Religiosos mostram Bíblia como história natural no Museu da Criação no Kentucky
Atraente, local recebeu quase 600 mil visitantes, dizem fundadores.
Criacionistas dizem não negar ciência, mas divergir na interpretação.
Crianças e dinossauros brincam juntos em um bosque, tiranossauros se alimentam de frutas, e as teorias evolucionistas que dizem que o universo foi criado há milhões de anos são enfaticamente rejeitadas em um museu do norte do estado norte-americano do Kentucky.
Assista ao lado imagens do museu
Contrariamente às exibições de história natural espalhadas pelas maiores cidades do mundo, o Creation Museum (Museu da Criação) nega a principal corrente científica defendida por acadêmicos e apresenta as origens da vida de acordo com um livro: A Bíblia.
Como o nome já deixa perceber, o local defende o criacionismo, teoria cristã segundo a qual o livro do Genesis explica de forma literal o surgimento do universo, e que nega qualquer tese que fale em evolução. A instituição que criou o local, o grupo Answers in Genesis (Repostas no Genesis ou AIG), defende a religião como base da história do mundo desde o "princípio".
O G1 visitou o Museu da Criação na tarde desta quinta-feira (30), depois de duas horas de viagem desde Columbus, em Ohio. Localizado numa região de tríplice fronteira entre Kentucky, Indiana e Ohio, o museu tinha muitos visitantes, apesar de ser um dia de semana e de o prédio ficar afastado de centros urbanos (a cidade mais próxima, Cincinnati, fica a 30 minutos de viagem de carro). A apresentação é impressionante, atraente, e explica bem a primeira parte da Bíblia, atraindo crianças e adultos.
Usando vídeos cheios de efeitos especiais, apresentações quase interativas, robôs animados, estátuas que parecem pessoas, um planetário e explicações muito bem detalhadas, o museu tenta rechaçar críticas de que é radical e "não-científico". "Queremos mostrar uma caminhada história de acordo com a Bília", explicou o co-fundador do museu, Mark Looy, que conversou com o G1 durate a visita.
Sucesso
Fundado há pouco mais de um ano, em maio de 2007, o museu foi um sucesso surpreendente até mesmo para seus criadores. "Esperávamos receber no máximo 250 mil pessoas no primeiro ano, mas tivemos mais de 440 mil visitantes até o aniversário e quase 600 mil até hoje", disse Looy. "Excedemos todas as expectativas, e até evolucionistas elogiam nosso trabalho", completou.
"Deus destruiu o mundo", dizia uma criança de cinco ou seis anos enquanto assistia a um vídeo sobre o dilúvio. Dezenas delas se divertiam com os vídeos e com os robôs de dinossauros na tarde em que o G1 esteve no museu.
Parecendo um parque de diversões da Flórida, com 6.500 metros quadrados de área, o museu traz uma longa apresentação do surgimento do mundo, dos animais, dos seres humanos. Conta a história de Adão e Eva, do fruto proibido, de Matusalém e da arca de Noé – esta última, do grande dilúvio, é usada para explicar a extinção dos dinossauros e a existência de fósseis.
Fatos e interpretações
A principal tese usada pelo museu é de que criacionistas e evolucionistas partem das mesmas evidências para interpretar o passado, mas que chegam a conclusões diferentes. "Raramente discordamos dos evolucionistas em relação às evidências, a separação está na interpretação. Queremos mostrar que a evidência científica leva ao criacionismo", disse Looy.
"Do ponto de vista científico, o que o museu mostra é simplesmente ridículo", rebateu, enfático, Steven Newton, um dos diretores do National Center for Science Education (Centro Nacional para Educação em Ciência – NCSE) , uma das instituições que mais fazem oposição ao trabalho do AIG. "Essas pessoas acreditam que a terra tem apenas 6.000 anos de idade, o que não faz nenhum sentido e pode ser provado como equivocado", disse ao G1.
Questionado sobre a crítica científica, o co-fundador do museu disse não ligar. "Muitos nos ridicularizam, mas isso não incomoda. Essas pessoas têm uma visão diferente, e não acreditam no que defendemos", disse, lembrando que no passado ele próprio era uma dessas pessoas críticas do criacionismo.
Educação
O principal trabalho do NCSE em oposição ao grupo que fundou ao museu diz respeito a educação de crianças, tentando evitar o fortalecimento do ensino do criacionismo nas escolas. "Estes grupos estão cada vez mais fortes e querem que o ensino religioso entre nas escolas como se tivesse alguma base científica", disse Newton. "Queremos que a religião fique de fora do ensino de ciência, pois isso atrapalha e confunde os estudantes, o que é ruim para o país como um todo."
As escolas públicas norte-americanas não podem atualmente ensinar o criacionismo como uma teoria, mas o debate em estados mais conservadores como o Texas e a Louisiana debatem a possibilidade de permitir que a tese religiosa seja apresentada junto com os estudos.
Segundo Looy, o grupo que ele representa de fato produz material didático para ensino do criacionismo nas escolas, negando teorias evolucionistas. "Mas apenas em instituições privadas", disse. Segundo ele, o AIG não defende o ensino forçado do criacionismo nas escolas públicas, apenas pede a liberdade para que os professores também possam apresentar o criacionismo às crianças.
"Isso é um objetivo político disfarçado", respondeu Newton. "Nenhum desses grupos admite defender o ensino do criacionismo, mas eles fazem campanha tentando se passar por grupos sem interesses, como se estivessem defendendo a liberdade", completou. científico.
Política
Durante as entrevistas dos representantes dos dois grupos ao G1, eles negaram defender um ou outro candidato à Presidência nas eleições da próxima terça-feira (4). Por serem grupos sem objetivos lucrativos, eles recebem doações e não podem se envolver em disputas políticas.
"Podemos defender a proibição do aborto, e incentivar as pessoas a votarem em quem seja contra o aborto, mas não podemos citar nomes", disse Looy em relação ao grupo que criou o museu, indiretamente indicando favorecer John McCain.
Texto do G1.
Marcadores: criação, Estados Unidos, evolução
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