quarta-feira, novembro 17, 2010

Mulher cristã é condenada à morte por enforcamento no Paquistão

Um tribunal paquistanês condenou à morte uma mulher cristã, mãe de cinco filhos, por blasfêmia, provocando a revolta de grupos de defesa dos direitos humanos nesta quinta-feira.

Asia Bibi, de 45 anos, recebeu sua sentença ainda na segunda-feira (8) em uma corte do distrito de Nankana, na província central de Punjab, a 75 quilômetros de Punjab.

O Paquistão nunca executou um réu por blasfêmia, mas o caso joga luz sobre a polêmica lei islâmica do país, que incentivaria a ação de extremistas.

O processo de Asia começou em junho de 2009, quando ela foi buscar água enquanto trabalhava no campo. Um grupo de camponesas muçulmanas, no entanto, protestou, afirmando que uma mulher não muçulmana não deveria tocar o jarro d'água do qual elas também beberiam.

Dias depois, o grupo de muçulmanas procurou um clérigo local e denunciou Asia, indicando que ela teria feito comentários depreciativos sobre o profeta Maomé. O sacerdote, por sua vez, procurou a polícia local, e uma investigação foi aberta.

Asia foi presa no vilarejo de Ittanwalai e indiciada sob a seção 295 C do Código Penal paquistanês, que inclui a pena de morte.

O juiz Navid Iqbal, que a condenou à morte por enforcamento, "excluiu completamente" qualquer hipótese de que a ré tivesse sido falsamente acusada, afirmando que não há "circunstâncias atenuantes" no caso, de acordo com o texto do veredicto.

O marido de Asia, Ashiq Masih, de 51 anos, disse que pretende apelar da condenação de sua mulher, que ainda precisa ser ratificada pela corte de Lahore, a mais alta de Punjab, antes de ser executada.

"O caso é infundado e nós entraremos com um recurso", declarou.

O casal tem três filhas e dois filhos.

Segundo ativistas dos direitos humanos e defensores das minorias, é a primeira vez que uma mulher é sentenciada à morte por enforcamento no Paquistão por blasfêmia.

Um casal foi condenado à prisão perpétua no ano passado pela mesma acusação.

"A lei da blasfêmia é completamente obscena e precisa ser derrubada em sua totalidade", disse Ali Dayan Hasan, porta-voz da organização Human Rights Watch (HRW).

Cerca de 3% da população paquistanesa, que chega a 167 milhões de pessoas, é composta por não muçulmanos.


Notícia da France Presse, publicada na Folha.com .

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quarta-feira, março 10, 2010

Morre o imame Tantaui, a mais elevada autoridade sunita

O xeque Mohamed Sayed Tantaui, grande imame de Al Azhar (Egito), a maior autoridade do Islã sunita, morreu nesta quarta-feira, na Arábia Saudita, de ataque cardíaco, anunciaram meios oficiais de imprensa.

O xeque Tantaui, um moderado de 81 anos, "morreu na quarta-feira na capital saudita, Riad, depois de um ataque cardíaco súbito", quando estava no aeroporto internacional da cidade, de volta do Cairo, acrescentou a agência.

Segundo a fonte, ele foi levado de emergência para um hospital.

O religioso, ligado ao poder, mas polêmico, estava na Arábia Saudita para assistir à entrega do prêmio internacional do rei Faysal, na noite de terça-feira.

A TV egípcia divulgou imagens da mesquita de Al Azhar com música solene ao fundo após o anúncio do falecimento do imame que, de acordo com um de seus filhos, deve ser enterrado em Medina (Arábia Saudita), o segundo lugar santo do Islã.

"O mundo islâmico e árabe perde um homem de saber e um jurisconsulto que tinha se dedicado a tudo o que fosse bom para o Islã e para os muçulmanos", declarou a direção de Al Azhar, em um comunicado.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, convalescente de uma cirurgia na Alemanha, saudou em um comunicado "um defensor do espírito de moderação, despertar e perdão" do Islã.

Discreto, de barba curta e acostumado a falar em voz baixa, o imame Tantaui havia sido nomeado, em março de 1996, por Mubarak, chefe de Al Azhar. A instituição é considerada o primeiro lugar de ensino do Islã sunita, majoritário no mundo muçulmano, e um centro importante de difusão de fatwas (decretos religiosos), destinados ao mundo sunita.

A universidade de Al Azhar, adjunta à mesquita de mesmo nome na antiga Cairo islâmica, foi fundada no século X e recebe estudantes do mundo muçulmano.

"Era um homem de grande piedade, um homem santo, uma referência para o Egito e todo o mundo sunita", disse Mohammad Abd el Saleh, um aposentado do bairro.

Por várias vezes, Tantaui tomou posições moderadas sobre assuntos religiosos sensíveis, em um país seduzido por um Islã moralista inspirado pela Irmandade Muçulmana e pelo salafismo.

Em outubro passado, causou forte polêmica ao afirmar que o 'niqab', o véu integral que só deixa aparentes os olhos das muçulmanas, era "uma tradição" e não uma obrigação religiosa.

Ele já havia condenado o terrorismo, ao considerar que "o extremismo é o inimigo do Islã".

Opôs-se à excisão - mutilação genital - das meninas, ao contrário de seu antecessor, o ultraconservador xeque Gad al Haq.

Em 2008, foi criticado por apertar a mão do israelense Shimon Peres, durante conferência em Nova York.

Nascido em 1928, no povoado de Salim (província de Sohag, 290 km ao sul do Cairo) e formado na Faculdade de Teologia em 1966, escreveu muitos livros sobre a interpretação do Alcorão.

Notícia da AFP, no UOL.

