sexta-feira, dezembro 31, 2010

O silêncio

O silêncio



O VENTO FRIO, aos golpes, anunciava que o inverno estava se aproximando. Nuvens cinzentas cobriam os Alpes, navios que navegavam velozes. Era um velho mosteiro de freiras que praticavam o silêncio, costume abençoado que libertava as pessoas da obrigação de conversar com os vizinhos às mesas de refeições. Conversar por delicadeza quando não se quer falar e não se tem sobre o que falar é uma maldição.
Hóspede naquele mosteiro, eu deveria obedecer aos horários e participar dos eventos. Fui, então, informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 6 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci. Tenho horror a sermões. Mas me conformei.
O santuário era um velho celeiro de madeira hexagonal, muito grande e escuro, sem janelas. Os arquitetos, para por luz nas sombras, abriram buracos nas paredes de madeira, cobrindo-os com vidros coloridos. A luz do sol, entrando pelos orifícios e atravessando os vidros coloridos, faziam desenhos no espaço vazio, desenhos que se deslocavam à medida em que o sol caminhava pelo céu.
Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo, ao estilo da arte bizantina.
Uns poucos bancos arranjados em "U" definiam um espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio.
Cheguei pontualmente. Havia umas poucas pessoas. Os mosteiros não são lugares que atraiam turistas. Fiquei à espera do início da liturgia, que deveria iniciar-se suiçamente ao repicar dos sinos às 6 da manhã. Os sinos repicaram, mas a liturgia não começou.
Como nada acontecia, nenhuma reza, nenhum hino, nenhuma leitura bíblica, pus-me a examinar o espaço e as luzes que se entrecruzavam. O exercício de simplesmente ver tem o efeito de fazer parar o pensamento. Tornamo-nos só olhos. Alberto Caeiro já dizia que "pensar é estar doente dos olhos..." Os pensamentos, produtos internos da cabeça, são perturbações que distorcem a pureza da visão.
Aí, ao misticismo do ver seguiu-se o misticismo do ouvir. O vento descia furioso das montanhas, em golpes, lufadas que torciam a estrutura de madeira, provocando aqueles ruídos típicos de navios à vela batidos pelo vento.
Ao lado do santuário havia uma plantação de macieiras nuas -o vento havia arrancado suas folhas todas e somente seus galhos pelados ficaram. Quando o vento sacudia a galharia era como se houvesse um mar enraivecido quebrando ondas. Aí os sons e as cores começaram a invocar poemas ancestrais.
"E a terra era um abismo sem forma e o vento de Deus soprava violentamente sobre a superfície das águas... E disse Deus: "Haja luz...'"
E aí meus pensamentos foram possuídos pela poesia.
Mas e a liturgia? Só depois de 20 minutos é que eu percebi que tudo já se iniciara 20 minutos antes. A liturgia era o silêncio.
FIM


Rubem Alves, na Folha de São Paulo, 28/12/2010

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terça-feira, dezembro 28, 2010

Blake Edwards

Blake Edwards


O tempo é assim. A gente pensa consigo mesmo “daqui a pouco eu faço”, e lá se vão quase 15 dias.

O diretor de cinema Blake Edwards faleceu no dia 15 de dezembro passado.

Pouco sei da vida dele, fora que era diretor de cinema e casado com a atriz Julie Andrews.

Mas o que me levou a escrever, foi os poucos filmes que vi dirigidos por ele. E que também me fizeram rir. Em especial os da série da Pantera Cor-de-Rosa, da década de 1970, estrelados pelo também já falecido Peter Sellers. Foram (são) filmes muito engraçados.

Outro filme foi o engraçado e singular “Victor ou Vitória”, estrelado por Julie Andrews, onde ela fazia o papel de uma atriz que se fazia passar por homem, para alcançar o sucesso nos cabarés da Paris dos anos 1930, o que acaba por gerar uma tremenda confusão na cabeça do personagem vivido pelo ator James Garner.

Blake Edwards tinha 88 anos, e uma penca de filmes no currículo.

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Tenente Frank Derbin

Tenente Frank Derbin


O tempo é assim. A gente pensa consigo mesmo “daqui a pouco eu faço”, e lá se foi um mês.

Um mês já se foi desde a notícia do falecimento do ator Leslie Nielsen. Dizem os necrológios que ele faleceu em decorrência de pneumonia, aos 84 anos.

E então nós descobrimos que Nielsen tinha uma longa carreira em Hollywood, onde começou como ator “sério”, na década de 1950, onde atuou, por exemplo, num filme de ficção científica chamado “Planeta Proibido”.

Mas a verdade é que eu só me lembro dele, de filmes muito mais recentes, como “Apertem os cintos, o piloto sumiu”, da década de 1980, que é possível que eu tenha visto em fita de vídeo-cassete.

Com Mr. Magoo, que deve ter tido diversas reprises na TV aberta, ele protagonizou uma bela e engraçada adaptação do personagem de desenho animado com graves limitações visuais. Lá em casa virou bordão, uma frase onde um dos personagens pergunta “O Peru, está no Brasil?”, brincando com a anedótica ignorância dos norte-americanos de geografia (e do resto do mundo, também, ou você sabe a capital de Níger ou a do Lesoto). Em tempo: no filme se perguntava se o bandido Ortega Peru estava escondido no Brasil. Pois é, o Brasil como refúgio de criminosos também é lugar comum em filmes de Hollywood. Talvez, com razão?

Mas certamente minhas melhores memórias de Leslie, são as da série “Corra, que a polícia vem aí”, onde ele interpretava o tenente Frank Derbin. Foram muitas gargalhadas. Em especial, não me lembro em qual dos três filmes, uma cena em que Derbin / Nielsen se atrapalha com um criminoso disfarçado de cientista, preso a uma cadeira de rodas. Sempre sorrio, quando penso nela. A cena termina com uma “homenagem” ao filme “E.T., o Extraterrestre”, de Spielberg, no final.

O humor de Nielsen vai me deixar com saudades...

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Relembrando o grande tsunami de 2004...

MEMÓRIA
Mulheres vertem leite no mar na Índia em homenagem aos 230 mil mortos no tsunami de 2004.


Foto de Nathan G., para a EFE. Visto na Folha de São Paulo, 27/12/2010.

