quarta-feira, novembro 17, 2010

Mulher cristã é condenada à morte por enforcamento no Paquistão

Um tribunal paquistanês condenou à morte uma mulher cristã, mãe de cinco filhos, por blasfêmia, provocando a revolta de grupos de defesa dos direitos humanos nesta quinta-feira.

Asia Bibi, de 45 anos, recebeu sua sentença ainda na segunda-feira (8) em uma corte do distrito de Nankana, na província central de Punjab, a 75 quilômetros de Punjab.

O Paquistão nunca executou um réu por blasfêmia, mas o caso joga luz sobre a polêmica lei islâmica do país, que incentivaria a ação de extremistas.

O processo de Asia começou em junho de 2009, quando ela foi buscar água enquanto trabalhava no campo. Um grupo de camponesas muçulmanas, no entanto, protestou, afirmando que uma mulher não muçulmana não deveria tocar o jarro d'água do qual elas também beberiam.

Dias depois, o grupo de muçulmanas procurou um clérigo local e denunciou Asia, indicando que ela teria feito comentários depreciativos sobre o profeta Maomé. O sacerdote, por sua vez, procurou a polícia local, e uma investigação foi aberta.

Asia foi presa no vilarejo de Ittanwalai e indiciada sob a seção 295 C do Código Penal paquistanês, que inclui a pena de morte.

O juiz Navid Iqbal, que a condenou à morte por enforcamento, "excluiu completamente" qualquer hipótese de que a ré tivesse sido falsamente acusada, afirmando que não há "circunstâncias atenuantes" no caso, de acordo com o texto do veredicto.

O marido de Asia, Ashiq Masih, de 51 anos, disse que pretende apelar da condenação de sua mulher, que ainda precisa ser ratificada pela corte de Lahore, a mais alta de Punjab, antes de ser executada.

"O caso é infundado e nós entraremos com um recurso", declarou.

O casal tem três filhas e dois filhos.

Segundo ativistas dos direitos humanos e defensores das minorias, é a primeira vez que uma mulher é sentenciada à morte por enforcamento no Paquistão por blasfêmia.

Um casal foi condenado à prisão perpétua no ano passado pela mesma acusação.

"A lei da blasfêmia é completamente obscena e precisa ser derrubada em sua totalidade", disse Ali Dayan Hasan, porta-voz da organização Human Rights Watch (HRW).

Cerca de 3% da população paquistanesa, que chega a 167 milhões de pessoas, é composta por não muçulmanos.


Notícia da France Presse, publicada na Folha.com .

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quarta-feira, novembro 03, 2010

Al-Qaeda anuncia fim de ultimato e considera cristãos "alvos legítimos"

A Al-Qaeda no Iraque anunciou nesta quarta-feira que os cristãos são "alvos legítimos", depois do fim do ultimato à igreja copta do Egito para libertar duas mulheres, informou o Centro Americano de Vigilância de Sites Islamitas (SITE).

Ao reivindicar o ataque contra uma igreja de Bagdá no domingo, o Estado Islâmico do Iraque (ISI) deu prazo de 48 horas à Igreja copta do Egito para libertar duas cristãs convertidas ao islã que segundo a organização estão "encarceradas em mosteiros" deste país.

"O ultimato expirou (...) Portanto, todos os centros, organizações, instituições, dirigentes e fiéis cristãos são alvos legítimos para os mujahedines, onde puderem ser alcançados", afirma um comunicado.

No ataque de domingo contra a catedral siríaca católica de Bagdá, 46 fiéis morreram e 60 foram feridos. Sete integrantes das forças de segurança também faleceram na invasão para acabar com a tomada de reféns.


Notícia da AFP, republicada no UOL.

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terça-feira, março 02, 2010

Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo

Vítimas do Islã radical - Os mártires modernos do cristianismo




Juliane Von Mittelstaedt, Christoph Schult, Daniel Steinvorth, Thilo Thielke, Volkhard Windfuhr



A ascensão do extremismo islâmico coloca uma pressão cada vez maior sobre os cristãos que vivem em países muçulmanos, que são vítimas de assassinatos, violência e discriminação. Os cristãos agora são considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo. Paradoxalmente, sua maior esperança vem do Islã politicamente moderado.



Kevin Ang é mais cauteloso hoje em dia. Ele espia ao redor, dá uma olhada para a esquerda para a longa fileira de lojas, e depois para a direita em direção à praça, para checar se não há ninguém por perto. Só então o zelador da igreja tira sua chave, destranca o portão, e entra na Igreja Metro Tabernacle num subúrbio de Kuala Lumpur.



A corrente de ar vira páginas queimadas da Bíblia. As paredes estão cobertas de fuligem e a igreja cheira a plástico queimado. A Igreja Metro Tabernacle foi a primeira de onze igrejas a serem incendiadas por muçulmanos revoltados – tudo por causa de uma palavra: “Alá”, sussurra Kevin Ang.



Tudo começou com uma questão – se os cristãos daqui, assim como os muçulmanos, poderiam chamar seu deus de “Alá”, uma vez que eles não têm nenhuma outra palavra ou língua à sua disposição. Os muçulmanos alegam que Alá é deles, tanto a palavra quanto o deus, e temem que se os cristãos puderem usar a mesma palavra para seu próprio deus, isso poderia desencaminhar os fiéis muçulmanos.



Durante três anos isto era proibido e o governo confiscou Bíblias que mencionavam “Alá”. Então, em 31 de dezembro do ano passado, o mais alto tribunal da Malásia chegou a uma decisão: o deus cristão também poderia ser chamado de Alá.



Os imãs protestaram e cidadãos enfurecidos jogaram coquetéis Molotov nas igrejas. Então, como se isso não bastasse, o primeiro-ministro Najib Razak declarou que não podia impedir as pessoas de protestarem contra determinados assuntos no país – e alguns interpretaram isso como um convite para a ação violenta. Primeiro as igrejas foram incendiadas, depois o outro lado revidou colocando cabeças de porcos na frente de duas mesquitas. Entre os habitantes da Malásia, 60% são muçulmanos e 9% são cristãos, com o restante composto por hindus, budistas e sikhs. Eles conseguiram viver bem juntos, até agora.



É um batalha por causa de uma única palavra, mas há muito mais envolvido. O conflito tem a ver com a questão de quais direitos a minoria cristã da Malásia deve ter. Mais que isso, é uma questão política. A Organização Nacional dos Malaios Unidos, no poder, está perdendo sua base de apoio para os islamitas linha dura – e quer reconquistá-la por meio de políticas religiosas.



Essas políticas estão sendo bem recebidas. Alguns dos Estados da Malásia interpretam a Sharia, o sistema islâmico de lei e ordem, de forma particularmente rígida. O país, que já foi liberal, está a caminho de abrir mão da liberdade religiosa – e o conceito de ordem está sendo definido de forma cada vez mais rígida. Se uma mulher muçulmana beber cerveja, ela pode ser punida com seis chibatadas. Algumas regiões também proíbem coisas como batons chamativos, maquiagem pesada, ou sapatos de salto alto.



Expulsos, sequestrados e mortos


Não só na Malásia, mas em muitos países em todo o mundo muçulmano, a religião ganhou influência sobre a política governamental nas últimas duas décadas. O grupo militante islâmico Hamas controla a Faixa de Gaza, enquanto milícias islamitas lutam contra os governos da Nigéria e Filipinas. Somália, Afeganistão, Paquistão e Iêmen caíram, em grande extensão, nas mãos dos islamitas. E onde os islamitas não estão no poder hoje, os partidos seculares no governo tentam ultrapassar os grupos mais religiosos assumindo uma tendência de direita.



Isso pode ser visto de certa forma no Egito, Argélia, Sudão, Indonésia, e também na Malásia. Embora a islamização frequentemente tenha mais a ver com política do que com religião, e embora não leve necessariamente à perseguição de cristãos, pode-se dizer ainda assim que, onde quer que o Islã ganhe importância, a liberdade para membros de outras crenças diminui.



Há 2,2 bilhões de cristãos em todo o mundo. A organização não-governamental Open Doors calcula que 100 milhões de cristãos são ameaçados ou perseguidos. Eles não têm permissão para construir igrejas, comprar Bíblias ou conseguir empregos. Esta é a forma menos ofensiva de discriminação e afeta a maioria desses 100 mil cristãos. A versão mais bruta inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato.



Margot Kässmann, que é bispo e foi chefe da Igreja Protestante na Alemanha antes de deixar o cargo em 24 de fevereiro, acredita que os cristãos são “o grupo religioso mais perseguido globalmente”. As 22 igrejas regionais alemãs proclamaram este domingo como o primeiro dia de homenagem aos cristãos perseguidos. Kässmann disse que queria mostrar solidariedade para com outros cristãos que “têm grande dificuldade de viver de acordo com sua crença em países como a Indonésia, Índia, Iraque ou Turquia”.



Há exemplos contrários, é claro. No Líbano e na Síria, os cristãos não são discriminados, e, na verdade, desempenham um papel importante na política e na sociedade. Além disso, a perseguição contra os cristãos não é de forma alguma um domínio exclusivo dos fanáticos muçulmanos – os cristãos também são presos, agredidos e assassinados em países como o Laos, Vietnã, China e Eritreia.



