terça-feira, dezembro 28, 2010

Blake Edwards

Blake Edwards


O tempo é assim. A gente pensa consigo mesmo “daqui a pouco eu faço”, e lá se vão quase 15 dias.

O diretor de cinema Blake Edwards faleceu no dia 15 de dezembro passado.

Pouco sei da vida dele, fora que era diretor de cinema e casado com a atriz Julie Andrews.

Mas o que me levou a escrever, foi os poucos filmes que vi dirigidos por ele. E que também me fizeram rir. Em especial os da série da Pantera Cor-de-Rosa, da década de 1970, estrelados pelo também já falecido Peter Sellers. Foram (são) filmes muito engraçados.

Outro filme foi o engraçado e singular “Victor ou Vitória”, estrelado por Julie Andrews, onde ela fazia o papel de uma atriz que se fazia passar por homem, para alcançar o sucesso nos cabarés da Paris dos anos 1930, o que acaba por gerar uma tremenda confusão na cabeça do personagem vivido pelo ator James Garner.

Blake Edwards tinha 88 anos, e uma penca de filmes no currículo.

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Tenente Frank Derbin

Tenente Frank Derbin


O tempo é assim. A gente pensa consigo mesmo “daqui a pouco eu faço”, e lá se foi um mês.

Um mês já se foi desde a notícia do falecimento do ator Leslie Nielsen. Dizem os necrológios que ele faleceu em decorrência de pneumonia, aos 84 anos.

E então nós descobrimos que Nielsen tinha uma longa carreira em Hollywood, onde começou como ator “sério”, na década de 1950, onde atuou, por exemplo, num filme de ficção científica chamado “Planeta Proibido”.

Mas a verdade é que eu só me lembro dele, de filmes muito mais recentes, como “Apertem os cintos, o piloto sumiu”, da década de 1980, que é possível que eu tenha visto em fita de vídeo-cassete.

Com Mr. Magoo, que deve ter tido diversas reprises na TV aberta, ele protagonizou uma bela e engraçada adaptação do personagem de desenho animado com graves limitações visuais. Lá em casa virou bordão, uma frase onde um dos personagens pergunta “O Peru, está no Brasil?”, brincando com a anedótica ignorância dos norte-americanos de geografia (e do resto do mundo, também, ou você sabe a capital de Níger ou a do Lesoto). Em tempo: no filme se perguntava se o bandido Ortega Peru estava escondido no Brasil. Pois é, o Brasil como refúgio de criminosos também é lugar comum em filmes de Hollywood. Talvez, com razão?

Mas certamente minhas melhores memórias de Leslie, são as da série “Corra, que a polícia vem aí”, onde ele interpretava o tenente Frank Derbin. Foram muitas gargalhadas. Em especial, não me lembro em qual dos três filmes, uma cena em que Derbin / Nielsen se atrapalha com um criminoso disfarçado de cientista, preso a uma cadeira de rodas. Sempre sorrio, quando penso nela. A cena termina com uma “homenagem” ao filme “E.T., o Extraterrestre”, de Spielberg, no final.

O humor de Nielsen vai me deixar com saudades...

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Diretor Blake Edwards morre aos 88 anos

O cineasta Blake Edwards, famoso por comédias como "A Pantera Cor-de-Rosa", morreu na manhã desta quinta-feira. Ele tinha 88 anos e era casado desde 1969 com a atriz Julie Andrews, estrela de vários de seus filmes. Segundo seu agente, Gene Schwam, Edwards foi vítima de complicações provocadas por uma pneumonia. Andrews estava a seu lado no momento de sua morte.
break-->AserA série "A Pantera Cor-de-Rosa", cujo primeiro filme foi lançado em 1964, é o maior sucesso da carreira de Edwards. O longa ficou famoso pela música-tema, composta por Henry Mancini (outro parceiro constante do diretor), e pelo desastrado personagem principal, o inspetor Clouseau vivido por Peter Sellers. 
Nascido em 26 de julho de 1922, Edwards começou no cinema como roteirista e tornou-se conhecido primeiro na televisão, com a série "Peter Gunn". Seu primeiro grande sucesso na telona foi "Bonequinha de Luxo", estrelado por Audrey Hepburn. Ele foi contratado para dirigir o filme depois que o cineasta original, John Frankenheimer, foi demitido.
Além de "A Pantera Cor-de-Rosa", outros sucessos do diretor foram as comédias "Mulher Nota 10" (1979), "Vitor ou Vitória" (1982) e "Um Convidado Bem Trapalhão" (1968). Também dirigiu alguns dramas bem-sucedidos, como "Vício Maldito" (1962), com Jack Lemmon.
Seu último trabalho para o cinema foi "O Filho da Pantera Cor-de-Rosa", de 1993, com o italiano Roberto Benigni (de "A Vida É Bela") assumindo o papel que foi de Peter Sellers. O personagem foi revivido por Steve Martin mais duas vezes, em 2006 e 2009, filmes nos quais Edwards não teve qualquer participação. "Blake Edwards foi uma das pessoas que me fez amar comédia", escreveu Martin no Twitter, pouco depois de saber da morte.
Em 2004, ele ganhou um Oscar especial pelo conjunto de sua obra. Ao receber a estatueta, fez jus a seu título de gênio da comédia: apareceu no palco em uma cadeira de rodas em alta velocidade e simulou um acidente.


Esta notícia no IG Notícias, foi vista no blog do Luís Nassif

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quinta-feira, outubro 21, 2010

Tropa de Elite 2 - Opinião do Vladimir Safatle

Longa usa a lógica da guerra civil para discutir questão da segurança pública

Trama legitima violência policial e trata defesa dos direitos humanos como ladainha ingênua

VLADIMIR SAFATLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O diretor de "Tropa de Elite 2", José Padilha, é alguém que costuma dizer não gostar de filmes "cabeça".
No entanto, seu filme não quer ser apenas mais um thriller de aventura. Através das ações do coronel Nascimento, "Tropa de Elite 2" gostaria de dar sua versão a respeito da irredutibilidade do problema que mais atemoriza a classe média brasileira: a insegurança.
Nesta sequência, Nascimento vive um confronto intestino com um "intelectual de esquerda"; militante dos direitos humanos que, com seu discurso ingênuo, parece existir apenas para atrapalhar as ações duras, porém necessárias, do Bope.

MOLA DO CRIME
Um destes confrontos acaba tendo muita repercussão na mídia, o que leva o governo a deslocar Nascimento para uma subsecretaria de Segurança. Lá, ele descobre a verdadeira mola que alimenta o crime: a corrupção da polícia e seus vínculos orgânicos com a corrupção do poder político.
Nesta nova luta, ele poderá, ao final, reencontrar seu inimigo, tecer uma aliança com o intelectual de esquerda, agora deputado estadual. Aliança feita em nome da luta contra a corrupção do "sistema". Tudo termina em uma CPI contra as milícias.
Assim, depois de ter sido acusado pela imprensa internacional de fazer um filme "fascista", o diretor de "Tropa de Elite 2" parece querer se redimir mostrando ter consciência clara dos problemas representados pela polícia. No entanto, tal consciência apenas mascara o verdadeiro núcleo de sua "visão da sociedade brasileira".

