutas, malabaristas. É isso que aprecio no Centro: os encontros. Andar nas ruas, esbarrando, esquivando, contorcendo para fugir dos apressados, olhando sempre, a todos. Ver seus olhos cansados, a fumaça saindo da boca, os braços estendidos entregando panfletos, os corpos enrolados em jornais no chão, as crianças tocando violas acompanhadas por gaiteiros já passados da validade.

Ah, o Centro.

Nos dias de hoje, em que todos fugimos do contato humano apelando para o mundo cibernético, o Centro permanece como último remanescente da humanidade. É lá que todos trocam toques e carinhos apressados e sem compromisso. Onde algumas pessoas voltam a sentirem-se amadas, pedem desculpas pela diminuta relação que tiveram e seguem em frente, um pouco mais felizes. Um pouco mais aquecidas. São pequenos pegares de mãos, pequenos chutes nos tendões de Aquiles. Mas que fazem toda a diferença para os carentes da cidade.

Ah, o Centro.

Andradas, Sete de Setembro, Duque de Caxias, Borges de Medeiros. Lombas e planos. Tenho uma estranha atração pelas ruas do Centro. Os calçamentos, as árvores, as mesas de damas, os colares e brincos expostos, os passantes e os estáticos. Enquanto atravesso o Centro, meus olhos vão captando as belezas escondidas e as sutilezas imperceptíveis aos apressados.

Ah, o Centro.

Outra peculiar alegria minha são os dias de chuva. Literalmente, chove de baixo para cima, de cima para baixo, de todos os lados, e de lado algum. É aí que entram os guarda-chuvas. Coloridos, pretos, transparentes, gigantes, médios e pequenos, frágeis e firmes, todos amontoados formando um descompassado tapete que cobre as ruas. O Centro vira carnaval e a cidade desfila pelas avenidas.

Ah, o Centro.

Texto de Gabriela Aerts, estudante, no Jornal do Centro, edição 123, na página 4.

Marcadores: , , ,

1 Comments:

Blogger Ingrid Guerra said...

Zé, brigadão por seus comentários, de verdade. Alegraram meu dia. Tenho grande carinho pelo Arquivos e fico feliz em saber que as pessoas, que passam por ali, levam algo de novo para suas vidas ou que lhes agrada, de alguma forma, o meu jeito de falar sobre o “mundo”.
Quanto ao seu último post: confesso que tenho, também, um grande apresso pelo centro de Porto Alegre, mas não o mesmo contentamento que a Gabriela em relação a alguns encontros que ocorrem por lá, sobretudo em dias de chuva.
Bom, fico por aqui. bIG abs.

2:45 AM  

Postar um comentário

<< Home