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terça-feira, março 02, 2010

Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo

Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo




Juliane Von Mittelstaedt, Christoph Schult, Daniel Steinvorth, Thilo Thielke, Volkhard Windfuhr



A ascensão do extremismo islâmico coloca uma pressão cada vez maior sobre os cristãos que vivem em países muçulmanos, que são vítimas de assassinatos, violência e discriminação. Os cristãos agora são considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo. Paradoxalmente, sua maior esperança vem do Islã politicamente moderado.



Kevin Ang é mais cauteloso hoje em dia. Ele espia ao redor, dá uma olhada para a esquerda para a longa fileira de lojas, e depois para a direita em direção à praça, para checar se não há ninguém por perto. Só então o zelador da igreja tira sua chave, destranca o portão, e entra na Igreja Metro Tabernacle num subúrbio de Kuala Lumpur.



A corrente de ar vira páginas queimadas da Bíblia. As paredes estão cobertas de fuligem e a igreja cheira a plástico queimado. A Igreja Metro Tabernacle foi a primeira de onze igrejas a serem incendiadas por muçulmanos revoltados – tudo por causa de uma palavra: “Alá”, sussurra Kevin Ang.



Tudo começou com uma questão – se os cristãos daqui, assim como os muçulmanos, poderiam chamar seu deus de “Alá”, uma vez que eles não têm nenhuma outra palavra ou língua à sua disposição. Os muçulmanos alegam que Alá é deles, tanto a palavra quanto o deus, e temem que se os cristãos puderem usar a mesma palavra para seu próprio deus, isso poderia desencaminhar os fiéis muçulmanos.



Durante três anos isto era proibido e o governo confiscou Bíblias que mencionavam “Alá”. Então, em 31 de dezembro do ano passado, o mais alto tribunal da Malásia chegou a uma decisão: o deus cristão também poderia ser chamado de Alá.



Os imãs protestaram e cidadãos enfurecidos jogaram coquetéis Molotov nas igrejas. Então, como se isso não bastasse, o primeiro-ministro Najib Razak declarou que não podia impedir as pessoas de protestarem contra determinados assuntos no país – e alguns interpretaram isso como um convite para a ação violenta. Primeiro as igrejas foram incendiadas, depois o outro lado revidou colocando cabeças de porcos na frente de duas mesquitas. Entre os habitantes da Malásia, 60% são muçulmanos e 9% são cristãos, com o restante composto por hindus, budistas e sikhs. Eles conseguiram viver bem juntos, até agora.



É um batalha por causa de uma única palavra, mas há muito mais envolvido. O conflito tem a ver com a questão de quais direitos a minoria cristã da Malásia deve ter. Mais que isso, é uma questão política. A Organização Nacional dos Malaios Unidos, no poder, está perdendo sua base de apoio para os islamitas linha dura – e quer reconquistá-la por meio de políticas religiosas.



Essas políticas estão sendo bem recebidas. Alguns dos Estados da Malásia interpretam a Sharia, o sistema islâmico de lei e ordem, de forma particularmente rígida. O país, que já foi liberal, está a caminho de abrir mão da liberdade religiosa – e o conceito de ordem está sendo definido de forma cada vez mais rígida. Se uma mulher muçulmana beber cerveja, ela pode ser punida com seis chibatadas. Algumas regiões também proíbem coisas como batons chamativos, maquiagem pesada, ou sapatos de salto alto.



Expulsos, sequestrados e mortos


Não só na Malásia, mas em muitos países em todo o mundo muçulmano, a religião ganhou influência sobre a política governamental nas últimas duas décadas. O grupo militante islâmico Hamas controla a Faixa de Gaza, enquanto milícias islamitas lutam contra os governos da Nigéria e Filipinas. Somália, Afeganistão, Paquistão e Iêmen caíram, em grande extensão, nas mãos dos islamitas. E onde os islamitas não estão no poder hoje, os partidos seculares no governo tentam ultrapassar os grupos mais religiosos assumindo uma tendência de direita.



Isso pode ser visto de certa forma no Egito, Argélia, Sudão, Indonésia, e também na Malásia. Embora a islamização frequentemente tenha mais a ver com política do que com religião, e embora não leve necessariamente à perseguição de cristãos, pode-se dizer ainda assim que, onde quer que o Islã ganhe importância, a liberdade para membros de outras crenças diminui.



Há 2,2 bilhões de cristãos em todo o mundo. A organização não-governamental Open Doors calcula que 100 milhões de cristãos são ameaçados ou perseguidos. Eles não têm permissão para construir igrejas, comprar Bíblias ou conseguir empregos. Esta é a forma menos ofensiva de discriminação e afeta a maioria desses 100 mil cristãos. A versão mais bruta inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato.



Margot Kässmann, que é bispo e foi chefe da Igreja Protestante na Alemanha antes de deixar o cargo em 24 de fevereiro, acredita que os cristãos são “o grupo religioso mais perseguido globalmente”. As 22 igrejas regionais alemãs proclamaram este domingo como o primeiro dia de homenagem aos cristãos perseguidos. Kässmann disse que queria mostrar solidariedade para com outros cristãos que “têm grande dificuldade de viver de acordo com sua crença em países como a Indonésia, Índia, Iraque ou Turquia”.



Há exemplos contrários, é claro. No Líbano e na Síria, os cristãos não são discriminados, e, na verdade, desempenham um papel importante na política e na sociedade. Além disso, a perseguição contra os cristãos não é de forma alguma um domínio exclusivo dos fanáticos muçulmanos – os cristãos também são presos, agredidos e assassinados em países como o Laos, Vietnã, China e Eritreia.



