terça-feira, outubro 21, 2008

Daniel Galera, Buenos Aires, Porto Alegre, ...

Fala, Galera

Autor de "Mãos de Cavalo", paulistano lança 1º livro da série "Amores Expressos", após trocar Buenos Aires pela Terra do Fogo em busca de inspiração

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Buenos Aires deveria ser o cenário principal do romance escrito por Daniel Galera para o projeto "Amores Expressos", segundo o qual 17 escritores deveriam contar uma história de amor inspirada em temporadas de um mês em várias cidades do mundo. O escritor, no entanto, só conseguiu alcançar seu clímax lá pelo meio da viagem, quando foi à Terra do Fogo, extremo sul da Argentina.
Galera conta que já tinha um esboço antes de viajar: queria contar a história de uma jovem escritora (Anita), cujo primeiro livro, um sucesso, ela rejeitava.
A moça queria mesmo era ser mãe, o que tenta, a todo custo, numa viagem para promover a edição argentina do tal livro.
A viagem de Anita incorpora uma crítica de Galera ao que ele chama de "visão idealista da literatura". "É algo que às vezes me incomoda, que distorce seu real valor, como os eventos literários, a crítica etc. A postura de Anita não é a minha. Mas tem uma coisa que ela diz que poderia sair da minha boca, que é não gostar de quem fala literatura como se tivesse letras maiúsculas, sempre."

Moleskine na mão
Em sua primeira vez na cidade, Galera se hospedou em um pequeno estúdio em Palermo, sofisticado bairro portenho.
Ele diz que foi para lá sem intenção de trabalhar no livro, mas de apenas fazer anotações, que consumiram todo um Moleskine, caderninho preferido de nove entre dez autores. "Não queria ficar lá consciente da minha condição de autor que está em Buenos Aires para escrever um livro, mas me permitir ficar à vontade para que conhecesse a cidade e ela me influenciasse."
Galera, no entanto, acabou não achando a viagem tão determinante para seu romance.
Ele achou a cidade tão semelhante a Porto Alegre -onde passou boa parte da vida-, que e não teve lá uma grande experiência de descoberta.
A virada se deu com a viagem de quatro dias à Terra do Fogo, "por conta própria". "Foi o lugar que mais afetou o desenvolvimento do livro. Foi onde tive o afastamento radical que buscava da viagem, em termos de cultura, de hábitos e de natureza [em especial a cordilheira que dá nome ao romance]."
O clímax da viagem acabou se tornando o clímax do romance.
É na Terra do Fogo que Anita vai parar após se envolver com "pessoas esquisitas numa espécie de intriga literária".
"Ela não encontra nas outras pessoas nenhum tipo de aprovação ou compreensão para seu desejo de maternidade. Então ela toma isso como busca pessoal e espera viver isso de alguma forma durante a viagem."
Qualquer semelhança é coincidência, alerta. O escritor diz que "Cordilheira" é menos auto-referencial que livros anteriores como "Mãos de Cavalo" e "Até o Dia em que o Cão Morreu", levado ao cinema por Beto Brant como "Cão sem Dono".
"Cordilheira" pode não espelhar Galera, mas ele não poupou o livro de referências. Na obra, o argentino que, de certa forma, abriga a obsessão de Anita, se chama José Holden, alusão ao personagem de "Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger. Um rápido "google" em outros nomes do livro gera mais coincidências.
"Queria que [o livro] fosse algo mais solto, com referências ora explícitas, ora obscuras, com pequenos instantes de satisfação pessoal que, se os leitores não captarem, em nada prejudica. Mas, se captarem, podem dar uma risadinha junto comigo."


Leia trecho do livro em www.folha.com.br/082881

Texto da Folha de São Paulo, de 15 de outubro de 2008. Colado aqui porque o blogueiro gostou da comparação de Buenos Aires com Porto Alegre, guardadas as devidas proporções, e reconhecendo que Buenos Aires é mais cosmopolita que a capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.


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