Um livro de Mia Couto, moçambicano
Mia Couto vê o fim do mundo
Moçambicano chega ao Brasil para falar sobre seu novo romance e participar de eventos de teatro
Obra trata da busca pelo esquecimento no país do escritor; em SP e no Rio, ele também comenta as adaptações de seus textos
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois que o mundo acabou, um lugarejo chamado Jesusalém tornou-se o lar do que restou da humanidade -Silvestre Vitalício, os dois filhos, um tio dos meninos, um serviçal e, vá lá, a jumenta Jezibela, "tão humana que afogava os devaneios sexuais" do velho Vitalício.
Mas um dia Mwanito, o filho mais novo, vê uma mulher e desaba em lágrimas, porque achava que não havia mais nenhuma delas na Terra. É a partir desse ponto, entre o fim e o começo da existência, que se desenrola "Antes de Nascer o Mundo", o mais recente romance do moçambicano Mia Couto. O livro tem lançamento simultâneo no Brasil e em Portugal, Angola e Moçambique.
Por aqui, Couto, 53, um dos maiores nomes da literatura africana contemporânea, desembarca nesta semana para uma série de eventos. O primeiro acontece nesta quinta, em São Paulo, quando o autor lança o romance na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
Embora a descrição da história de "Antes de Nascer o Mundo" lembre algo de realismo fantástico, é de uma realidade bem próxima do autor que o romance trata. Jesusalém, "a terra onde Jesus haveria de se descrucificar", é um lugar como tantos outros que o escritor conheceu em seu país.
"No interior de Moçambique deparei com famílias que viviam numa quase completa condição de marginalidade. Estavam aparentemente longe de tudo. Trabalhei com essas comunidades e reparei sempre que, depois de um primeiro olhar, a ligação umbilical com o mundo de hoje estava presente", ele diz à Folha.
É dessa ligação que Vitalício, o líder do lugarejo, tenta se livrar. Mais precisamente, da lembrança que o mundo real lhe traz -a morte de Dordalma, mãe de seus filhos. A tentativa de apagar o passado é também uma fuga da guerra que, durante 16 anos, fez quase 1 milhão de mortos no país.
"Os moçambicanos escolheram o esquecimento. Quem hoje viaja pelo país não sente sinal nenhum dessa guerra. Esse esquecimento é uma sabedoria, uma percepção de que os demônios do passado ainda não foram enterrados. Mas é um falso esquecimento, como quase sempre sucede com os lapsos de memória", diz Couto.
No teatro
Os outros eventos de que o autor participa no Brasil são ligados ao teatro. Nesta sexta-feira, ele participa de um bate-papo no Sesc Avenida Paulista, onde está em cartaz a peça "O Outro Pé da Sereia", adaptada do romance homônimo do autor pela Cia. Fábrica São Paulo.
No dia 3 de julho, faz palestra no Sesc Ginástico, no Rio, dentro do Festlip -0Festival de Teatro da Língua Portuguesa (www.talu.com.br/festlip), que reúne 11 espetáculos de seis países.
ANTES DE NASCER O MUNDO
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 42 (280 págs.)
Lançamento: qui., às 19h, na Livraria Cultura do Cj. Nacional (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3170-4033)
Marcadores: literatura, livro, livros, Mia Couto
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