Lento genocídio” contra os cristãos


A Open Doors edita um “índice de perseguição” global. A Coreia do Norte, onde dezenas de milhares de cristãos estão presos em campos de trabalho forçado, esteve no topo da lista por muitos anos. Ela é seguida pelo Irã, Arábia Saudita, Somália, Maldivas e Afeganistão. Entre os dez primeiros países da lista, oito são islâmicos, e quase todos têm o Islã como sua religião oficial



A perseguição sistemática de cristãos no século 20 – por comunistas na União Soviética e na China, mas também pelos nazistas – custou muito mais vidas do que qualquer outra coisa que tenha acontecido até o momento no século 21. Agora, entretanto, não são apenas os regimes totalitários que perseguem os cristãos, mas também moradores de Estados islâmicos, fundamentalistas fanáticos, e seitas religiosas – e com frequência simples cidadãos considerados fiéis.



Foi-se a era da tolerância, em que os cristãos, chamados de “Povo do Livro”, desfrutavam de um alto grau de liberdade religiosa sob a proteção de sultões muçulmanos, enquanto a Europa medieval bania judeus e muçulmanos do continente ou até mesmo os queimava vivos. Também se foi o apogeu do secularismo árabe pós 2ª Guerra Mundial, quando árabes cristãos avançaram nas hierarquias políticas.



À medida que o Islã político ficou mais forte, a agressão por parte de devotos deixou de se concentrar apenas nos regimes políticos corruptos locais, mas também e cada vez mais contra a influência ostensivamente corrupta dos cristãos ocidentais, motivo pelo qual as minorias cristãs foram consideradas responsáveis. Uma nova tendência começou, desta vez com os cristãos como vítimas.



No Iraque, por exemplo, grupos terroristas sunitas perseguem especialmente pessoas de outras religiões. O último censo do Iraque em 1987 mostrou que havia 1,4 milhão de cristãos vivendo no país. No começo da invasão norte-americana em 2003, eles eram 550 mil, e atualmente o número está está pouco abaixo dos 400 mil. Os especialistas falam num “lento genocídio”.



As pessoas estão morrendo de medo”


A situação na região da cidade de Mosul, no norte do Iraque, é especialmente dramática. A cidade de Alqosh fica no alto das montanhas sobre Mosul, a segunda maior cidade iraquiana. Bassam Bashir, 41, pode ver sua antiga cidade natal quando olha pela janela. Mosul fica a apenas 40 quilômetros dali, mas é inacessível. A cidade é mais perigosa que Bagdá, especialmente para homens como Bassam Bashir, um católico caldeu, professor e fugitivo dentro de seu próprio país.



Desde o dia em que a milícia sequestrou seu pai de sua loja, em agosto de 2008, Bashir passou a temer por sua vida e pela vida de sua família. A polícia encontrou o corpo de seu pai dois dias depois no bairro de Sinaa, no rio Tigre, perfurado por balas. Não houve nenhum pedido de resgate. O pai de Bashir morreu pelo simples motivo de ser cristão.



E ninguém afirma ter visto nada. “É claro que alguém viu alguma coisa”, diz Bashir. “Mas as pessoas em Mosul estão morrendo de medo.”

Uma semana depois, integrantes da milícia cortaram a garganta do irmão de Bashir, Tarik, como num sacrifício de ovelhas. “Eu mesmo enterrei meu irmão”, explica Bashir. Junto com sua mulher Nafa e suas duas filhas, ele fugiu para Alqosh no mesmo dia. A cidade está está cercada por vinhedos e uma milícia cristã armada vigia a entrada.



Aprovação tácita do Estado


Os familiares de Bashir não foram os únicos a se mudar para Alqosh à medida que a série de assassinatos continuou em Mosul. Dezesseis cristãos foram mortos na semana seguinte, e bombas explodiram em frente às igrejas. Homens que passavam de carro gritaram para os cristãos que eles podiam escolher – ou saíam de Mosul ou se convertiam ao Islã. Das 1.500 famílias cristãs da cidade, apenas 50 ficaram. Bassam Bashir diz que não voltará antes de lamentar a morte de seu pai e seu irmão em paz. Outros que perderam totalmente a esperança fugiram para países vizinhos como a Jordânia e muitos mais foram para a Síria.



Em muitos países islâmicos, os cristãos são perseguidos menos brutalmente do que no Iraque, mas não menos efetivamente. Em muitos casos, a perseguição têm a aprovação tácita do governo. Na Argélia, por exemplo, ela tomou a forma de notícias de jornal sobre um padre que tentou converter muçulmanos ou insultou o profeta Maomé – e que divulgaram o endereço do padre, numa clara convocação para a população fazer justiça com as próprias mãos. Ou um canal de televisão pública pode veicular programas com títulos como “Nas Garras da Ignorância”, que descreve os cristãos como satanistas que convertem muçulmanos com o auxílio de drogas. Isso aconteceu no Uzbequistão, que está no décimo lugar do “índice de perseguição” da Open Doors.



A blasfêmia também é outra justificativa frequentemente usada. Insultar os valores fundamentais do Islã é uma ofensa passível de punição em muitos países islâmicos. A justificativa é com frequência usada contra a oposição, quer sejam jornalistas, dissidentes ou cristãos. Imran Masih, por exemplo, cristão dono de uma loja em Faisalabad, no Paquistão, foi condenado à prisão perpétua em 11 de janeiro, de acordo com as seções 195A e B do código penal do Paquistão, que tratam do crime de ofender sentimentos religiosos ao dessacralizar o Alcorão. Um outro dono de loja o acusou de queimar páginas do Alcorão. Masih diz que ele queimou apenas documentos antigos da loja.



É um caso típico para o Paquistão, onde a lei contra a blasfêmia parece convidar ao abuso – é uma forma fácil para qualquer um se livrar de um inimigo. No ano passado, 125 cristãos foram acusados de blasfêmia no Paquistão. Dezenas dos que já foram sentenciados estão agora esperando sua execução.



Não nos sentimos seguros aqui”


A perseguição tolerada pelo governo acontece até mesmo na Turquia, o país mais secular e moderno do mundo muçulmano, onde cerca de 110 mil cristãos representam menos de um quarto de 1% da população – mas são discriminados assim mesmo. A perseguição não é tão aberta ou brutal quanto no vizinho Iraque, mas as consequências são semelhantes. Os cristãos na Turquia, que estavam bem acima dos 2 milhões no século 19, estão lutando para continuar a existir.



É o que acontece no sudeste do país, por exemplo, em Tur Abdin, cujo nome significa “montanha dos servos de Deus”. É uma região montanhosa cheia de campos, picos e vários mosteiros de séculos de existência. O local abriga os assírios sírios ortodoxos, ou arameus, como denominam a si mesmos, membros de um dos grupos cristãos mais antigos do mundo. De acordo com a lenda, foram os três reis magos que levaram o sistema de crenças cristão de Belém para lá. Os habitantes de Tur Abdin ainda falam aramaico, a língua usada por Jesus de Nazaré.



O mundo sabe bem mais sobre o genocídio cometido contra os armênios pelas tropas otomanas em 1915 e 1916, mas dezenas de milhares de assírios também foram assassinados durante a 1ª Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 500 mil assírios viviam em Tur Abdin no começo do século 20. Hoje há apenas 3 mil. Um tribunal distrital turco ameaçou, no ano passado, tomar posse do centro espiritual assírio, o mosteiro Mor Gabriel de 1.600 anos de idade, porque acreditava-se que os monges haviam adquirido terras de forma ilegal. Três vilarejos muçulmanos vizinhos reclamaram que sentiam-se discriminados por causa do mosteiro, que abriga quatro monges, 14 freiras e 40 estudantes atrás de seus muros.



“Mesmo que não queira admitir, a Turquia tem um problema com pessoas de outras religiões”, diz Ishok Demir, um jovem suíço de ascendência aramaica, que vive com seus pais perto de Mor Gabriel. “Nós não nos sentimos seguros aqui.”

Mais que qualquer coisa, isso tem a ver com o lugar permanente que os armênios, assírios, gregos, católicos e protestantes têm nas teorias de conspiração nacionalistas do país. Esses grupos sempre foram vistos como traidores, descrentes, espiões e pessoas que insultam a nação turca. De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa Pew, sediado nos EUA, 46% dos turcos veem o cristianismo como uma religião violenta. Num estudo turco mais recente, 42% dos entrevistados disseram que não aceitariam cristãos como vizinhos.

Os repetidos assassinatos de cristãos, portanto, não são uma surpresa. Em 2006, por exemplo, um padre católico foi assassinado em Trabzon, na costa do Mar Negro. Em 2007, três missionários cristãos foram assassinados em Malatya, uma cidade no leste da Turquia. Os responsáveis pelo crime eram nacionalistas radicais, cuja ideologia era uma mistura de patriotismo exagerado, racismo e Islã.