TERRITÓRIO DE GUERRA
As ações violentas, as torturas sistemáticas contra "vagabundos", a compreensão das favelas como território de guerra, as balas perdidas, a humilhação cotidiana contra uma população que vê o Estado e seu aparato policial como inimigos: nada disso explicaria por que a polícia que mais mata no mundo nunca conseguiu vencer a luta contra o crime.
Na verdade, se o método truculento ainda não deu certo, isto seria resultado exclusivo da corrupção generalizada. Tanto é assim que, em dado momento do filme, ficamos sabendo que Nascimento conseguiu, com seu Bope reforçado por helicópteros, limpar uma favela do tráfico em uma operação que mais parece um video game onde cada tiro certo é um ponto.
Tudo seria perfeito se, depois, policiais corruptos não tivessem se aproveitado da nova situação para extorquir dinheiro da população.
Desta forma, neste país onde a polícia tortura mais do que na época do regime militar, a ideia de compreender problemas de segurança pública a partir da lógica de guerra civil parece ter se naturalizado.
Neste país, os intelectuais de esquerda ganhariam mais complacência dos produtores de blockbusters se abandonassem a "ladainha" sobre direitos humanos, escolhessem o lado da classe média assustada e abraçassem a causa monocórdia da luta moralizante contra a corrupção estatal.
Ao menos, eles serviriam para apagar a culpa pelo nosso desejo de violência.

Na Folha de São Paulo, de 18 de outubro de 2010.


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quarta-feira, outubro 13, 2010

Tropa de Elite 2 - Avaliação preliminar e sumária

No final de semana fui assistir o filme Tropa de Elite 2 no cinema.

Posso dizer que o filme é tão bom quanto o primeiro, isto é, quem gostou do primeiro filme, Tropa de Elite, de 2007, tende a gostar deste igualmente.

É um filme tenso. Quando saí da sessão percebi que estava com as mãos geladas, um sintoma meu de bastante tensão.

Contudo, penso que o diretor José Padilha começou a ficar ambicioso demais.

E, como ouvi outra pessoa, falar, é bem possível que em breve venhamos a assistir Tropa de Elite 3 nos cinemas.

Por enquanto era isso, espero ter condições de um comentário mais elaborado em breve.


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sábado, agosto 14, 2010

Indochina

O texto abaixo foi escrito para uma disciplina da faculdade de História.

30/06/2010.

Indochina

Este texto quer ser um pequeno comentário sobre o filme Indochina, produção francesa de 19921, procurando analisá-lo contra alguns textos de história que constam na bibliografia. Indochina foi um filme produzido em 1992 na França, que tenta reconstituir a vida de latifundiários colonos franceses na então Indochina Francesa, nos anos 1930. O filme demonstra a exploração dos trabalhadores locais pelos colonos franceses numa cultura de seringueiras. Também mostra como vai se estruturando o movimento de resistência, que por fim resultaria na independência do Vietnã, em 1954.

Desde que foi criado há pouco mais de cem anos atrás, o cinema estabeleceu uma profícua parceria com a História. Na ponta mais evidente desta parceria, o cinema foi muitas vezes buscar na História, a base para seus roteiros, para as histórias que queria contar. Mas não só isto. Por exemplo, já faz alguns anos, professores e alunos da Faculdade de História da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem produzido cursos de extensão de ciclos de cinema, em que são usados filmes para que se possa debater a História por trás do filme. Tanto a história relatada pelo roteiro do filme, quanto a história envolvida na época da produção da obra cinematográfica. No ano de 2010, o ciclo se chamou “USA, não ABUSA – os Estados Unidos da América em Tempos de Guerra”. Em 2009 o ciclo foi “A prova dos 9 – A História Contemporânea no Cinema”. O professor Cesar Guazzelli tem algumas palavras sobre História e Cinema, no livro que resultou do ciclo de 2009:

Numa certa maneira, podemos pensar em relação à ficção produzida pelo Cinema como aquela que nos traz a Literatura, ou seja, exigimos às obras produzidas num e noutro caso uma relação com a “verdade”. (...) Um bom filme, portanto, passaria também pelo critério de uma presumível veracidade. Se esta é uma discussão da qual não podemos simplesmente fugir, nos importou mais na seleção (...) a capacidade de reflexão e crítica que um filme ensejava do que propriamente um “retrato fiel” do passado. Portanto, interessa-nos prioritariamente o “contexto” em que foi gerado um determinado “texto”, e quem faz esta relação é necessariamente um autor.”2

Claro que isto nos leva para a discussão sobre as possibilidade de manutenção da “verdade”, e das relações entre História e Ficção (e Ficção inclui tanto a literatura quanto o cinema). E, se é certo que o historiador não pode descrever a “história tal qual aconteceu em seu todo”, ele certamente mantém um compromisso com a verdade, na medida em que as evidências sob sua análise lhe indiquem o que aconteceu na História. O ficcionista não tem esta preocupação, embora possa usar algum fato histórico como base para alguma narrativa que queira contar3. Mas é certo que historiadores e cineastas se propõem a criar narrativas, sendo que os primeiros tem mais compromisso com a verdade que os segundos. E ambos se propõem a recriar histórias. O historiador tenta recriar o passado a partir de suas fontes. O cineasta reconstruindo fatos que já aconteceram, com a capacidade de ilusão do cinema4.

Talvez seja Marc Ferro5 o historiador que mais popularizou o trabalho com cinema, e o que mais se destacou em propor metodologias para trabalhar com os filmes. E ele comenta que os historiadores a princípio relutaram em usar o cinema como objeto de sua análise. Contudo, acabaram por usá-la, e isso seria inescapável.

Este texto procurou trabalhar com o filme Indochina para buscar uma análise um pouco mais social da história da Indochina, sob ocupação francesa. O filme tem um recorte muito claro, se ambientando nos anos 1930, na cidade de Saigon, atual Ho Chi Min, e arredores, onde fica a propriedade da família de Eliane (a protagonista do filme, vivida por Catherine Deneuve). O texto é também uma tentativa de escapar das abordagens mais comuns quando se fala de história do Vietnã, que analisam as lutas de libertação nacional contra a França, ou as lutas de unificação e contra a ocupação dos Estados Unidos, após a libertação da França. Estas abordagens mais comuns invariavelmente acabam por falar de grandes homens (o líder Ho Chi Min, ou o general Giap, por exemplo6) ou de grandes batalhas (como Dien Bien Phu, onde a França sucumbiu e desistiu de tentar lutar contra a independência do Vietnã7). As pessoas acabam por constituir uma massa amorfa ou um assunto sem interesse nesse tipo de narrativa. Não que o filme também não faça esse tipo de “homogenização” dos personagens que não são os principais na narração (a narração do filme gira basicamente em torno de Eliane, sua filha adotiva Camille [Lin Dan Pham], e o oficial da marinha francesa Jean-Baptiste [Vincent Pérez]), mas pelo menos é possível vê-los e tentar analisá-los.

Assim, voltando ao filme, ele começa com um funeral, e a narrativa de Eliane sobre o que estava acontecendo. O funeral é dos pais de Camille, amigos de Eliane, vitimados por um acidente aéreo. Camille é uma menina indochinesa, que Eliane acaba por adotar. Ambas as famílias possuíam vastas propriedades onde cultivavam seringais, para extração de látex. Com a adoção de Camille por Eliane, as propriedades são unidas. Afinal Eliane não tem outros filhos, além de Camille. Tudo viria a ser dela. Nas palavras de Eliane, um tempo em que certas coisas deveriam estar para sempre associadas, como “o mar e a montanha”, “a Indochina e a França”. É uma primeira alegoria do filme. Haverá outras. Neste caso, a adoção de Camille por Eliane simboliza a união da Indochina e da França. Claro que associar esta adoção com a “adoção” da Indochina pela França é uma “liberdade poética” bastante forçada por parte da produção do filme, uma vez que a Indochina foi submetida a ferro e fogo à dominação francesa.