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quarta-feira, dezembro 22, 2010

A tirania da contingência

A tirania da contingência


SEMPRE QUE acontece uma tragédia nas nossas vidas -um fracasso amoroso, uma doença súbita, a perda de alguém que amamos- a velha pergunta regressa para nos assombrar: "Por que eu?" "Por que a mim?".
A pergunta certa não é essa, naturalmente. A pergunta certa seria: "E por que não eu?", "E por que não a mim?".
Mas a nossa "forma mentis" está programada para recusar "a tirania da contingência", para usar a expressão primorosa do narrador de Philip Roth no seu último romance, "Nemesis" (Jonathan Cape, 280 págs.). Aceitar a "tirania da contingência", tema fulcral das obras tardias de Roth, seria destruir a crença basilar da nossa civilização racionalista: a de que tudo depende dos nossos esforços racionais rumo a um fim perfeito. E racional.
Essa crença é cultivada por Bucky Cantor, o personagem central de "Nemesis". Bucky começou mal na vida: a mãe morreu no parto; o pai apodreceu no cárcere. Bucky foi educado pelos avós. Melhor: pelo avô, que incutiu nele uma inabalável crença nas suas forças e capacidades.
O resultado não poderia ser mais brilhante: física e mentalmente forte, Bucky é um Super-Homem em Newark, o território eletivo de Roth.
Claro que, para sermos rigorosos, a "tirania da contingência" sempre esteve presente na vida de Bucky.
Perder a mãe e o pai, mas ter avós disponíveis para uma educação de excelência, não é para qualquer um. É, digamos, uma "sorte". A "contingência" não significa necessariamente um mal; a contingência significa apenas que existe uma margem de imponderabilidade nas condutas humanas onde o mal e o bem acontecem.
E acontece com Bucky. Depois de ter sido salvo pelos avós na infância, Bucky será novamente salvo. Dessa vez, salvo na juventude e uma vez mais por um infortúnio pessoal.
A Segunda Guerra Mundial rebenta para os Estados Unidos depois de Pearl Harbor. Mas Bucky não marcha para o Pacífico como os rapazes da sua idade. Uma visão deficiente e um excesso de dioptrias obrigam-no a ficar em casa. Um destino que Bucky aceita, resignado, embora com um sentimento de culpa que já denuncia a sua incapacidade para aceitar que nem tudo obedece à nossa exclusiva vontade. Pela segunda vez, Bucky é salvo pela "tirania da contingência".
Não haverá terceira vez. Porque, se Bucky não foi à guerra, a guerra vem até ele. Não uma guerra tangível, feita de armas ou bombas; mas uma guerra imaterial, silenciosa e pestífera.
Estamos em 1944 e Newark estremece com uma epidemia de poliomielite. Falar da pólio, hoje, é o mesmo que falar de um dinossauro: uma doença de museu, não mais, depois da descoberta da vacina na década de 50.
Mas a pólio não era uma doença de museu em 1944. Era um vírus furtivo que roubava vidas e destroçava infâncias com violência inaudita.
Philip Roth é primoroso na descrição dessa peste: na descrição do medo que contamina a comunidade; do pânico que se apodera dela; da morte que se abate sobre os mais frágeis; da raiva que é cultivada pelas famílias enlutadas; e, sobretudo, da impotência dos homens para travar um castigo de Deus.
Pelo menos, Bucky acredita que sim. Faz parte da mentalidade racionalista atribuir ao divino a natureza do imponderável. Só um Deus louco, injusto e cruel pode enviar um castigo tão louco, tão injusto e tão cruel.
Mas é justificativa que dura pouco. A educação de Bucky conspira contra ele e a sua consciência exige um culpado mais terreno, mais humano. A pólio pode vir do patrão lá de cima. Mas é preciso alguém que a transporte e dissemine cá por baixo.
Esse alguém só pode ser Bucky, professor de ginástica que convive diariamente com os rapazes. E que, ao vê-los tombar, um por um, como soldados numa batalha invisível, assume em si a responsabilidade do massacre.
Lendo "Nemesis", narrativa magistral de um Roth crepuscular, entendemos como a contingência só é destrutiva quando existe em nós "um sentido deslocado de responsabilidade", para usar as sábias palavras do médico da história.
Ou, trocando em miúdos, só somos verdadeiramente destruídos por aquilo que não controlamos quando alimentamos em nós a ilusão de que tudo controlamos.
Agora que 2010 caminha para o fim, está encontrado o livro do ano.

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segunda-feira, dezembro 13, 2010

Tragédia silenciosa (sobre suicídio no Brasil)


Tragédia silenciosa 
NEURY JOSÉ BOTEGA

Diariamente, 25 pessoas põem fim a suas vidas no Brasil. Foram 9.090 suicídios oficialmente registrados em 2008. Para cada óbito, no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido foram profundamente afetadas. O impacto do suicídio na vida das pessoas e da nação é silenciado pela sociedade.
Nos meios de comunicação há orientação, discutível quando adotada em termos absolutos, de não se noticiar suicídio. Silencioso, ele resta à margem das tragédias nacionais. Mas é possível evitar uma parcela dessas mortes.
Numa escala mundial, nosso coeficiente de mortalidade por suicídio é relativamente baixo: 5,4 mortes em cada 100 mil habitantes, ao longo de um ano. Esse índice cresceu 30% nos últimos 25 anos.
O coeficiente é uma média nacional e esconde importantes contrastes. Em algumas cidades, os índices equiparam-se aos de países do Leste Europeu. Ademais, como somos um país populoso, atingimos o décimo lugar mundial em número total de suicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No espectro do comportamento autoagressivo, o suicídio é a ponta de um iceberg. Estima-se que o número de tentativas supere o de mortes em pelo menos dez vezes. Um inquérito populacional elaborado pela OMS e levado a cabo por pesquisadores da Unicamp apurou que, em cada cem habitantes da cidade de Campinas, 17 já haviam pensado seriamente em pôr fim à vida e três efetivamente tentaram o suicídio.
A causa de um suicídio é invariavelmente mais complexa do que um acontecimento recente que salta à vista e que é tomado como explicação rápida para o ocorrido.
A perda do emprego ou o rompimento de um relacionamento amoroso geralmente são os fatores precipitantes. Na maioria das vezes, pessoas que põem fim à vida sofrem de um transtorno mental subjacente (fator predisponente) que aumenta a vulnerabilidade para o suicídio. Depressão e dependência de álcool são os mais frequentes.
Recentemente, nossa sociedade vem-se abrindo para discutir o tema-tabu. O suicídio passou a ser enfrentado na arena da saúde pública. Um exemplo disso é a parceria firmada entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e a Rede Globo, a partir da qual inserções de 30 segundos entram na programação da televisão.
Há, hoje, considerável informação a respeito do que, em vários países, deu certo em prevenção.
Exemplo recente foi um estudo realizado em serviços médicos de vários países, entre os quais o Hospital de Clínicas da Unicamp, que acompanhou, desde o atendimento em um pronto-socorro, 1.867 pessoas que tentaram o suicídio.
Metade delas, após sorteio, foi acompanhada por meio de telefonemas periódicos. Após 18 meses, o número de suicídios nesse grupo foi, comparativamente, dez vezes menor. Com os telefonemas, a tentativa de suicídio deixou, assim, de ser um pedaço de história a ser esquecido ou silenciado.
Em agosto de 2006, o Ministério da Saúde publicou as diretrizes que orientariam um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. O plano ainda não saiu. É preciso transformar as diretrizes em ações assistenciais baseadas em evidências científicas, as quais, por sua vez, poderão orientar novas políticas de prevenção e estratégias de atendimento.
Na área da saúde, isso constitui um desejado círculo virtuoso entre política, assistência e pesquisa, que não é simples de ser alcançado.