Convertidos correm grande risco


Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo, entretanto, enfrentam um perigo ainda maior do que os próprios cristãos tradicionais. A apostasia, ou a renúncia ao Islã, é castigada com a morte de acordo com a lei islâmica – e a pena de morte ainda se aplica no Irã, Iêmen, Afeganistão, Somália, Mauritânia, Paquistão, Qatar e Arábia Saudita.



Até no Egito, um país secular, os convertidos atraem a cólera do governo. O ministro da religião defendeu a legalidade da pena de morte para os convertidos – embora o Egito não tenha uma lei como esta – com o argumento de que a renúncia ao Islã é alta traição. Esses sentimentos fizeram com que Mohammed Hegazy, 27, convertido para a Igreja Cóptica Ortodoxa, passasse a se esconder há dois anos. Ele foi o primeiro convertido no Egito a tentar fazer com que sua religião nova aparecesse oficialmente em sua carteira de identidade expedida pelo governo. Quando seu pedido foi recusado, ele tornou o caso público. Inúmeros clérigos pediram a sua morte em resposta.



Os coptas são a maior comunidade cristã do mundo árabe, e cerca de 8 milhões de egípcios pertencem à Igreja Cóptica. Eles são proibidos de ocupar altas posições no governo, no serviço diplomático e militar, assim como de desfrutar de vários benefícios estatais. As universidades têm cotas para alunos coptas consideradas menores do que a porcentagem que eles representam na população.

Não é permitido construir novas igrejas, e as antigas estão caindo aos pedaços por causa da falta de dinheiro e de permissão para reforma. Quando as meninas são sequestradas e convertidas à força, a polícia não intervém. Milhares de porcos também foram mortos sob o pretexto de combater a gripe suína. Naturalmente, todos os porcos pertenciam a cristãos.



O vírus cristão


Seis coptas foram massacrados em 6 de janeiro – quando os coptas celebram a noite de Natal – em Nag Hammadi, uma pequena cidade 80 quilômetros ao norte do Vale dos Reis. Previsivelmente, o porta-voz da Assembleia do Povo, a câmara baixa do parlamento egípcio, chamou isso de “um ato criminoso isolado”. Quando acrescentou que os responsáveis queriam se vingar do estupro de uma jovem muçulmana por parte um copta, isso quase pareceu uma desculpa. O governo parece pronto a reconhecer o crime no Egito, mas não por tensão religiosa. Sempre que conflitos entre grupos religiosos acontecem, o governo encontra causas seculares por trás deles, como disputas por terras, vingança por algum crime ou disputas pessoais.



Nag Hammadi, com 30 mil moradores, é uma poeirenta cidade comercial no Nilo. Mesmo antes dos assassinatos, era um lugar onde os cristãos e os muçulmanos desconfiavam uns dos outros. Os dois grupos trabalham juntos e moram próximos, mas vivem, casam-se e morrem separadamente. A superstição é generalizada e os muçulmanos, por exemplo, temem pegar o “vírus cristão” ao comer junto com um copta. Não surpreende que esses assassinatos tenham acontecido em Nag Hammadi, nem que depois deles tenham se seguido os piores atos de violência religiosa em anos. Lojas cristãs e casas muçulmanas foram incendiadas, e 28 cristãos e 14 muçulmanos foram presos.



Nag Hammadi agora está cercada, com seguranças armados em uniformes negros guardando as estradas para entrar e sair da cidade. Eles certificam-se de que nenhum morador deixe a cidade e nenhum jornalista entre nela.



Três suspeitos foram presos desde então. Todos eles têm fichas criminais. Um admitiu o crime, mas depois negou, dizendo que havia sido coagido pelo serviço de inteligência. O governo parece querer que o assunto desapareça o mais rápido possível. Os supostos assassinos provavelmente serão libertados assim que o furor passar.



Mais direitos para os cristãos?


Mas também há pequenos indícios de que a situação de cristãos acuados em países islâmicos possa melhorar – dependendo do tanto que recuarem o nacionalismo e a radicalização do Islã político.



Uma das contradições do mundo islâmico é que a maior esperança para os cristãos parece surgir exatamente do campo do Islã político. Na Turquia, foi Recep Tayyip Erdogan, um ex-islamita e agora primeiro-ministro do país, que prometeu mais direitos aos poucos cristãos remanescentes no país. Ele aponta para a história do Império Otomano, no qual os cristãos e judeus tiveram de pagar um imposto especial por muito tempo, mas em troca, tinham a garantia de liberdade de religião e viviam como cidadãos respeitados.



Uma atitude mais relaxada em relação as minorias certamente representaria um progresso para a Turquia.



Tradução: Eloise De Vylder



Notícia da Der Spiegel, republicada no UOL.



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terça-feira, janeiro 12, 2010

Um choque de civilizações na Nigéria

Tanto muçulmanos quanto cristãos estão se radicalizando na Nigéria, lar do nigeriano da "cueca explosiva". Em quase nenhuma outra parte do mundo a rivalidade entre as religiões leva a conflitos sangrentos com tanta frequência.

Em Bauchi, há rumores de que muçulmanos militantes estão preparando um ataque aos cristãos em Jos, a 100 quilômetros de distância. Será verdade? Ou apenas uma tentativa de provocar medo?

Nada é certo em Jos, uma cidade de perto de um milhão de habitantes no chamado "Cinturão do Meio" no centro da Nigéria, uma região ampla entre os paralelos 8º e 12º norte. Em alguma parte dessa região, uma linha móvel separa o norte predominantemente islâmico da Nigéria de seu sul cristão. Muitos cristãos temem que os seguidores de Alá estão tentando se expandir para o sul e Jos fica no meio do conflito.

A violência estourou novamente na semana passada, logo depois de Umar Farouk Abdulmutallab, o homem que tentou explodir um avião em Detroit, ter sido identificado como sendo um muçulmano nigeriano. "Os hausa-fulani não fazem parte de nós", escreveram cristãos em fóruns na internet, se referindo ao maior grupo étnico muçulmano ao qual Abdulmutallab traça sua origem. "Eles são bastardos, misturados com sangue árabe para aterrorizar o mundo. Eles não gostam de educação. Eles odeiam a civilização e eu me pergunto por que eles ainda existem como parte da raça humana."

O ex-James Wuye
O pastor James foi a Jos para passar algumas poucos horas. Isso não é um bom sinal, porque sempre que o pastor James aparece, o terror não está distante. Ele acabou de vir de Bauchi, onde ouviu conversas sobre os muçulmanos estarem se armando.

O pastor de 50 anos é um dos ativistas da paz mais proeminentes na Nigéria. Um motivo para ser tão famoso é que ele aparece com frequência com o imã Muhammad Ashafa, de Kaduna, no centro-norte da Nigéria. Os homens pregam a mesma mensagem: "Não importa se você seja cristão ou muçulmano, viva sua religião mas não mate ninguém". Outro motivo para o pastor ser tão proeminente é que, há 20 anos, atendendo pelo nome de James Wuye, ele era conhecido como um temido líder de milícia cristã em Kaduna, a cerca de 200 quilômetros a oeste de Jos. Ele perdeu um braço lutando contra as pessoas que seu atual parceiro de púlpito representa. "Eu odiava os muçulmanos", ele diz. Ele recobrou a razão em meados dos anos 90 e, desde então, chama a si mesmo de "gestor de conflito". O pastor James é um homem ocupado hoje, pregando a paz por toda a Nigéria.

O país tem uma população de cerca de 150 milhões; seus aproximadamente 400 grupos étnicos falam mais de 400 línguas. Metade da nação reza para "Alá" e a outra metade reza para "Deus". Dificilmente em qualquer outro lugar no mundo a rivalidade em andamento entre cristãos e muçulmanos custou tantas vítimas, com pelo menos 10 mil mortos.

Há morte por toda a parte. Os muçulmanos foram caçados na cidade portuária de Lagos, no sul, enquanto cristãos foram mortos em Kano, no norte muçulmano. Mas a maioria das mortes ocorre no Cinturão do Meio, em locais como Kaduna e Bauchi, e particularmente em Jos, onde os seguidores das duas religiões vivem relativamente próximos uns dos outros.

Em quase nenhuma outra cidade no mundo o choque de civilizações é mais evidente. Sem um muro, Jos é uma cidade dividida. Bairros inteiros foram incendiados, repetidas vezes, mais recentemente em novembro de 2008. Cada nova conflagração custa centenas de vidas. Em 2001, os muçulmanos incendiaram os enormes prédios do mercado no centro de Jos, que abrigavam mais de 10 mil bancas. A maioria das vítimas era de membros da tribo Ibo cristã. Após cada novo conflito, a divisão entre as religiões se agrava.

Uma divisão colonial
Mercadores árabes trouxeram o Islã para a zona do Sahel há cerca de 1.000 anos, mas por muito tempo ele tinha apenas um papel secundário como religião. O comércio, incluindo o comércio de escravos, era mais importante para os califas e emires do que a fé. Missionários cristãos penetraram pelo sul há pouco mais de 100 anos, seguindo os mestres coloniais britânicos do país. Mas os britânicos permitiram que os emires prevalecessem e impedissem um maior avanço dos missionários. Uma consequência da decisão dos mestres coloniais é que as escolas e universidades no sul são atualmente muito melhores do que as do norte.