Uma outra alegoria logo se apresenta no início do filme. O pai de Eliane lidera uma equipe de remo formada pelos trabalhadores indochineses de sua fazenda contra uma equipe de marinheiros franceses. A crença da superioridade racial francesa faz com que um oficial da marinha francesa aposte que seus marujos ganharão da equipe formada por trabalhadores indochineses. Mas eles perdem. Mais uma alegoria. Os franceses em nada são superiores aos indochineses, portanto podem ser vencidos (e fatalmente serão).

O filme nos apresenta as condições de trabalho nas fazendas de cultivo de seringais. Elas não são boas. Os funcionários são apresentados de maneira que os aproxima de condições de vida miseráveis. E em um momento a protagonista Eliane aplica castigo físico a um dos trabalhadores, pois, segundo parece ele tentou fugir da fazenda. O que nos remete a situação análoga à escravidão.

E temos Saigon e seu calor. O calor da Indochina é muito presente no filme. E ele é bem real. Recente notícia sobre as comemorações de 35 anos da unificação do Vietnã, realizadas no último dia 30 de abril, informa que os desfiles e manifestações em Ho Chi Min (antiga Saigon) tiveram que se desenrolar entre 6:30 h e 9:30 h da manhã porque este era o horário mais propício. Além das 9:30 h a temperatura tende a se tornar quase insuportável para atividades físicas realizadas ao ar livre8.

Num leilão, Jean-Baptiste conhece Eliane. Ele quer adquirir uma peça que ela também quer. E ela tem muito mais poder financeiro que ele para adquirir a tal obra. Mas ela não cede a peça a ele. Dias mais tarde, por força de uma questão de consciência dele, Jean-Baptiste aparece na propriedade de Eliane. Entre eles surge uma explosiva relação amorosa, que se prenuncia ruinosa para ambos. Ruinosa mas irresistível, como num bom drama.

Num outro incidente é Camille quem virá a conhecer Jean-Baptiste. Ela caminha com colegas do colégio católico francês para meninas por uma rua por onde são transportados prisioneiros. Dois dos prisioneiros tentam fugir, mas são abatidos a tiros pelos policiais que os escoltam. Um dos prisioneiros cai por cima de Camille que desmaia de susto. Ela é retirada da rua por Jean-Baptiste que passava por ali. E, como adolescente, acaba por se apaixonar por ele.

Quando Eliane descobre que Camille está apaixonada por Jean-Baptiste, ela arranja junto aos oficiais da marinha francesa para que ele seja transferido para um posto no norte da Indochina, Haiphong (Haiphong é um porto no norte do Vietnã).

Camille toma um casamento de fachada para sair da casa da mãe, mas de fato vai ao norte do país à procura de Jean-Baptiste. Didaticamente é uma jornada em que Camille irá descobrir sua identidade vietnamita, a realidade de seus concidadãos, e a realidade do imperialismo francês. Em seu caminho ela passa pela construção de uma linha ferroviária, com mão-de-obra indochinesa semi-escrava. Ali Camille encontra uma família que foge do trabalho na construção da ferrovia, mas não tem alternativa de sustento em sua própria aldeia. Precisa ir ao norte, à Haiphong, onde camponeses se apresentam à traficantes de mão-de-obra, para trabalhar nas culturas do sul. Um dos personagens do filme chama este evento, mensal, de “feira dos escravos”. É ali que Jean-Baptiste reencontrará Camille. E a abraçará. Um abraço entre um francês e uma indochinesa é um ultraje para os franceses ali presentes, que consideram a manifestação de carinho um mau exemplo para os camponeses que deverão ir para o sul. Além disso, Camille descobre que a família que ela acompanhara até Haiphong foi morta. Segundo os franceses ali, a família participou “da promoção de um motim” entre os camponeses indochineses. O incidente se avulta a tal ponto que Camille pega um revólver, e mata um oficial francês ali. Jean-Baptiste e Camille fogem. Ele deserta. Acabam sendo encontrados por membros da resistência vietnamita do extremo norte do país. E se juntam à esta resistência. Camille engravida de Jean-Baptiste. Eles se juntam a uma célula da luta anti-imperialista que se traveste de saltimbancos que vão de aldeia em aldeia no norte do país. Nas aldeias, estes “saltimbancos”(isto é, guerrilheiros disfarçados) vão procurando eliminar a elite mandarim que foi cooptada pelos franceses, e servia de intermediária entre os franceses e os camponeses.

Camille dá a luz a um menino. Quando Jean-Baptiste se afasta um pouco do grupo para batizar o filho é preso por soldados franceses. Camille foge. Com a prisão de Jean-Baptiste, o filho dele e de Camille é entregue a Eliane.

Posteriormente Camille também é presa, e vai parar em Poulo Condor. Poulo Condor é uma colônia de trabalhos forçados, onde de fato foram presos muitos indochineses pró-independência9. De lá sairá para renunciar a seus laços familiares, e se engajar a fundo na luta pela independência do Vietnã. E aqui há outra alegoria. O rompimento de Camille e Eliane é sinal do rompimento do Vietnã com a França.

Diante da resolução de Camille, Eliane resolve vender as propriedades da Indochina e mudar-se para a França, levando consigo seu novo filho adotivo, o filho de Camille e Jean-Baptiste. Ela que no início do filme havia dito que não conhecia a França. Nunca havia saído da Indochina.

Há muitos elementos reais no filme. Já citamos as precárias condições dos camponeses, que se submetiam a se tornar mão-de-obra barata e semi-escrava nas mãos de colonos franceses, ou mesmo de alguns indochineses ricos e cooptados. Os colonos podem bem ser aquilo que deles diz Panikkar, “persuadidos que a dominação européia, mediante uma hábil união de firmeza e conciliação, poderia ser prolongada indefinidamente”10. Esta é madame Eliane Devries.

Da fato, a França promoveu alguns cultivos no Vietnã. Além do milenar arroz, a seringueira, e em menor escala o café e o chá11. Seringueiras eram o cultivo principal nas fazendas de Eliane Devries.

As lutas pró-independência do Vietnã parecem bem representadas. O mesmo Panikkar fala do “terrorismo como método”12, assim como Ruscio fala de insurreições13. Ambos (terrorismo e insurreições) reprimidos com mão pesada pelas autoridades coloniais francesas enquanto estas tiveram força para reprimir.

Dito tudo o que foi dito, voltamos à questão sobre cinema e história. O filme serve como aprendizado da história? Sim e não. Sim, se junto com o filme o espectador tem acesso a outras obras, estas sim “de história”, que lhe dêem um quadro histórico adequado, onde ele possa apreciar, ou criticar, as recriações que o filme faz. Não, pois o filme não foi produzido com o fim específico de ensinar história, mas para distrair a multidão de espectadores que se dispuserem a assisti-lo. Distração, emoção... Estes são os motivos do filme. Filme este que inclusive alguns poderão pensar que é saudosista em relação ao passado colonial francês.

Bibliografia:

A BELA da selva. Veja, São Paulo, Edição 1.281, Ano 26, n. 13, p. 101, 31 de março de 1993.

ALTMAN, Breno. Vietnã celebra 35 anos da vitória contra os EUA. Disponível em <http://operamundi.uol.com.br/materias_ver.php?idConteudo=3881>. Acesso em 30/04/2010.

BROCHEUX, Pierre. O Colonialismo Francês na Indochina. In: FERRO, Marc. O Livro Negro do Colonialismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

DELMAS, Jean. Indochina 1946-1950: As Raízes da Guerra. História Viva. São Paulo, Ano II, n. 15, p.62-71, janeiro 2005.

