sábado, julho 18, 2009

Pastora Caroline

PASTORA CAROLINE

"Deus deu dinheiro pro Real Madrid contratar o Kaká"

"Enquanto papai tá fazendo gol, a gente vai aqui pisar na cabeça do Diabo, né? Em nome de Jesus." Foi assim que a bispa Sônia Hernandes, fundadora da Igreja Renascer em Cristo, recebeu no palco de um culto, nos Estados Unidos, o filho do craque Kaká, Luca, e a mulher do jogador, a "pastora Carol, de Milão".

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Caroline Celico se tornou pastora da Renascer recentemente. E, no dia 21 de junho, na Flórida, deu seu testemunho a um grupo de jovens do PA (Projeto Amar) da igreja. Os vídeos da pregação estão no YouTube [www.youtube.com/watch?v=f-hCMe-lOmA].

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No púlpito, microfone na mão, Carol explica a relação de Deus com a ida de Kaká para a Espanha. "Como pode no meio da crise alguém ter dinheiro? O dinheiro do mundo tem que tá em algum lugar. E Deus colocou esse dinheiro na mão de quem? Do Real Madrid, pra contratar o Kaká. Foi uma grande bênção."

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Caroline assume que ainda se atrapalha com o vocabulário futebolístico e diz que o que motiva o casal "é que nós vamos estar podendo abrir uma igreja lá". "O Senhor estava nos querendo lá em Madri", diz Caroline.


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Depois de quase quatro anos de casamento com Kaká, a nova pastora falou sobre a opção do casal por manter a virgindade antes da união. "Eu pensei: "Meu Deus, quando eu falar pra ele [que queria casar virgem], ele vai me largar, né?" Ele ficou emocionado e falou: "Esse é o sinal que eu tinha pedido pro Senhor. Eu pedi que, se você fosse a pessoa certa, você ia querer fazer essa aliança de se santificar, de esperar até o casamento"."

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Com roupa discreta e maquiagem caprichada, Caroline explica ainda que, quando teve o seu "encontro com o Senhor", aos 15 anos, ficou impressionada com a beleza dos jovens da igreja. "Eu entrei na Lins [templo da Renascer na avenida Lins de Vasconcelos, em SP] e vi pela primeira vez jovens lindos numa igreja. Normalmente, não é assim. A gente é diferente mesmo. Vocês derrubam o inferno só com a beleza. Amém?"

Trecho da coluna de Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, de 17 de julho de 2009.

Prevejo comentários na revista CartaCapital da semana que vem.


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domingo, março 15, 2009

O tempo, a razão e a obsessão – CartaCapital e seu momento Veja (ou quem sabe Contigo)

O tempo, a razão e a obsessão – CartaCapital e seu momento Veja (ou quem sabe Contigo)


A revista CartaCapital, na edição número 534, de 25 de fevereiro de 2009, em sua seção chamada “A Semana”, onde como se poderia esperar são analisados os fatos que a revista achou mais importantes na semana anterior à da publicação, volta a tocar no assunto Kaká e suas relações com a Igreja Renascer, cujos líderes Estevam e Sônia Hernandes cumprem pena nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro (tentaram entrar em território americano com mais dinheiro que haviam declarado à alfândega).


Tive oportunidade de comentar neste blogue que naquela reportagem específica a revista CartaCapital teve seu momento de revista Veja, ou mesmo de Contigo, esta uma revista especializada em fofocas sobre ricos, famosos e mais alguns que gostariam de ser uma destas coisas ou a outra.


Minha opinião inicial era que a revista resolveu se unir a um procurador de justiça em busca de algum momento de celebridade. Digo isso baseado no conteúdo do questionário enviado ao jogador de futebol. As perguntas me pareceram esdrúxulas, e eu imaginei as respostas que eu daria a elas. O procurador tinha (tem) centenas de membros de Igreja Renascer em Cristo na cidade de São Paulo aos quais ele poderia endereçar suas perguntas, mas resolveu enviá-las a alguém famoso, um jogador de futebol de sucesso, que mora na Europa. Depois a revista afirmou que sua fonte não foi o procurador. Mas além disso, a reportagem de Paolo Manzo, de janeiro do ano passado, ainda resolve explorar as supostas dificuldades de relação entre Kaká, sua esposa e sua sogra. É ou não um momento Contigo?