Os governos militares que governaram a Nigéria até 1999 usaram meios autoritários para manter unida a nação multiétnica. Então veio a democracia. Uma nova Constituição e acordos informais trouxeram certa estabilidade - por exemplo, sob as novas leis, a presidência troca de mãos entre os cristãos do sul e os muçulmanos do norte pelo menos uma vez a cada dois mandatos, enquanto presidente e vice-presidente não são do mesmo grupo religioso.

Mas esses acordos não garantiram a paz.

O governo encobriu os números reais
Olusegun Obasanjo, um cristão, mal tinha sido eleito em 1999 quando 12 Estados no norte da Nigéria introduziram a lei Sharia, provocando protestos por todo o mundo cristão.

As causas do estouro periódico de conflitos religiosos às vezes são banais e frequentemente absurdas. Quando um concurso de Miss Mundo foi marcado para ser realizado na Nigéria, em 2002, os muçulmanos ficaram enfurecidos com um comentário insensível de jornal. A violência resultante custou 215 vidas apenas em Kaduna.

Uche Uruakpa, 38 anos, pode descrever o conflito religioso por um ponto de vista singular. Ele é um médico cristão e em 2001 começou a trabalhar no maior hospital muçulmano em Kano, uma cidade de 1 milhão de habitantes - 90% deles muçulmanos. "Em certas manhãs, havia 2.000 pacientes aguardando diante da minha sala no hospital", diz Uruakpa.

O derramamento de sangue começou quando um muçulmano fundamentalista viu uma criança cristã na rua, segurando uma página do Alcorão - e prontamente matou a criança. Centenas morreram no frenesi que se seguiu. "O governo encobriu os números reais", diz Uruakpa, que se escondeu por duas semanas no bairro cristão em Kano e deixou a cidade um ano depois. "Eles teriam que me oferecer muito para trabalhar de novo lá", ele diz.

Uruakpa viveu em uma cultura que considerou estrangeira e impenetrável. "Eu vi eles todos", ele diz, incluindo homens com quatro esposas, o número máximo que é permitido ao homem no Islã. Algumas garotas casadas, ele diz, não tinham nem mesmo 12 anos. "Os homens vinham até mim com suas grandes famílias e eu tinha que perguntar quais eram suas esposas e quais eram suas filhas."

Êxodo do norte
A ironia na Nigéria é que o norte tem uma maior necessidade de especialistas bem treinados, médicos e cientistas do sul, mas a falta de cultura e os atos de extrema violência persistentes levaram a um êxodo de empresários, professores, médicos e cientistas.

No início dos anos 90, havia cerca de 500 empresas industriais em Kano. Dez anos depois, o número caiu para cerca de 200. Este é um motivo para muitos muçulmanos hausa-fulani terem se deslocado mais ao sul, para cidades como Kaduna, Jos e Bauchi, onde agora formam os novos pobres proletários.

O xeque Khalid Aliyu está familiarizado com os garotos que vendem gasolina adulterada em garrafas, ao longo das principais avenidas de Jos, periodicamente cheirando gasolina ou cola para se drogar. "Pobreza, políticas ruins e tribalismo são os combustíveis do descontentamento", diz Aliyu, cuja organização promove a conciliação e o entendimento entre a população muçulmana.

Aliyu sabe muito bem que os sucessos são modestos. "Os políticos não estão solucionando os problemas", ele diz. "Sem empregos, sem educação, sem eletricidade, sem nada para fazer. Um homem faminto não produzirá a paz", ele diz.

Os cristãos agora se sentem ameaçados, enquanto os muçulmanos se sentem marginalizados. Os hausa-fulani tiveram problemas quando chegaram a Jos. Como a lei nigeriana distingue entre os recém-chegados e os moradores locais, eles não conseguem se livrar do rótulo de "recém-chegados" na cidade, que possui um governo dominado pelos cristãos. Isso os impede de obterem empregos no setor público e a ter acesso às universidades. O mesmo acontece por toda a Nigéria, mas nos lugares de grande pobreza, a revolta cresce desenfreada - e com ela o impulso de buscar refúgio na religião.

Ambos os lados estão se preparando para a batalha
Maiduguri, no extremo nordeste da Nigéria, com uma população estimada de mais de 1 milhão, é um desses lugares - com ruas de terra, isolada e empobrecida. Há dezenas de escolas corânicas em Maiduguri, algumas fundadas com dinheiro saudita. Caminhões cheios de crianças de Níger e do Chade ocasionalmente chegam à cidade, e as crianças são recebidas nas madrassas para aprender o Alcorão, mas não a ler e escrever. Quando elas não estão na escola, as crianças devem trabalhar.

"É escravidão moderna", diz Bolaji Aina, da organização alemã de ajuda humanitária GTZ, que apoiou projetos para mulheres em Maiduguri por muitos anos. A Boko Haram, uma seita islâmica, se mostra bastante disposta a receber esses escravos modernos. Mais de 700 pessoas morreram em julho passado durante choques entre a seita e a polícia em Maiduguri.

O país entrou em 2010 dividido, sem qualquer perspectiva real e sem liderança. O presidente Umaru Yar'Adua está em um hospital na Arábia Saudita há semanas, incapaz de governar seu país em meio às crescentes exigências para a nomeação de um sucessor. Mas quem seria? Outro muçulmano como Yar'Adua? Ou é a vez dos cristãos?

"Ambos os lados estão se preparando para a batalha", diz o pastor James, o missionário da paz, em Jos. "É um jogo de gato e rato. Os eventos no norte também estão radicalizando o sul."

O Natal foi tranquilo em Jos. Mas os rumores que vinham de Bauchi não eram apenas rumores. Os confrontos na cidade, na última segunda-feira, instigados por uma seita islâmica, deixaram 38 mortos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Texto da Der Spiegel, republicado no UOL.


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terça-feira, dezembro 29, 2009

Coreia do Norte confirma detenção de americano por entrada ilegal

Cecilia Heesook Paek
Em Seul

Os Estados Unidos enfrentam um novo conflito com a Coreia do Norte, depois que Pyongyang confirmou hoje que deteve um ativista americano dos direitos humanos por atravessar ilegalmente sua fronteira com a China.

É o terceiro cidadão de nacionalidade americana detido pela Coreia do Norte sob essa acusação este ano.

A agência oficial norte-coreana "KCNA" informou hoje que um americano foi detido em 24 de dezembro após entrar ilegalmente na Coreia do Norte através da fronteira com a China, e que está sendo investigado pelas autoridades competentes.

Desta forma, a Coreia do Norte confirmou a detenção de Robert Park, de 28 anos, um missionário e defensor dos direitos humanos de origem coreana, uma informação que já havia sido adiantada na semana passada pela imprensa sul-coreana, que afirmam que a detenção foi no dia 25.

"Sou cidadão americano. Trouxe o amor de Deus. Deus os ama e os abençoa", teria dito o missionário após atravessar a fronteira de forma voluntária, segundo o jornal sul-coreano "JoongAng Ilbo".

O objetivo do missionário era entregar uma carta ao líder norte-coreano, Kim Jong-il, e pedir o fechamento dos campos de trabalho norte-coreanos.

Robert Park é membro de um dos grupos cristãos que condenaram a situação de direitos humanos na Coreia do Norte e tinha dito em Seul que, caso fosse detido na Coreia do Norte, não queria que o Governo americano o libertasse.

Em março, duas jornalistas americanas de origem asiática foram detidas na fronteira norte-coreana com a China enquanto gravavam imagens para um documentário sobre o tráfico de refugiadas norte-coreanas, e posteriormente foram condenadas a 12 anos de trabalhos forçados.

Por fim, a Coreia do Norte as libertou em agosto, graças à mediação do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que viajou a Pyongyang para levar as repórteres para casa.

Em Seul, especula-se que Park poderia ser libertado através de um procedimento semelhante, porque a Coreia do Norte anunciou que ele está sob a mesma acusação de entrada ilegal em seu território.

Mas, ao contrário das jornalistas, que cruzaram a fronteira acidentalmente, o ativista entrou na Coreia do Norte por vontade própria e com uma clara mensagem de denunciar a situação de direitos humanos no regime comunista.

A situação dos direitos humanos é um assunto muito delicado para a Coreia do Norte, por isso não se descarta que a reação de Pyongyang seja mais severa, mas outros analistas sul-coreanos acham que o missionário poderia ser expulso rapidamente, para não causar uma imagem ruim diante da comunidade internacional.

As violações dos direitos humanos na Coreia do Norte foram condenadas em muitas ocasiões por vários países e pelos ativistas, que denunciam torturas, trabalhos forçados e execuções extrajudiciais no país.

Acredita-se que, na Coreia do Norte, há mais de 150 mil prisioneiros políticos em seis campos de trabalho, cuja existência o regime nega.

Este incidente ocorre no momento em que a Coreia do Norte e os EUA tentam retomar as negociações multilaterais para o desarmamento nuclear norte-coreano, com a participação também da China, Japão, Rússia e Coreia do Sul, depois da visita a Pyongyang, no início de dezembro, do enviado especial dos EUA Stephen Bosworth.