NEURY JOSÉ BOTEGA é professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), representante nacional na Associação Internacional de Prevenção do Suicídio e coordenador da Comissão de Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.

E-mail: botega@fcm.unicamp.br .

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terça-feira, novembro 30, 2010

Hans Hoekendijk

Hans Hoekendijk

SEU NOME ERA Hans Hoekendijk que se pronuncia "rukendaik". Teria, aproximadamente, 60 anos. Com uma vasta cabeleira de cabelos grisalhos abundantes, seu rosto inspirava tranquilidade, seus olhos azuis eram tristes, sua voz em sussurro revelava mansidão e o cachimbo era, talvez, seu amigo mais íntimo.
 
De um cachimbo pode-se dizer "meu cachimbo". Mas nunca dizer "o meu cigarro". Lembrando-me dele tenho saudades do tempo em que eu fumava cachimbo. O cachimbo é uma amizade fiel e vagarosa. Ele era meu colega na instituição em que ensinávamos. Holandês, lutara na resistência contra os alemães durante a Segunda Guerra Mundial e estivera preso num campo de concentração nazista. Reuníamos-nos à sua volta para ouvir suas histórias.
 
Essa foi a que mais me impressionou. "Tínhamos um rádio clandestino", ele falou. "De noite acompanhávamos as notícias do "front" de batalha. As forças aliadas haviam desembarcado na Normandia e avançavam rapidamente na direção do campo em que estávamos presos. Fazíamos os cálculos. Avançando naquele ritmo dentro de poucos dias estaríamos livres!
 

Foi quando o comandante do campo nos reuniu a todos no pátio. "Sei que todos estão se alegrando, pensando que dentro de poucos dias estarão livres. Estão enganados. Antes que cheguem as tropas todos vocês serão enforcados!'"
 
Ele fez uma pausa no seu relato, comprimiu o fumo de seu cachimbo, deu umas baforadas perfumadas -a fumaça fazendo suas espirais-, e, então, continuou: "Um grito de horror saiu da boca de todos. Tão próxima a liberdade e tão longe."
 

"Aí", ele continuou, "passada a experiência de medo e horror, eu tive a maior experiência de liberdade de toda a minha vida. Se vou morrer dentro de dois dias e não há nada que eu possa fazer para evitar a morte, eu sou completamente livre para fazer e dizer o que quiser pois nada pior que a morte poderá me acontecer.
 
O medo se foi... Olhei então para aquele guarda alemão, metralhadora a tiracolo, bruto e sem compaixão, que sempre me amedrontara. Agora eu posso ir até ele e dizer tudo o que penso e sinto a seu respeito. Que me pode fazer? Dar-me uma rajada de metralhadora? Melhor morrer assim que morrer enforcado.
E aquela mulher -eu sempre a amei de longe, só com meus olhos. Ah! Os olhos... Os prisioneiros também amam e sonham... Eu nunca havia me aproximado dela. Ela era casada. Mas, agora, nós três -eu, ela e o marido- tínhamos um mesmo destino. Iríamos morrer. Senti que podia me aproximar dela e, na presença do marido, confessar meus sentimentos.
 
Não, não se tratava de um convite à infidelidade. Diante da morte a infidelidade não existe. Era apenas uma revelação de amor. E nos abraçamos..."
 
Ele se calou, limpou o cachimbo, enfiou-o no bolso, ficou mudo por alguns segundos e então terminou seu relato. "Mas aí nós não fomos enforcados. As tropas aliadas nos libertaram. Voltei, então, à vida normal, voltei a ter medo e perdi minha liberdade..."


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Experimento norte-americano testa como reverter envelhecimento

Uma técnica para manter saudável a estrutura dos cromossomos pode reverter o envelhecimento dos tecidos.

Mariela Jaskelioff e colegas do Instituto de Câncer Dana Farber Cancer, em Massachusetts (EUA), conduziram um experimento com camundongos programados com telômeros curtos e telomerase inativa para ver as consequências dessa combinação.

O resultado é que os animais tiveram um período de vida curto, órgãos atrofiados e cérebros menores que aqueles que não haviam sido programados.

Os telômeros, que ficam nas extremidades dos cromossomos, diminuem a cada divisão celular, mas as células param de se dividir e morrem quando eles ficam abaixo de um certo comprimento.

Cabe à enzima telomerase retardar essa degradação adicionando um novo DNA na ponta dos telômeros.

Quatro semanas depois de os cientistas tornarem a telomerase dos camundongos ativa, eles detectaram que o tecido se regenerou em diversos órgãos, nova células cerebrais se desenvolveram e a vida dos camundongos foi prolongada.

A pesquisa, em fase experimental com animais, é mais uma evidência das relações entre o comprimento dos cromossos e as doenças relacionadas à idade, que pode levar à aplicação em seres humanos no futuro.