Voltando então. Na seção A Semana, de 25 de fevereiro passado, a revista volta ao assunto. Informa que o jogador respondeu às perguntas do procurador. E a revista divulga o total de doações de Kaká para a Igreja: 200 mil euros, 580 mil reais aproximadamente ao câmbio do dia. Se Kaká é um dizimista, isto é, entrega dez por cento de seus rendimentos à Igreja, podemos inferir que ele recebeu 2 milhões de euros, ou 5,8 milhões de reais em salários e patrocínios? Esta notícia deveria ser divulgada? É do interesse público quanto o jogador recebe? Ou antes este tipo de informação não contribui para colocar mesmo em risco a vida do jogador e de seus familiares?


O texto de A Semana diz que “A reportagem provocou uma reação irada dos pit bulls a serviço da Renascer”. Quem são eles? Quem são os “pit bulls a serviço da Renascer”? Os fiéis da Igreja? Será que eles não podem defender as pessoas em quem confiam, mesmo que estas pessoas errem em algum momento de suas vidas?


E por fim, o texto se conclui após dizer que quem defendia a Renascer, “deu com os burros n'água”, e ainda “O tempo, neste caso, foi o senhor da razão”.


Eu não entendo assim. Para mim a revista errou ao se transformar numa revista de fofocas de celebridade. Insiste no erro, ao informar que o jogador Kaká respondeu ao procurador, e retomar o assunto um ano depois, em busca de razão para si. Mas ao mesmo tempo, como acontecia com freqüência no governo W. Bush, tem dificuldades de admitir que errou. Além disso, ao genericamente chamar de “pit bulls” aqueles que defenderam a Renascer, ou questionaram o conteúdo da reportagem como este blogueiro, parece demonstrar dificuldades também em aceitar o contraditório de suas afirmações.


A propósito, Mino Carta afirmou que iria processar a assessoria de imprensa de Carlos Brickmann contratada para ser relações públicas da Igreja e de seus líderes, acho que por calúnia e difamação, em busca de dano moral. Como ficou aquele processo?

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quinta-feira, março 20, 2008

Requentando a vaca: A CartaCapital, o Procurador, o Kaká, o Apóstolo e a Bispa

Pois a revista CartaCapital voltou ao tema do jogador de futebol, e os líderes da igreja que o jogador frequenta, a Renascer em Cristo. Estes líderes são o apóstolo Estevam Hernandes, e sua esposa, a bispa Sônia.

Na edição desta semana, de 19 de março de 2008, n. 487, na seção que análise as notícias consideradas relevantes da semana anterior há um texto em tom irado onde o autor reclama que uma assessoria de imprensa contratada pela igreja divulgou que o questionário divulgado pela revista, e feito procurador Mendroni, para ser encaminhado à justiça italiana, era falso, pois não estava nos autos do processo. Na reportagem original, o procurador, por alegado engano do redator, era chamado o tempo todo de juiz.

O tom irado da revista fica evidente pelos adjetivos. A peça da assessoria de imprensa é uma "mentira" (logo seus autores mentirosos), o texto é "malandro e mal intencionado". Também a peça é uma "artimanha do capeta", e os assessores são "serviçais da Renascer".

Depois o texto parte para a desqualificação de Carlos Brickmann, proprietário da Brickmann e Associados. A empresa responsável pelo trabalho de assessoria de imprensa da Renascer, somos informados, tem em sua carteira de clientes "notórios condenados pela justiça, a começar pelo apóstolo e pela bispa". E que "há quem busque seus préstimos pela disposição do assessor em praticar o jogo sujo, a aceitar tarefas que gente séria no mercado de assessoria de imprensa rejeitaria sem pestanejar" (grifo meu em "gente séria"). Continua a revista: "Entre outras, Carlinhos é afeito a denegrir concorrentes e adversários de seus clientes, inclusive por meio do baixo expediente de distribuição de dossiês e fofocas".

Mais, já em novo parágrafo: "Se ele considera o dízimo que lhe é pago pela Renascer suficiente para se prestar a qualquer tipo de ignomínia, é uma opção de vida". E, por fim: "Fique claro, porém, que CartaCapital tomará as medidas judiciais cabíveis".