Lento genocídio” contra os cristãos


A Open Doors edita um “índice de perseguição” global. A Coreia do Norte, onde dezenas de milhares de cristãos estão presos em campos de trabalho forçado, esteve no topo da lista por muitos anos. Ela é seguida pelo Irã, Arábia Saudita, Somália, Maldivas e Afeganistão. Entre os dez primeiros países da lista, oito são islâmicos, e quase todos têm o Islã como sua religião oficial



A perseguição sistemática de cristãos no século 20 – por comunistas na União Soviética e na China, mas também pelos nazistas – custou muito mais vidas do que qualquer outra coisa que tenha acontecido até o momento no século 21. Agora, entretanto, não são apenas os regimes totalitários que perseguem os cristãos, mas também moradores de Estados islâmicos, fundamentalistas fanáticos, e seitas religiosas – e com frequência simples cidadãos considerados fiéis.



Foi-se a era da tolerância, em que os cristãos, chamados de “Povo do Livro”, desfrutavam de um alto grau de liberdade religiosa sob a proteção de sultões muçulmanos, enquanto a Europa medieval bania judeus e muçulmanos do continente ou até mesmo os queimava vivos. Também se foi o apogeu do secularismo árabe pós 2ª Guerra Mundial, quando árabes cristãos avançaram nas hierarquias políticas.



À medida que o Islã político ficou mais forte, a agressão por parte de devotos deixou de se concentrar apenas nos regimes políticos corruptos locais, mas também e cada vez mais contra a influência ostensivamente corrupta dos cristãos ocidentais, motivo pelo qual as minorias cristãs foram consideradas responsáveis. Uma nova tendência começou, desta vez com os cristãos como vítimas.



No Iraque, por exemplo, grupos terroristas sunitas perseguem especialmente pessoas de outras religiões. O último censo do Iraque em 1987 mostrou que havia 1,4 milhão de cristãos vivendo no país. No começo da invasão norte-americana em 2003, eles eram 550 mil, e atualmente o número está está pouco abaixo dos 400 mil. Os especialistas falam num “lento genocídio”.



As pessoas estão morrendo de medo”


A situação na região da cidade de Mosul, no norte do Iraque, é especialmente dramática. A cidade de Alqosh fica no alto das montanhas sobre Mosul, a segunda maior cidade iraquiana. Bassam Bashir, 41, pode ver sua antiga cidade natal quando olha pela janela. Mosul fica a apenas 40 quilômetros dali, mas é inacessível. A cidade é mais perigosa que Bagdá, especialmente para homens como Bassam Bashir, um católico caldeu, professor e fugitivo dentro de seu próprio país.



Desde o dia em que a milícia sequestrou seu pai de sua loja, em agosto de 2008, Bashir passou a temer por sua vida e pela vida de sua família. A polícia encontrou o corpo de seu pai dois dias depois no bairro de Sinaa, no rio Tigre, perfurado por balas. Não houve nenhum pedido de resgate. O pai de Bashir morreu pelo simples motivo de ser cristão.



E ninguém afirma ter visto nada. “É claro que alguém viu alguma coisa”, diz Bashir. “Mas as pessoas em Mosul estão morrendo de medo.”

Uma semana depois, integrantes da milícia cortaram a garganta do irmão de Bashir, Tarik, como num sacrifício de ovelhas. “Eu mesmo enterrei meu irmão”, explica Bashir. Junto com sua mulher Nafa e suas duas filhas, ele fugiu para Alqosh no mesmo dia. A cidade está está cercada por vinhedos e uma milícia cristã armada vigia a entrada.



Aprovação tácita do Estado


Os familiares de Bashir não foram os únicos a se mudar para Alqosh à medida que a série de assassinatos continuou em Mosul. Dezesseis cristãos foram mortos na semana seguinte, e bombas explodiram em frente às igrejas. Homens que passavam de carro gritaram para os cristãos que eles podiam escolher – ou saíam de Mosul ou se convertiam ao Islã. Das 1.500 famílias cristãs da cidade, apenas 50 ficaram. Bassam Bashir diz que não voltará antes de lamentar a morte de seu pai e seu irmão em paz. Outros que perderam totalmente a esperança fugiram para países vizinhos como a Jordânia e muitos mais foram para a Síria.



Em muitos países islâmicos, os cristãos são perseguidos menos brutalmente do que no Iraque, mas não menos efetivamente. Em muitos casos, a perseguição têm a aprovação tácita do governo. Na Argélia, por exemplo, ela tomou a forma de notícias de jornal sobre um padre que tentou converter muçulmanos ou insultou o profeta Maomé – e que divulgaram o endereço do padre, numa clara convocação para a população fazer justiça com as próprias mãos. Ou um canal de televisão pública pode veicular programas com títulos como “Nas Garras da Ignorância”, que descreve os cristãos como satanistas que convertem muçulmanos com o auxílio de drogas. Isso aconteceu no Uzbequistão, que está no décimo lugar do “índice de perseguição” da Open Doors.



A blasfêmia também é outra justificativa frequentemente usada. Insultar os valores fundamentais do Islã é uma ofensa passível de punição em muitos países islâmicos. A justificativa é com frequência usada contra a oposição, quer sejam jornalistas, dissidentes ou cristãos. Imran Masih, por exemplo, cristão dono de uma loja em Faisalabad, no Paquistão, foi condenado à prisão perpétua em 11 de janeiro, de acordo com as seções 195A e B do código penal do Paquistão, que tratam do crime de ofender sentimentos religiosos ao dessacralizar o Alcorão. Um outro dono de loja o acusou de queimar páginas do Alcorão. Masih diz que ele queimou apenas documentos antigos da loja.



