quinta-feira, janeiro 29, 2009

John Updike, cronista da cidade pequena americana, morre aos 76 anos

John Updike, cronista da cidade pequena americana, morre aos 76 anos

The New York Times

Christopher Lehmann-Haupt

John Updike, o escritor caleidoscopicamente dotado cujo quarteto de romances "Coelho" foi um destaque em um corpo de obra de ficção, poesia, ensaios e críticas tão vasto, multiforme e lírico a ponto de colocá-lo na primeira divisão dos autores americanos, morreu na terça-feira em Danvers, Massachusetts. Ele tinha 76 anos e vivia em Beverly Farms, Massachusetts.

A causa foi câncer, segundo uma declaração da Knopf, sua editora. Um porta-voz disse que Updike morreu no Hospice of the North Shore, em Danvers.

Entre as dezenas de livros de Updike, talvez nenhum tenha capturado a imaginação do público leitor mais do que aqueles sobre cidadãos comuns em ambientes urbanos e de cidade pequena. Seu protagonista mais conhecido, Harry "Coelho" Angstrom, apareceu pela primeira vez como um ex-astro do basquete colegial preso em um casamento sem amor e um trabalho de vendedor que odeia. Por meio dos quatro romances cujos títulos levam seu nome - "Coelho Corre", "Coelho em Crise", "Coelho Cresce" e "Coelho Cai" - o autor traça a vida engraçada, desassossegada e indagadora de seu americano de classe média tendo como fundo os grandes eventos do último meio século.

"Meu assunto é a classe média americana protestante de cidade pequena", disse Updike para Jane Howard em 1966, em uma entrevista para a revista "Life". "Eu gosto do cidadão de classe média", ele prosseguiu. "É no meio que os extremos entram em choque, onde a ambiguidade reina inquietamente."

Impressionantemente laborioso e prolífico, Updike produzia três páginas por dia de ficção, ensaios, críticas ou poesia, provando a máxima de que várias páginas por dia resultam em pelo menos um livro por ano -ou mais. Updike publicou 60 livros em sua vida; seu último, "My Father's Tears and Other Stories", será publicado em junho.

"Eu escreveria anúncios para desodorantes ou rótulos para frascos de ketchup se fosse preciso", ele disse à "The Paris Review" em 1967. "O milagre de transformar idéias em pensamentos, pensamentos em palavras e palavras em metal, impressão e tinta, nunca me cansa."

Philip Roth disse na terça-feira: "John Updike é o maior homem das letras de nosso tempo, tão brilhante como crítico literário e ensaísta quanto como romancista e escritor de contos. Ele é e sempre será um tesouro nacional tanto quanto seu precursor do século 19, Nathaniel Hawthorne. Sua morte representa uma perda imensurável para nossa literatura".

John Hoyer Updike nasceu em 18 de março de 1932, em Readind, Pensilvânia, e cresceu na cidade vizinha de Shillington. Ele foi o único filho de Wesley Russell Updike, um professor colegial de matemática descendente de alemães, e Linda Grace (Hoyer) Updike, que posteriormente também publicou ficção na revista "The New Yorker" e em outros lugares.

Após concluir o colégio como co-orador da turma e presidente da classe, Updike frequentou Harvard com uma bolsa de estudos. Apesar de se formar em inglês e ter escrito e editado o "The Harvard Lampoon", ele prosseguiu em uma carreira de desenhista. Em 1953, ele se casou com Mary Entwistle Pennington, formada em belas artes por Radcliffe.

Ao se formar com louvor em Harvard em 1954, ele obteve uma Bolsa Knox na Escola Ruskin de Desenho e Belas Artes, em Oxford. Em junho daquele ano, seu conto "Friends from Philadelphia" foi aceito, juntamente com um poema, pela "The New Yorker". Foi um evento, ele disse posteriormente, que permaneceu "a estréia extática da minha vida literária".

Após o nascimento de sua primeira filha, Elizabeth, o casal voltou para os Estados Unidos e Updike passou a escrever para a "The New Yorker".

Em 1959, Updike já tinha concluído três livros - um volume de poesia, "The Carpentered Hen and Other Tame Creatures", um romance "The Poorhouse Fair" e uma coleção de contos, "The Same Door"- e os publicou pela Alfred A. Knopf, que permaneceu sua editora por toda sua carreira. De 1954 a 1959, ele publicou mais de uma centena de ensaios, artigos, poemas e contos na "The New Yorker".

Em "Casais Trocados" (1968), seu quinto romance, Updike explorou as relações sexuais em uma comunidade de jovens casados. "Casais Trocados", que se tornou um best-seller, foi notavelmente franco sobre sexo para a época e se tornou conhecido por suas descrições longas e frequentemente líricas do ato sexual.

Com o quarteto "Coelho", Updike lançou seu olhar aguçado a um mundo ainda maior. Enquanto "Coelho Corre" apresenta sua narrativa no tempo presente da sordidez doméstica de classe operária, suas três sequências, publicadas em intervalos de 10 anos, abrangem a experiência americana da segunda metade do século 20: "Coelho em Crise" (1971), a turbulência cultural dos anos 60; "Coelho Cresce" (1981), os tempos de boom dos anos 70, a crise do petróleo e a inflação; e "Coelho Cai" (1991), situado em um tempo que Coelho chama de "Reinado de Reagan", com sua guerra comercial com o Japão, sua epidemia de Aids e o atentado terrorista a bomba ao vôo 103 da Pan Am, sobre Lockerbie, Escócia.

Em 1974, Updike se separou de Mary e se mudou para Boston, onde lecionou brevemente na Universidade de Boston. Em 1976, os Updikes se divorciaram e no ano seguinte ele se casou com Martha Ruggles Bernhard.

Além de sua esposa, Martha, ele deixa seus filhos David, de Cambridge, Massachusetts, e Michael, de Newburyport, Massachusetts; suas filhas Miranda, de Ipswich, e Elizabeth, de Maynard, Massachusetts; três enteados, John Bernhard, de Lexington, Massachusetts, Jason Bernhard, do Brooklyn, Nova York; e Frederic Bernhard, de New Canaan, Connecticut; sete netos por parte dos filhos e sete netos por parte dos enteados.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Texto do The New York Times, no UOL.


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