O texto da revista ainda acusa a o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, notório por ser presidente da seção paulista da OAB, e um dos líderes do fracassado movimento civil e "apolítico" "Cansei", e que neste caso deu assessoria jurídica à Brickmann e Associados, de "mais um exemplo de indignação seletiva ambulante".

Como diria um conhecido meu, por que tanta mágoa nesse coraçãozinho? Os advogados existem, me parece, para defenderem seus clientes. Isto nem sempre quer dizer que eles busquem mais a justiça do que o dinheiro, mas não dá para imaginar um advogado de defesa atuando ao lado do promotor, e ambos trabalhando para condenar o réu.

Por outro lado, assessorias de imprensa existem para, bem... prestarem assessoria de relações públicas para quem as contrata. E, também me parece, isto inclui tentar ressaltar o que de melhor pode existir em seus clientes, e tentar evitar que o distinto público ignore, ou releve, coisas supostamente ruins que o cliente fez ou causou.

Ficou me parecendo que na lógica dura do redator de CartaCapital os advogados, os assessores de imprensa, e, por afinidade, os publicitários não deveriam existir. Ou talvez só devessem existir se não fossem contra aquilo que a revista publica. Pois afinal, o que a revista publica, conforme seu diretor de redação, Mino Carta, é a "verdade factual".

Eu não conheço pessoalmente Carlos Brickmann, ou "o Carlinhos", como a revista o chama. Eu só conheço a coluna que ele publica no Observatório da Imprensa; coluna esta bastante jovial e divertida.

Também não conheço a peça publicitária feita pela Brickmann e Associados a pedido da Igreja Renascer e distribuída aos órgãos de comunicação. Posso dizer que soube do caso pelo meu filho que, por sua vez viu a notícia no Portal 3, o portal de notícias da Universidade do Rio dos Sinos, que fica aqui em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre.

Assim todos estes meus julgamentos são tipo assim, "acho que..." . O que de fato é bem irrelevante.

Só voltei a insistir neste assunto porque eu já havia reclamado quando a revista deu capa para o assunto: "A Fé e a Grana", e texto interno com a manchete "Fé, família, dinheiro", com texto de Paolo Manzo. Edição 478, de 16 de janeiro de 2008. Especulei na ocasião que a revista usava de um promotor que estava atrás de um holofote para vender mais revistas, em cima de um famoso jogador de futebol, que professava fé em Deus através da citada igreja, e amizade pelos líderes desta mesma igreja, mesmo que eles estivessem envolvidos com problemas legais.

Em edições posteriores a revista afirmou e reafirmou que não obtivera o questionário das mãos do promotor Mendroni. Ou seja, não era um promotor buscando holofotes. Na minha opinião apenas uma forma de vender mais revistas usando a imagem de um jogador de futebol. Quer dizer, como afirmei na ocasião, CartaCapital estava tendo seu momento Caras, esta famosa revista de celebridades.

Então repito. A revista usou uma figura famosa (mas que mantém certa privacidade a respeito de sua vida pessoal, apesar de usar sua fama para divulgar a fé que professa) para, através da relação desta pessoa famosa com dirigentes de uma igreja (uma associação civil e de direito privado), vender mais revistas. De quebra o texto original ainda trata de supostos problemas de relacionamento entre o jogador e sua sogra, sem ter consultado nenhum dos dois. Para mim, isto, o questionário do procurador que quer que Kaká seja testemunha num processo contra amigos dele, ou o relacionamento de Kaká com a sua sogra, não era relevante, quanto mais notícia para ser capa de uma revista semanal, que não se quer de fofocas e celebridades.

Se o primeiro texto, com sua respectiva capa, não tivesse sido publicado, toda esta celeuma teria sido evitada. Afinal o assunto era mesmo irrelevante, e eu, como leitor e assinante da revista, preferiria que o espaço nobre da capa da revista semanal fosse utilizado, para um assunto mais importante. Qualquer assunto mais importante.

