domingo, março 15, 2009

O tempo, a razão e a obsessão – CartaCapital e seu momento Veja (ou quem sabe Contigo)

O tempo, a razão e a obsessão – CartaCapital e seu momento Veja (ou quem sabe Contigo)


A revista CartaCapital, na edição número 534, de 25 de fevereiro de 2009, em sua seção chamada “A Semana”, onde como se poderia esperar são analisados os fatos que a revista achou mais importantes na semana anterior à da publicação, volta a tocar no assunto Kaká e suas relações com a Igreja Renascer, cujos líderes Estevam e Sônia Hernandes cumprem pena nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro (tentaram entrar em território americano com mais dinheiro que haviam declarado à alfândega).


Tive oportunidade de comentar neste blogue que naquela reportagem específica a revista CartaCapital teve seu momento de revista Veja, ou mesmo de Contigo, esta uma revista especializada em fofocas sobre ricos, famosos e mais alguns que gostariam de ser uma destas coisas ou a outra.


Minha opinião inicial era que a revista resolveu se unir a um procurador de justiça em busca de algum momento de celebridade. Digo isso baseado no conteúdo do questionário enviado ao jogador de futebol. As perguntas me pareceram esdrúxulas, e eu imaginei as respostas que eu daria a elas. O procurador tinha (tem) centenas de membros de Igreja Renascer em Cristo na cidade de São Paulo aos quais ele poderia endereçar suas perguntas, mas resolveu enviá-las a alguém famoso, um jogador de futebol de sucesso, que mora na Europa. Depois a revista afirmou que sua fonte não foi o procurador. Mas além disso, a reportagem de Paolo Manzo, de janeiro do ano passado, ainda resolve explorar as supostas dificuldades de relação entre Kaká, sua esposa e sua sogra. É ou não um momento Contigo?


Voltando então. Na seção A Semana, de 25 de fevereiro passado, a revista volta ao assunto. Informa que o jogador respondeu às perguntas do procurador. E a revista divulga o total de doações de Kaká para a Igreja: 200 mil euros, 580 mil reais aproximadamente ao câmbio do dia. Se Kaká é um dizimista, isto é, entrega dez por cento de seus rendimentos à Igreja, podemos inferir que ele recebeu 2 milhões de euros, ou 5,8 milhões de reais em salários e patrocínios? Esta notícia deveria ser divulgada? É do interesse público quanto o jogador recebe? Ou antes este tipo de informação não contribui para colocar mesmo em risco a vida do jogador e de seus familiares?


O texto de A Semana diz que “A reportagem provocou uma reação irada dos pit bulls a serviço da Renascer”. Quem são eles? Quem são os “pit bulls a serviço da Renascer”? Os fiéis da Igreja? Será que eles não podem defender as pessoas em quem confiam, mesmo que estas pessoas errem em algum momento de suas vidas?


E por fim, o texto se conclui após dizer que quem defendia a Renascer, “deu com os burros n'água”, e ainda “O tempo, neste caso, foi o senhor da razão”.


Eu não entendo assim. Para mim a revista errou ao se transformar numa revista de fofocas de celebridade. Insiste no erro, ao informar que o jogador Kaká respondeu ao procurador, e retomar o assunto um ano depois, em busca de razão para si. Mas ao mesmo tempo, como acontecia com freqüência no governo W. Bush, tem dificuldades de admitir que errou. Além disso, ao genericamente chamar de “pit bulls” aqueles que defenderam a Renascer, ou questionaram o conteúdo da reportagem como este blogueiro, parece demonstrar dificuldades também em aceitar o contraditório de suas afirmações.


A propósito, Mino Carta afirmou que iria processar a assessoria de imprensa de Carlos Brickmann contratada para ser relações públicas da Igreja e de seus líderes, acho que por calúnia e difamação, em busca de dano moral. Como ficou aquele processo?

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