É um caso típico para o Paquistão, onde a lei contra a blasfêmia parece convidar ao abuso – é uma forma fácil para qualquer um se livrar de um inimigo. No ano passado, 125 cristãos foram acusados de blasfêmia no Paquistão. Dezenas dos que já foram sentenciados estão agora esperando sua execução.



Não nos sentimos seguros aqui”


A perseguição tolerada pelo governo acontece até mesmo na Turquia, o país mais secular e moderno do mundo muçulmano, onde cerca de 110 mil cristãos representam menos de um quarto de 1% da população – mas são discriminados assim mesmo. A perseguição não é tão aberta ou brutal quanto no vizinho Iraque, mas as consequências são semelhantes. Os cristãos na Turquia, que estavam bem acima dos 2 milhões no século 19, estão lutando para continuar a existir.



É o que acontece no sudeste do país, por exemplo, em Tur Abdin, cujo nome significa “montanha dos servos de Deus”. É uma região montanhosa cheia de campos, picos e vários mosteiros de séculos de existência. O local abriga os assírios sírios ortodoxos, ou arameus, como denominam a si mesmos, membros de um dos grupos cristãos mais antigos do mundo. De acordo com a lenda, foram os três reis magos que levaram o sistema de crenças cristão de Belém para lá. Os habitantes de Tur Abdin ainda falam aramaico, a língua usada por Jesus de Nazaré.



O mundo sabe bem mais sobre o genocídio cometido contra os armênios pelas tropas otomanas em 1915 e 1916, mas dezenas de milhares de assírios também foram assassinados durante a 1ª Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 500 mil assírios viviam em Tur Abdin no começo do século 20. Hoje há apenas 3 mil. Um tribunal distrital turco ameaçou, no ano passado, tomar posse do centro espiritual assírio, o mosteiro Mor Gabriel de 1.600 anos de idade, porque acreditava-se que os monges haviam adquirido terras de forma ilegal. Três vilarejos muçulmanos vizinhos reclamaram que sentiam-se discriminados por causa do mosteiro, que abriga quatro monges, 14 freiras e 40 estudantes atrás de seus muros.



“Mesmo que não queira admitir, a Turquia tem um problema com pessoas de outras religiões”, diz Ishok Demir, um jovem suíço de ascendência aramaica, que vive com seus pais perto de Mor Gabriel. “Nós não nos sentimos seguros aqui.”

Mais que qualquer coisa, isso tem a ver com o lugar permanente que os armênios, assírios, gregos, católicos e protestantes têm nas teorias de conspiração nacionalistas do país. Esses grupos sempre foram vistos como traidores, descrentes, espiões e pessoas que insultam a nação turca. De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa Pew, sediado nos EUA, 46% dos turcos veem o cristianismo como uma religião violenta. Num estudo turco mais recente, 42% dos entrevistados disseram que não aceitariam cristãos como vizinhos.

Os repetidos assassinatos de cristãos, portanto, não são uma surpresa. Em 2006, por exemplo, um padre católico foi assassinado em Trabzon, na costa do Mar Negro. Em 2007, três missionários cristãos foram assassinados em Malatya, uma cidade no leste da Turquia. Os responsáveis pelo crime eram nacionalistas radicais, cuja ideologia era uma mistura de patriotismo exagerado, racismo e Islã.



Convertidos correm grande risco


Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo, entretanto, enfrentam um perigo ainda maior do que os próprios cristãos tradicionais. A apostasia, ou a renúncia ao Islã, é castigada com a morte de acordo com a lei islâmica – e a pena de morte ainda se aplica no Irã, Iêmen, Afeganistão, Somália, Mauritânia, Paquistão, Qatar e Arábia Saudita.



Até no Egito, um país secular, os convertidos atraem a cólera do governo. O ministro da religião defendeu a legalidade da pena de morte para os convertidos – embora o Egito não tenha uma lei como esta – com o argumento de que a renúncia ao Islã é alta traição. Esses sentimentos fizeram com que Mohammed Hegazy, 27, convertido para a Igreja Cóptica Ortodoxa, passasse a se esconder há dois anos. Ele foi o primeiro convertido no Egito a tentar fazer com que sua religião nova aparecesse oficialmente em sua carteira de identidade expedida pelo governo. Quando seu pedido foi recusado, ele tornou o caso público. Inúmeros clérigos pediram a sua morte em resposta.



Os coptas são a maior comunidade cristã do mundo árabe, e cerca de 8 milhões de egípcios pertencem à Igreja Cóptica. Eles são proibidos de ocupar altas posições no governo, no serviço diplomático e militar, assim como de desfrutar de vários benefícios estatais. As universidades têm cotas para alunos coptas consideradas menores do que a porcentagem que eles representam na população.

Não é permitido construir novas igrejas, e as antigas estão caindo aos pedaços por causa da falta de dinheiro e de permissão para reforma. Quando as meninas são sequestradas e convertidas à força, a polícia não intervém. Milhares de porcos também foram mortos sob o pretexto de combater a gripe suína. Naturalmente, todos os porcos pertenciam a cristãos.



O vírus cristão


Seis coptas foram massacrados em 6 de janeiro – quando os coptas celebram a noite de Natal – em Nag Hammadi, uma pequena cidade 80 quilômetros ao norte do Vale dos Reis. Previsivelmente, o porta-voz da Assembleia do Povo, a câmara baixa do parlamento egípcio, chamou isso de “um ato criminoso isolado”. Quando acrescentou que os responsáveis queriam se vingar do estupro de uma jovem muçulmana por parte um copta, isso quase pareceu uma desculpa. O governo parece pronto a reconhecer o crime no Egito, mas não por tensão religiosa. Sempre que conflitos entre grupos religiosos acontecem, o governo encontra causas seculares por trás deles, como disputas por terras, vingança por algum crime ou disputas pessoais.



