terça-feira, janeiro 20, 2009

Memória: Carlo Giorgio Strazza (1919-2009)

CARLO GIORGIO STRAZZA (1919-2009)

Preso pelos dois lados na Segunda Guerra

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlo Strazza, combatente da divisão aérea italiana, chegou a ser abatido duas vezes durante a Segunda Guerra (1939-1945). Na segunda, foi preso pelos russos. Assim como outros prisioneiros, passou frio e fome, teve de andar quilômetros, mas escapou com vida. Na volta para casa, foi preso pelos alemães, ex-aliados -a Itália mudara de lado. Carlo considerava-se um privilegiado por ter sobrevivido. Natural de Nápoles, ao chegar finalmente em casa, na cidade de Camogli, em 1946, pesava apenas 49 kg. Gostava de recordar o passado: não se dizia arrependido de nada e condenava as atrocidades cometidas pelos dois lados do conflito. Em 1949, conseguiu um emprego no Brasil, país quejá conhecia -aos 15, havia feito uma viagem de navio pela América. Exerceria funções administrativas numa companhia dos Matarazzo. Anos depois, ficou sócio numa empresa de estruturas metálicas, especializada na construção de torres de comunicação. Em 1960, viajou pelo mundo -conheceu mais de 30 países. Apaixonado pelo mar, tinha o sonho de cruzar oceanos num veleiro. "Ele era rebelde", brinca o enteado. Viúvo havia quatro anos, não teve filhos. Morreu no domingo, aos 89, em consequência de um AVC (acidente vascular cerebral). Lutava contra um câncer no pâncreas. A missa de sétimo dia será hoje, às 11h, na igreja São José, em SP.

Obituário da Folha de São Paulo, de 12 de janeiro de 2009.

Marcadores: , ,

terça-feira, novembro 11, 2008

Cerimônias marcam 90 anos do fim da 1ª Guerra


Cerimônias em diversos países do mundo estão sendo realizadas nesta terça-feira para marcar o 90º aniversário do fim da Primeira Guerra Mundial.

O conflito entre as potências mundiais se estendeu de 1914 a 1918, matou mais de 20 milhões de pessoas e redesenhou as fronteiras da Europa.

Na França, a principal cerimônia foi realizada em Verdun, no nordeste do país, onde tropas francesas e alemãs travaram um combate de oito meses. Mais de 130 mil pessoas morreram no local.

A batalha foi a mais longa da guerra. Desde então, Verdun tornou-se um dos símbolos da reconciliação entre França e Alemanha.

Participam do evento o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

A cerimônia não contou com a presença de veteranos da guerra, já que não há mais nenhum soldado vivo que lutou na batalha de Verdun.

Na Grã-Bretanha, três dos quatro veteranos da Primeira Guerra que ainda estão vivos vão representar a Aeronáutica, o Exército e a Marinha em uma cerimônia no Cenotáfio de Londres.

Herry Allingham, de 112 anos, Harry Patch, de 110, e Bill Stone, de 108, observarão, junto com os presentes, 2 minutos de silêncio.

Na Austrália, uma cerimônia no Memorial da Guerra de Canberra lembrou a morte de 60 mil soldados.

O armistício que deu fim à Primeira Guerra Mundial entrou em vigor às 11h, do 11º dia do 11º mês de 1918.

A Primeira Guerra levou ao fim de impérios europeus, à criação da União Soviética e ao fim da hegemonia européia no mundo. É também considerado o primeiro conflito do mundo industrializado.

Texto da BBC Brasil.

Marcadores: , ,

sábado, agosto 30, 2008

Guerra do Paraguai

Guerra do Paraguai trouxe avanços para a medicina

Pesquisa inédita aborda asilo para soldados que ficaram inválidos em combate, criado no Rio de Janeiro em 1868

"Inválidos da Pátria" eram em geral pobres e muitos foram escravos; além de ferimentos das batalhas, o cólera também era ameaça

