Fim de Plantão
Fim de plantão
Depois de 15 anos, "ER" chega ao fim nesta quinta, nos EUA; médicos-fãs comentam os acertos e as gafes da série
Scott Grimes, John Stamos, Maura Tierney, Goran Visnjic, Mekhi Phifer e Parminder Nagra
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
O mais longevo drama médico da TV americana chega ao fim na próxima quinta-feira, dia 2, nos EUA. Um episódio de duas horas encerrará "ER -Plantão Médico", que, ao longo de seus 15 anos, trocou diversas vezes de elenco -mais de 750 atores passaram por seus 331 episódios- e perdeu gradualmente a audiência.
Apesar disso, a série, que alçou George Clooney à fama e é exibida em ao menos 18 países, deixa uma legião de fãs órfãos, inconformados com o fim do corre-corre e o desligamento das máquinas no pronto-socorro fictício de Chicago.
Não é à toa: além de recordista de indicações ao Emmy (mais de 120), a série conquistou prestígio suficiente para atrair convidados célebres, como os atores Susan Sarandon e Steve Buscemi e o diretor Quentin Tarantino ("Pulp Fiction"), que comandou o penúltimo episódio da primeira temporada, em 1995.
Mas, após uma década entre as dez séries mais vistas nos EUA, segundo a "Variety", "ER" começou a cair e, no ano passado, foi parar na 48ª posição no ranking da audiência dos seriados na TV americana, sua pior performance. No Brasil, tampouco permanece entre as mais vistas -por aqui, a última temporada deve ser exibida ainda neste semestre.
"Comecei a acompanhar a série na primeira temporada. Assistia a quase todos os capítulos, mas aí foram substituindo os personagens com uma tal frequência que acabei me desinteressando um pouco", diz a neurologista Carla Baise, 35.
De fato, não restou nenhum médico "original" na equipe de plantonistas do 15º ano -que, no entanto, foi "premiado" com a participação de personagens que marcaram a série, como os de George Clooney, Anthony Edwards e Noah Wyle.
""ER" foi se modificando. É muito difícil sobreviver tanto tempo em TV, ainda mais com a interatividade atual, sem se transformar", diz o psiquiatra e colunista da Folha Jairo Bouer, 43, "doente por "ER'".
"Há quem diga que as últimas temporadas ficaram mais fracas, que os atores não tinham tanto carisma, que as tramas se repetiam um pouco, mas, para mim, elas são bem boas também, prendendo a atenção desde o começo do episódio", defende Bouer.
A médica residente de oncologia Marina Gonçalves, 28, concorda que "ER" manteve o bom padrão, apesar de achar que "as primeiras temporadas são incomparáveis". Ela confessa ter aplicado no trabalho ensinamentos da ficção.
"Um dia, vi um caso raro na vida real, na residência de clínica médica. Os chefes perguntaram se alguém já tinha visto aquilo, e eu já tinha, no "ER'! Fui estudar o assunto, e a conduta do seriado estava correta."
Exageros e gafes
Mas nem sempre é assim. Os médicos (e fãs) entrevistados pela Folha apontam gafes que questionam a preocupação do drama com a verossimilhança.
Para o dermatologista Marcelo Bellini, 41, "fiel realmente não é". "É incrível que, quando chega um ferido e tem algum médico na porta, eles largam o café, o cigarro, saem correndo sem nenhuma proteção e começam o trabalho. Isso se prolonga nas cirurgias e atendimentos no pronto-socorro."
As angustiantes conversas íntimas em operações de risco e as intermináveis jornadas de trabalho são outros aspectos pintados com exagero.
Adelmo Botto, 43, obstetra e plantonista há 20 anos, diz que "qualquer situação de estresse, de emergência, determina concentração máxima".
"Quando tratamos pacientes terminais, dificilmente se consegue falar da vida pessoal. É um momento delicado, em que se percebe que está se perdendo a luta contra a doença. Os médicos são mais sensíveis ao sofrimento dos pacientes", concorda Vitório Maddarena Junior, 44, cirurgião plástico.
Botto acha ainda que a série escorrega em "situações absurdas, como pessoas operando sem máscaras cirúrgicas", e contribui para "perpetuar a ideia fantasiosa de que médicos são seres endeusados e incansáveis, escravos da profissão".
O dermatologista Alexandre Leon, 34, discorda. Ele afirma que "ER" "é fiel ao que acontece no ambiente médico", coisa rara entre produções do gênero. "As angústias que vivemos, a experiência da residência, a hierarquia, as relações entre médicos e a relação médico-paciente. É muito real."
A notícia é a Ilustrada, caderno da Folha de São Paulo, de 29 de março de 2009. Havia um outro texto tentando explicar o sucesso da série, mas era tão cheio de trocadilhos com termos médicos que esgotou o interesse deste blogueiro.