Nag Hammadi, com 30 mil moradores, é uma poeirenta cidade comercial no Nilo. Mesmo antes dos assassinatos, era um lugar onde os cristãos e os muçulmanos desconfiavam uns dos outros. Os dois grupos trabalham juntos e moram próximos, mas vivem, casam-se e morrem separadamente. A superstição é generalizada e os muçulmanos, por exemplo, temem pegar o “vírus cristão” ao comer junto com um copta. Não surpreende que esses assassinatos tenham acontecido em Nag Hammadi, nem que depois deles tenham se seguido os piores atos de violência religiosa em anos. Lojas cristãs e casas muçulmanas foram incendiadas, e 28 cristãos e 14 muçulmanos foram presos.



Nag Hammadi agora está cercada, com seguranças armados em uniformes negros guardando as estradas para entrar e sair da cidade. Eles certificam-se de que nenhum morador deixe a cidade e nenhum jornalista entre nela.



Três suspeitos foram presos desde então. Todos eles têm fichas criminais. Um admitiu o crime, mas depois negou, dizendo que havia sido coagido pelo serviço de inteligência. O governo parece querer que o assunto desapareça o mais rápido possível. Os supostos assassinos provavelmente serão libertados assim que o furor passar.



Mais direitos para os cristãos?


Mas também há pequenos indícios de que a situação de cristãos acuados em países islâmicos possa melhorar – dependendo do tanto que recuarem o nacionalismo e a radicalização do Islã político.



Uma das contradições do mundo islâmico é que a maior esperança para os cristãos parece surgir exatamente do campo do Islã político. Na Turquia, foi Recep Tayyip Erdogan, um ex-islamita e agora primeiro-ministro do país, que prometeu mais direitos aos poucos cristãos remanescentes no país. Ele aponta para a história do Império Otomano, no qual os cristãos e judeus tiveram de pagar um imposto especial por muito tempo, mas em troca, tinham a garantia de liberdade de religião e viviam como cidadãos respeitados.



Uma atitude mais relaxada em relação as minorias certamente representaria um progresso para a Turquia.



Tradução: Eloise De Vylder



Notícia da Der Spiegel, republicada no UOL.



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terça-feira, janeiro 12, 2010

Um choque de civilizações na Nigéria

Tanto muçulmanos quanto cristãos estão se radicalizando na Nigéria, lar do nigeriano da "cueca explosiva". Em quase nenhuma outra parte do mundo a rivalidade entre as religiões leva a conflitos sangrentos com tanta frequência.

Em Bauchi, há rumores de que muçulmanos militantes estão preparando um ataque aos cristãos em Jos, a 100 quilômetros de distância. Será verdade? Ou apenas uma tentativa de provocar medo?

Nada é certo em Jos, uma cidade de perto de um milhão de habitantes no chamado "Cinturão do Meio" no centro da Nigéria, uma região ampla entre os paralelos 8º e 12º norte. Em alguma parte dessa região, uma linha móvel separa o norte predominantemente islâmico da Nigéria de seu sul cristão. Muitos cristãos temem que os seguidores de Alá estão tentando se expandir para o sul e Jos fica no meio do conflito.

A violência estourou novamente na semana passada, logo depois de Umar Farouk Abdulmutallab, o homem que tentou explodir um avião em Detroit, ter sido identificado como sendo um muçulmano nigeriano. "Os hausa-fulani não fazem parte de nós", escreveram cristãos em fóruns na internet, se referindo ao maior grupo étnico muçulmano ao qual Abdulmutallab traça sua origem. "Eles são bastardos, misturados com sangue árabe para aterrorizar o mundo. Eles não gostam de educação. Eles odeiam a civilização e eu me pergunto por que eles ainda existem como parte da raça humana."

O ex-James Wuye
O pastor James foi a Jos para passar algumas poucos horas. Isso não é um bom sinal, porque sempre que o pastor James aparece, o terror não está distante. Ele acabou de vir de Bauchi, onde ouviu conversas sobre os muçulmanos estarem se armando.

O pastor de 50 anos é um dos ativistas da paz mais proeminentes na Nigéria. Um motivo para ser tão famoso é que ele aparece com frequência com o imã Muhammad Ashafa, de Kaduna, no centro-norte da Nigéria. Os homens pregam a mesma mensagem: "Não importa se você seja cristão ou muçulmano, viva sua religião mas não mate ninguém". Outro motivo para o pastor ser tão proeminente é que, há 20 anos, atendendo pelo nome de James Wuye, ele era conhecido como um temido líder de milícia cristã em Kaduna, a cerca de 200 quilômetros a oeste de Jos. Ele perdeu um braço lutando contra as pessoas que seu atual parceiro de púlpito representa. "Eu odiava os muçulmanos", ele diz. Ele recobrou a razão em meados dos anos 90 e, desde então, chama a si mesmo de "gestor de conflito". O pastor James é um homem ocupado hoje, pregando a paz por toda a Nigéria.

O país tem uma população de cerca de 150 milhões; seus aproximadamente 400 grupos étnicos falam mais de 400 línguas. Metade da nação reza para "Alá" e a outra metade reza para "Deus". Dificilmente em qualquer outro lugar no mundo a rivalidade em andamento entre cristãos e muçulmanos custou tantas vítimas, com pelo menos 10 mil mortos.

