sexta-feira, abril 28, 2006

Ainda Eucaliptos

O ataque por parte de integrantes de mulheres da Via Campesina é um assunto espinhoso, pois mexe com a maior vaca sagrada do mundo atual que é a posse, praticamente incondicional, de propriedade privada.
Me parece que a invasão e destruição de mudas de eucalipto por parte de mulheres da Via Campesina era para ser um "evento espetáculo", como as manifestações anti-globalização de Seattle na década de 1990, ou a destruição de sementes transgênicas da Monsanto, também na década de 1990, aqui no Rio Grande do Sul. Como a invasão aconteceu durante a semana da mulher, cujo dia internacional é celebrado em 8 de março, e também durante um fórum das Nações Unidas sobre reforma agrária, aqui em Porto Alegre, um grupo de mulheres (semana da mulher) resolveu destruir o viveiro para ressaltar que a monocultura de eucalipto ocupava áreas que poderiam ser utilizadas para fins de reforma agrária e produção de alimentos, em lugar de papel.
A cobertura da imprensa porém não foi capaz de fazer essas inferições. De forma quase unânime e muito veemente condenou o "ato de vandalismo". É, foi mesmo um ato de vandalismo, mas não foi um ato de vandalismo gratuito. Queria-se chamar a atenção para algo. A imprensa chegou próxima da histeria: o ato de vandalismo não contribuía para a reforma agrária, trazia prejuízos aos proprietários, e poderia afugentar investimentos.
A estimativa dos prejuízos da invasão tem estado ao redor de 6 milhões de reais. Casualmente, dias depois da invasão a Aracruz publicou balanço com lucro de mais de 180 milhões de reais, referente ao ano contábil de 2005. Mantida a rentabilidade do capital, mais a correção de inflação estimada, uns 4%, menos esse prejuízo, a Aracruz poderá ter um lucro de 181 milhões em 2006.
A imprensa poderia ter refletido se essas plantações são mesmo a melhor opção de plantio, qual o lucro da comunidade ao redor com essa cultura. Coisas que não quis fazer. Essas reflexões ficaram para a imprensa alternativa de esquerda e alguns saites da Internet. Um pena. A imprensa poderia oferecer mais aos cidadãos do que apenas reações histéricas de condenação com as quais os donos de jornal não concordam.