FERRO, Marc. O filme, uma contra-análise da sociedade? In: Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p.79-115 [especialmente p.79-88]. [1a. ed. francesa: 1977; o texto em questão é de 1971]. Disponível em <http://www.anpuh-sc.org.br/ferro1_cinema_historia.pdf>. Acesso em 24/06/2010.

GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos. História e Cinema, Noves fora? In: GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos [et al] (Org.). A prova dos 9: A História Contemporânea no Cinema. Porto Alegre: Suliani Letra e Vida; EST, 2009.

INDOCHINA. Direção: Régis Warginier. Roteiro: Catherine Cohen, Louis Gardel, Erik Orsenna e Régis Warginier. Intérpretes: Catherine Deneuve, Vincent Pérez, Lin Dan Pham e outros. Drama, 156 min. França, 1992.

INDOCHINA. IMDB - The Internet Movie Database. Disponível em <http://www.imdb.com/title/tt0104507/>. Acesso em 21/06/2010.

PANIKKAR, K. M. O Sudeste Asiático. In: PAKIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

RODRIGUES, José Alfredo. Joana d'Arc na Peça Henrique VI, de Shakespeare. Porto Alegre: UFRGS, 2008. Monografia.

RUSCIO, Alain. Vietnã: Um Século de Lutas Nacionais. In: FERRO, Marc. O Livro Negro do Colonialismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

VIETNÃ. In: Grande Enciclopédia Delta Larousse. São Paulo: Nova Cultural, 1998. V. 24, p. 5945-48.

1Ver Indochina (1992) na bibliografia.

2Guazzelli (2009). P. 10.

3Desenvolvo um pouco desta discussão em meu trabalho de conclusão. Ver Rodrigues (2008). P. 7 e seguintes.

4E aqui estamos falando em filmes que busquem reconstruir o passado de alguma maneira. Obviamente uma obra de ficção científica narrando uma aventura no espaço sideral não é o caso aqui.

5Ferro (1992).

6RUSCIO (2004). p. 435.

7VIETNÃ (1998). p. 5947.

8ALTMAN.

9Brocheux (2004). P. 417.

10Panikkar (1977). P. 221.

11Brocheux (2004). P. 406.

12Panikkar (1977). P. 221.

13Ruscio (2004). P. 433, 434.


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quarta-feira, julho 21, 2010

Érika Mader - relembrando Apenas o Fim

Érika Mader - relembrando Apenas o Fim


Pois quando escrevi sobre o filme Apenas o Fim”, que foi estrelado por Érika Mader e Gregório Douvivier, eu me perguntei se Érika Mader seria a irmã mais nova da Malu Mader.


Pois bem, quinta-feira (15/07/2010) a coluna Outro Canal informou sobre a moça. Ela é sobrinha da atriz Malu Mader. E está trabalhando numa série chamada “Na Lama e na Fama”, no canal por assinatura Multishow.


Era isso.


17/07/2010.

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quinta-feira, março 18, 2010

Sobre Avatar

Eu não ia nem assistir Avatar. Eu não me interesso muito por filme de fantasia. E nem me interessava por ficção científica. Cada vez me interesso mais. A nossa sociedade foi ficando tão boba e os anseios ocidentais são tão idiotas que só filmes desse tipo dão conta de retratar toda a estupidez do imaginário. Eu gostei demais de Avatar, esse é o ponto. Primeiro por conta desse negócio de fazer o avatar dos nativos. E toda essa construção que a gente tem de diferença eigualdade através do corpo. É sempre a partir disso que vamos montando o nosso quadro de afinidades. E aí pra ser na'vi você tem que ser azul. E depois, no final, aquilo de tentar levar acientista e o Jake pro corpo dos na'vi pra sempre e tal. Veja que eu pensei mesmo que Shrek e mesmo A Bela e a Fera eram um marco da superação do corpo. E volta esse resgate todo e tals. Eu gosto muito disso, de olhar pra isso. Mas o melhor do filme, pra mim, foi constatado a partir de um comentário do meu irmão. Que assistiu comigo. Quando avisam os na'vi que os americanos vão invadir. E eles não temem o suficiente. Meu irmão disse "esses na'vi são uns tontos, eles tem que fugir". E eu acho que esse é o xis da gaita de todos esses filmes a respeito daeliminação sistemática do Outro. É que o Outro nunca tem a menor ideia. Do tamanho da maldade na nossa cultura. O quanto somos capazes de ser maus e de não ter escrúpulo. Acho que a gente relativiza tanto pra dar conta mesmo. Da nossa flexibilização moral. Que é quase infinita. E então ninguém é tonto. Nem na'vi nem Incas nem ninguém. Eles apenas não conseguiram imaginar o tamanho do Mal. Porque é realmente uma construção social muito bem engendrada, a nossa maldade. Ela não é da natureza humana. Nós tivemos um trabalho imenso para construí-la e isso nos tornou imbatíveis mesmo. Todos os confrontos com o Ocidente simulam algum tipo de combate inteligível, né? Então temos os EUA fazendo isso e o Iraque respondendo com aquilo. Uma coisa assim. E de repente. Degringola. Todo mundo se lembra da primeira noite de ataque dos EUA ao Iraque. Aquilo que põe fim a qualquer tentativa de interação etc. É avassalador. E com tudo é assim. A empresa vai lá e conversa com a aldeia de pescador. E o líder dos pescadores fala isso, o porta-voz da empresa fala aquilo. E aí panz. Num belo dia são tratores e motosseras passando por cima. E eu acho que é isso que mais incomoda todo mundo por aqui. A gente sabe que toda negociação, todo diálogo é uma ilusão. E aí aquelechefe dos fuzileiros no filme. Impaciente com a simulação. E ele fica num papel de vilão, mas na verdade é o herói. Porque todo mundo ali conhecia o desfecho e só ele tratava com transparência. Então eu gostei muito de toda essa construção no filme. Que a gente já sabe o desfecho e assiste ele ser adiado e tals. Como todo mundo, eu acho que o final não deveria ter sido feliz. E embora eu ache que ainda é recorrente, discordo demais do "amor pela natureza"como alternativa para a maldade. Parece ser a única que encontramos. E então o final é sempre pobre. Se eu acho que a eliminação do Outro pelo ocidente deve ser ainda discutida, considero que precisamos de outras alternativas para o incômodo. E eu não tenho ideia de qual seria. Os dois focos de resistência "humana"* também me agradaram. A cientista pelo motivo óbvio. Oirmão da Phoebe chega a verbalizar. Essa merda paga a sua ciência. E isso é um ponto. Porque essa ideologia de combate à maldade através da natureza, acaba combatendo a própria ciência. A gente sabe que a ciência é o maior pilar do capitalismo e não é possível que ela seja usada para outros fins que não o da eliminação dos obstáculos para o capital. Introdução ao marxismo de boteco, eu sei. Mas é a pura verdade. O Jake porque os motivos dele são todos extremamente individuais. Primeiro ele quer andar. Depois ele se apaixona por uma na'vi. O único papel que vale a pena é o da moça que pilota o helicóptero. Ela seria a única antissistêmica. E veja que ela não fez papagaiada de vestir avatar azul nem nada. Ela apenas se opôs e tal. Como a gente pensa que faz. Nós pensamos que essa lógica da maldade acontece fora da gente e tal. Enfim. Eu gostei do filme por esses motivos. E por aqueles outros. Eu gostei da rede em que eles dormem. E dos troncos da floresta. Achei bonito.

*Na verdade, humanos norte-americanos.

Origem: A Feminista.

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terça-feira, março 02, 2010

Invictus - O que pode ser maior?

