quarta-feira, maio 06, 2009

Valsa com Bashir (Waltz with Bashir)

Valsa com Bashir (Waltz with Bashir)


A primeira referência que eu me lembro ao filme Valsa com Bashir foi no blog Implicante por Natureza. Acho que era candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E tratava da invasão de Israel ao Líbano em 1982.


E o filme é algo desconcertante, pois ele é anunciado como um documentário, e é uma animação. Normalmente estamos acostumados a assistir documentários com imagens captadas de alguma reportagem, ou depoimentos, ou debates capturados pelo documentarista, como acontece nos filmes de Eduardo Coutinho, ou de Errol Morris. E neste filme, Valsa com Bashir, há depoimentos, e estes depoimentos estão lá em forma de animação. A animação é normalmente dublada pelo próprio entrevistado, mas nem sempre. Em alguns depoimentos, a personagem que aparece na animação é dublada por um terceiro. Imagine!


É um filme produzido em Israel, falado em hebraico, co-produzido pela Alemanha e França.


Bashir é Bashir Gemayel. Presidente eleito do Líbano, e assassinado num atentado à bomba na sede de seu partido/milícia, dias antes de tomar posse, durante a guerra civil naquele país. No mesmo período havia regiões do Líbano ocupadas por Israel e outras pela Síria.


O filme começa com uma matilha correndo por uma cidade, imagino que a cidade seja Tel Aviv. Eles se juntam e param diante do apartamento de um homem que os encara atemorizado. Os cães são parte do sonho (ou pesadelo) recorrente deste homem.


Este homem procura um amigo. O amigo é um cineasta que é o diretor e roteirista Ari Folman. O homem conta seu sonho, sonho que ele é capaz de decifrar. Os cães do sonho que o assombra são os cães que ele matou quando serviu como parte das tropas que invadiram o Líbano em 1982. Ele era o franco-atirador do pelotão que devia matar os cães, pois estes percebem a presença de estranhos (como é o caso dos soldados de Israel) e latem, alertando os “terroristas” (isto é, os guerrilheiros) palestinos que o exército israelense pretende eliminar em sua incursão em território libanês.


Folman, que também servia ao exército israelense naquela guerra, contudo, não lembra o papel que ele exerceu. Suas memórias sobre o episódio estão como que apagadas.


Assim ele parte em busca de suas memórias. Procura um psicólogo. Procura outros soldados contemporâneos seus.


O que também acaba por se tornar meio desconcertante. Um dos colegas revela seu enjôo enquanto é transportado por via marítima para atacar o Líbano. Após o enjôo no mar, quando chega à terra seu pelotão massacra uma família libanesa cujo carro inadvertidamente se aproximou do pelotão recém-iniciado na guerra. Os soldados daquele pelotão estavam mortos de medo do que quer que os esperasse.


Outro ex-combatente narra sua experiência como parte da tripulação de um tanque merkava (suponho que fosse merkava, se tratava de um blindado pesado). Este tanque era parte de um esquadrão que avançava em direção ao Líbano pelo litoral do Mediterrâneo. Quando o comandante deste tanque em que o depoente estava é morto por um franco-atirador, a tripulação do tanque corre em debandada, legítimo salve-se quem puder, em direção ao mar, enquanto os demais tanques do esquadrão batem em retirada.


Pensei com os meus botões que era só o que me faltava. Um filme que retrata soldados israelenses na invasão do Líbano como vítimas.


Mas eu estava enganado.


Quando chega a Beirute o jovem Folman vê o Aeroporto Internacional de Beirute semi-destruído e saqueado, ocupado pelas tropas israelenses.


E no QG, recebe a notícia que Bashir foi assassinado. Bashir era o líder da falange cristã do Líbano - um grupo de cristãos maronitas, que recentemente havia sido eleito presidente, como já foi dito acima. A falange era aliada de Israel em 1982.


E assim, Folman vai recuperando a memória de seu papel na invasão de 1982. E com ele vamos nós na sua jornada catártica para revelar aquilo que por mais de vinte anos ele vem recalcando.

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