terça-feira, março 03, 2009

Capitão Nascimento é uma ruína ambulante

Capitão Nascimento é uma ruína ambulante

INÁCIO ARAUJO

CRÍTICO DA FOLHA


Será "Tropa de Elite" (TC Pipoca, 20h; não recomendado a menores de 16 anos) um filme fascista, como acreditam muitos críticos? Essa pode ser uma impressão apressada, dessas em que se confunde o discurso da personagem com o do filme.
É verdade que Capitão Nascimento é um tipo a que não falta ambiguidade. Sua tropa está lá para barbarizar mesmo. Certo ou errado, ele sabe que participa de uma guerra em dois fronts: contra os traficantes, de um lado, e contra a política corrupta de outra.
Tudo isso faz dele uma mistura de Rambo com Eliot Ness, celebrizado por "Os Intocáveis". Não tem muito tempo para divagações e teorias. A teoria é um inimigo tão perigoso quanto uma bazuca. É proibido pensar: recebe-se o mundo tal como ele vem e pau na máquina. Esse último item ajudou Nascimento a se tornar um herói de pessoas para quem o mundo está pensado, não devemos nos ocupar com isso: basta agir.
A verdade, no entanto, é que a vida do capitão é uma ruína. A implantação de seus métodos tem um custo tão alto que ele não consegue nem ter uma família (e nem, de resto, implantá-los para valer, institucionalmente). Capitão Nascimento é uma ruína ambulante, assim como sua tropa.
No fundo, o que este filme faz é nos lembrar que questões como violência urbana e justiça social estão longe de serem resolvidas. Chama o Foucault, por favor.

Texto da Folha de São Paulo, de 1. de março de 2009. O texto provavelmente está sendo publicado pela estréia do filme Tropa de Elite na televisão por assinatura.

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