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Muitas cidades brasileiras têm uma rua "Voluntários da Pátria", em homenagem aos soldados que foram à Guerra do Paraguai (1864-1870); certamente nenhuma tem uma rua "Inválidos da Pátria".
Assim eram chamados os feridos da mesma guerra que retornavam ao país, doentes ou mutilados. Para abrigá-los, o Império inaugurou há 140 anos, em 29 de julho de 1868, o Asilo dos Inválidos da Pátria, localizado na Ilha do Bom Jesus, baía da Guanabara.
O historiador paulista Marcelo Augusto Moraes Gomes fez um pioneiro trabalho sobre o asilo em tese de doutorado aprovada na USP. Ele mostra como a necessidade de lidar com milhares de feridos em uma guerra na qual a tecnologia bélica havia progredido de modo intenso provocou avanços na medicina no país, no tratamento tanto de doenças infecciosas quanto de traumas provocados pelo combate.
Ao analisar o tipo de ferimento dos relatórios e tratados médicos, ele pôde entender também como era a "face da batalha". Além de mortes por cólera ou ferimentos por baionetas e projéteis de fuzil de maior velocidade, ele mostrou o que acontecia a bordo dos encouraçados brasileiros quando atingidos pela artilharia paraguaia. Esses navios estavam entre os mais modernos do mundo, pois a guerra acelerou não só progressos na medicina, como na tecnologia bélica e industrial.
Gomes lia, nos anos 1990, uma biografia do brigadeiro Antônio de Sampaio (1810-1866), morto em decorrência de ferimentos causados na batalha de Tuiuti, quando topou com uma rápida menção ao asilo -os restos mortais do atual patrono da Infantaria foram temporariamente guardados ali. O historiador ficou curioso. "O asilo existiu por mais de um século e no Exército quase nada se comenta sobre ele", diz.
Gomes descobriu, então, uma cópia de um livro de 1869 de um dos primeiros capelães do asilo, Manoel da Costa Honorato, que serviu de ponto de partida para a pesquisa.

Abrigos para inválidos
O asilo foi construído junto à antiga Igreja do Bom Jesus da Coluna, erguida pelos franciscanos no começo do século 18. Duas semanas atrás ela foi reaberta, depois de obras de restauro que duraram quatro anos, feitas em parceria pela Fundação Cultural do Exército e a Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A igreja costumava ser freqüentada pela família real, na pacata ilha no fundo da baía. Hoje ela deixou de ser uma ilha isolada, ligada por aterro à maior ilha do Fundão, onde está o campus da UFRJ.
Antes mesmo da inauguração oficial no dia do aniversário da princesa imperial, que contou com a presença do próprio imperador Dom Pedro 2º, já havia abrigos provisórios para feridos de guerra na capital do império, por exemplo, na Praia Vermelha, no Rio, e na ponta da Armação, em Niterói.
Esse tipo de estabelecimento foi criado para receber homens invalidados em combate -no estilo do francês Hotel dês Invalides, onde hoje se situa um museu e a tumba de Napoleão.
A guerra começou em 1864, quando o ditador paraguaio Solano López mandou aprisionar o navio a vapor brasileiro "Marquês de Olinda", que acabara de partir de Assunção, em represália à intervenção do Brasil na guerra civil uruguaia.
Foi a guerra com o maior grau de mobilização da sociedade, relativamente mais até do que a participação brasileira na 2ª Guerra Mundial, especialmente em número de soldados recrutados e na proporção destes com a população do país.
Havia também uma importante dimensão sanitária, lembra Gomes. A ciência não havia tornado claro como muitas doenças eram adquiridas e quais delas teriam chance de contágio através de contato dos doentes. Por isso, o asilo foi criado em um local relativamente isolado.
Os asilados eram obviamente pobres, muitos eram ex-escravos. Depois de grandes batalhas, chegavam imensas levas de inválidos de uma só vez. Isso criava uma questão disciplinar, pois havia receio da sociedade sobre o comportamento dessa soldadesca desmobilizada.

"Miasmas"
A chegada de navios com inválidos era particularmente temida pelas autoridades pelo risco de espalhar doenças na capital do império. Na metade do século 19, era dominante a teoria dos "miasmas" para explicar doenças infecciosas como o cólera. A causa das doenças estaria em emanações pútridas, em "ares" maléficos.
Um golpe nessa teoria fora dado em 1854, quando o médico britânico John Snow mostrou que um surto de cólera em Londres vinha da água contaminada de uma bomba d'água pública. Snow não conseguiu identificar o micróbio causador da doença. A teoria rival, dos germes, ainda não era muito aceita. Só o seria depois dos trabalhos do francês Louis Pasteur na década seguinte. E apenas em 1885 o alemão Robert Koch identificaria a bactéria Vibrio cholerae como a causadora da doença.
O cólera atacou as tropas da tríplice aliança criada para resistir ao ataque paraguaio. Antes de ser designado para o asilo, o capelão Honorato esteve no Paraguai e foi encarregado de cinco hospitais em Corrientes, Argentina, em março de 1867, para tratamento das vítimas do cólera.
Gomes cita uma dissertação de 1869 sobre o cólera, defendida na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro por um ex-cirurgião do exército brasileiro presente no Paraguai, Silvino José de Almeida. Ele já acreditava que o cólera fosse uma moléstia contagiosa, pois, escreveu Almeida, "o homem atacado de cólera era o principal agente de importação e propagação da moléstia". Para ele, "o transporte marítimo era o mais perigoso e o mais apto para a propagação da moléstia".
Gomes cita casos relatados por Carlos Frederico dos Santos Xavier de Azevedo, cirurgião-mor da Armada, em tratado médico de 1870. Por exemplo, Camilo Jacinto Fernandes, de Santa Catarina, 19 anos, "Imperial [marinheiro] de 2ª classe, e praça do encouraçado Colombo, entrou para o Hospital de Sangue da Esquadra, em operações do rio Paraguai, a 5 de Outubro, trazendo um ferimento, por estilhaço de bala, na região ilíaca externa do lado esquerdo". Fernandes morreu, e o tal estilhaço era provavelmente um rebite da couraça do navio (veja infográfico à dir.).
O médico em um trecho parece premonitório sobre um tipo de baixa que se tornaria mais comum nas grandes guerras do século 20, o ferimento de origem psiquiátrica: "(...) tivemos com nossos colegas ocasião de apreciar depois de bombardeamentos, ou combates, em que se empenhava a Esquadra, agravarem-se os sintomas de febres intensas, sucumbindo, algumas vezes, os doentes".

