segunda-feira, agosto 30, 2010

Ipês amarelos

Os ipês-amarelos

Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.
Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.
Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.
Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".
Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.
Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.
Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.
Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...

Texto de Rubem Alves, na Folha de São Paulo, de 24 de agosto de 2010.

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quarta-feira, agosto 04, 2010

Ainda sobre as flores nas ruas de Porto Alegre

Segundo informações da prefeitura, disponíveis na Companhia de Processamento de Dados do município, a planta mais recorrente na arborização das ruas de Porto Alegre é mesmo a extremosa. A plantinha de origem indiana, com suas florezinhas cor-de-rosa, se adaptou bem mesmo à nossa cidade.

Depois da extremosa, a maior ocorrência é do ligustro, uma árvore que possui uma discreta floração amarela, e que, nos informa a Wikipédia, é originária da China.

Sempre segundo a prefeitura, o terceiro lugar fica para o jacarandá. Mais especificamente o jacarandá mimoso (“Jacaranda mimosiifolia”) com suas flores entre cor-de-rosa, roxo e púrpura. Curiosamente é só na terceira colocação que temos uma planta “nativa” a arborizar nossas ruas.

Antes de fazer esta pequena pesquisa, a partir da minha curiosidade ao observar flores, eu nunca poderia imaginar que o extremo oriente pudesse estar presente de forma tão forte aqui em Porto Alegre, este arrabalde do mundo.


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segunda-feira, julho 26, 2010

Ainda sobre Hanami em Porto Alegre

Ainda sobre Hanami em Porto Alegre


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Quando estive escrevendo (e pesquisando) sobre Hanami outro dia, cheguei a um linque curioso, que fornecia um título chamado “Hanami à Belzontina”*. Pois esse blogue falava das belezas das flores e árvores nativas de Belo Horizonte, destacadamente os ipês, com flores de diversas colorações.


Eis aí uma maneira de pensar o “hanami” no Brasil. Para além da bela, exótica e rara cerejeira japonesa, olhar as plantas e flores que tornam nossas cidades mais belas e exuberantes.


Pois se alguém fizer pesquisa no Google sobre flores de Porto Alegre provavelmente também achará informações sobre ipês, também com flores de diversas colorações. E sobre jacarandás.


De minha parte não posso deixar de falar de uma plantinha ubíqua pelas nossas ruas, e que no verão deixa Porto Alegre um pouco mais cor-de-rosa, são as “extremosas” (“Lagerstroemia indica”). Dizem que a origem da tal plantinha é indiana, mas qualquer um que passeie por Porto Alegre é capaz de achar que ela é nativa daqui, tão espalhada e aparentemente bem adaptada que está.


Ipês, jacarandás e extremosas, eis flores para se observar quando a primavera e o verão chegarem.



26/07/2010.


*“Hanami à Belzontina” certamente é igual a “Hanami em Belzonte”, como talvez dissesse o mineirim. “Hanami em Belo Horizonte”, pois não?

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sexta-feira, julho 16, 2010

Hanami em Porto Alegre

Hanami em Porto Alegre


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A primeira vez que ouvi falar em Hanami foi em um filme alemão muito tocante, que inclusive já comentei. Depois houve uma referência por parte da Regina Casé, no Fantástico, comentando o Hanami.


Se trata do período de florescimento das cerejeiras (“sakura”, em japonês). Segundo a Wikipédia, “hanami” significa literalmente “olhar as flores”. Na versão em inglês da Wikipédia o verbete se estende um pouco mais, informa, por exemplo, que a floração da cerejeira se dá em janeiro (ou seja, em pleno inverno. Eu imaginaria tal evento ocorrendo em plena primavera.), e que os japoneses se reúnem em Ueno Park, em Tóquio para apreciar as flores, fotografá-las e fazer piqueniques sob as cerejeiras. Esteticamente a coisa é muito bela. Flores em tons de rosa, com amigos e familiares reunidos. E dizem que isso é celebrado todo ano. E que esta celebração saúda também a efemeridade desta beleza. A floração das cerejeiras dura uma semana, no máximo, duas.


Tempos atrás eu havia sido informado que em Porto Alegre havia algumas cerejeiras. Pedi à pessoa que me falou delas que me mantivesse informado sobre o ocorrências da floração. Na semana passada esta informação chegou.


Há pelo menos três cerejeiras plantadas no canteiro central da Avenida Fernando Ferrari, bairro Anchieta, em Porto Alegre. E na semana passada elas estavam cobertas de flores. Belas flores em tons de rosa. Florescendo em pleno inverno, em Porto Alegre. Pude contemplá-las no sábado. Muitos brotos ainda não haviam aberto, e muitas abelhas circulavam entre as flores, sinal (e esperança) que a floração dure ainda mais uma semana. Pude contemplar com meus próprios olhos a manifestação de uma beleza efêmera. Isto me valeu.


Infelizmente as cerejeiras não estão em um parque, ou praça, lugares mais adequados à contemplação e à admiração. O canteiro central da Avenida Fernando Ferrari também não é um lugar adequado para se pensar em fazer um piquenique. Uma pena.


Acredito que a presença de uma associação cultural nipo-brasileira numa das ruas transversais da Avenida Fernando Ferrari seja uma explicação suficiente para a presença destas cerejeiras num canto de Porto Alegre.

E graças a estas prestimosas pessoas, eu pude contemplar a flor da cerejeira sem precisar viajar 20 mil quilômetros.


Não que viajar estes 20 mil quilômetros seja ruim. A questão é que não sei quando, ou se, poderei algum dia ir ao Japão, e de maneira mais precisa, ir ao Japão em janeiro, na época da floração das cerejeiras, para ver, e participar, do Hanami.


12/07/2010.

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sexta-feira, março 09, 2007

Dia Internacional da Mulher, Dia de Flores

Hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foi um dia de ver muitas mulheres carregando flores. Principalmente rosas.

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