Lady Gaga é arte?
Lady Gaga é arte?
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
NESTA semana, a parada de singles dos Estados Unidos ficou marcada por um episódio histórico. O topo da lista foi preenchido por "Telephone". "Telephone" é a sexta (SEXTA) música consecutiva de Lady Gaga a chegar ao nº 1 entre as mais vendidas no país. Lady Gaga tornou-se a única artista (entre homens e mulheres) a conseguir tal feito.
Dançante e com letra mais ou menos provocadora, "Telephone" segue a fórmula dos outros sucessos de Gaga, como "Poker Face", "Bad Romance" e "Paparazzi". Veio acompanhada por um clipe com produção superlativa de nove minutos. No início do filme, aparece Beyoncé. Não è à toa. Lady Gaga e Beyoncé são as duas maiores cantoras pop. Beyoncé é a voz; Gaga é a imagem.
Com pouco tempo de carreira, Gaga já foi e é chamada de "nova Madonna". As duas guardam algumas semelhanças (a sensualidade latente; o extremo profissionalismo), mas enquanto Madonna tinha postura crítica em relação a temas como religião e feminismo, Gaga é assumidamente superficial.
O clipe de "Telephone", com suas cores berrantes, ironias e onomatopeias como "smacks" que estouram na tela, poderia ter sido feito por alguém como Roy Liechtenstein.
Em seus nove minutos, o clipe/filme exibe uma série de merchandising de empresas como Virgin, Polaroid, Coca-Cola... Há mais referências a marcas conhecidas do que em um livro do Douglas Coupland.
"O que eu faço é performance. É música pop feita para o Louvre", já disse Lady Gaga em entrevistas. "Escrevo sobre fama, sobre festas e sobre como eu queria que a América de hoje fosse como a New York de Andy Warhol nos anos 1970." Lady Gaga e Andy Warhol.
Para Silas Martí, repórter desta Ilustrada, Gaga é uma nova Andy Warhol, com seu piano estiloso desenhado por Damien Hirst, seu chapéu criado por Frank Gehry.
Opinião compartilhada por Bruno Moreschi, jornalista especialista em artes plásticas: "Ela não teme o comercial, pelo contrário: ela ama o comercial e acha que bobs no cabelo com latinha de Coca-Cola é arte. Assim como Warhol via arte nas sopas. A Lady Gaga sacou, como o Warhol, que sua imagem de artista é algo que deve ser construída 24 horas por dia".
Posso ir até Deleuze e seu conceito de resistência dentro do sistema? Gaga está inserida e opera dentro do sistema da indústria da música pop: atua ao mesmo tempo como paródia e como afirmação desse sistema.
Priscila Arantes, diretora do Paço das Artes e professora da PUC-SP, compara a cantora com o artista sueco Claes Oldenburg, cujos trabalhos focam a coisa-imagem: "É a estetização do fútil. Você assume a mercantilização daquilo, a estética do vazio. É uma grande questão do contemporâneo".
Lady Gaga é (pop)art.
Texto do caderno “Ilustrada”, da Folha de São Paulo, de 17 de março de 2010.
Marcadores: cultura pop, música
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