terça-feira, janeiro 20, 2009

“Pastor, por que o teto da igreja desabou?”

Pastor, por que o teto da igreja desabou?”


A pergunta foi disparada de repente. O pastor teve que parar, pensar. O que poderia dizer? Além disso ele nem tinha qualquer ligação formal com a denominação cujo teto desabara. Esta era uma igreja “nova”, fundada nos anos 1980, neo-pentecostal, com cânticos informais, assim como informal e mais ou menos espontâneo era o culto. O pastor liderava uma congregação de uma denominação histórica, como ele mesmo gostava de dizer. A denominação dele vinha dos rescaldos ainda da Reforma do século XVI.

O que dizer? Dizer que aquilo era um castigo do Senhor, por conta de pecados da liderança da igreja? Esta hipótese não podia ser descartada. Tempos atrás, um semanário denunciara que a igreja estava sendo processada por ex-membros. Estes alegavam que foram enganados pelos líderes da Igreja, ao servirem como fiadores de aluguéis da Igreja. Algumas vezes a igreja não pagava os aluguéis e deixava a questão para ser resolvida pelos fiadores. E é claro que havia o problema do contrabando de dinheiro, crime pelo qual líderes da igreja estavam agora, cumprindo pena nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, além deste problema dos aluguéis, ainda havia acusações de lavagem de dinheiro, mas sobre este último caso, muito da acusação se confundia com maledicência, e o processo andava a passos de tartaruga. E o pastor lembrou do episódio de Datã e Abirão, no Velho Testamento, ainda na Lei, no livro de Números, no capítulo 16. Ali parte dos líderes de Israel que saíram do Egito junto com Moisés, resolvem se tornar, eles mesmos, sacerdotes do povo. E Deus manifesta sua ira contra esta tentativa de profanação do sacerdócio, fazendo com que a terra se abra sob os pés dos postulantes ao sacerdócio e de seus familiares, absorvendo-os, consumindo-os. Podia-se pensar nisso. Mas no caso dos revoltosos do Sinai, eles mesmos se tornaram as vítimas e foram punidos na sua rebelião. Aqui os líderes nem sequer foram feridos pelo incidente. Os mortos eram simples membros da congregação. Além disso, não é possível comparar o abrir-se do chão, com a degradação da estrutura que dava sustentação ao templo religioso. Se lá, a ira de Deus não podia ser contida, aqui uma manutenção mais atenciosa ao prédio poderia ter evitado a perda de uma dezena de vidas e de algumas dezenas de feridos.

Difícil isto. A própria pessoa que disparara a questão ao pastor se questionava sobre o porquê disso. A liderança da igreja, em nota distribuída, lembrou o versículo bíblico do Novo Testamento, onde o apóstolo Paulo afirmava que, para ele, “o viver era Cristo, e o morrer lucro”. Quem morre com Cristo, não morre de fato, é a esperança de quem de fato crê em Cristo. Mas esta morte ainda é sentida de duas formas. Uma é que, mesmo com a esperança da vida eterna, os vivos aqui ainda sentem falta dos entes queridos que morrem. A outra é que, como a ressurreição ainda não veio, a fé pode parecer pouco efetiva.

Bom. Pelo menos é de se esperar que centenas de líderes esclarecidos pelo país afora, cuidem da manutenção de seus templos, para que se algum dos membros daquelas comunidades tiver que deixar esta vida ali, que seja pela exaltação de suas emoções, por entender que efetivamente o Senhor o esteja chamando ali, e não porque a tesoura do teto precisava ser reforçada, ou a coluna que sustentava a parede precisava de reforço.


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