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terça-feira, janeiro 22, 2008

A vaca esfriando: E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?) - 3

Felizmente a nova edição da revista CartaCapital, número 479, foi honesta com a publicação da correspondência dos leitores. Foram seis correspondência publicadas sobre a reportagem Fé, família e dinheiro, e as seis reclamando da reportagem. Inclusive a sogra do jogador Kaká, reclamou que foi citada sem ter sido consultada.
Me chamou a atenção a correspondência de Leandro Octávio de Almeida, de São Gonçalo, RJ:

"Paolo não conseguiu manter o bom nível habitual da revista. Quando fez menções às 'intrigas familiares' de Kaká, a matéria partiu para a futilidade. Como evangélico, sinto-me ofendido pela afirmação de nossos fiéis 'defendem cegamente seus líderes'. Cego é o jornalismo que nos trata com simplificações e generalizações. Somos uma diversidade tão grande que não podemos ser tratados com a preguiça ou a má-fé habitual de nossa imprensa. Se tal fato tivesse ocorrido em outra publicação, não mereceria a menor indignação. Mas, quando um texto como esse ganha a chancela de CartaCapital, aí não dá pra dizer que não tem importância."

Gostei do que este outro leitor disse, a faria minhas parte das palavras dele.
A revista também publicou a enquete da semana em que perguntava "O que você acha de Kaká doar cerca de 2 milhões à Igreja Renascer?". Entre as hipóteses propostas pela revista, "o dinheiro é dele, ele faz o que quiser"; "ele encurtaria seu caminho para o céu se doasse o dinheiro para instituições de caridade"; "ele está sendo enganado pelos dirigentes de sua igreja"; "natural, já que é o costume dos fiéis da igreja em questão", 47% dos leitores optaram pela primeira hipótese. E quase 16% optou pela última. Outros 16% foram pela terceira, esses eu acredito que acreditam na ingenuidade do jogador. Por fim, pouco mais de 20% optou pela segunda opção; esses não conhecem, ou não querem conhecer, a versão do cristianismo protestante-evangélico para "o caminho para o céu". Claro. Tudo interpretação minha. Certamente haverá quem discorde.
Mas após este pequeno montante de críticas, a revista, provavelmente pela pena do diretor Mino Carta, se esconde atrás da publicação da "verdade factual", expressão cara ao diretor, bem como pela ampla repercussão que a reportagem causou mundo afora.
Mesmo que, segundo a redação, a revista não fez mais que publicar a "verdade factual", para mim, isto foi apenas dar a repercussão a um promotor de justiça em busca de publicidade.

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segunda-feira, janeiro 21, 2008

E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?) - 2

Vi no saite Comunique-se, que o repórter Paolo Manzo se enganou, e que o sr. Mendroni, na verdade, é promotor de justiça.
Isto reforça minha impressão de um promotor querendo se destacar, e usando uma celebridade para isso. E a revista CartaCapital deu ampla cobertura ao promotor.
Mino Carta, diretor da revista, em seu blog, afirma que a reportagem é relevante, e de interesse público, tendo sido acolhida em outros veículos de comunicação mundo afora. Então tá.

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sábado, janeiro 19, 2008

E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?)

- Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas?
- Os acusados costumam frequentar sua casa na Itália e no Brasil?
- O senhor costuma frequentar a casa deles no Brasil e nos Estados Unidos?
- A partir de 31 de julho de 2006, quando teve início a acusação por crime de lavagem de dinheiro, quantas vezes os acusados frequentaram sua casa?
- O senhor tem conhecimento do fato que Estevam Hernandez e Sônia Haddad Moraes Hernandez tiveram prisão decretada?
- Durante o período do decreto de prisão, as duas pessoas ficaram hospedadas em sua casa, na Itália ou no Brasil?
Acima a primeira bateria.
A segunda bateria:
- O senhor contribui com a Igreja do ponto de vista financeiro?
- Desde quando?
- Com dinheiro ou com outros bens?
- Quanto deposita por mês?
- Quanto já depositou desde que começou a colaborar com eles - nos dê um total ainda que aproximado?
- De que forma fez suas doações?
- O senhor tem conhecimento do destino que foi e é dado ao dinheiro que deposita?
Há mais:
- O senhor se dirigiu à imprensa brasileira (primeira página do jornal Folha de São Paulo, do dia 12 de setembro [de 2007, eu suponho]) para defender a Renascer. O senhor sabe de suas atividades e do que é acusada?
Eis o interrogatório encaminhado pelo juiz da 1a. Vara Criminal de São Paulo, Marcelo Batlouni Mendroni, ao jogador Kaká, do Milan. E amplamente divulgado pela revista CartaCapital em texto assinado por Paolo Manzo, o qual, por sinal, não consegui localizar no quadro da redação da revista, localizado na página 81, desta edição, n. 478. Como a reportagem informa que a revista "teve acesso", e o interrogatório foi produzido por um juiz só posso pensar que foi o mesmo juiz que "deu acesso" às perguntas. E por quê? Onde está o "segredo de justiça" que levou a justiça do Mato Grosso do Sul, por exemplo, a proibir veículos de comunicação daquele estado de divulgarem o nome de jovens acusados de estupro? Na minha vã ignorância só posso pensar que o Sr. Mendroni queira se promover em cima do craque do Milan.
E por conta do "momento Quem" da CartaCapital, a revista ainda divulga as diferenças de fé e os conflitos decorrentes entre Kaká e sua sogra, a bonita e elegante (no vestir) Rosângela Lyra. Como leitor de CartaCapital, fiquei pensando qual o interesse do público em saber que Caroline, esposa de Kaká, e filha de Rosângela, teve uma discussão ríspida com sua mãe a respeito da veneração de Santa Maria por parte dos católicos, e a quase indiferença dos protestantes com relação à santa?
Fiquei pensando, eu, protestante e evangélico, respondendo ao questionário proposto pelo senhor juiz:
"Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas? Bem, excelência somos amigos íntimos e fraternos, nos visitamos quando podemos e trocamos telefonemas"; "Os acusados costumam frequentar sua casa na Itália e no Brasil? Como eu disse, excelência, somos amigos íntimos e fraternos, quando temos a oportunidade nos encontramos"; "O senhor costuma frequentar a casa deles no Brasil e nos Estados Unidos? Excelência, acho que aqui cabe repetir a resposta anterior"; "A partir de 31 de julho de 2006, quando teve início a acusação por crime de lavagem de dinheiro, quantas vezes os acusados frequentaram sua casa? Isto faz cerca de um ano e meio, não excelência? Eu só poderia responder diversas"; "O senhor tem conhecimento do fato que Estevam Hernandez e Sônia Haddad Moraes Hernandez tiveram prisão decretada? Sim, excelência, a imprensa deu ampla divulgação ao decreto de prisão deles"; "Durante o período do decreto de prisão, as duas pessoas ficaram hospedadas em sua casa, na Itália ou no Brasil? Não tenho certeza, excelência, mas é possível que sim"; "O senhor contribui com a Igreja do ponto de vista financeiro? Sim, excelência"; "Desde quando? Desde que comecei a frequentar a igreja, há ene anos atrás, excelência"; "Com dinheiro ou com outros bens? Com dinheiro certamente, excelência. Que tipos de outros bens o senhor pergunta?"; "Quanto deposita por mês? O equivalente a 10% de meus rendimentos mensais, excelência. Isto é variável. A minha mais recente contribuição foi de tantos euros"; "Quanto já depositou desde que começou a colaborar com eles - nos dê um total ainda que aproximado? Não sei excelência, são muitas contribuições através dos anos. Seria melhor pesquisar na contabilidade da Igreja"; "De que forma fez suas doações? Sempre que posso ir a um templo, entrego lá minha oferta, excelência. Às vezes faço transferência bancária"; "O senhor tem conhecimento do destino que foi e é dado ao dinheiro que deposita? Excelência, a Igreja tem contador e contabilidade, mas tenho certeza que o dinheiro é usado para divulgar a fé"; "O senhor se dirigiu à imprensa brasileira para defender a Renascer. O senhor sabe de suas atividades e do que é acusada? Excelência, não li o processo, mas como eles são meus amigos e alegam sua inocência, confio neles, até porque eles ainda não foram condenados pela justiça brasileira".

Não sei o que o jogador Kaká responderá. O que vai acima é apenas a minha cogitação.

E por que eu penso que o juiz Mendroni quer se promover? Porque a Igreja Renascer em Cristo deve ter milhares de fiéis, por todo o Brasil, certamente alguns milhares somente no estado de São Paulo, que é onde acredito que fique a comarca onde corre o processo contra os líderes da Igreja Renascer. Toda esta gente está perfeitamente ao alcance do juiz. Muitos desta gente devem colaborar financeiramente com a Igreja. Por que, então. enviar um questionário para um membro da igreja que está na Itália? Pelos supostos milhões doados por Kaká? Ou seja, uma testemunha é mais importante que outras pela quantidade de dinheiro que fornece? Não sei. Só especulo.