Notícia da New Scientist, na Folha.com

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quinta-feira, outubro 21, 2010

Casal consegue ter bebê após 22 anos de tentativas



Um casal que esperou 22 anos para conseguir ter um filho comemorou a chegada de seu primeiro bebê este mês, na Grã-Bretanha.

Susan Comiskey, de 42 anos, deu à luz Anna Margaret apenas um ano após ter vencido uma batalha contra o câncer, que incluiu duas operações e um tratamento de radioterapia.

"Ela é um milagre, um presente", disse o pai, de 55 anos.

Susan e Shane Comiskey se casaram em 1988 e começaram imediatamente a tentar ter filhos, mas não tiveram sucesso.

"Quando as pessoas perguntavam se tínhamos filhos, Shane costumava dizer que já havíamos feito o pedido, mas que o bebê ainda não tinha sido entregue", contou Susan.

Os médicos acreditavam que seus problemas de fertilidade eram causados por um pequeno tumor benigno na glândula pituitária, que teria aumentado os níveis do hormônio prolactina, suspendendo a ovulação e alterando os ciclos menstruais.

Quando o casal foi morar em Liverpool, no norte da Inglaterra, em 2007, Susan começou a se tratar com o especialista em fertilidade Nabil Aziz. Ele receitou remédios para regular seu ciclo reprodutivo, o que aumentou suas chances de conceber de forma natural e também reduziu o tumor.

Câncer

Durante uma consulta em 2008, o médico notou um nódulo no pescoço de Susan.

"Eu já havia visto aquilo, mas não achei nada de mais. Aziz disse que não estava gostando da aparência do nódulo e ligou para a oncologista Alison Waghorn no Hospital Universitário Royal Liverpool, que concordou em me ver quase imediatamente", disse Susan.

Ela foi diagnosticada com câncer de tireoide.

"Foi um choque terrível descobrir que eu tinha câncer, mas mesmo durante o tratamento, eu estava pensando que mais um ano ia se passar sem a chance de ter um bebê."

Susan terminou o tratamento em 2009 e em janeiro deste ano, começou a sentir enjoos. Ela logo imaginou que o câncer tivesse se espalhado.

"Meus ciclos (menstruais) sempre foram um pouco estranhos, então não fiz a ligação entre uma coisa e outra. Depois de um mês ou dois, eu pensei 'Quem sabe?' e fiz um teste de gravidez. Deu positivo. Eu quase desmaiei", disse ela.

"Eu fiz três testes no mesmo dia e todos deram positivo. Ainda assim eu só acreditei quando meu clínico geral confirmou. Finalmente havíamos começado a jornada pela qual esperamos por tanto tempo."

"Nós dois choramos. Não contamos para ninguém no início e ainda ficamos nos perguntando se iria durar, se realmente iria acontecer."

Susan e Shane, que são pastores de uma igreja em Liverpool, agradecem aos médicos e a Deus por terem tornado seu sonho realidade.

"Nunca perdemos as esperanças de que Deus atenderia nossas preces um dia e espero que nossa história sirva de inspiração para quem ainda está esperando por seu bebê."


Notícia da BBC Brasil, no UOL.

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quarta-feira, outubro 13, 2010

Se passam os dias: John Lennon, Renato Russo e os mineiros chilenos

No dia 9 de outubro passado, o cantor e compositor John Lennon teria completado 70 anos. Foi inclusive homenageado pelo Google na data.

No dia 11, se completaram 14 anos que estamos sem o também cantor e compositor Renato Russo, vocalista da Legião Urbana.

E hoje, o governo chileno está conseguindo resgatar um grupo de mineiros que estava preso há cerca de dois meses, após um acidente na mina em que trabalhavam, no deserto de Atacama, norte do país. Estes mineiros tiveram a felicidade de sobreviver ao acidente, pois muitas das notícias que recebemos sobre problemas em minas resultam nas mortes dos mineiros. Em tempos recentes houve mortes em minas na China e na Rússia, por exemplo. Por conta do acidente chileno, a imprensa brasileira relembrou até um acidente que gerou a morte de mineiros no estado de Santa Catarina, com posterior abandono da mina sinistrada. São 33 os mineiros a serem resgatados. Por volta de 16 h, 20 deles já haviam voltado à superfície. O resgate se desenvolve em ritmo de “reality show”, com intensa cobertura da imprensa de todo o mundo.


Atualização: cerca de 22 h, e os 33 mineiros chilenos foram resgatados.


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quinta-feira, setembro 30, 2010

Tony Curtis morre aos 85 anos



O ator americano Tony Curtis morreu aos 85 anos, informou nesta quinta-feira sua filha, a atriz Jamie Lee Curtis, ao site "Entertaiment Tonight".

Protagonista de várias comédias de Hollywood das décadas de 50 e 60, como "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), Curtis foi hospitalizado em julho em Las Vegas (EUA) por conta de problemas respiratórios. Segundo o jornal "New York Times", Curtis morreu de parada cardiorespiratória. Ele estava em sua casa em Las Vegas ao lado da mulher e morreu em sua cama, à meia-noite, segundo o administrador de seus negócios e porta-voz da família, Preston Ahearn.

Bonito e talentoso, Curtis foi um dos grandes astros de Hollywood nos anos 1950 e também um conhecido playboy naquela época. Ele se tornou famoso em grandes sucessos de bilheteria, como "A Embriaguez do Sucesso".

Curtis desempenhou um papel memorável no clássico "Spartacus", em 1960, e foi indicado para o Oscar em 1958, por sua atuação em "Acorrentados". Atuou em mais de 140 filmes, mas parte de sua carreira foi prejudicada por problemas com cocaína e álcool.

Curtis foi casado seis vezes. Seu primeiro casamento foi com a atriz Janet Leigh, com quem teve dois filhos -- incluindo a atriz Jamie Lee Curtis.

Ele teve mais dois filhos de seu casamento com Leslie Allen. Um dos filhos de Curtis e Allen, Nicholas, morreu de overdose de heroína em 1994.

Seu último casamento foi com Jill Vandenberg, 42 anos mais jovem. Eles estavam casados desde 1998.


Notícia da Folha.com . A foto tem crédito apenas para a AP - Associated Press.

Num outro texto, a manchete é "Vida de Tony Curtis parece ter saído de um roteiro de Hollywood".

