terça-feira, maio 08, 2007

Homem-Aranha 3 - Softpower e Hardpower

E a propósito do Homem-Aranha, há um momento em que o super-herói fica, por uma fração de segundos, em frente a uma imensa bandeira dos Estados Unidos. Esta fração de segundo com o Homem-Aranha e o pavilhão estadunidense juntos seria um exemplo bem acabado do antigo poder de sedução que os Estados Unidos ofereciam para o mundo. Não que este poder de sedução tenha acabado, pois como diz um professor meu, nós continuamos em grande parte a assistir filmes produzidos por Hollywood; ouvir ou dançar, ou ambas as coisas, "rock 'n roll" (talvez o meu professou escrevesse roquinrol, ou roquinrou...), e vestir calças "jeans" e camisetas de algodão (esta maneira de vestir começou a ser propagada no final dos anos 1950, e como? pelos filmes de Hollywood!) .
O cientista político, e antigo assessor do Governo Federal dos Estados Unidos, Joseph Nye, afirma em seus livros que os Estados Unidos são a maior superpotência que existe atualmente, mas que para manter esta liderança, o país precisa utilizar ao máximo o "softpower", isto é, chamar outros países para parcerias, colaboração, desenvolvimento conjunto, e usar o mínimo de "hardpower", ou seja, intervenções militares puras e simples, intimidações, acusações e outros que tais. Eu certamente concordo com ele em muito do que diz.
E é justamente isto que parece tornar a exibição do pavilhão estadunidense em um filme algo anacrônico para a assistência que não seja cidadã dos Estados Unidos. Se em algum momento, a bandeira dos Estados Unidos esteve ligada a sistemas legais, busca por justiça, etc, desde a invasão do Iraque, e da criação do campo de detenção de Guantánamo, isto se desvaneceu. A invasão do Iraque foi baseada em falsos argumentos, e os detidos em Guantánamo vivem num limbo legal (casualmente quando o Papa Bento XVI encaminha a Igreja Católica para apagar qualquer tradição ligada ao limbo, aquele lugar para onde, segundo alguns, iriam as crianças que morrem sem consciência do pecado humano, mas também sem batismo. Ao renunciar a esta tradição o Papa se aproxima do senso comum da crença das igrejas protestantes em matéria de destino de crianças após a morte. Mas isto talvez seja assunto para um outro "post"), e lá estão detidos, alguns há sete anos, sem julgamento e condenações formais, porque o Departamento de Justiça resolveu rotulá-los de "combatentes inimigos ilegais". E recentemente o Departamento de Justiça encaminhou pedido ao judiciário para restringir o acesso de advogados aos detidos em Guantánamo, limitando o número de visitas, tendo acesso à correspondência trocada entre detidos e advogados, e restringindo o acesso a evidências que possam ser usadas como peças de acusação. O jornal The New York Times publicou editorial reclamando do Departamento de Justiça.
Pobre bandeira norte-americana. Pobre Homem-Aranha. Podiam não pagar este mico.
Talvez o diretor devesse ter duas versões para o filme. Uma com a cena para o público interno (para aqueles que acreditam de todo o coração que o país ainda representa justiça para o mundo. Ainda há pessoas que percebem que o país está perdendo, perdeu credibilidade com o governo Walker Bush.), e uma sem a cena para o resto do mundo. O Homem-Aranha vai salvar Nova York, mas não precisa do pavilhão para lhe fazer companhia naquela hora...

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