Com o que escrevo aqui não quero dizer que os casal Hernandez seja inocente. Perante a justiça brasileira são inocentes até que sejam condenados em última instância. Nos Estados Unidos eles já estão cumprindo pena por contrabando de dinheiro. Uma pena leve, que aqui no Brasil, se chegassem a ser condenados pelo mesmo motivo, provavelmente seria convertida em prestação de serviços à comunidade, pois não temos penitenciárias adequadas para o cumprimento de penas para crimes, digamos, de pequena monta.

Talvez o casal Hernandez venha a ser culpado por contabilidade ilegal (se não tiverem uma contabilização adequada das entradas, saídas e bens pertencentes à Igreja), falsidade ideológica (se usaram outras pessoas ["laranjas"] para abrir empresas), e quaisquer outros delitos que venham a ser provados contra eles. Por enquanto ainda não.

Anos atrás a revista Época fez uma reportagem sobre o casal, relatando o caso de ex-membros da Igreja que foram prejudicados por se tornarem fiadores em aluguéis de prédios que a Igreja utilizava, e deixou de pagar. Se a história é verdadeira, e o casal Hernandez for condenado será um caso de estelionato. Mas só quando forem condenados.

E por que escrevo isto? Bem, o primeiro motivo é que não esperava ver isto na capa da CartaCapital, revista que assino e tenho por honesta. A reportagem me parece sensacionalista demais para a revista, mas, pelo jeito, como dizia a propaganda, terei que rever meus conceitos.

O segundo é que sou protestante e evangélico, e todas as igrejas protestantes e evangélicas funcionam mais ou menos da mesma maneira com relação às suas finanças. Todas elas dependem das ofertas de seus membros, e estes membros normalmente confiam na direção da Igreja para lidar com isto. O que acontece é que com a população evangélica crescendo, e estas igrejas neopentecostais têm crescido com bastante vigor, o valor das ofertas vai se tornando muito grande, de maneira que o valor arrecadado é muito mais que suficiente para a manutenção de templos e sustento do seu, digamos, clero. O que elas fazem com o dinheiro que sobra? Investem em comunicação. Um exemplo acabado disso é a Igreja Universal do Reino de Deus. Não esqueçamos que tempos atrás o bispo Edir Macedo foi preso sob a acusação de charlatanismo, e outras sandices. Acusações das quais acabou inocentado. Pois quando o canal de notícias Record News foi inaugurado, recentemente, com a presença do presidente da república e do governador do estado de São Paulo, lá estava, apresentado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, o agora "empresário" Edir Macedo. O que mais? Compram imóveis com os quais edificam templos, por vezes com amplos estacionamentos, para conforto dos membros da igreja. Também provêem confortos para a sua liderança: automóveis, combustível, moradia, coisas que vão do simples ao luxuoso, dependendo da quantidade de dinheiro que uma igreja consiga arrecadar, e que, por conta disso, gera a velha questão: isto é uma maneira de facilitar a vida da liderança da igreja, ou uma mordomia imerecida? Cada igreja tem a sua maneira de avaliar isto. Algumas têm colegiados de bispos, algumas decidem por simples assembléias, mais ou menos como reunião de condomínio, embora tendendo a ser um pouco mais pacatas. Nem sempre.

Por fim temos a velha pergunta do protestante: por que não investigam as entradas da Igreja Católica? Por que não informam como a instituição se sustenta aqui no Brasil? Por que é a da maioria? Bom, mas o estado de direito não deve servir para oprimir minorias. Não que eu aqui esteja dizendo que a Igreja Católica tenha algo errado. Longe disso. A Igreja Católica nos oferece belos templos, verdadeiros tesouros arquitetônicos. E os tesouros do Vaticano, esculturas, pinturas, manuscritos antigos, eu sempre advogo que permaneçam por lá, abertos à visitação e à pesquisa.

Mas acho o interrogatório do juiz Mendroni totalmente impróprio, uma desnecessária invasão à privacidade do jogador Kaká. E achei também um imenso desperdício da capa da revista CartaCapital.

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