A versão da história recente da África do Sul que nos conta Clint Eastwood em seu filme Invictus diz que em meados dos anos 1990, Nelson Mandela procurava unir o país, extremamente cindido entre os brancos, principalmente os africâners, descendentes de holandeses que se estabeleceram na região desde o século XVII, e a maioria negra. E para isso ele utilizará o Copa do Mundo de Rugby.

Acontece que a seleção sul-africana de rugby era extremamente identificada com a minoria branca, que se beneficiara do recentemente extinto regime do apartheid. Sobre isso, há no início do filme uma partida amistosa entre a seleção inglesa e a sul-africana. Mandela vai prestigiar a partida. Mas, na torcida, o time sul-africano recebe apoio da minoria branca. Os poucos negros sul-africanos presentes no estádio torcem pela Inglaterra.

Mandela então, toma medidas para unir o país em torno desta seleção. A Copa do Mundo de Rugby de 1995 deveria se realizar na África do Sul. A princípio o time sul-africano parecia fraco. E a maioria negra não parecia muito interessada no rugby. Estava muito mais interessada no nosso futebol. Mas Mandela estava determinado. Repele praticamente uma moção do seu partido para que as configurações de uniforme da seleção do país seja extinta. Convoca o capitão da equipe sul-africana para tomar chá e chamá-lo à "grandeza". Manda a equipe fazer divulgação entre a população negra e pobre do país.

E os planos funcionam. Pelo menos no filme. Aquela seleção, a princípio desacreditada, conquista pela primeira vez a Copa do Mundo para a África do Sul. E a população sul-africana, toda ela, sai vibrando pelas ruas do país, após a conquista. Afinal, o que pode ser maior que a conquista do Copa do Mundo? E, é claro, a gente sai do cinema se sentindo muito bem.

Mas há algo que me incomodou: o tom excessivamente professoral, ou a excessiva postura, digamos, de estadista do Mandela encarnado pelo ator Morgan Freeman. Ele é constantemente posto a falar de perdão, reconciliação, e viabilização da nação multi-colorida (quanto à pele). Está certo que Mandela tinha base moral para chamar seus concidadãos ao perdão e à reconciliação, afinal ele mesmo havia passado trina anos nas cadeias do apartheid, por conta de sua militância, mas este papel de Mandela no filme me pareceu meio excessivo. Não só eu: "É possível, ou desejável, perdoar tudo? Em que medida certas iniciativas de reconciliação não são simplesmente impotência para punir os culpados? Perdoar é o mesmo que esquecer e apagar a memória dos crimes passados? " . Esta palavras entre as aspas são de Maurício Santoro, no seu blog Todos os Fogos, o Fogo.

Mas, de qualquer maneira, mostra como o esporte pode servir para aliviar conflitos sociais. Nenhuma novidade aí. Se pensarmos em futebol, desde a Copa do Mundo de 1934 os fascistas já se aproveitavam da união nacional que o esporte pode proporcionar. Em tempos recentes, podemos lembrar das ditaduras brasileira e argentina nas copas de 1970 e 1978 respectivamente. Ou a Alemanha recentemente reunificada comemorando a conquista da Copa de 1990.

Para além de tudo, o filme torna o rugby, um esporte até simpático. Para mim, era francamente coisa de brutamontes. E, a propósito, você sabia que a África do Sul ganhou novamente o título da Copa do Mundo realizada em 2007, na França? E no ano que vem haverá nova edição da Copa de Rugby, na Nova Zelândia?

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segunda-feira, março 01, 2010

Sherlock Holmes - vale a pipoca

Fui ver Sherlock Holmes, a versão de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. no papel título, e Jude Law como o Dr. Watson.

Não quero me estender muito aqui. Apenas algumas impressões. Nesta versão, Sherlock não é muito dado à higiene, ao contrário do parceiro Watson, um homem aparentemente limpinho, e extremamente elegante.

Mas ambos são muito cerebrais.

E a recriação daquela Londres da segunda metade do século XIX é muito impressionante.

E as cenas de luta, como deveriam, são muito impactantes.

Como eu disse no título, vale a pipoca.

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quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Outros dois centavos sobre Avatar

Outros dois centavos sobre Avatar


Muita gente já falou sobre o recente filme Avatar, do diretor James Cameron. Aqui vão as minhas impressões entre a repetição de idéias já espalhadas por blogues e saites da Internet.



Antes de mais nada vamos falar sobre a palavra Avatar, que segundo o dicionário eletrônico Michaelis está ligada à encarnação de divindades em homens ou animais no hinduísmo, mais das vezes, por parte do deus Vixenu. De fato não conheço nada da teologia hindu, assim penso em paralelos com a mitologia greco-romana, onde os deuses se transformavam para se manifestar aos mortais. Então é isso, avatar é uma máscara, uma maneira de se apresentar. Nos videogames são “avatares” que representam o jogador junto ao ambiente da realidade virtual do jogo. E é uma máscara o corpo pelo qual humanos entram em contato com o povo que habita Pandora, que afinal é o mote de nosso filme. E, é claro, há ainda um desenho animado chamado “Avatar, a lenda de Ang”, mais ou menos popular entre a garotada, que mistura reinos que se digladiam e um menino que pode vir a trazer a paz ao mundo, entre artes marciais e um mundo assemelhado à cultura do extremo oriente, em especial a chinesa.


No filme de Cameron, avatares são corpos produzidos sinteticamente com DNA de seres humanos e dos seres nativos deste planeta Pandora, chamados Na'vi. Os corpos sintéticos são controlados pela “projeção da mente” de seres humanos neles. Um sistema interessante. Os humanos “dormem”, e controlam o corpo de seus avatares como se sonhassem. O que nos remete em parte para o livro de Gênesis, onde Deus fez primeiro corpos sem vida, a partir do barro, e então “soprou neles o espírito da vida”. Remete também à trilogia Matrix, onde seres humanos tinham seus cérebros ligados ao mundo virtual da Matrix. Eu poderia falar do romance Neuromancer, mas infelizmente não o li.


Dito o que já foi dito até agora, sobre o que seria o filme? A atriz Sigourney Weaver, a Dra. Grace do filme, disse que o filme é uma história de amor. Uma colega minha, depois de ver o filme, disse a mesma coisa. O Hermenauta fala em “uma instância do tema “going native”. Going native? Se lembra de Lawrence da Arábia, ou de “Um Homem Chamado Cavalo”? É mais ou menos por aí...

Jake Sully, um ex-fuzileiro naval americano que ficou paraplégico, deve participar de um experimento científico, com os avatares referidos no início do texto. Ele vai substituir seu irmão gêmeo, que era um cientista envolvido no projeto, mas foi morto em um assalto. O ano é 2154. O planeta Pandora é um planeta com clima quente (pelo menos na região mostrada no filme), que tem uma flora exuberante (novamente, no filme vemos o que chamaríamos de uma floresta tropical na Terra dominando o ambiente), e é habitado por uma fauna que tem semelhanças com os animais terrestres. Curiosamente muitos exemplares desta fauna tem seis membros em lugar dos quatro que são normalmente encontrados entre os vertebrados terrestres. Imagine cavalos com seis patas, rinocerontes com seis patas, grandes felinos com seis patas, macacos com duas pernas e quatro braços. E há também um grupo de bípedes inteligentes, com pele azul e estatura imensa, o povo na'vi. E eu me pergunto porquê os na'vi não desenvolveram quatro membros superiores além das duas pernas como tantos membros da fauna de Pandora, inclusive aqueles equivalentes aos macacos terrestres. Bom além disso, o planeta Pandora tem uma flora “Rave XXXperience”, como diz o Gizmodo Brasil.