Essas negociações estão paralisadas há um ano por decisão do regime norte-coreano, que este ano disparou vários mísseis e realizou seu segundo teste nuclear subterrâneo, em meio aos protestos da comunidade internacional.

Em janeiro, está prevista a viagem a Seul do enviado especial dos Estados Unidos para os direitos humanos na Coreia do Norte, Robert King.

King mostrou sua vontade de viajar à Coreia do Norte para conhecer a situação "in locu", mas o previsível é que sua visita não seja autorizada.


Notícia da EFE, no UOL.

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terça-feira, dezembro 08, 2009

Descendentes de canibais pedem perdão a família de missionário devorado

Descendentes de canibais pedem perdão a família de missionário devorado

Os herdeiros de um homem que foi devorado por canibais em uma pequena ilha do Pacífico há 170 anos voltaram pela primeira vez ao local da morte de seu ancestral para fazer parte de uma singular cerimônia de reconciliação.

O ritual se deu na pequena ilha de Erromango, uma das ilhas que compõem a nação de Vanuatu, onde em 1839 os indígenas mataram e devoraram o reverendo John Williams, um dos mais reconhecidos missionário de seu tempo, e seu colega James Harris.

Desde então os nativos crêem ser vítimas de uma "maldição", que querem desfazer agora que o catolicismo é cada vez mais forte na ilha.

"O povo de Erromango sempre teve sobre si o peso de ter matado um missionário. Eles acham que foram amaldiçoados e é por isso que essa reconciliação é tão importante", disse à BBC o presidente de Vanuatu, Iolo Johnson Abbil.

"Desde que passamos a nos considerar como um país cristão, era necessário que Erromango passasse por isso."

Canibalismo

Em 1816, aos 20 anos de idade, John Williams abraçou a vida de missionário dedicando-se à catequização de indígenas da Polinésia sob os auspícios da Sociedade Missionária de Londres.

Dedicou-se à atividade por mais de duas décadas. Em sua última viagem, ele aportou em 1839 a bordo do navio Camden na baía de Dillons, no arquipélago a mais de 1,5 mil quilômetros a leste da Austrália que ainda viria a se tornar Vanuatu.

Ali, dias antes, nativos de Erromango haviam sido mortos por comerciantes europeus de sândalo. Em meio à hostilidade, os dois foram mortos e canibalizados pelos nativos, assim que puseram os pés em terra.

"Harris, que estava mais adiante, foi abatido a clavas e morto. John Williams se virou e tentou correr para o mar. Eles o alcançaram na costa. Ele também foi abatido, flechado e morreu nas águas rasas", contou um dos descendentes do missionário, Charles Milner-Williams, 65.

O antropólogo Ralph Regenvanu, membro do Parlamento de Vanuatu e um dos que propuseram a reconciliação, disse que os homens provavelmente foram mortos porque representavam a "incursão" do homem branco na terra indígena.

"O canibalismo era praticado de forma de ritual e considerada uma atividade sagrada. Muitas vezes era uma maneira de derrotar uma ameaça, de absorver o poder do inimigo", disse o antropólogo.

"John Williams pode ter sido morto e devorado porque representava essa ameaça, essa incursão da civilização europeia que estava chegando a Erromango naquela época."

Reconciliação

Na cerimônia de reconciliação, à qual compareceram 18 descendentes do missionário Williams, a morte dos dois homens foi reencenada. Dezenas de descendentes dos moradores de Erromango à época fizeram fila para pedir o perdão da família.

"O canibalismo era muitas vezes uma maneira de derrotar uma ameaça, de absorver o poder do inimigo. John Williams pode ter sido morte e devorado porque representava essa ameaça, essa incursão da civilização européia que estava chegando a Erromango naquela época."

Ralph Regenvanu, antropólogo

Como demonstração de afeto e respeito, a baía de Dillons, onde ocorreu o incidente, foi renomeada de baía de Williams.

"A reconciliação é parte da nossa cultura. Pedir perdão é uma parte do cerimonial, mas não a única”, disse Regenvanu. “A reconciliação requer algo de ambos os lados, há sempre o elemento da troca."

A família de Williams concordou em amparar a educação de uma garota de sete anos de idade, que foi ritualmente "entregue" à família como compensação pela perda do missionário.

Para o parente de Williams, Charles, o ritual foi emocionante.

“Vim sem saber o que esperar e saio, curiosamente, com minha fé restaurada e me sentindo renovado", afirmou Milner-Williams, que vive em Hampshire, no sul da Inglaterra.

"Pensei que após 170 anos eu não sentiria nenhuma emoção, mas a pureza dos sentimentos, o arrependimento genuíno e a tristeza, de partir o coração, foram bastante tocantes."


Notícia da BBC Brasil.

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quarta-feira, outubro 21, 2009

Anúncio do Vaticano deve gerar êxodo de sacerdotes anglicanos

Cerca de 1 mil sacerdotes anglicanos e outros milhares na Austrália e nos Estados Unidos podem deixar suas igrejas em direção ao Vaticano, disseram ao jornal britânico "The Times", anglicanos tradicionais.

Dioceses inteiras que se opõem à ordenação de mulheres como bispos podem aceitar a oferta do papa Bento XVI.

O anúncio do Vaticano é entendido como um duro golpe aos esforços do arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, de evitar a fragmentação da Comunhão Anglicana, dividida pela consagração de mulheres bispos que reivindica o setor mais progressista do anglicanismo.

Alguns anglicanos acusam à Igreja Católica Apostólica Romana de dedicar-se à caça de anglicanos e criticam Williams por render-se diante o Vaticano.

Embora os críticos reconheçam que Williams pouco podia ter feito para frustrar a ação do Vaticano.

Em carta enviada aos bispos e ao clero, Williams não escondeu sua frustração: "lamento que não tenha sido possível alterar isso tudo antes. Fui informado muito tarde do anúncio do Vaticano".

Williams recebeu a primeira notificação no último final de semana do cardeal William Levada, da Congregação para a Doutrina da Fé, que voou a Londres em seguida para comunicar pessoalmente a decisão aos líderes anglicanos e católicos.

Uma possível consequência da medida vaticana especula o "The Times" é a aceleração da consagração de mulheres como bispos.

Não é nenhum segredo, segundo Williams, que a ordenação de mulheres como bispos é um assunto controvertido neste país.

Notícia da EFE, vista no UOL.

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segunda-feira, maio 18, 2009

Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Papa lamenta na Galileia tensões entre cristãos e muçulmanos

Bento XVI reafirma conceito de doutrina tradicional da Igreja sobre a família

As melopeias em baixo profundo das igrejas orientais, a voz grave por baixo da melodia que é cantada pelos chantres, marcou o final da missa presidida pelo Papa Bento XVI em Nazaré (Galileia, norte de Israel). Uma ocasião que o Papa encontrou para, perante cerca de 50 mil pessoas, deplorar as tensões dos últimos anos na região, entre cristãos e muçulmanos.

Nazaré é o lugar de referência maior para os cristãos da Terra Santa. Aqui viveu Jesus (para poucos investigadores, o Nazareno nasceu mesmo em Nazaré e não em Belém). Na Galileia ele viveu a maior parte dos seus dois a três anos de vida pública, antes de ir para Jerusalém, onde seria crucificado.

Por isso, os cristãos desta região norte de Israel sentem-se especialmente motivados com a presença do Papa em Nazaré. “Estamos muito contentes que o Papa nos venha visitar. Ele lembra-nos os tempos antigos em que vivemos com o homem Jesus Cristo de Nazaré: os discípulos, os apóstolos, eram todos desta região”, diz ao PÚBLICO o arcebispo da Igreja Católica Melquita, Elias Chacour.

Responsável máximo, na Galileia, da maior comunidade católica de Israel, com cerca de 76 mil crentes, Chacour saudou esta manhã o Papa no início da missa. “O santo padre vem como peregrino visitar os lugares santos e vem como pastor para visitar os cristãos e para os encorajar a ficar; uma palavra do Papa vale todos os discursos que os políticos possam fazer”, acrescenta o arcebispo.

Celebrada num grande anfiteatro ao ar livre, a missa foi, até agora, o maior momento de festa dos cristãos que vivem em Israel, na Palestina e em países vizinhos. Em Belém, ontem, Bento XVI já experimentara esse sentimento, mas a multidão de Nazaré suplantou os cerca de quatro ou cinco mil crentes que ontem estiveram no lugar onde a tradição diz que Jesus nasceu.

“Nos últimos anos, infelizmente, Nazaré conheceu tensões que feriram as relações entre cristãos e muçulmanos”, afirmou o Papa na homilia. “Que cada um rejeite o poder destruidor do ódio e os preconceitos, que levam a morte à alma das pessoas antes de matar os corpos.”