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sábado, setembro 18, 2010

Filhote de leão com sua mãe no zôo de Zurique




Imagem da Reuters, no UOL.

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sábado, setembro 04, 2010

Katy Perry

Perry vê carreira como peregrinação

De jovem religiosa que sonhava em cantar gospel, americana se tornou estrela pop desbocada e irreverente

Aos 25, Katy Perry lança novo CD, tem agenda de divulgação incessante e se mostra adepta da atividade promocional


DO "NEW YORK TIMES"

Katy Perry estava afundando. Era uma festa para ouvir seu novo álbum, "Teenage Dream", e o tema era de praia, com palmeiras, pranchas e muita areia para decorar o evento, na Midtown.
Se ela fosse Lady Gaga, talvez tivesse pedido que fosse construída uma passarela com trepadeiras de bichinhos de pelúcia ou assistentes ajoelhados; em vez disso, porém, havia apenas modelos de biquíni, comendo algodão-doce e jogando bola.
Katy Perry não ficou feliz quando viu -"não quero areia no meu sapato salto agulha", falou, fazendo beicinho e ecoando uma de suas letras. Mas ela é apenas uma garota comum que ficou famosa, então encarou o desafio com espírito esportivo e atravessou a areia, afundando seu salto a cada passo.
Depois de apresentar algumas canções, ela posou para fotos e deu autógrafos.
Na manhã seguinte, em um evento promocional na Times Square, ela estava de volta em terreno familiar, sugerindo atos sexuais com o microfone para a plateia de turistas enquanto cantava e dançava, terminando em cima de um Volkswagen. Mas tirou os saltos dessa vez -nada de estragar o carro.
O que faz parte da agenda da popstar moderna: divulgação incessante, "crossover" corporativo, desenvolvimento de marca, persona pública irreverente, exagerada.
Nos últimos anos, Perry, 25, vem mostrando ser adepta nesse tipo de atividade promocional, tendo descrito uma reviravolta improvável de cantora gospel para estrela provocante e fazendo seu público ficar atento para rastrear a autenticidade das duas encarnações.
Agora é líder nas paradas de sucesso e personalidade da cultura pop, presença constante nas páginas de fofocas, graças a seu tom desbocado e seu noivado com o desbocado comediante britânico Russell Brand; você pode acompanhar o relacionamento deles no Twitter.

PEREGRINAÇÃO
"Estou em uma peregrinação, sem dúvida", ela diz. É claro que músicos que se engajam publicamente em uma busca por realização pessoal não constituem novidade.
Mas, para Perry, que foi criada como cristã evangélica e chegou ao estrelato em meio a uma cultura de celebridades que revelam demais sobre elas mesmas, a busca tem um peso diferente.
Os princípios de sua busca podem incluir a fé (nela mesma), a devoção a sua arte e um certo tipo de materialismo consciente do que é.
Perry não tem hesitado em revelar sua ambição. "Nunca vou querer entrar neste restaurante" -palavrão- "e ouvir pessoas dizendo: "o que é mesmo que ela faz? Quem é ela ?'". Ser memorável significa ser visível e extravagante, e Katy Perry sente-se à vontade com isso.
Perry diz que Brand a conserva estável e que seus pais ainda oram por ela. Mas não enxerga contradição em sua trajetória fora do comum. "Eu sou porque eu me fiz", disse ela, para então se corrigir: "Deus me fez, mas eu tentei fazer acontecer".
O que a Katy de 15 anos, cujo sonho adolescente era virar estrela gospel, pensaria de sua vida agora? "Ficaria espantada e emocionada. E diria: "vista uma roupa!"."

Tradução de Clara Allain

Do The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, 01/09/2010.

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quarta-feira, agosto 04, 2010

Para onde vão os dias que já passaram?

segunda-feira, julho 26, 2010

O estigma de ser uma dona de casa

O estigma de ser uma dona de casa

Katrin Bennhold
Estocolmo (Suécia)

Quando o jornalista sueco Peter Letmark tentou recentemente encontrar uma dona de casa para uma série sobre os pais do século 21 para o jornal “Dagens Nyheter”, ele fracassou.

“As donas de casa”, ele explicou, “são uma espécie quase extinta na Suécia. E as poucas que ainda existem realmente não ousam vir a público com isso”.

Na vizinha Noruega, a Associação das Donas de Casa mudou seu nome para Associação de Mulheres e Família à medida que seu número de membros despencou de 60 mil para 5 mil. “A referência a dona de casa era embaraçosa demais”, disse a economista feminista Charlotte Koren, do Instituto Norueguês de Pesquisa Social, uma ex-associada e mãe de dois.

Quando não é mais socialmente aceitável ser uma dona de casa, teria o feminismo errado seu alvo?

Nos anos 50, esperava-se que as mulheres permanecessem em casa e aquelas que queriam trabalhar eram frequentemente estigmatizadas. Hoje é praticamente o inverso, colocando as mulheres umas contra as outras segundo as divisões de convicção, classe econômica, necessidade e, frequentemente, etnia.

Por todo o mundo desenvolvido, as mulheres que permanecem em casa são cada vez mais vistas como antiquadas e um fardo econômico para a sociedade. Se seus maridos são ricos, elas frequentemente são repreendidas por serem preguiçosas; se são imigrantes, por impedirem as crianças de aprender a língua e os modos de seu país anfitrião.

Suas tarefas diárias de limpar, cozinhar ou criar seus filhos sempre foram ignoradas pela medição da atividade econômica nacional. (Se um homem se casa com sua empregada e para de pagar pelo seu trabalho, o PIB cai. Se uma mulher para de amamentar e compra alimentos prontos para seu bebê, o PIB sobe.) No debate sobre as mulheres alcançando os homens na educação e no mercado de trabalho em termos de crescente produtividade e crescimento econômico, as mães que permanecem em casa são cada vez menos valorizadas. Isso apesar do fato de, da Noruega aos Estados Unidos, os economistas colocarem o valor de seu trabalho não remunerado acima do valor do setor manufatureiro.