E há Eywa, a deusa-espírito que anima o planeta, e com o qual todos os seres vivos do planeta estão conectados. Eywa é a deusa e a alma do planeta. O que lembra a “Hipótese Gaia”, de James Lovelock.


Os humanos não estão em Pandora apenas para admirar suas belezas e realizar experimentos científicos puros. Eles estão lá também para explorar as riquezas minerais do planeta. No filme há um mineral que deve ser uma riquíssima fonte de energia, para uma humanidade que continua sedenta de energia.


Um veio imenso do tal mineral está sob uma árvore gigantesca que serve como moradia a uma das tribos na'vi. Jake Sully deve se infiltrar e convencer os nativos a abandonar a área para que o mineral possa ser extraído, sob o risco dos na'vi serem expulsos ou dizimados pelos humanos.


Só que o espião e agente secreto vai se envolvendo com os nativos, se encantando com o novo planeta, e acaba se voltando contra os humanos invasores.


E há várias associações no filme.


Os na'vi parecem muito com nativos americanos (índios), ou com africanos antes da expansão colonial européia sobre o Continente Negro. A destruição da casa-árvore me lembrou algo que uma vez eu ouvi sobre um certo caminho das lágrimas percorrido por índios da América do Norte.


Lá pelas tantas o coronel, chefe dos militares-mercenários do filme, fala em “terror preventivo”, ecoando a retórica do governo George W. Bush, que gerou as invasões dos Estados Unidos ao Afeganistão (2001) e Iraque (2003).


E a questão de energia continuaria sendo um motivo de guerras, afinal um dos militares de filme fala de ter servido na Nigéria, e outro na Venezuela. Não deve ser coincidência estes nomes. Ambos os países são grandes fornecedores de petróleo nos dias de hoje.


E há uma ironia com o sistema de saúde nos Estados Unidos. Afinal é possível concluir que a medicina da metade do século XXII é capaz de fazer um paralítico voltar a andar, mas o soldo de um ex-marine não pode pagar por tal milagre.


Dito isto, há as tecnicalidades. O filme 3D é ótimo! Há momentos deslumbrantes, e, obviamente, momentos em que parece que alguma coisa vai sair da tela e nos atingir. Eu vi o filme duas vezes, uma na versão legendada, e a outra dublada. Quando assisti à versão dublada, onde me foi possível me concentrar mais nas imagens, tive instantes de mal-estar e enjôo. 3D no cérebro!


E eu fiquei torcendo para que construam logo um cinema imax aqui em Porto Alegre.


E este filme é uma fantasia fascinante. Praticamente tudo ali é fantasioso, falso. O planeta, o povo na'vi, os animais, inclusive as máquinas voadoras dos humanos, mas nós aceitamos a realidade delas. A ilusão do cinema é elevada a um novo patamar com o filme Avatar.


E eu saí do cinema com essa sensação de encantamento. Uma sensação de bem-estar. Deve ser por isso que li uma crítica moralista contra o filme, que, em resumo, acusaria o filme de ser um anestesiante para a realidade social adversa que nos rodeia. Segundo esta crítica, os espectadores sairiam da sala de cinema tão felizes ou satisfeitos com a justiça prevalecente no filme, que não precisariam ou quereriam mudar esta realidade acre em que vivemos. Quase senti o autor igualando filme de Cameron (e talvez certo tipo de cinema) à religião citada como ópio por Marx. Neste caso, certamente um exagero.


E estes foram os meus dois centavos sobre Avatar.


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segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Mochila Vazia - "Up in the Air"

Mochila vazia

SÃO PAULO - Ponha "Avatar" de lado. George Clooney é Ryan Bingham, executivo de uma empresa especializada em demitir funcionários de outras corporações. Esse demitidor de elite é o protagonista de "Up in the Air" ("Amor sem Escalas" na destradução local), filme de Jason Reitman que estreia hoje.
Entre uma demissão e outra, o personagem vive no avião. Sua obsessão é atingir dez milhões de milhas no ar. "No ano passado, tive que aguentar 43 miseráveis dias em casa", contabiliza. Profissão, estilo pessoal e filosofia de vida se fundem na sua figura descompromissada.
Em suas viagens, ele promove o "way of life" que personifica em palestras motivacionais sobre "Como Esvaziar a Sua Mochila". O segredo consiste em fazer a plateia sentir quanto pesam as tralhas materiais e os laços afetivos acumulados ao longo da vida.
Bingham vê seu mundo ameaçado quando Natalie (Anna Kendrick), uma jovem executiva, sugere um método mais econômico de cortar cabeças: por teleconferência. Ambiciosa e provinciana, Natalie confidencia que, ainda adolescente, imaginava chegar à casa dos 20 casada com um executivo de sucesso, dirigindo um jipão da moda, com filhos e cachorro de raça na bagagem.
Seu ideal de vida convencional contrasta com o cinismo cosmopolita de Alex (Vera Farmiga), versão feminina de Bingham, a parceira perfeita para um bom papo e uma noite de sexo casual num cinco estrelas. As coisas, porém, não são tão fáceis como parecem. Mas guardemos o final, antes que o leitor demita o colunista pela internet.
As demissões (e os demitidos, todos colhidos na vida real) ocupam só o pano de fundo da trama. Ainda nos anos 90, o psicanalista francês Cristhope Dejours escreveu um livro ("A Banalização da Injustiça Social") discutindo as razões que levam pessoas ditas "de bem" a aceitar fazer o "trabalho sujo" e cometer crueldades contra terceiros. A "banalidade do mal" no mundo corporativo era seu tema. "Up in the Air" arranha essa ferida.

Comentário de Fernando de Barros e Silva, na Folha de São Paulo, de 22 de janeiro de 2010.

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quinta-feira, janeiro 21, 2010

Hanami – Cerejeiras em Flor

Hanami – Cerejeiras em Flor


Neste final de semana fui assistir ao filme Hanami – Cerejeiras em Flor. É uma produção alemã de 2008, sendo exibida num horário restrito no Unibanco Arteplex: uma sessão por dia, às 19 h 20 min. Resolvi assistir porque é um filme que é ambientado em parte no Japão, e o Japão tem algo de estranho e magnético para mim.


A chamada do filme, no folheto de divulgação da sala de cinema fala de uma mulher madura que fica sabendo da doença terminal do marido através de dois médicos, que supostamente o acompanharam em algum tipo de “check-up”. Eles a questionam se ele teria estrutura psicológica para receber a notícia. Eles também não sabem quando a doença manifestará seus sintomas.


Ela resolve não dizer nada ao marido. Convida-o para viajar. Visitar os filhos em Berlim (eu suponho que o casal viva em algum lugar da Baviera, próximo aos Alpes), fazer aquela viagem há tanto adiada ao Japão.


O casal se dirige a Berlim, onde vivem dois dos três filhos (o terceiro vive em Tóquio). Em Berlim, não como não notar que o casal é tratado pelos filhos como um estorvo. Quem melhor os trata, não é nenhum dos filhos, mas uma nora...


Depois de alguns dias em Berlim, o casal resolve ir à praia, ao Báltico. Há muito tempo não faziam isto.


E mais além disso, não dá para dizer sobre o filme, sob pena de estragar o prazer e as surpresas que os filme reserva aos seus espectadores. E ele reserva de fato algumas surpresas.


Claro que restringir a narrativa apenas até este ponto, torna um pouco este comentário meio sem sentido.


Falar em prazer estético, dizer que o filme é emocionante, que o filme é comovente acabam parecendo meio sem sentido.


