Gran Torino, ou para onde vai o mundo?
Gran Torino, ou para onde vai o mundo?
Pude assistir o filme Gran Torino, de e com Clint Eastwood, neste final de semana (04/04/2009), e o achei um grande filme. E pensei em chamar este texto de “para onde vão os Estados Unidos?”, mas cheguei à conclusão, que o filme era um pouco mais universal que os Estados Unidos, embora bem localizado ali.
Para onde vai o mundo, ou para onde vamos, talvez seja uma pergunta fundamental. O senhor Walt Kowalski seria um americano típico. É um homem branco, veterano da Guerra da Coréia (1950-1953), que acabou de ficar viúvo, e mora no estado de Michigan (uma rápida olhada no Google Maps, permite ver que neste estado fica a cidade de Grand Rapids, que se não estou enganado é a terra natal do ex-presidente Gerald Ford, a cidade de Flint sobre a qual Michael Moore fez seu documentário “Roger e eu” sobre o fechamento de uma unidade da General Motors ali, e a cidade de Detroit, meca do automóvel nos Estados Unidos). Um homem com tradições, que aparentemente viveu casado com uma só mulher durante sua vida inteira, com a qual ia à missa dominicalmente. Talvez como muitos outros americanos, tem sua coleção de armas de fogo, e mantém o jardim de sua casa muito bem cuidado.
Mas talvez, olhando um pouco mais de perto, o Sr. Kowalski pode não ser tão típico assim, afinal ele é um branco descendente de poloneses, não britânicos anglo-saxões, e ele é católico, não é protestante.
Mas como muitos outros grupos humanos que vieram de diversas partes da Europa no final do século XIX, e início do XX, ele é integrado aos Estados Unidos. Foi condecorado por sua participação na guerra. Trabalhou vários anos em uma fábrica da Ford, onde ajudou a montar o Gran Torino, automóvel esportivo da Ford, fabricado em 1972, que lhe pertence, e dá título ao filme. Também é da Ford a picape com a qual ele se desloca no seu dia-a-dia.
Mas os tempos mudam.
No início do filme, está sendo celebrada uma missa em homenagem à recém-falecida Sra. Kowalski. O padre da paróquia é um jovem (na verdade um jovem bem jovem), ao qual o Sr. Kowalski não dá muita atenção embora a Sra. Kowalski tenha pedido expressamente a ele, o padre, para cuidar do Sr. Kowalski após sua morte (e o padre procura pacientemente cumprir seu compromisso com a Sra. Kowalski). O Sr. Kowalski nunca chegou a ter um relacionamento próximo com seus filhos, e seus netos são incapazes de mostrar um mínimo de respeito no recinto em que está sendo realizado o velório de sua avó. Seus antigos vizinhos, presumivelmente brancos como ele, se mudaram para outros bairros, e as casas ao redor da sua vão sendo tomados por asiáticos e latinos, com seus hábitos exóticos (exóticos para o Sr. Kowalski, claro) e a violência das gangues de jovens.
Thao e Sue são parte da família que habita a casa ao lado da do Sr. Kowalski. São de uma etnia originária do sudeste asiático, provavelmente do Vietnã.
Dois eventos acabarão por fazer com que o Sr. Kowalski se torne próximo da família de Thao e Sue. Primeiro Thao tenta roubar o Gran Torino do Sr. Kowalski para entrar para a gangue de seu primo (do primo de Thao). A seguir, após o fracasso de Thao no roubo, o Sr. Kowalski impede a gangue de espancar (raptar?) Thao. Aparentemente o Sr. Kowalski não está preocupado com o destino de Thao quando impede o espancamento, é que o tumulto gerado chega ao seu jardim, e ele está defendendo sua propriedade. Como forma de arrependimento e reparação a mãe de Thao o obriga a prestar serviços para o Sr. Kowalski. Kowalski aceita a oferta, pois seria um insulto para a mãe de Thao não o fazê-lo.
Pois esta proximidade vai acabar fazendo com que Kowalski vença seus ranços com seus novos vizinhos, sua aparência diferente, seus ritos estranhos, seu comportamento também estranho, suas comidas estranhas, embora cheirosas e saborosas (“melhor do que carne seca”, como é dito em uma cena do filme). Kowalski “adota” Thao, por assim dizer. E quando a gangue que cerca Thao volta a agredir a família asiática, Kowalski fará tudo que estiver ao seu alcance para protegê-la. Ele será o homem contra o mal (a gangue que persegue Thao e Sue) e contra as instituições que não funcionam (a polícia e o sistema judiciário americano), levando a história ao seu “gran finale”.
Há que se lutar contra as nossas limitações, e talvez contra o mundo se este nos parece mal...
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