Nos países em que as mães ainda lutam para combinar carreira com família e deixam o trabalho menos por convicção e mais por necessidade, elas costumam ser duplamente punidas. Na Alemanha, a maior economia na Europa, a maioria das escolas ainda encerra as aulas antes do almoço, e creches em tempo integral para crianças com menos de 3 anos são escassas. Mas nesta geração de mães jovens, é mais provável encontrar mulheres dizendo que estão em licença maternidade prolongada ou entre empregos do que dizerem que são donas de casa.

Apenas entre os ricos é visto como um status de classe quando a mãe altamente educada leva as crianças para aula de chinês ou de violino.

“É difícil encontrar um equilíbrio entre a não romanceação e não estigmatização da dona de casa”, disse Nancy Folbre, uma professora de economia da Universidade de Massachusetts, em Amherst. “Apesar de muitas mulheres ainda permanecerem em casa, uma mudança cultural as colocou na defensiva.”

Tendo em mente que as mulheres atualmente trabalham tanto porque querem quanto porque a maioria das famílias precisa de duas rendas, ela disse, “é assim que as normas sociais funcionam: elas colocam pressão para as pessoas se adequarem”.

Na Suécia, o fim da dona de casa é impressionante. Os pais cumprem licença paternidade, os jardins de infância são altamente subsidiados e o modelo universal de arrimo de família é profundamente entrincheirado – do local de trabalho à cultura popular.

Antes o mercado chave para anunciantes no horário diurno da televisão, donas de casa felizes promovendo produtos de limpeza agora raramente aparecem nas propagandas de TV.

Elas são um “segmento inexistente”, disse Jonas Andersson, consultor de marca da The Brand Union, uma empresa de design de marca sueca. De vez em quando propagandas internacionais precisam ser dubladas para remover as menções ofensivas a “dona de casa”, ele disse. Andersson e seus colegas se concentram no que ele chama de segmento de “mulher com pouco tempo”.

“De chocolate a carros, você quer ter como alvo as mães que trabalham fora”, ele disse.

Os políticos nórdicos há muito se concentram nas mães que trabalham fora, dando a elas subsídios para asilos de idosos, creches e, mais recentemente, incentivos financeiros para que dividam a licença maternidade com os homens.

No geral, essas políticas aumentaram o crescimento econômico, aumentaram a arrecadação tributária e deram às mulheres que querem trabalhar mais independência financeira, mais benefícios sociais, mais realização pessoal –resumindo, o que muitas chamariam de mais liberdade.

Mas a engenharia social é uma ferramenta cega e alguns temem que a liberdade das mães que trabalham fora ocorreu à custa de transformar em pária uma minoria que deseja fazer as coisas de modo diferente.

Jorun Lindell, uma mãe de três e esposa de um empreendedor sueco, tentou ser dona de casa e não conseguiu fazer com que desse certo. “Ridicularizada”, ela disse, por sua convicção de que seus filhos deveriam ter sua mãe em casa, ela descobriu que não poderia colocá-los em uma creche pública algumas poucas horas por dia ou semana por ser reservada para famílias em que ambos os pais trabalham, estão à procura de trabalho ou estudando.

Ela acabou se matriculando em uma universidade sem qualquer interesse no curso, “desperdiçando recursos para obter algo pelo qual nossos impostos já pagam”, ela disse.

Não há forma fácil de consertar as consequências não intencionais de uma política bem intencionada.

Algumas medidas, como o auxílio que a Suécia e a Noruega pagam para os pais que ficam em casa e que optam por não utilizar o sistema de creches, frequentemente apenas reforçam o estigma associado às donas de casa: preocupações de que essa ajuda, popular entre as famílias operárias e imigrantes, atrapalha a mobilidade social ao manter os filhos dos pobres e estrangeiros de fora das creches socializadoras a transformou em controversa.

Uma forma mais barata e possivelmente mais eficaz poderia ser finalmente reconhecer formalmente a contribuição das donas de casa à economia, disse Hélène Périvier, uma economista do Institut d’Études Politiques, em Paris.

“Não se trata de ser remunerada”, disse Périvier, notando que o valor econômico que as donas de casa criam permanece dentro de seu lar, “mas sim de ser valorizada”.

Se há um momento para a inclusão do trabalho doméstico não remunerado nos números do PIB é agora, ela disse. As mães que trabalham fora também ganham com isso: elas ainda realizam grande parte do trabalho não remunerado em seus lares – mesmo na Suécia.



Tradução: George El Khouri Andolfato


Texto do International Herald Tribune, publicado no UOL.

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sexta-feira, julho 16, 2010

Hanami em Porto Alegre

Hanami em Porto Alegre


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A primeira vez que ouvi falar em Hanami foi em um filme alemão muito tocante, que inclusive já comentei. Depois houve uma referência por parte da Regina Casé, no Fantástico, comentando o Hanami.


Se trata do período de florescimento das cerejeiras (“sakura”, em japonês). Segundo a Wikipédia, “hanami” significa literalmente “olhar as flores”. Na versão em inglês da Wikipédia o verbete se estende um pouco mais, informa, por exemplo, que a floração da cerejeira se dá em janeiro (ou seja, em pleno inverno. Eu imaginaria tal evento ocorrendo em plena primavera.), e que os japoneses se reúnem em Ueno Park, em Tóquio para apreciar as flores, fotografá-las e fazer piqueniques sob as cerejeiras. Esteticamente a coisa é muito bela. Flores em tons de rosa, com amigos e familiares reunidos. E dizem que isso é celebrado todo ano. E que esta celebração saúda também a efemeridade desta beleza. A floração das cerejeiras dura uma semana, no máximo, duas.


Tempos atrás eu havia sido informado que em Porto Alegre havia algumas cerejeiras. Pedi à pessoa que me falou delas que me mantivesse informado sobre o ocorrências da floração. Na semana passada esta informação chegou.


Há pelo menos três cerejeiras plantadas no canteiro central da Avenida Fernando Ferrari, bairro Anchieta, em Porto Alegre. E na semana passada elas estavam cobertas de flores. Belas flores em tons de rosa. Florescendo em pleno inverno, em Porto Alegre. Pude contemplá-las no sábado. Muitos brotos ainda não haviam aberto, e muitas abelhas circulavam entre as flores, sinal (e esperança) que a floração dure ainda mais uma semana. Pude contemplar com meus próprios olhos a manifestação de uma beleza efêmera. Isto me valeu.