Mas, bem, é para isso mesmo que estou escrevendo. Para dizer que o filme é emocionante e comovente. E eu fiquei emocionado. E pude perceber que não fui o único na platéia que ficou emocionado com o filme. Claro que a proposta da diretora, Doris Dorrie, era mexer com nossas emoções, mas fazer o quê?


E, sim, o filme tem locações no Japão. Mostra Tóquio como a megalópole que de fato ela deve ser. E lá estão as cerejeiras, e também o Monte Fuji. Um pouco daqueles estereótipos sobre o Japão, mas tudo me pareceu extremamente no lugar na proposta do filme, exceção talvez à atriz de teatro butô, fluente em inglês (mas este detalhe não tem importância para mim).


Um filme muito marcante.



18/01/2010.

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terça-feira, dezembro 15, 2009

2012

2012


Você viu o filme O Dia Depois de Amanhã (“The Day After Tomorrow”, 2004), do mesmo diretor Roland Emmerich? Era muito melhor.


Eu tive opiniões positivas e negativas sobre o filme. Uma, positiva, veio de uma pessoa que mostrou certo entusiasmo pelo filme, e acrescentou que era “efeitos especiais o tempo inteiro”. Outra pessoa não foi tão assertiva, e disse que o filme misturava efeitos especiais impressionantes junto com “um pastelão”.


Bom, pastelão para mim sempre foi ligado a comédias, mas eu acho que a pessoa quis dizer que a história do protagonista do filme, Jackson Curtis, vivido pelo ator John Cusack, e que guia o espectador através da filme-catástrofe é tão inverossímil que parece uma comédia. De fato a fuga através de São Francisco, e depois a fuga em Yellowstone, são coisas que de fato se pode chamar de pastelão.


Mas infelizmente o filme em alguns momentos vai mais para o melodrama que para a comédia.


E o problema é que os efeitos visuais impressionantes não são capazes de segurar o filme. E curiosamente eles sempre se apresentam de maneira que a, digamos, fúria da natureza faça o maior número de vítimas possível.


Sem contar que a catástrofe demonstrada é difícil de convencer. Terremotos afundando a Califórnia no Pacífico, tsunamis inundando o Himalaia, e tudo isso em um ou dois dias?


Bom, sempre dá para dizer que o filme é uma ficção, e não tem compromisso necessário com a realidade, mas vamos e venhamos...


Seria bom se no pacote do inevitável DVD viesse alguma explicação plausível para as demonstrações do filme. Melhor ainda, um documentário sobre as possibilidades de um aquecimento do núcleo da Terra fazer com que a crosta se desloque, e faça com que o que hoje conhecemos como Wisconsin venha a ficar no pólo sul.


Exagero pouco é bobagem!...


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terça-feira, dezembro 08, 2009

Distrito 9

Distrito 9

Já faz algum tempo que assisti o filme Distrito 9, ficção científica sul-africana um pouco diferente, vamos dizer assim.


E por ser diferente, já ouvi manifestações curiosas. A primeira foi de meu filho que me acompanhou ao cinema naquele final de semana. Ele ficou indignado com o tratamento indigno dispensado aos extra-terrestres que resolveram aparecer em Joanesburgo.


Outra foi no blog do Hermenauta. E, no caso, me chamou a atenção que ele tivesse prestado atenção que as armas dos extra-terrestres só podiam ser acionadas por código genético de usuários extra-terrestres, mas essa seria uma limitação que a tecnologia humana, sul-africana inclusive, teria condições de contornar.


Em mim, o efeito foi diferente. Eu vi o filme como uma paródia, ou uma sátira. Lembro nesse caso de um autor que eu deveria ter lido, mas não li (mais um): Jonathan Swift. Aquele das viagens de Gulliver, e que sugeriu a venda e o cozimento das crianças irlandesas pobres para aplacar a pobreza de seus pais e saciar a fome dos ricos da Irlanda do século XVII.


Li em algum outro lugar que nesse filme os extra-terrestres não assumem o papel que normalmente se espera de extra-terrestres na longa filmografia de ficção científica. Na filmografia geral, ouos extra-terrestres são seres sábios que vêm tentar ensinar a humanidade a viver de forma mais digna (pense em E.T. - O Extra-Terrestre, de Spielberg), ou são agressores vindos para eliminar a humanidade e se apossar dos recursos do planeta (como em Independence Day, de Roland Emmerich). No caso de Distrito 9 nenhum destes papéis cabe aos extra-terrestres chegados à África do Sul. São simplesmente um grupo de extra-terrestres indo de seu planeta para algum outro lugar no universo, e que acabam aportando por aqui, com sua nave avariada. Intrigados, depois de alguns dias de expectativa, os terráqueos, sul-africanos resolvem invadir a nave espacial. Encontram um grupo de extra-terrestres em lamentáveis condições sanitárias e com fome. Estes extra-terrestres são recebidos como refugiados, e colocados neste Distrito 9, uma espécie de gueto, na periferia de Joanesburgo.


Agora, a presença dos ET's está incomodando seus vizinhos humanos, e o governo sul-africano decide que eles deverão ser deslocados para o Distrito 10 a mais de 200 km da cidade. Uma corporação militar privada (“private militar corporation”, o que muitas pessoas, este blogueiro inclusive, costumam chamar de empresa de mercenários moderna), chamada Multinational United – MNU, é encarregada da transferência, e um de seus funcionários Wikus van de Merwe deverá liderar a tarefa. E em torno disso se dará a narrativa do filme.


Contudo um incidente acontecerá com Wikus, que o transformará, e o levará de encarregado da transferência dos ET's a ser, ele mesmo, perseguido pela companhia da qual era funcionário.


E eis porque eu vejo o filme como uma grande sátira: O filme começa com uma série de depoimentos de cientistas e jornalistas sobre o aparecimento da nave espacial sobre os céus de Joanesburgo. Como se se tratasse de um documentário. Brincadeira do diretor com os espectadores.


Logo no início do filme, o narrador comenta que os sul-africanos ficam surpresos que o tal disco voador tenha aparecido sobre Joanesburgo, e não sobre Los Angeles, ou Chicago. E isso me soou como uma piada.


Os ET's são retratados como refugiados. E o distrito 9 se tornou uma imensa favela, formada a partir do que era originalmente um campo de refugiados. Mais ou menos como os campos de refugiados que se formam em diversas partes do mundo, a partir de gente fugindo de guerras, o que é mais comum, ou fugindo de catástrofes climáticas. Campos de refugiados iraquianos se formaram na Síria e na Jordânia após a invasão ao Iraque liderada pelos Estados Unidos, em 2003. Campos de refugiados sudaneses se formaram no Chade, por conta da guerra civil no Sudão na região de Darfur. Recentemente o Brasil recebeu palestinos que estavam há duas gerações acampados no Iraque, refugiados da guerra de criação do Estado de Israel. O filme Diamante de Sangue, de Edward Zwick (2006) mostra o protagonista, Solomon Vandy querendo retirar sua família de um campo de refugiados, para onde fugiu da guerra civil de Serra Leoa.

Enfim, acho que deu para pegar a idéia. Me parece que o diretor critica os campos de refugiados que existem ao redor do mundo, e a forma como seres humanos são amontoados neles. Nas reportagens da TV, campos de refugiados são sempre uma tragédia humana, ao mesmo tempo em que parecem um estorvo para os países que os recebem.


