quarta-feira, janeiro 28, 2009

Morreu John Updike


E morreu o escritor norte-americano John Updike.


Eu recebi a notícia olhando o Jornal Nacional nesta terça-feira (27/01/2009), não muito depois de ter chegado em casa. Foi um certo choque, pois recentemente eu havia lido não me lembro onde que o escritor estava trabalhando em um novo livro, que na verdade, ele sempre iniciava o ano pensando em seu novo e próximo livro. Se uma pessoa está sempre pensando em novos projetos, eu imaginei que a saúde de Updike estivesse muito bem, obrigado. Engano. Os obituários informam que John Updike faleceu em decorrência de um câncer no pulmão. Bem, câncer de pulmão não é algo que se contraia num dia e se morra dias depois, como costuma acontecer com processos infecciosos.


Não li muita coisa de John Updike, embora a morte do escritor não tenha reduzido meu interesse pela obra dele. O primeiro livro de Updike que li foi “Roger's Version”, que aqui no Brasil saiu traduzido com o título de “Pai Nosso Computador”, uma obra sobre o Roger do título, um professor de teologia, de uma faculdade que resolve apoiar o desenvolvimento de um projeto de um aluno que pretende criar uma versão cibernética factível do processo da Criação descrito na Bíblia. Mas a ação é centrada em Roger, sua vida (vidinha?) rotineira, seus desejos sexuais reprimidos e manifestos, a maneira como lida com certas dificuldades.


Depois tive a oportunidade de ler os quatro capítulos da saga (?) de Harry “Rabbit”Angstron, da série “Coelho”: Coelho Corre, Coelho em Crise, Coelho Cresce, Coelho Cai. É realmente interessante acompanhar a trajetória de um personagem cujas histórias foram escritas com intervalos de 10 anos aproximadamente entre cada uma. E, de fato, pela série de livros sobre Harry Angstron, é possível se ter um certo panorama histórico, e talvez mental da história dos Estados Unidos entre a década de 1950 e 1990, segundo membros de sua classe média.


Por fim, minha experiência com Updike terminou com “Na Beleza dos Lírios”, um romance onde ele fala de três gerações de uma família americana, invariavelmente tocando nos assuntos religião e sexo, para finalizar com uma versão fictícia, mas que parece fortemente influenciada pelos incidentes que envolveram uma seita em Waco, Texas, que acabou num tiroteio com a polícia americana, com mortos e feridos, e o incêndio de parte das instalações da seita, em 1993. Updike transfere “seu” incidente para o Colorado, mas a inspiração me pareceu evidente. Destas que li, me pareceu uma obra menor, com este final que parecia que o escritor queria explicar / exorcizar, o incidente do Texas, no qual acabaram por morrer dezenas de pessoas.


Li ainda hoje, na Folha de São Paulo, um comentarista que disse que John Updike não era “brilhante”. Não sei se era necessário que fosse brilhante ou genial. Foi prolífico, e nos deu um pouco mais de conhecimento sobre o mundo em que vivemos. Talvez pudesse ser descrito como um buscador, ou um tradutor, da alma do homem de classe média suburbana dos Estados Unidos. Fará falta.


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