O Papa referiu-se ainda à família – a missa assinalava o encerramento do Ano da Família, proclamado pelos católicos da Galileia. Tomando o exemplo da família de Nazaré, Bento XVI referiu-se à doutrina tradicional da Igreja sobre o tema: a família está “fundada sobre a fidelidade de um homem e de uma mulher unidos para toda a vida na aliança do matrimónio”. Esta “verdade fundamental” deve ser redescoberta como “base da sociedade”, acrescentou.


Notícia de Publico, Portugal.


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Prece em Belém

Muhammed Muheisen/Associated Press

PRECE
Meninas cristãs palestinas rezam na Igreja da Natividade, em Belém, Cisjordânia, erguida onde se acredita ter sido o local de nascimento de Jesus Cristo; o papa Bento 16, que ficará no Oriente Médio ao longo desta semana e visitou ontem a Jordânia, pediu aos cristãos da região que contribuam com a paz

Da Folha de São Paulo, em 11 de maio de 2009.

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segunda-feira, maio 11, 2009

Papa chega a Tel Aviv em meio a tensão entre Vaticano e Israel

Papa chega a Tel Aviv em meio a tensão entre Vaticano e Israel

O papa Bento 16 desembarcou em Tel-Aviv na manhã desta segunda-feira, iniciando uma visita de cinco dias a Israel e aos territórios palestinos, definida pelo Vaticano como "peregrinação pela paz".

A visita, a primeira de Bento 16 à região, ocorre sob forte esquema de segurança e em um momento de tensão nas relações entre o Vaticano e Israel, por causa da recente suspensão da excomunhão do bispo católico britânico Richard Williamson, que negou o Holocausto.

Para garantir a segurança do papa, tanto Israel como a Autoridade Palestina prepararam fortes esquemas de segurança.

Em Israel, cerca de 80 mil policiais e agentes de segurança deverão participar da "Operação Batina Branca".

Durante a visita à cidade palestina de Belém, na Cisjordânia, a Guarda Presidencial, considerada a principal unidade de elite da Autoridade Palestina, será responsável pela segurança do papa.

'Caminho para a paz'

Ao receber o papa no aeroporto internacional Bem Gurion, em Tel Aviv, o presidente de Israel, Shimon Peres, disse esperar que a visita ajude a "pavimentar o caminho para a paz".

Em seu discurso na chegada, o papa mencionou a questão da criação do Estado palestino.

"Peço a todos os responsáveis que explorem todas as avenidas de possibilidades em busca de uma solução justa para as dificuldades pendentes", afirmou. "Para que ambos os povos possam viver em paz em uma terra própria dentro de fronteiras seguras e reconhecidas internacionalmente."

Bento 16 afirmou que Israel e o Vaticano têm muitos valores em comum, incluindo o desejo de colocar a religião em seu devido lugar na sociedade.

Ele disse ainda que rezaria pelos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto e prometeu combater o anti-semitismo em todo o mundo.

"Eu terei a oportunidade de honrar a memória dos seis milhões de judeus vítimas do Holocausto", afirmou. "Infelizmente, o anti-semitismo continua a elevar sua feia cabeça em muitas partes do mundo. Isso é totalmente inaceitável", disse.

Holocausto

Em seu primeiro dia de peregrinação à Terra Santa, Bento 16 visita a cidade de Jerusalém, onde se reunirá com o presidente de Israel, Shimon Peres, visitará o Museu do Holocausto Yad Vashem e participará de um encontro inter-religioso.

A visita ao Museu do Holocausto deverá ser um momento particularmente delicado, por causa de atitudes recentes do papa ligadas ao Holocausto e que despertaram indignação em Israel.

A decisão de Bento 16 de suspender a excomunhão do bispo Richard Williamson gerou fortes protestos por parte de líderes políticos e religiosos do país.

Outra decisão polêmica foi a de aprovar a beatificação do papa Pio 12, acusado por vários historiadores de ser omisso em relação ao extermínio de seis milhões de judeus, pelo regime nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.

O diretor do Museu do Holocausto, Avner Shalev, afirmou esperar que, durante a visita, o papa "destaque a importância da memória do Holocausto no presente e também no futuro".

De acordo com Shalev, antes da visita o Vaticano tinha se comprometido a abrir, dentro de cinco anos, seus arquivos relativos ao período da Segunda Guerra Mundial, o que permitirá que pesquisadores esclareçam dúvidas sobre o Pio 12 e seu comportamento em relação ao Holocausto.

No segundo dia da visita, nesta terça-feira, o papa deverá se encontrar, em Jerusalém, com os principais líderes das religiões judaica e muçulmana.

Bento 16 irá à Cúpula da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, considerado o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos e se encontrará com o Grão Mufti de Jerusalém , Akram A-Sabri.

Esse encontro também deverá ser particularmente sensível, por causa da grande indignação causada no mundo muçulmano pelo discurso do papa na Alemanha em 2006, em que estabeleceu uma correlação entre o Islamismo e a violência.

No discurso, Bento 16 citou um imperador bizantino que disse que Maomé só trouxe "coisas más e desumanas para o mundo".

O Movimento Islâmico em Israel, um dos principais grupos políticos da comunidade árabe que vive em Israel, convocou a população árabe a boicotar a visita do papa.

Equilíbrio

Na terça-feira o papa também deverá visitar o Muro das Lamentações, considerado o lugar mais sagrado da religião judaica, e depois se reunirá com os Rabinos Chefes de Israel.

O Patriarca Latino de Jerusalém e principal autoridade da Igreja Católica na região, Dom Fouad Twal, expressou preocupação com a visita do Bento 16.

"O que mais me preocupa é o discurso que o papa fará aqui", disse Twal ao jornal Haaretz. "Se ele disser uma palavra a mais em favor dos muçulmanos, terei problemas, ou uma palavra a mais em favor do judeus, também terei problemas. No final da visita ele voltará para Roma e eu ficarei aqui para arcar com as consequências".

"A Guerra de Gaza deixou uma tensão que dificulta muito a coordenação da visita entre israelenses e palestinos", acrescentou o patriarca.

Dom Fouad Twal também disse esperar que a visita do papa ajude a comunidade cristã na região.


Twal, que é responsável pela comunidade cristã na Terra Santa, incluindo Israel, os territórios palestinos e a Jordânia, disse que o problema concreto mais urgente que a Igreja Católica enfrenta nesta região são as restrições impostas pelo Exército israelense à liberdade de movimentação dos representantes da igreja.

"Nos pontos de checagem do Exército israelense na Cisjordânia nem a batina ajuda", afirmou.

"As barreiras e pontos de checagem dificultam a vida dos palestinos em geral e também de nossos padres e freiras. É difícil chegar aos hospitais, aos funerais, aos casamentos, todo o funcionamento da igreja é prejudicado".

Na quarta-feira o papa deverá visitar Belém, na Cisjordânia, onde fará uma missa na Praça da Manjedoura e se encontrará com o presidente palestino Mahmoud Abbas.

A quinta-feira será dedicada a uma visita à Basilica da Anunciação, em Nazaré e uma missa no Monte do Precipício.

A Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, será o último lugar que o papa visitará, na sexta-feira, antes de retornar a Roma.


A notícia é da BBC Brasil.

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sábado, maio 09, 2009

O Santo Padre Bento XVI vai à Terra Santa

O Santo Padre Bento XVI vai à Terra Santa


Ao acessar a Internet hoje pela manhã vi manchetes sobre uma viagem do Papa Bento XVI à Terra Santa. Segundo o jornal eletrônico Último Segundo, o Santo Padre inicia sua viagem pela Jordânia, onde ficará quatro dias, e depois passará pelos territórios palestinos ocupados na Cisjordânia, indo ás cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, fundamentais para a tradição cristã, e passará também pelo território do Estado de Israel.


Me parece que como todo cristão devoto, o Papa Bento XVI num caso como este, se torna um simples peregrino. Um discípulo andando pelos locais descrito pela Sagrada Escritura Cristã. O jornal diz que ele passará pelo monte Nebo, de onde, segundo a tradição, Moisés viu a Terra Prometida, mas sabia que não poderia alcançá-la, porque Deus não o permitiria. A notícia informa que quando a visibilidade é boa, é possível avistar Jerusalém a partir do monte. Também visitará a margem oriental do rio Jordão, onde foram encontradas ruínas de pias batismais romanas do século IV. O Papa anterior, João Paulo II, esteve ali no início desta década, e, tendo em vista estas ruínas, então recém descobertas, inferiu, e estabeleceu, que a margem oriental deveria ter sido também o local onde Jesus teria sido batizado por João Batista.


O Papa Bento XVI pelo seu passado de teólogo apologista da doutrina católica, ex-chefe da Congregação para Doutrina da Fé, que muitos gostam de lembrar que é a sucessora da Inquisição, e pelas suas posições como Papa mesmo, que mais se assemelham a de um teólogo apologista da doutrina que às posições de um pastor de almas, como acontecia com o Papa João Paulo II, tendo a não ser tão benquisto. O semblante de Bento XVI é mais, digamos assim, carregado, e menos simpático que o de João Paulo II. Mas me parece que as posições teológicas são semelhantes. Sendo assim, um teólogo conservador, sem a simpatia do Papa anterior, Bento XVI tem mais dificuldades em cativar as pessoas. Mas eu vejo o atual Papa com simpatia. Muito mais simpatia que antipatia.


