Tony Judt
Tony Judt
SÃO PAULO - Tony Judt era (ou é) um dos maiores intelectuais da atualidade. A frase soa batida e talvez não dê conta da dimensão pública do historiador britânico, morto na sexta-feira, aos 62 anos.
Três de seus livros estão traduzidos: "Passado Imperfeito" (1992), sobre a atração fatal da intelectualidade parisiense pelo comunismo nos anos que se seguiram à libertação da França, em 1944; "Pós-Guerra: uma História da Europa desde 1945" (2007), que é sua obra monumental; e "Reflexões sobre um Século Esquecido" (2008), reunião de ensaios que pingaram nas últimas duas décadas em publicações como a "New York Review of Books".
São textos excepcionais, escritos com estilo e clareza exemplar. Vários deles cuidam dos intelectuais e da sua relação, tantas vezes de omissão ou cumplicidade, com os horrores do século 20.
Em "Eric Hobsbawm e o Romance do Comunismo", Judt elogia a "fama bem merecida" do colega, "o historiador mais dotado do nosso tempo". Mas lembra que, "para fazer algum bem no novo século, temos de começar por dizer a verdade sobre o anterior"; e Hobsbawm "de certa forma dormiu durante o terror e a vergonha de sua época".
Não imagine por isso que Judt seja um entusiasta do livre-mercadismo. Não mesmo. Ele não hesita em tratar o marxismo como uma fantasia -"uma combinação de descrição econômica, prescrição moral e previsão moral" sedutora-, mas permanece no campo da esquerda.
Sua perspectiva é a social-democracia, ainda que reconheça que hoje ela tenda a se confundir com a "ala avançada do liberalismo de mercado reformista". Judt é um pensador agudo, sutil e antidogmático, jamais obscuro ou panfletário.
Talvez por isso tivesse humor para dizer: "Fora da universidade, sou visto como um comunista judeu, esquerdista e louco que se odeia; dentro da universidade, me veem como um elitista branco, liberal e antiquado". Intelectuais como ele fazem diferença. E falta.
Texto de Fernando de Barros e Silva, na Folha de São Paulo, de 9 de agosto de 2010.
Marcadores: falecimento, História, historiadores
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