terça-feira, setembro 02, 2008

AMERICANO NÃO SABE PERDER

DENVER, COLORADO - Já antecipo a minha defesa: não, não estou injuriado com a derrota do Brasil no vôlei masculino. Não vi o jogo. A NBC não passou ao vivo. Aqui funciona assim: eles guardam o jogo para o dia seguinte. Se os Estados Unidos ganharem eles passam na íntegra, com festa, entrega de medalhas e hino. Se os Estados Unidos perderem eles não passam. Juro por Deus.

Até o quadro de medalhas andou sumido da cobertura televisiva. Ainda que tenham mudado o jeito de contar as medalhas, desprezando as de ouro em benefício do total -- assim os Estados Unidos "ganhariam" de novo --, os americanos não querem dar o braço a torcer e admitir que a China venceu um número maior de medalhas de ouro.

Já antecipo minha defesa: não acho que alguém deva bater no peito pelo simples fato de ter nascido em latitude ou longitude diferente. Acho um porre essa história de ficar cantando "eu, sou brasileiro, com muito orgulho". É mais cafona que usar pochete. Gosto do esporte. Gosto de basquete, de atletismo, de futebol. Se o cara for bom eu gosto. Se o time for bom eu gosto. Além disso, essa história de recrutar criança no berçário para defender as cores do país acho que beira o fascismo.

Dito isso não posso deixar de notar a dor-de-cotovelo dos americanos. Quando eles perderam na ginástica trouxeram de volta o caso da idade provavelmente falsificada das ginastas chinesas. Não questionaram a vitória de Michael Phelps naquela decisão no mínimo controversa. Na TV, nem um pio. Os jornais, sim, mencionaram que a empresa de cronometragem da natação é patrocinadora de Phelps e publicaram as fotos que, na verdade, não provam que ele venceu.

O que me irrita, sinceramente, é a patriotada que beira o desrespeito. A rede NBC editou a disputa do salto em distância e conseguiu não colocar o salto da vencedora, embora tenha colocado uma imagem da comemoração. Até entendo que, por causa da audiência, eles escolham para transmitir os esportes nos quais os atletas daqui tenham maior chance. Mas, em nome do tal "espírito olímpico", deveriam admitir que eles não são os únicos vencedores. Essa mistura de patriotada com prepotência é que me irrita.

Texto do Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo.

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