quinta-feira, março 05, 2009

Ninho Vazio

Ninho Vazio


Vez por outra eu leio ou ouço maravilhas acerca do novo cinema argentino. E eu acho que quando falam em “novo” querem referir o cinema que tem sido feito no país vizinho dos anos 1990 para cá.

Assim fui conferir o filme Ninho Vazio (“El Nido Vacio”, de Daniel Burman, Argentina, 2008). Não tanto para conferir o “novo cinema argentino”, quanto para ouvir o espanhol dos “hermanos”, como ainda para conferir se haveria cenas externas na cidade de Buenos Aires.


O filme começa com um casal de meia idade, ou um pouco além disso, em um jantar com amigos. Eles são Leonardo (Oscar Martínez) e Martha (Cecília Roth). Após o jantar, quando chegam em casa, a filha mais velha do casal não está lá, e provavelmente só voltará para casa no dia seguinte, conforme Martha informa a Leonardo. Isto, o fato da filha passar a noite fora, inquieta Leonardo, fazendo com que ele tome a decisão de aguardar a chegada da filha acordado, sentado em uma confortável poltrona da sala da residência do casal. Leonardo é um dramaturgo e aproveita o tempo para fazer anotações para alguma nova futura peça que venha a escrever.


Mas então os dias passam rápido. Na cena seguinte, ficamos sabendo que a filha do casal contraiu matrimônio com um jovem de ascendência judaica, e migrou para Israel. Os outros dois filhos do casal, após concluírem suas graduações na faculdade, resolvem ir fazer pós-graduação em algum país bem longe, da Argentina, provavelmente na Europa.


O casal passa a viver um momento novo em sua vida. Já não há mais a preocupação com os filhos. O que fazer daí por diante?


Martha resolve retomar os estudos, e concluir sua graduação em sociologia. Ela havia sido uma estudante relativamente brilhante na juventude, mas, provavelmente por conta de casamento e nascimento dos filhos, não chegou a se formar. A volta à faculdade abre para ela um novo círculo social, com os novos colegas da faculdade, bem como com os professores. Martha, que já era uma pessoal sociável, de muitos relacionamentos sociais, tem um novo leque de relações a explorar.


Leonardo, mais retraído, encontra um amigo que lhe indica trabalhar com publicidade, coisa que ele se anima a fazer. Além disso, o genro lhe pede que leia um livro que escrevera (que o genro escrevera). O livro se chama “O Ninho Vazio”. Por fim, ainda acaba se envolvendo emocionalmente com um dentista recém-formada que o trata em um momento que a dentista que cuida dele normalmente está fora da cidade, em um congresso de odontologia. Esta dentista recém-formada é uma moça muito reticente...


Leonardo anda com o livro do genro para cima e para baixo, mas nunca encontra um momento em que chegue a se concentrar para lê-lo, e dar seu veredito, tão aguardado pelo genro.


Por fim, quando a filha anuncia o nascimento do neto de Leonardo e Martha, o casal decide ir a Israel. Lá a família se reencontra em parte. Aparentemente no vôo para Tel-Aviv, Leonardo tem tempo para ler o tal livro, que já se tornara um sucesso de vendas em Israel, e já havia sido traduzido para outros idiomas. Leonardo elogia o livro, o que gera gratidão da parte de seu genro.

Em Israel o casal tem oportunidade de flutuar nas águas do Mar Morto, origem da foto do cartaz que ilustra o filme.


E então? O filme é uma reflexão sobre, como diz o título, “o ninho vazio”. O que pode, ou deve, fazer um casal, que chegou junto à fase em que os filhos abandonam o lar, e vão viver suas próprias vidas? O filme não dá respostas sobre isso. Coloca hipóteses. Voltar a estudar? Uma traição por conta do tempo deixado ocioso, uma vez que um dos cônjuges se envolve em alguma atividade que exclui o outro? Retomar antigos “hobbies”? Hipóteses. É preciso seguir em frente com a vida no tempo que nos resta, parece dizer o diretor, que é bem mais jovem que os atores que dirige, e que os personagens que ajuda a criar.


Quando me foi perguntado se o filme era bom, eu respondi que sim. Além disso, eu diria que o filme foi muito eficiente. Sem grandes pretensões, o diretor contou uma história muito humana, sem drama excessivo, e até com algum leve humor.

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