Há morte por toda a parte. Os muçulmanos foram caçados na cidade portuária de Lagos, no sul, enquanto cristãos foram mortos em Kano, no norte muçulmano. Mas a maioria das mortes ocorre no Cinturão do Meio, em locais como Kaduna e Bauchi, e particularmente em Jos, onde os seguidores das duas religiões vivem relativamente próximos uns dos outros.

Em quase nenhuma outra cidade no mundo o choque de civilizações é mais evidente. Sem um muro, Jos é uma cidade dividida. Bairros inteiros foram incendiados, repetidas vezes, mais recentemente em novembro de 2008. Cada nova conflagração custa centenas de vidas. Em 2001, os muçulmanos incendiaram os enormes prédios do mercado no centro de Jos, que abrigavam mais de 10 mil bancas. A maioria das vítimas era de membros da tribo Ibo cristã. Após cada novo conflito, a divisão entre as religiões se agrava.

Uma divisão colonial
Mercadores árabes trouxeram o Islã para a zona do Sahel há cerca de 1.000 anos, mas por muito tempo ele tinha apenas um papel secundário como religião. O comércio, incluindo o comércio de escravos, era mais importante para os califas e emires do que a fé. Missionários cristãos penetraram pelo sul há pouco mais de 100 anos, seguindo os mestres coloniais britânicos do país. Mas os britânicos permitiram que os emires prevalecessem e impedissem um maior avanço dos missionários. Uma consequência da decisão dos mestres coloniais é que as escolas e universidades no sul são atualmente muito melhores do que as do norte.

Os governos militares que governaram a Nigéria até 1999 usaram meios autoritários para manter unida a nação multiétnica. Então veio a democracia. Uma nova Constituição e acordos informais trouxeram certa estabilidade - por exemplo, sob as novas leis, a presidência troca de mãos entre os cristãos do sul e os muçulmanos do norte pelo menos uma vez a cada dois mandatos, enquanto presidente e vice-presidente não são do mesmo grupo religioso.

Mas esses acordos não garantiram a paz.

O governo encobriu os números reais
Olusegun Obasanjo, um cristão, mal tinha sido eleito em 1999 quando 12 Estados no norte da Nigéria introduziram a lei Sharia, provocando protestos por todo o mundo cristão.

As causas do estouro periódico de conflitos religiosos às vezes são banais e frequentemente absurdas. Quando um concurso de Miss Mundo foi marcado para ser realizado na Nigéria, em 2002, os muçulmanos ficaram enfurecidos com um comentário insensível de jornal. A violência resultante custou 215 vidas apenas em Kaduna.

Uche Uruakpa, 38 anos, pode descrever o conflito religioso por um ponto de vista singular. Ele é um médico cristão e em 2001 começou a trabalhar no maior hospital muçulmano em Kano, uma cidade de 1 milhão de habitantes - 90% deles muçulmanos. "Em certas manhãs, havia 2.000 pacientes aguardando diante da minha sala no hospital", diz Uruakpa.

O derramamento de sangue começou quando um muçulmano fundamentalista viu uma criança cristã na rua, segurando uma página do Alcorão - e prontamente matou a criança. Centenas morreram no frenesi que se seguiu. "O governo encobriu os números reais", diz Uruakpa, que se escondeu por duas semanas no bairro cristão em Kano e deixou a cidade um ano depois. "Eles teriam que me oferecer muito para trabalhar de novo lá", ele diz.

Uruakpa viveu em uma cultura que considerou estrangeira e impenetrável. "Eu vi eles todos", ele diz, incluindo homens com quatro esposas, o número máximo que é permitido ao homem no Islã. Algumas garotas casadas, ele diz, não tinham nem mesmo 12 anos. "Os homens vinham até mim com suas grandes famílias e eu tinha que perguntar quais eram suas esposas e quais eram suas filhas."

Êxodo do norte
A ironia na Nigéria é que o norte tem uma maior necessidade de especialistas bem treinados, médicos e cientistas do sul, mas a falta de cultura e os atos de extrema violência persistentes levaram a um êxodo de empresários, professores, médicos e cientistas.

No início dos anos 90, havia cerca de 500 empresas industriais em Kano. Dez anos depois, o número caiu para cerca de 200. Este é um motivo para muitos muçulmanos hausa-fulani terem se deslocado mais ao sul, para cidades como Kaduna, Jos e Bauchi, onde agora formam os novos pobres proletários.

O xeque Khalid Aliyu está familiarizado com os garotos que vendem gasolina adulterada em garrafas, ao longo das principais avenidas de Jos, periodicamente cheirando gasolina ou cola para se drogar. "Pobreza, políticas ruins e tribalismo são os combustíveis do descontentamento", diz Aliyu, cuja organização promove a conciliação e o entendimento entre a população muçulmana.

Aliyu sabe muito bem que os sucessos são modestos. "Os políticos não estão solucionando os problemas", ele diz. "Sem empregos, sem educação, sem eletricidade, sem nada para fazer. Um homem faminto não produzirá a paz", ele diz.

Os cristãos agora se sentem ameaçados, enquanto os muçulmanos se sentem marginalizados. Os hausa-fulani tiveram problemas quando chegaram a Jos. Como a lei nigeriana distingue entre os recém-chegados e os moradores locais, eles não conseguem se livrar do rótulo de "recém-chegados" na cidade, que possui um governo dominado pelos cristãos. Isso os impede de obterem empregos no setor público e a ter acesso às universidades. O mesmo acontece por toda a Nigéria, mas nos lugares de grande pobreza, a revolta cresce desenfreada - e com ela o impulso de buscar refúgio na religião.