A notícia do Último Segundo informa ainda que a Jordânia possui uma minoria de cerca de 6% de cristãos, a maioria destes dividida entre católicos romanos e ortodoxos gregos. O s muçulmanos são os outros 94%, 92% deles sunitas e 2% xiitas. E um cristão devoto, e peregrino por aquelas terras, deve lembrar o passado com saudades. Antes do surgimento do islamismo e sua expansão a partir do século VII, a maioria da população onde hoje fica a Jordânia deveria ser cristã, pelo menos nominalmente. Curiosamente o texto comenta que o Papa sai de uma Europa que está se tornando cada vez mais descrente, para uma terra onde a crença ainda é vital. E diz esta notícia que isso aproximaria mais o Papa dos cidadãos jordanianos do que talvez ele estivesse dos europeus descrentes. Não tenho certeza se isto é verdadeiro, ou apenas para preencher colunas de texto, ou talvez ainda, para agradar os muçulmanos da Jordânia, dos Territórios Ocupados e de Israel (sim, há muçulmanos em Israel; são minoria mas estão lá).


Por fim, o texto fala ainda do contexto político da visita do atual Papa, comparando-o com o contexto da visita de João Paulo II. Os tempos são mais complicados agora. João Paulo II, pôde falar de uma solução de dois estados para judeus e palestinos. O atual governo israelense não quer falar em dois estados (o que me leva para aquela questão que se não querem dois estados, precisam dar direitos de cidadãos aos palestinos, mas aí Israel deveria também deixar de seu um estado de caráter judeu, caráter judeu este que os atuais e anteriores governos de Israel sempre fazem questão de enfatizar). Além disso a liderança palestina está dividida com o Fatah governando a Cisjordânia, e o Hamas governando a Faixa de Gaza. Definitivamente um contexto político mais complicado aguarda Bento XVI.


Veremos o que nos dirão os próximos dias sobre a visita de Bento XVI à Terra Santa.


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sábado, novembro 29, 2008

Vaticano beatifica mártires japoneses do século XVII

País vê pela 1ª vez beatificação de católicos

DA ASSOCIATED PRESS

Cerca de 30 mil pessoas lotaram ontem um estádio em Nagasaki, no Japão, para assistir a uma cerimônia, inédita no país, de beatificação de 188 mártires católicos, vítimas da perseguição promovida contra os cristãos entre 1603 e 1639. O grupo, que inclui samurais, donas-de-casa e crianças, fica agora a um passo da canonização.
O evento destaca uma página trágica da história do Japão, que durante o século 17 se fechou para o mundo externo e proibiu o contato com o Ocidente, inclusive o cristianismo.
Os cristãos são 1% da população japonesa -majoritariamente budista e xintoísta-, mas o país hoje tem em Taro Aso seu primeiro premiê católico.

Texto da Folha de São Paulo, de 25 de novembro de 2008.


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sexta-feira, outubro 31, 2008

31 de Outubro, Dia da Reforma



Como este blogue não cansa de repetir, dia 31 de outubro é o Dia da Reforma.

É o dia em que o então monge Martinho Lutero pregou na porta do castelo de Wurmtemberg suas 95 teses questionando alguns ensinamentos da Igreja Católica, proclamando que só as Escrituras, isto é, a Bíblia era autoridade em matéria de fé, e contestando a venda de indulgências. Isto aconteceu em 1517.

Imagem de Lutero vinda do blog Curiosidades.

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quinta-feira, agosto 28, 2008

A religião, uma revolução silenciosa na China

A religião, uma revolução silenciosa na China

Frédéric Bobin
Enviado especial a Pequim


O crucifixo preto destaca-se sobre o branco da parede. Predomina na sala uma claridade intensa, como que irradiada pela luz que penetra através dos vidros deste apartamento empoleirado no topo de uma torre situada num conjunto habitacional de Pequim, não longe da vila olímpica. Atrás do seu púlpito improvisado, o pastor Li, segurando um livro de salmos, canta às bandeiras despregadas. Ao lado dele, uma adepta o acompanha no piano. Na sua frente, cerca de vinte crentes entoam, por sua vez, as louvações evangélicas. Eles estão sentados em cadeiras metálicas de encosto acolchoado. Em sua maioria, são trintões e quadragenários. Eles correspondem a perfis variados, entre os quais se misturam donas de casa, intelectuais de óculos, jovens mulheres antenadas trajando blusas regatas ou rapazes com cabelos cortados no estilo "ouriço".

Yu Jie está em pé, ligeiramente afastado da platéia. Ele está mergulhado no recolhimento. Este rapaz de tez pálida e rosto arredondado segura uma Bíblia entreaberta nas palmas das suas mãos. Ele a folheia quando o pastor prega "o amor de Deus". A sua discrição é enganadora: de fato, Yu Jie é uma personalidade de peso nesta igreja não-oficial que celebra o culto nesta tarde de domingo de julho. A igreja da Arca, que nasceu por obra de um grupo de orações organizado pela sua mulher, deve muito à sua abnegação, e também ao seu prestígio pessoal.

Yu Jie é o que costumam chamar de "dissidente". Um ensaísta liberal, admirador da democracia americana - e, a esse título, um inimigo declarado dos nacionalistas chineses mais extremistas -, ele é vigiado de muito perto pela Segurança de Estado, que, contudo, o deixa livre de restrições, controles ou limitações. Em decorrência de uma extensa reflexão política e espiritual, ele abraçou a fé cristã em 2003. Um expoente da vertente pequinesa das "igrejas em domicílio" - as quais são estruturas não-oficiais toleradas, mas que evoluem em meio a um contexto precário -, ele é atualmente um dos intelectuais protestantes mais destacados da capital. Junto com dois dos seus correligionários, ele foi até mesmo recebido em 2006 em Washington por George W. Bush, o que provocou o furor do regime chinês.

Fé e política intimamente ligadas
Yu Jie é apenas um exemplo entre tantos outros. Ele encarna uma pequena revolução silenciosa: no decorrer dos últimos anos, um número crescente de intelectuais liberais na China urbana vem aderindo ao protestantismo. Além de Yu Jie, os mais conhecidos são Wang Yi, Li Baiguang, Gao Zhisheng, Jiao Guobiao, Li Heping, Li Jinsong, Ai Xiaoming. Quase todos eles são professores e juristas envolvidos na defesa dos direitos cívicos. Eles representam a parte visível de um fenômeno mais amplo.

Após ter tomado conta das regiões rurais durante os anos 1980, o fervor religioso - entre outros, o da confissão cristã - vem conquistando espaços nas grandes cidades, em particular no âmbito de uma classe média à procura de valores espirituais como forma de reação ao materialismo dominante. As estatísticas oficiais menosprezam a real importância deste ressurgimento da fé. Segundo as estimativas mais confiáveis de alguns especialistas, a China contaria atualmente entre 40 e 50 milhões de protestantes, além de 10 a 12 milhões de católicos, ou seja, comunidades cristãs que representam cerca de 5% da população. Trata-se de uma parcela ainda muito minoritária, mas que está em processo de expansão.

No caso de Yu Jie, a fé e a política estão intimamente ligadas. Com 35 anos, ele é jovem demais para ter participado da primavera estudantil de 1989 na Praça Tiananmen. Mas o esmagamento, sob as lagartas dos tanques, do sonho democrático nunca parou de assombrá-lo. No decorrer da sua reflexão, a religião foi se impondo como um substituto para um ideal político inacessível. E no contexto desta busca, o cristianismo despontou com a mais sedutora das tentações. "Os valores liberais encontram a sua fonte no cristianismo", analisa. "A tradição chinesa não me satisfaz deste ponto de vista: não é possível encontrar referências à liberdade e aos direitos humanos no confucionismo"*.

Yu Jie leu muito, mergulhou na história da evangelização em terra chinesa, refletiu a respeito dos vínculos entre o cristianismo e a modernidade. Ele conseguiu dimensionar o papel do protestantismo na formação das elites reformistas na China, no início do século 20, a partir dos conhecimentos que ele encontrou, em particular, na obra de Sun Yat-sen (1866-1925), o fundador da República. "Quanto mais eu fui lendo, quanto mais fui descobrindo que a religião cristã havia contribuído para a modernização da sociedade chinesa antes da revolução de 1949", prossegue. "Ora, esta contribuição é totalmente ocultada pelos nossos manuais de história oficiais, que apresentam o cristianismo como o instrumento do imperialismo ocidental".

"Eu acabei alimentando um ódio pela sociedade"
Wang Guangze é um outro representante desses intelectuais neoprotestantes. Um jornalista dissidente, antigo funcionário do "Diário da Lei" e de "Reportagem Econômica do Século 21" - publicações das quais ele foi excluído por conta das suas opiniões democratas -, ele tem a mesma idade que Yu Jie. Da mesma forma que para este último, o trauma de Tiananmen exerceu um papel considerável em sua evolução espiritual. Em maio de 1989, ou seja, antes da repressão do movimento, ele era apenas um colegial na província do Henan, mas havia participado das manifestações de apoio que então haviam tomado conta como uma febre da juventude pelo país afora. A intervenção sangrenta dos tanques na Praça Tiananmen o deixou totalmente "desesperado".