Texto da Folha de São Paulo, de 24 de agosto de 2008.


Marcadores: , , ,

terça-feira, abril 17, 2007

Kurt Vonnegut

1922-2007 - Escritor norte-americano, autor de Matadouro 5. Era prisioneiro de guerra em Dresden, na Alemanha, quando os aliados arrasaram a cidade em contínuos bombardeios, em 1945. E a vivência daquele massacre foi uma expericia que acabou por definir sua escrita.
O Correio do Povo já havia noticiado. O Jean Scharlau me relembrou.
O escritor faleceu dia 11 passado, por danos em seu cérebro, decorrentes de uma queda em casa. Tinha 84 anos.

Marcadores: ,

terça-feira, março 20, 2007

Reflexões a Partir de uma Aula de Didática

Diz o chiste que os alunos do curso de História da universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, são todos comunistas e maconheiros. Por galhofa me incluo entre eles, embora não tenha certeza se sou comunista, e, com toda certeza, não sou usuário de cannabis sativa.
Mas hoje, tive uma aula, que me pareceu, que em determinado momento o chiste se transformaria em paradigma, pelo menos, com relação ao comunismo. Lá pelas tantas a discussão derivou para duas questões, ou três. As questões eram, se existe a realidade, se o marxismo é iluminista, e possui uma verdade positiva, e se o pós-modernismo, ou pós-estruturalismo é paralisante, alienante e fragmentário.
Tudo isso a partir de um texto sobre Didática, um artigo em revista especializada de educação, que os estadunidenses chamariam de paper, em que o autor afirma que a Didática precisa ir além do paradigma tecnicista (o paradigma tecnicista diz que a Didática é uma ferramenta, uma técnica [como não?], em que o professor aprende melhores maneiras de ministrar o ensino), e além do paradigma crítico (o paradigma crítico, gerado a partir de uma base conceitual marxista [e aqui ele cita o filósofo francês Louis Althusser], diz que o professor deve ser uma espécie de instrumento para libertar o aluno da opressão gerada pela economia capitalista, onde existe a exploração do homem pelo homem). Além do tecnicismo, e além do criticismo, o professor deve buscar um paradigma hipercrítico, em que mesmo o paradigma crítico pode ser criticado, ou seja, é necessário um constante questionamento sobre as razões da nossa maneira de pensar, e de transmitir nosso pensamento (conhecimento).
Como já foi dito acima, a conversa foi para esta discussão sobre se há realidade verdadeira, ou se a realidade é fragmentária, e existe a partir da nossa percepção de partes desta realidade. E os marxistas, cheios de fé, afirmavam que, por ser fragmentário, o pós-modernismo desviava forças e dividia na luta contra a opressão, contra a exploração do homem pelo homem.
É inacreditável! Me senti como um conservador puro e duro no meio daquela turma. Um reacionário mesmo. Uma parte da turma ainda quer lutar contra a opressão. Um deles disse que acreditava que Deus não existia (talvez, a palavra dele fosse que deus não existia), o que me aborreceu ainda mais, pois possivelmente para me libertar da opressão, ou talvez libertar outros do meu modo de vida opressor, eu fosse um dos primeiros a ser designado para o paredão, ou para um campo de reeducação.
Tive vontade de dizer que os regimes que foram chamados de socialistas, ou de comunistas, no decorrer da história humana não acabaram, por exemplo, com a opressão feminina. E que em Cuba hoje, homossexuais ainda são perseguidos. Inacreditável!

P.S. Para esclarecimento e tentar estabelecer alguma clareza conceitual, este blogueiro tem a informar que ele é teísta, ou seja, ele acredita que exista um Deus, que esse Deus tenha uma espécie de personalidade (mas o que é personalidade, afinal? Esta é uma questão que vai ficar para um outro dia), Ele se deu a conhecer, e, de alguma maneira, pode ser Conhecido.
Com base no parágrafo anterior, este blogueiro também acredita que exista uma realidade real, ou, usando palavras do artigo, uma verdade verdadeiramente verdadeira, embora tenha sérias dúvidas sobre apossibilidade de nós, seres humanos, conseguirmos captar esta realidade real existente.

Marcadores: , , , , , ,