Infelizmente as cerejeiras não estão em um parque, ou praça, lugares mais adequados à contemplação e à admiração. O canteiro central da Avenida Fernando Ferrari também não é um lugar adequado para se pensar em fazer um piquenique. Uma pena.


Acredito que a presença de uma associação cultural nipo-brasileira numa das ruas transversais da Avenida Fernando Ferrari seja uma explicação suficiente para a presença destas cerejeiras num canto de Porto Alegre.

E graças a estas prestimosas pessoas, eu pude contemplar a flor da cerejeira sem precisar viajar 20 mil quilômetros.


Não que viajar estes 20 mil quilômetros seja ruim. A questão é que não sei quando, ou se, poderei algum dia ir ao Japão, e de maneira mais precisa, ir ao Japão em janeiro, na época da floração das cerejeiras, para ver, e participar, do Hanami.


12/07/2010.

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sexta-feira, julho 09, 2010

Se passam os dias – 09/07/2010

Se passam os dias – 09/07/2010


Vão se passando os dias sem muita movimentação neste blog.

Mas o tempo vai passando inexoravelmente...

Esta semana, por exemplo, comemoramos os 70 anos de idade de Ringo Starr. 70 anos!

Também foram 20 anos do passamento do roqueiro Cazuza. 20 anos! Esta expressividade toda é porque, para mim, parece que foi ontem a notícia da morte do cantor e compositor.

Outro dia, copiamos aqui matéria que lembrava os 50 anos do nascimento de Renato Russo, falecido em 1996.

E outro dia, vi uma manchete sobre os 50 anos do Bono Vox, líder do U2.

E hoje estão falando dos 30 anos da morte do poeta Vinícius de Moraes...

Quanta coisa, não?


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segunda-feira, junho 21, 2010

A Copa e o tempo

A Copa e o tempo

AS RUAS estão enfeitadas de verde e amarelo: é a Copa do Mundo, mais uma. Competição e patriotismo à parte, cada Copa serve de referência, de baliza temporal para medir os anos que passam. Valem mais do que o simples Réveillon que comemoramos anualmente: afinal, o tempo ganhou uma dimensão nova e o espaço de 12 meses é curto para as grandes perspectivas interiores.
Quatro anos não é muito nem pouco: é bastante. Chegará o dia em que mediremos nossa verdadeira idade interior pelas Copas e não pelos anos. Aliás, na Antiguidade media-se o tempo histórico pelas Olimpíadas.
E independente do resultado de cada torneio mundial, fica o espanto pelo tempo que foi passando. Custo a absorver os 60 anos que me separam da Copa de 1950, aqui mesmo no Rio, a primeira depois do intervalo provocado pela Segunda Guerra Mundial.
Evidente que tudo era estranho: Getúlio ainda não se suicidara, ninguém conhecia JK, Pelé era um menino de várzea, a Lua, inatingível, o Brasil não sabia fabricar uma tesourinha de unha. No plano particular, algumas mulheres que amei nem tinham nascido ainda.
Os livros que escrevi não estavam sequer na cabeça. Enfim, se um terremoto matasse os 200 mil torcedores que se espremiam no Maracanã naquele Brasil x Uruguai de 1950, eu simplesmente não teria sido eu.
Não é o caso de perguntar se valeu a pena esta sobrevida de 60 anos. No plano estritamente esportivo, evidente que valeu: não vi o Brasil campeão em 1950, mas desforrei a frustração em 58, 62, 70, 94 e 2002.
No campo geral da vida, desaprendi algumas coisas e aprendi outras, não necessariamente melhores. Casei, descasei, tive filhos, escrevi livros, fui preso, desci aos infernos e não subi aos céus.
Cada Copa me traz, assim, um referencial completo, inadiável, de minha passagem pela vida e pelo mundo -e já não ouso invocar aquela piedosa imagem da oração católica que chamou esta vida e o mundo de "vale de lágrimas".
Não, não houve tantas lágrimas assim. As últimas, em certo sentido, foram deixadas no próprio Maracanã, quando acabou o jogo e a multidão, atônita, sentiu que o sonho acabara.
Anos depois, um cara de Liverpool que se julgava mais importante do que Jesus Cristo, também proclamou que o sonho acabara. Bolas, o sonho não acaba: afinal, cada despertar é o noviciado para novo sonho e assim vamos, de sonho em sonho, de Copa em Copa, levando o barco para frente.
De qualquer forma, é confortador que em 1982, na Copa da Espanha, eu estava de malas prontas para as férias de Positano, que Mila -minha setter de olhos cor de mel- acabara de chegar em minha vida.
Bom lembrar que em 1970 eu iniciava um tumultuado período de vida. Enfim, cada Copa, como cada dia, segundo as escrituras, tinha a sua malícia: "Sufficit diei malitia sua" (a cada dia bastam as suas preocupações). Imagino quantas Copas ainda terei pela frente. Duas, três, quatro? Talvez nenhuma. Bem, o problema, de tão meu, não chega a ser meu: é do destino.
E aí está o que desejava dizer desde o início da crônica: cada Copa é um encontro com o destino, não apenas no estádio, mas no campo minado de incertezas de cada mente, de cada coração.
A cada Copa ela se torna mais presente na vida de todos, nos becos e nas ruas, asfalto e favela reagem do mesmo jeito, até o mercado aquece, vende-se mais, bebe-se mais. Mesmo comparando a de 1950, que foi no Brasil, com o Maracanã novinho, não havia tanto comprometimento social, mercadológico e sentimental como hoje.
O simples futebol é um pretexto temporal e factual para um encontro, breve, mas profundo, com os outros e até conosco. De repente nos descobrimos autênticos, sofrendo ou gozando por nada mesmo, por um sentimento geral que desperta em cada um de nós um estágio de pureza infantil, egoísta e coletiva ao mesmo tempo.
Evidente que a esperança (ou a confiança) no resultado final é o reagente químico para um tipo de festa que nem sempre acontece. Não importa. Cada Copa funciona como um tranco dentro de nós mesmos e, por mais paradoxal que seja, uma pausa na verdadeira Copa da vida onde sempre perdemos.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 18 de junho de 2010.


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sexta-feira, junho 11, 2010

Se passam os dias. Hoje é 11 de junho de 2010

Se passam os dias. Hoje é 11 de junho de 2010

E assim este weblog vai ficando largado.