A empresa de mercenários que deve organizar o deslocamento se chama Multinational United, sigla MNU. Esta sigla fica muito parecida com a sigla ONU, a conhecida Organização das Nações Unidas. Em inglês, o nome é UN, ou “United Nations”, mas em francês é ONU - “Organisation des Nations Unies”, e em espanhol é ONU - “Organización de las Naciones Unidas”. E a pintura dos veículos da Multinational United é igual a dos veículos da ONU, branca com letras azuis. E estes veículos são veículos militares pintados com as cores da ONU para missões de paz. Me parece que o diretor fez uma confusão deliberada aqui para criticar o papel da ONU na manutenção dos campos de refugiados ao redor do mundo.


Por fim, antes do incidente que mudará sua vida, é notável a insensibilidade de Wikus e seus assistentes no trato com os extra-terrestres. Os termos pejorativos, como “camarões”, para se referir aos ET's, as piadinhas, o desprezo, … Fiquei me perguntando se isso seria uma crítica à maneira como os brancos, em especial os africâneres, descendentes de holandeses, tratavam os negros durante o regime do Apartheid (1948-1994) na África do Sul.


Tecnicamente os efeitos especiais parecem um pouco toscos para quem está acostumado com o padrão Hollywoodiano de produções cinematográficas. Há algumas seqüências mal feitas. Mas é um filme interessante.


Uma paródia.


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segunda-feira, novembro 16, 2009

Joseph Wiseman, intérprete do Dr.No nos filmes de James Bond, morre aos 91 anos



NOVA YORK, EUA, 21 Out 2009 (AFP) - O ator canadense Joseph Wiseman, conhecido, sobretudo, por ter encarnado o malvado "Dr. No" contra James Bond, morreu aos 91 anos, informou sua filha nesta quarta-feira.

O ator morreu segunda-feira (19) em sua casa de Manhattan, Nova York, contou a filha Martha ao "New York Times" e ao "Los Angeles Times".

Nascido em Montreal em 1918, Joseph Wiseman foi para os Estados Unidos quando criança. Brilhou nos palcos da Broadway antes de começar a gravar em Hollywood.

Atuou junto a Marlon Brando em "Viva Zapata!" en 1952, e a Burt Lancaster em "The Unforgiven" em 1960.

Mas o nome de Wiseman sempre ficará vinculado ao personagem do doutor Julius No, o homem sinistro com garras de ferro do famoso "O Satânico Dr. No", estrelado em 1962.

Neste filme de Bond, o agente é encarnado por Sean Connery; a intérprete feminina é Ursula Andress.

Wiseman atuou pela última vez na Broadway em 2001, numa adaptação da peça "Julgamento em Nuremberg".

Notícia e foto do UOL Celebridades.

As coisas são assim, aconteceu em 21 de outubro passado. A gente dá duas piscadas, e três semanas se passaram. O Satânico Dr. No foi o primeiro filme da série 007, de 1962. Eu me lembro de ter visto o filme na TV, em preto e branco, e depois ter revisto algumas vezes. Talvez eu venha a assistir novamente.

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terça-feira, novembro 10, 2009

O pagador do sucesso

O pagador do sucesso

RIO DE JANEIRO - São frequentes os atores de cinema que se transformaram em bons diretores. Os casos mais notáveis seriam Chaplin e Orson Welles, passando por Vittorio De Sica, que começou como galã do cinema italiano e terminou como diretor de obras-primas, como "Ladrões de Bicicletas", "Umberto D" e "Milagre em Milão".
Anselmo Duarte, em nível nacional, lembra sobretudo De Sica. Quando estreou na direção, com "Absolutamente Certo", a crítica reconheceu que o eterno galã das chanchadas da Atlântida tinha jeito para a coisa, o filme ficava acima da produção daquela época. Mas era, ainda, uma extensão mais ou menos séria dos filmes populares que então eram feitos no Brasil.
Veio depois o impacto de "O Pagador de Promessas", que, antes mesmo da Palma de Ouro de Cannes, foi considerado um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos. O prêmio internacional, paradoxalmente, se não fez mal ao filme, fez mal a seu diretor. Anselmo passou a ser negado não só pela crítica mas pelos colegas de ofício, notadamente o pessoal do cinema novo, que então começava a despontar.
Tentando desqualificar a Palma de Ouro, foi dito que o júri daquele ano dividira-se entre Buñuel e Antonioni, dois cobras assumidos do cinema internacional. Anselmo teria aproveitado a brecha e, namorando a presidente dos jurados, foi o tertius que levou a Palma e a sua alma.
Nunca se recuperou do trauma em sua própria terra. Funcionando sempre de olho nos prêmios internacionais, principalmente no de Cannes, os cineastas e produtores nativos eram unânimes em negar não só o filme mas, sobretudo, o diretor. Ensaios e livros são pródigos em elogiar os filmes do cinema novo, mas colocam uma pedra do silêncio em cima de Anselmo Duarte.

O texto é de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 10 de novembro de 2009.

O ator e diretor de cinema, Anselmo Duarte, faleceu no final de semana passado. Foi o único diretor de cinema brasileiro vencedor de Cannes até agora. Mas pelo que dizem os necrológios, isto talvez lhe tenha feito mais mal que bem na época, e, a partir de então, na vida e obra de Anselmo Duarte.

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quarta-feira, outubro 28, 2009

Apenas o fim

Apenas o Fim

E que tal se sua namorada, uma garota lindinha, chegasse para você e dissesse que estava tudo acabado? Que ela iria partir para lugar oculto e ignorado? E que ela não quer ser seguida até este local oculto e ignorado por você? E, não. Vocês não brigaram. Você não aprontou nada para ela. E ela não conheceu nenhuma pessoa mais interessante. Simplesmente ela decidiu que o namoro não pode mais continuar. E que ela ficará com você por apenas mais uma hora. Você pode escolher se quer usar esta hora transando ou conversando. Você escolhe conversar obviamente. Este é o mote do filme "Apenas o Fim", que assisti ontem.

A garota, vivida pela lindinha Erika Mader (será a irmã mais nova da Malu Mader?), e o garoto, vivido por Gregório Douvivier. Pode ser que estes nomes não estejam corretos. Acontece.

A fita brasileira, produzida pela PUC-RIO, e rodada aparentemente toda nas dependências da escola é um passeio interessante sobre a possível psique de dois jovens. Ou talvez apenas um experimento cinematográfico de baixo orçamento mas o filme conseguiu me segurar até o fim.

Com a declaração bombástica inicial (o anúncio do imediato rompimento) o filme varia entre o presente do casal caminhando pelo pátio da universidade, e o "flashback" das recordações do vivido.

Muitas referências de certa cultura "nerd-geek": personagens de Pokemon, Cavaleiros do Zodíaco, X-Men. Qual videogame é melhor? Nintendo ou Playstation? Qual personagem de videogame é mais relevante? Mário, ou Cloud? E quem sabe o que é "Kingdom Hearts"?

Lá pelas tantas aparecem um colega/conhecido mala, daqueles que a gente (ou pelo menos eu) quer que vá logo embora. Ou uma outra colega algo riponga, querendo saber mais sobre o casal com uma novidade interessante.

Bem ou mal, como eu disse, o filme me segurou até o final, como eu já havia dito. Sim, houve um momento em que eu pensei que o limite da minha paciência parecia haver chegado, mas passou. A simpatia do casalzinho me segurou.

Eu falei em psiquê linhas acima? É inescapável. Por que alguém resolve acabar com algo que aparentemente vai bem, sem nenhum motivo aparente, de uma hora para a outra? Sei lá. E o filme também não responde. E, atenção, quando eu digo que o filme não responde, eu não estou contando o final do filme.

Usando uma gíria que ouvi estes dias, eu diria que é um filme fofo.

E eu recomendaria conferir o filme até o final dos créditos.

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