sábado, agosto 30, 2008

Olimpíada marca nova geopolítica e fim de hegemonias

Olimpíada marca nova geopolítica e fim de hegemonias

Pequim registra maior número de países com ouros e pódios e término do domínio dos EUA e da Rússia

Nações ricas têm queda no número de medalhas e de títulos olímpicos, enquanto restante do mundo avança com resultados inesperados

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

O Brasil perdeu sua hegemonia no vôlei masculino. A Mongólia ganhou ouro no boxe, e Cuba, não. A Islândia obteve sua primeira medalha da história em um esporte coletivo, no torneio masculino de handebol, na última final dos Jogos.
O último dia da Olimpíada de Pequim não poderia ter sido um retrato melhor sobre qual é o saldo esportivo do evento.
O triunfo da China no quadro geral de medalhas, o primeiro de um país que não seja Estados Unidos ou União Soviética em mais de 70 anos, é o fato principal de uma das mais dramáticas mudanças do mapa dos pódios olímpicos.
Mas não é o único.
Muitas das 958 medalhas distribuídas em Pequim tiveram o gosto do novo, redesenharam a relação de forças e colocaram um número recorde de países em cima do pódio.
Foram 87 nações medalhadas, 55 no lugar mais alto. Os recordes anteriores eram, respectivamente, 80 e 54.
E os países ricos perderam espaço. Na edição anterior dos Jogos, na Grécia, o grupo formado por EUA, Canadá, nações européias, Austrália e Japão ficou com 684 medalhas, 213 delas de ouro. O restante dos países do mundo, teve, respectivamente, 245 e 88.
Agora, na China, com apenas mais uma prova na disputa, os ricos foram 651 vezes ao pódio, 191 no lugar mais alto dele. Os "pobres" ganharam 307 medalhas, nada menos do que 111 delas do metal mais valioso.
Os EUA perderam para a China, mas a Rússia, outra grande potência do esporte na história, sofreu um tombo feio após baque por contusões e uma enxurrada de afastamento por causa de doping pouco antes da Olimpíada começar.
Foram 92 medalhas russas, ou 20 a menos do que nos Jogos de Atenas-2004, quando, como agora, terminou na terceira posição no quadro de medalhas.
Pela primeira vez desde que a União Soviética se desintegrou, a maior e mais importante das repúblicas que formavam o país somou um número de pódios menor do que as outras partes da antiga URSS.
As outras ex-repúblicas soviéticas somaram 99 pódios.
Os antigos satélites soviéticos na Europa também perderam espaço. Juntos, os países do Leste Europeu que eram alinhados com os comunistas conquistaram 18 medalhas de ouro na China, contra 25 na Grécia, há quatro anos.
No Caribe, quem ficou na frente no quadro de medalhas deste vez foi a Jamaica, que ganhou seis ouros, enquanto Cuba passou em branco no lugar mais alto do pódio no boxe e ainda perdeu a decisão do beisebol, o esporte nacional, para a Coréia do Sul. Os cubanos, que já rivalizaram com os EUA no Pan, ficaram atrás até do Brasil.
Os sul-coreanos, aliás, foram uma das grandes surpresas dos Jogos. Ganharam um ouro na natação pela primeira vez. No total, foram quatro ouros a mais do que na Grécia, fazendo o país subir duas posições -terminou na sétima posição.
Outros asiáticos também saborearam resultados positivos. Mongólia, Tailândia e Coréia do Norte conquistaram, cada um, duas medalhas de ouro.
Para o lugar mais alto do pódio foram, entre outros países do maior continente do mundo, Indonésia, Índia, Bahrein, Irã e Uzbequistão.

32 POSTOS

ascendeu a Grã-Bretanha no quadro de medalhas da Olimpíada nos últimos 12 anos. No grupo que disputa as primeiras posições, ninguém lucrou tanto como ela. O país ficou em quarto lugar, com 47 pódios, sendo que 19 no lugar mais alto. Um feito para quem, em Atlanta-1996, teve atuação de país médio, ficando atrás até do Brasil. Nesses Jogos, os britânicos ficaram em 36º lugar, com 15 medalhas, só uma de ouro. O investimento do país no esporte cresceu nos últimos anos, desde que Londres ganhou o direito de sediar a Olimpíada-2012. A expectativa é que os britânicos tenham base forte para os Jogos em casa.

Texto da Folha de São Paulo, de 25 de agosto de 2008.


Marcadores: , , , , ,