Não é que haja falta de atividades da vida, é apenas falta de inspiração do que escrever.


E como eu gosto de escrever, por exemplo, sobre cinema, sobre filmes, é possível dizer que nesta área há um monte de atividade.


Estou assistindo um ciclo de cinema sobre as guerras dos Estados Unidos. Este ciclo é promovido por alguns alunos e professores do curso de História da UFRGS. No final de semana passado, o filme exibido foi “Hair”. No final de semana anterior a este, o filme foi “Apocalipse Now” (Ei! Será que foi no ataque de helicópteros deste filme que James Cameron se inspirou para a frota que faz o ataque ao povo Na'vi em Avatar?). Antes de “Apocalipse Now”, o filme foi “M.A.S.H.”. E antes de “M.A.S.H.”, foi exibido “A Um Passo da Eternidade”. O ciclo vem cobrindo guerras dos Estados Unidos desde a independência daquele país. O primeiro filme exibido foi “Revolução”, com Al Pacino.


Além deste ciclo de cinema, há a ida às salas comerciais para conferir alguns dos arrasa-quarteirões (“blockbusters”) que vão sendo lançados. Por exemplo, no mesmo final de semana passado, foi a mais recente versão de “Robin Hood”, dirigida por Ridley Scott, com Russell Crowe no papel título, e Kate Blanchet como Marian. No final de semana anterior, havia sido “Sex and the City 2”. E anteriormente, “Fúria de Titãs”, com Sam Worthington. E na primeira quinzena de maio foram “Alice no País das Maravilhas” e “Homem de Ferro 2”.


Pois é. Filmes sobre os quais falar não faltam. Falta só inspiração para dizer alguma coisa. Mas, enfim, fica o registro.

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terça-feira, junho 01, 2010

O homem que estava lá

O homem que estava lá

Morto anteontem, o ator e diretor norte-americano Dennis Hopper participou de grandes momentos do cinema

MÁRIO BORTOLOTTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Anteontem, perdemos Dennis Hopper. Ele estava com 74 anos e foi vítima de um câncer de próstata.
Hopper jamais morreria de tédio. Assim como o poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930), o excêntrico e intenso ator e diretor americano, imortalizado em trabalhos como "Sem Destino" e "O Selvagem da Motocicleta", estaria disposto a morrer de vodca -jamais de tédio.
No cinema, colecionou encrencas, amigos e inimigos leais, além de elogios e críticas destruidoras. E sempre esteve em todos os lugares onde sua presença parecia se fazer necessária.
Foi dos últimos grandes anti-heróis do cinema. Dessa linhagem, ainda temos Jack Nicholson, que estava com Hopper recentemente, quando o ator teve inaugurada sua estrela na calçada da fama de Hollywood.
Nossos heróis definitivamente estão nos deixando.

Texto da Folha de São Paulo, de 31 de maio de 2010.

Figura difícil, Hopper se confundia com personagens

Em grandes filmes ou em "bombas", o ator construiu tipos inesquecíveis

Com o sucesso de "Sem Destino", virou um megalômano insuportável, brigou de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado

ESPECIAL PARA A FOLHA

No programa "Fishing With John" (disponível no YouTube), o músico John Lurie levava alguns amigos para pescar com ele. Com Dennis Hopper, foram necessários dois programas.
E não era uma pesca comum. Hopper não aceitaria sair de casa para sentar com uma vara na beira de um rio. O que eles queriam era pescar a lula gigante.
É claro que não conseguiram, mas o programa se tornou um tratado sobre como transformar o tédio em uma experiência fascinante.
Hopper sempre esteve na cena -não exatamente no centro da cena. Mas estava lá, atento e imprescindível, mesmo como coadjuvante.
Com James Dean em "Juventude Transviada" (1955), lendo Stanislavski enquanto aguardava para filmar. Com Peter Fonda e Jack Nicholson no mítico "Sem Destino" (69). Chapado com Marlon Brando em "Apocalypse Now" (79).
Vivendo o pai bêbado e filósofo de Matt Dillon e Mickey Rourke em "O Selvagem da Motocicleta" (83), ou o barman insidioso de "Indian Runner" (91), do amigo Sean Penn. Interpretando o psicopata mais estranho dos anos 1980 em "Veludo Azul" (86).

MEGALÔMANO
Hopper nunca foi uma figura fácil. Enlouqueceu durante as filmagens de "Sem Destino" e, como um relâmpago, passou de louco a gênio após o sucesso do filme.
Virou um megalômano egoico e insuportável, brigou de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado por aqueles que o haviam idolatrado. Tudo muito rápido, quase meteórico.
Hopper se confundia propositalmente com os personagens que interpretava. Não tinha medo de colocar sua personalidade na frente do trabalho de ator e, com isso, construiu uma galeria de personagens inesquecíveis, com sua marca indiscutível e facilmente reconhecível.
Em "O Selvagem da Motocicleta", ele diz que seu filho nasceu do lado errado do rio. Me parece a definição exata para Hopper. O cara que aparentemente fazia tudo errado e do jeito mais torto possível.
Mas, quando interpretava, fazíamos questão de prestar atenção até para tentar identificar onde começava e terminava o trabalho de ator.
E era sempre muito difícil conseguir identificar, porque ele sempre fez questão de confundir, mesmo atuando nas piores bombas.
Como esquecer, em "Waterworld" (95), o vilão Deacon líder dos Smokers por exemplo? Sua risada característica, seu olhar alucinado, tudo estava lá, de novo a serviço de sua aparentemente desgovernada atuação.

ATOR PROBLEMA
Hopper sabia onde queria chegar, só que sempre pegava a estrada mais acidentada. Parece que ele tinha que fazer jus à fama de "ator problema". Levava a sério a fama de mau.
E se era isso que Hollywood estava precisando, já sabia para que lado olhar, desde o dia que subiu naquela Harley em direção a Nova Orleans, em "Sem Destino".
Quando aquele caipira o derrubou de sua moto com um tiro fatal, a história não estava acabando. Para Dennis Hopper e toda um legião de sujeitos inquietos e propositalmente desgovernados e inclassificáveis, a história estava só começando.
(MÁRIO BORTOLOTTO)

MÁRIO BORTOLOTTO é ator, diretor e dramaturgo.

Também da Folha de São Paulo, de 31 de maio de 2010.

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