Ambos os lados estão se preparando para a batalha
Maiduguri, no extremo nordeste da Nigéria, com uma população estimada de mais de 1 milhão, é um desses lugares - com ruas de terra, isolada e empobrecida. Há dezenas de escolas corânicas em Maiduguri, algumas fundadas com dinheiro saudita. Caminhões cheios de crianças de Níger e do Chade ocasionalmente chegam à cidade, e as crianças são recebidas nas madrassas para aprender o Alcorão, mas não a ler e escrever. Quando elas não estão na escola, as crianças devem trabalhar.

"É escravidão moderna", diz Bolaji Aina, da organização alemã de ajuda humanitária GTZ, que apoiou projetos para mulheres em Maiduguri por muitos anos. A Boko Haram, uma seita islâmica, se mostra bastante disposta a receber esses escravos modernos. Mais de 700 pessoas morreram em julho passado durante choques entre a seita e a polícia em Maiduguri.

O país entrou em 2010 dividido, sem qualquer perspectiva real e sem liderança. O presidente Umaru Yar'Adua está em um hospital na Arábia Saudita há semanas, incapaz de governar seu país em meio às crescentes exigências para a nomeação de um sucessor. Mas quem seria? Outro muçulmano como Yar'Adua? Ou é a vez dos cristãos?

"Ambos os lados estão se preparando para a batalha", diz o pastor James, o missionário da paz, em Jos. "É um jogo de gato e rato. Os eventos no norte também estão radicalizando o sul."

O Natal foi tranquilo em Jos. Mas os rumores que vinham de Bauchi não eram apenas rumores. Os confrontos na cidade, na última segunda-feira, instigados por uma seita islâmica, deixaram 38 mortos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Texto da Der Spiegel, republicado no UOL.


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quinta-feira, dezembro 24, 2009

Ashura



Muçulmanos xiitas participam de cerimônia de autoflagelação em Cabul, capital afegã. Fiéis batem nos próprios torsos com correntes, enquanto caminham pelas ruas lotadas de peregrinos. O evento, conhecido como Ashura, lembra o fim trágico de Hussein, neto do profeta Maomé e filho de Ali, morto no ano 680 pelas tropas do califa Omeyyade durante uma batalha no deserto de Kerbala.

A foto é de Omar Sobhani, para a Reuters. Visto no UOL.

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segunda-feira, maio 18, 2009

Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Bento XVI reafirma conceito de doutrina tradicional da Igreja sobre a família

As melopeias em baixo profundo das igrejas orientais, a voz grave por baixo da melodia que é cantada pelos chantres, marcou o final da missa presidida pelo Papa Bento XVI em Nazaré (Galileia, norte de Israel). Uma ocasião que o Papa encontrou para, perante cerca de 50 mil pessoas, deplorar as tensões dos últimos anos na região, entre cristãos e muçulmanos.

Nazaré é o lugar de referência maior para os cristãos da Terra Santa. Aqui viveu Jesus (para poucos investigadores, o Nazareno nasceu mesmo em Nazaré e não em Belém). Na Galileia ele viveu a maior parte dos seus dois a três anos de vida pública, antes de ir para Jerusalém, onde seria crucificado.

Por isso, os cristãos desta região norte de Israel sentem-se especialmente motivados com a presença do Papa em Nazaré. “Estamos muito contentes que o Papa nos venha visitar. Ele lembra-nos os tempos antigos em que vivemos com o homem Jesus Cristo de Nazaré: os discípulos, os apóstolos, eram todos desta região”, diz ao PÚBLICO o arcebispo da Igreja Católica Melquita, Elias Chacour.

Responsável máximo, na Galileia, da maior comunidade católica de Israel, com cerca de 76 mil crentes, Chacour saudou esta manhã o Papa no início da missa. “O santo padre vem como peregrino visitar os lugares santos e vem como pastor para visitar os cristãos e para os encorajar a ficar; uma palavra do Papa vale todos os discursos que os políticos possam fazer”, acrescenta o arcebispo.

Celebrada num grande anfiteatro ao ar livre, a missa foi, até agora, o maior momento de festa dos cristãos que vivem em Israel, na Palestina e em países vizinhos. Em Belém, ontem, Bento XVI já experimentara esse sentimento, mas a multidão de Nazaré suplantou os cerca de quatro ou cinco mil crentes que ontem estiveram no lugar onde a tradição diz que Jesus nasceu.

“Nos últimos anos, infelizmente, Nazaré conheceu tensões que feriram as relações entre cristãos e muçulmanos”, afirmou o Papa na homilia. “Que cada um rejeite o poder destruidor do ódio e os preconceitos, que levam a morte à alma das pessoas antes de matar os corpos.”

O Papa referiu-se ainda à família – a missa assinalava o encerramento do Ano da Família, proclamado pelos católicos da Galileia. Tomando o exemplo da família de Nazaré, Bento XVI referiu-se à doutrina tradicional da Igreja sobre o tema: a família está “fundada sobre a fidelidade de um homem e de uma mulher unidos para toda a vida na aliança do matrimónio”. Esta “verdade fundamental” deve ser redescoberta como “base da sociedade”, acrescentou.


Notícia de Publico, Portugal.


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quinta-feira, outubro 02, 2008

Darwinismo (e Criacionismo) na Turquia

O debate muçulmano do criacionismo: enfrentando Darwin na Turquia
Os cristãos fundamentalistas americanos não são os únicos liderando uma cruzada contra Darwin. O criacionismo e o "design inteligente" também estão se tornando cada vez mais populares entre os muçulmanos da Turquia

Daniel Steinvorth
Em Istambul (Turquia)


O homem que deseja salvar o mundo se chama Harun Yahya e lembra um ator da época do cinema mudo. Ele veste um terno de seda branca, abotoaduras douradas e exibe uma barba bem aparada no queixo. "Em 20 anos", ele diz em tom sério, "a humanidade entrará em uma era dourada".