Depois de 15 anos, "ER" chega ao fim nesta quinta, nos EUA; médicos-fãs comentam os acertos e as gafes da série
Scott Grimes, John Stamos, Maura Tierney, Goran Visnjic, Mekhi Phifer e Parminder Nagra
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
O mais longevo drama médico da TV americana chega ao fim na próxima quinta-feira, dia 2, nos EUA. Um episódio de duas horas encerrará "ER -Plantão Médico", que, ao longo de seus 15 anos, trocou diversas vezes de elenco -mais de 750 atores passaram por seus 331 episódios- e perdeu gradualmente a audiência.
Apesar disso, a série, que alçou George Clooney à fama e é exibida em ao menos 18 países, deixa uma legião de fãs órfãos, inconformados com o fim do corre-corre e o desligamento das máquinas no pronto-socorro fictício de Chicago.
Não é à toa: além de recordista de indicações ao Emmy (mais de 120), a série conquistou prestígio suficiente para atrair convidados célebres, como os atores Susan Sarandon e Steve Buscemi e o diretor Quentin Tarantino ("Pulp Fiction"), que comandou o penúltimo episódio da primeira temporada, em 1995.
Mas, após uma década entre as dez séries mais vistas nos EUA, segundo a "Variety", "ER" começou a cair e, no ano passado, foi parar na 48ª posição no ranking da audiência dos seriados na TV americana, sua pior performance. No Brasil, tampouco permanece entre as mais vistas -por aqui, a última temporada deve ser exibida ainda neste semestre.
"Comecei a acompanhar a série na primeira temporada. Assistia a quase todos os capítulos, mas aí foram substituindo os personagens com uma tal frequência que acabei me desinteressando um pouco", diz a neurologista Carla Baise, 35.
De fato, não restou nenhum médico "original" na equipe de plantonistas do 15º ano -que, no entanto, foi "premiado" com a participação de personagens que marcaram a série, como os de George Clooney, Anthony Edwards e Noah Wyle.
""ER" foi se modificando. É muito difícil sobreviver tanto tempo em TV, ainda mais com a interatividade atual, sem se transformar", diz o psiquiatra e colunista da Folha Jairo Bouer, 43, "doente por "ER'".
"Há quem diga que as últimas temporadas ficaram mais fracas, que os atores não tinham tanto carisma, que as tramas se repetiam um pouco, mas, para mim, elas são bem boas também, prendendo a atenção desde o começo do episódio", defende Bouer.
A médica residente de oncologia Marina Gonçalves, 28, concorda que "ER" manteve o bom padrão, apesar de achar que "as primeiras temporadas são incomparáveis". Ela confessa ter aplicado no trabalho ensinamentos da ficção.
"Um dia, vi um caso raro na vida real, na residência de clínica médica. Os chefes perguntaram se alguém já tinha visto aquilo, e eu já tinha, no "ER'! Fui estudar o assunto, e a conduta do seriado estava correta."
Exageros e gafes
Mas nem sempre é assim. Os médicos (e fãs) entrevistados pela Folha apontam gafes que questionam a preocupação do drama com a verossimilhança.
Para o dermatologista Marcelo Bellini, 41, "fiel realmente não é". "É incrível que, quando chega um ferido e tem algum médico na porta, eles largam o café, o cigarro, saem correndo sem nenhuma proteção e começam o trabalho. Isso se prolonga nas cirurgias e atendimentos no pronto-socorro."
As angustiantes conversas íntimas em operações de risco e as intermináveis jornadas de trabalho são outros aspectos pintados com exagero.
Adelmo Botto, 43, obstetra e plantonista há 20 anos, diz que "qualquer situação de estresse, de emergência, determina concentração máxima".
"Quando tratamos pacientes terminais, dificilmente se consegue falar da vida pessoal. É um momento delicado, em que se percebe que está se perdendo a luta contra a doença. Os médicos são mais sensíveis ao sofrimento dos pacientes", concorda Vitório Maddarena Junior, 44, cirurgião plástico.
Botto acha ainda que a série escorrega em "situações absurdas, como pessoas operando sem máscaras cirúrgicas", e contribui para "perpetuar a ideia fantasiosa de que médicos são seres endeusados e incansáveis, escravos da profissão".
O dermatologista Alexandre Leon, 34, discorda. Ele afirma que "ER" "é fiel ao que acontece no ambiente médico", coisa rara entre produções do gênero. "As angústias que vivemos, a experiência da residência, a hierarquia, as relações entre médicos e a relação médico-paciente. É muito real."
A notícia é a Ilustrada, caderno da Folha de São Paulo, de 29 de março de 2009. Havia um outro texto tentando explicar o sucesso da série, mas era tão cheio de trocadilhos com termos médicos que esgotou o interesse deste blogueiro.
Marcadores: E.R., ER, Plantão Médico
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