"Eu estava tão desiludido", recorda-se, "que acabei alimentando um ódio pela sociedade, esta sociedade que se tornara a escrava do poder". Após ter concluído seus estudos de direito, ele procura curar-se dessa raiva. As tradições chinesas, como para Yu Jie, não lhe proporcionam o auxílio de que precisa. "O confucionismo se caracteriza por ser um pensamento da elite", critica Wang Guangze, "enquanto o budismo não aponta outra meta senão a de tornar-se um santo". Mas ele segue procurando, lendo, discutindo a respeito dos caminhos da salvação com os seus amigos. O que transforma o cristianismo numa revelação repentina para ele, explica, é a "noção de pecado". Nisso ele descobre - finalmente! - a chave que lhe permite livrar-se da sua execração para com o mundo. "Nós todos somos pecadores", diz. "Não existem pessoas mais nobres do que outras". "Foi assim que apazigüei a minha cólera contra o Partido Comunista", prossegue. "Os comunistas são pecadores assim como eu, mesmo se eles estão a serviço de um sistema que oprime".

Com isso, Wang Guangze torna-se então "tolerante", "moderado", e ele avalia ainda que "é preciso ajudar uns aos outros entre pecadores". Ele fundou uma associação que preconiza a "reconciliação" na China, inspirada no modelo sul-africano.

Fan Yafeng é outro que reencontrou a paz da alma graças a Deus. Um jurista na Academia das Ciências Sociais, ele tinha 20 anos em 1989. Ele havia viajado da sua província do Anhui para Pequim com o objetivo de acompanhar de muito perto a rebelião estudantil. "Depois da repressão, eu acabei ficando totalmente deprimido", recorda-se. "Ao longo de muitos anos, senti-me fraco, frágil, vazio". Ele tenta então aproximar-se do budismo, mas este não oferece respostas para as suas "interrogações a respeito do sentido da vida". No inverno de 1996, surge finalmente a revelação. Um amigo pastor que, por sua vez, havia passado do hinduismo para o protestantismo o convida para assistir ao culto de uma "igreja em domicílio". "Na ocasião, vi pessoas irradiando felicidade, pessoas muito simples, uma cabeleireira, uma empregada de uma companhia de seguros", recorda-se. "O rosto de todas elas estava iluminado". Alguns meses mais tarde, Fan Yafeng é batizado. Enquanto os eventos de 1989 haviam precipitado seus tormentos passados, hoje ele se nega, contudo, a politizar excessivamente sua descoberta da fé: "As nossas igrejas permitem salvar as almas, não a sociedade".

Nem todos os neoprotestantes de Pequim estão imbuídos de uma tão grande beatitude. Um homem de cabelos compridos com madeixas ruivas, Wang Wangwang, é um artista pintor e um célebre criador de cartazes muito requisitado pela vanguarda da capital. Ele converteu-se em 2004 porque, apesar dos seus sucessos e da sua boa situação financeira, ele sentia "um vazio espiritual". Quatro anos mais tarde, ele optou por tomar certa distância em relação ao culto. "Eu senti em mim", diz, "uma contradição, um conflito entre certos valores ocidentais vinculados ao cristianismo e os valores chineses dos quais sou portador". Desde então, ele vem se esforçando para "harmonizá-los" entre si. Wang Wangwang sublinha que ele acabou conseguindo alcançar uma "síntese satisfatória". Mas, o preço que ele teve de pagar para tanto foi um processo de desengajamento em relação à "igreja em domicílio" à qual ele havia aderido. Ele prefere "praticar" sozinho, em sua casa, no meio da mais completa bagunça dos seus quadros, nos quais o Cristo é visto disputando espaços com Mao Tse-Tung.

*Nota do tradutor - Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.) é considerado como o primeiro "educador" da China; os seus ensinamentos deram origem a uma doutrina política e social.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

Texto do Le Monde, no UOL.

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quinta-feira, maio 29, 2008

Repressão a cristãos na Argélia

Rodrigo Coelho
Da BBC Brasil no Cairo

Argélia: Cristãos convertidos são julgados por pregar religião não-islâmica

Seis cristãos convertidos do islamismo podem ser condenados a até dois anos de prisão e a pagar multas de cerca de US$ 8 mil na Argélia, depois de serem acusados de pregar uma religião não-islâmica sem a aprovação do governo.

Os homens, protestantes, são acusados de distribuir material religioso considerado ilegal. O veredicto deve ser anunciado na próxima terça-feira, dia 3 de junho.

Em um caso paralelo, uma mulher, Habiba Kouider, foi processada por ter sido pega portando exemplares da Bíblia, na cidade de Tiaret, a cerca de 400 km da capital Argel.

Ela é acusada de pregar uma religião sem autorização e pode ser condenada a até três anos de cadeia. Kouider nega a acusação.

Exemplo

Alguns jornais argelinos afirmam que o caso de Kouider seria um exemplo de desrespeito à liberdade de consciência, direito garantido pela Constituição do país, que permite, pelo menos no papel, a prática de outras religiões.

Desde 2006, entretanto, as leis argelinas determinam que congregações não-islâmicas e líderes de outras religiões precisam obter licença do governo para poder pregar suas crenças.

Os advogados das vítimas estão sendo pagos pela organização não-governamental American International Christian Concern.

A porta-voz para a África da organização, Darara Gubo, disse à BBC Brasil acreditar que atualmente existe um movimento crescente de repressão à conversão ao cristianismo em vários países muçulmanos.

“Em diversas nações islâmicas os cristãos estão sendo processados quando usam sua liberdade religiosa e evangelizam muçulmanos. Isso acontece na Argélia, Irã, Arábia Saudita, Jordânia e muitos outros países”, disse ela.

Gubo afirma que a repressão aumentou na Argélia após a exibição de um documentário que mostrava um aumento do número de cristãos no país.

“Isso (o documentário) gerou muita pressão de outros países do Oriente Médio e da África. Eles consideraram vergonhoso que os muçulmanos estivessem se convertendo.”

O governo da Argélia afirma que existem cerca de 11 mil cristãos no país, cuja população é de cerca de 33 milhões. Grupos religiosos cristãos afirmam que o número de fiéis é bem maior.

Da BBC Brasil.

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quarta-feira, outubro 31, 2007

31 de Outubro de 2007, 490 Anos da Reforma

Que dia das bruxas, que nada! Hoje faz 490 anos que Martinho Lutero pregou suas 95 teses nas portas de um castelo na Alemanha, rompendo a unidade da cristandade ocidental.
Este blogueiro não é luterano, mas certamente se sente um cristão protestante.
Feliz Dia da Reforma!

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quinta-feira, julho 05, 2007

Introspecção e Transcendência

O blogueiro está passando por uma fase de introspecção e transcendência.
De vez em quando acontece.
Aí vem as citações de Escrituras, os questionamentos à Teoria da Evolução, ...

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quinta-feira, maio 10, 2007

Havemos Papa

E o Papa Bento XVI está entre nós. Quer dizer, entre nós brasileiros. Chegou a São Paulo nesta quarta-feira, dia 9.
E como não poderia deixar de ser, a televisão dá ampla cobertura.
O Jornal da Globo por exemplo, além da ampla cobertura à visita do Chefe da Igreja Católica Romana, ainda mandou correspondente à Alemanha, para mostrar os lugares onde o Papa nasceu e cresceu, como uma forma de tentar entender o pensamento do cardeal Ratzinger.
Verdade é que este blogueiro tem ampla simpatia pelo atual Papa, desde que ele era "apenas" o Chefe da Congregação da Doutrina da Fé, a antiga Inquisição como todos gostam de ressaltar. Mas o cardeal era(na verdade, ainda deve ser, acredito eu) bom teólogo. Teólogo é aquela pessoa que busca contextualizar a doutrina, a partir da Revelação (e esta é uma definição bem pessoal do blogueiro. Outras devem existir). Pena que como bom teólogo, Joseph Ratzinger tenha avançado na hierarquia da Igreja, de maneira que, além de teólogo, ele teve que desempenhar o papel de guardião da sã doutrina, e consequentemente reprimir o que fosse considerado, digamos, pouco ortodoxo. Que o digam o teólogo europeu Hans Küng, ou o brasileiro Leonardo Boff.
Olhando o Jornal da Globo, sou informado que o atual Papa é um admirador de Santo Agostinho, assim como eu. Ou seja, irresistivelmente, sinto ainda mais simpatia por Bento XVI. Ou seja, sou um conservador.
Pena que o Papa seja o Chefe da Igreja Católica, e eu um protestante. Apesar da concordata que o ainda cardeal assinou com líderes luteranos, ainda há muitas diferenças entre nós.
Seria muito bom, se os cristãos pudessem manter laços fraternais com a unidade na diversidade, mas a história do Cristianismo demonstra que cada grupo quer ser mais verdadeiro. Fica muito difícil estabelecer uma base mínima comum.

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