Yahya diz que descobriu essa notícia maravilhosa na Bíblia e no Alcorão. Ele argumenta que é um "fato científico" que Jesus e o Mahdi, o messias muçulmano, voltarão à humanidade para resolver todos os conflitos globais. Antes, entretanto, ele diz que esses dois emissários celestiais terão que lidar com outro desafio: eles terão que erradicar a heresia do naturalista britânico Charles Darwin, que postula que toda a vida se originou de um processo de seleção natural.

Na visão de Yahya, o darwinismo está na raiz de todos os males do mundo. Visando ajudar a livrar o mundo desta teoria, ele bancou a impressão de milhares de cópias de "O Atlas da Criação" e as enviou para várias partes do mundo. Este tomo de formato grande e 800 páginas visa provar que nunca houve uma evolução natural das espécies. Em vez disso, ele argumenta que todas as formas de vida da Terra permaneceram inalteradas por milhões de anos. Ilustrações coloridas de fósseis foram incluídas para documentar a falta das chamadas formas transitórias.

Yahya, 52 anos, um ex-estudante de arquitetura, é sem dúvida o mais expressivo seguidor do criacionismo em seu país. Ele alega já ter vendido 8 milhões de cópias de seus vários livros. No ano passado, milhares de cópias de "O Atlas da Criação" foram entregues - de forma não solicitada - para escolas de toda a Europa. A identidade da pessoa ou instituição que pagou a conta dessa iniciativa permanece desconhecida.

Além de Yahya, que atualmente está sendo processado "por ganho pessoal ilegal", há outros opositores veementes da evolução na Turquia. Um deles é Kerim Balci, um jornalista que trabalha para o jornal "Zaman" pró-governo. Sua mensagem: "Deus não é aquele que está morto; é o darwinismo".

Uma pesquisa realizada em 2006 mostrou quão impopular permanece a teoria da evolução no mais moderno de todos os países islâmicos. Foi perguntado às populações de 34 países sobre sua postura em relação à teoria da evolução, e o menor percentual de defensores foi encontrado na Turquia. Apenas um quarto dos turcos sente que a teoria de Darwin é correta. Apenas ligeiramente à frente deles - em 33º lugar - estavam os americanos.

Para Ibrahim Betil, um ativista comunitário turco envolvido em programas escolares, estes números contrastam enormemente das políticas educacionais oficiais do país. Diferentemente do que está acontecendo em várias áreas nos Estados Unidos, todas as tentativas de introduzir o criacionismo nas aulas de biologia na Turquia foram bloqueadas. Apenas a teoria da evolução é ensinada "em todas as escolas, em todas as salas de aula, mesmo nas províncias mais remotas".

Mas isso poderá mudar em breve. Como colocou recentemente o ministro da Educação ortodoxo da Turquia, Hüseyin Çelik, o darwinismo não é nada mais do que "uma arma dos materialistas e dos infiéis". Çelik é um grande admirador da teoria do "design inteligente" - uma versão moderna da teoria do criacionismo, que alega reconhecer a mão de uma espécie de projetista por trás de todas as leis naturais do mundo.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Texto da Der Spiegel, no UOL.


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quinta-feira, maio 29, 2008

Repressão a cristãos na Argélia

Rodrigo Coelho
Da BBC Brasil no Cairo

Argélia: Cristãos convertidos são julgados por pregar religião não-islâmica

Seis cristãos convertidos do islamismo podem ser condenados a até dois anos de prisão e a pagar multas de cerca de US$ 8 mil na Argélia, depois de serem acusados de pregar uma religião não-islâmica sem a aprovação do governo.

Os homens, protestantes, são acusados de distribuir material religioso considerado ilegal. O veredicto deve ser anunciado na próxima terça-feira, dia 3 de junho.

Em um caso paralelo, uma mulher, Habiba Kouider, foi processada por ter sido pega portando exemplares da Bíblia, na cidade de Tiaret, a cerca de 400 km da capital Argel.

Ela é acusada de pregar uma religião sem autorização e pode ser condenada a até três anos de cadeia. Kouider nega a acusação.

Exemplo

Alguns jornais argelinos afirmam que o caso de Kouider seria um exemplo de desrespeito à liberdade de consciência, direito garantido pela Constituição do país, que permite, pelo menos no papel, a prática de outras religiões.

Desde 2006, entretanto, as leis argelinas determinam que congregações não-islâmicas e líderes de outras religiões precisam obter licença do governo para poder pregar suas crenças.

Os advogados das vítimas estão sendo pagos pela organização não-governamental American International Christian Concern.

A porta-voz para a África da organização, Darara Gubo, disse à BBC Brasil acreditar que atualmente existe um movimento crescente de repressão à conversão ao cristianismo em vários países muçulmanos.

“Em diversas nações islâmicas os cristãos estão sendo processados quando usam sua liberdade religiosa e evangelizam muçulmanos. Isso acontece na Argélia, Irã, Arábia Saudita, Jordânia e muitos outros países”, disse ela.

Gubo afirma que a repressão aumentou na Argélia após a exibição de um documentário que mostrava um aumento do número de cristãos no país.

“Isso (o documentário) gerou muita pressão de outros países do Oriente Médio e da África. Eles consideraram vergonhoso que os muçulmanos estivessem se convertendo.”

O governo da Argélia afirma que existem cerca de 11 mil cristãos no país, cuja população é de cerca de 33 milhões. Grupos religiosos cristãos afirmam que o número de fiéis é bem maior.

Da BBC Brasil.

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