quarta-feira, julho 30, 2008

Caco Galhardo

terça-feira, julho 29, 2008

Yi, Er, Si!

Yi, Er, Si!

Por Paulo Heuser

Entre outros vícios, como o de contar botões, tenho o hábito do jogo. Faço uma fezinha, na Mega Sena, duas vezes por semana. Jogo todas as quartas e sextas-feiras, três bilhetes "no escuro". Eu comprava os bilhetes, na loja de uma senhora chinesa, através de uma monótona rotina. Entrava na loja, pedia três Mega Senas e uma Quina de cinqüenta centavos, para arredondar o valor em cinco reais. Ela escolhia os bilhetes, e tentava me vender um café de máquina. Eu recusava, alegando que só tomaria o café quando acertasse na loteria. Porém, algo mudou, faz umas duas semanas.

Os numerais são estranhos, em outras línguas. Os antigos romanos gastariam todo o alfabeto, pela falta do zero. Quem for aprender o idioma alemão, logo perceberá uma diferença enorme nos numerais, quando comparados com os numerais em português. Vinte e um vira einundzwanzig – um e vinte, literalmente. As unidades precedem as dezenas, em alemão. Para quebrar qualquer tentativa de se estabelecer uma regra lógica, os milhares precedem as centenas, que precedem as unidades, que, por sua vez, precedem as dezenas. Para complicar um pouco mais, as dezenas de centenas são utilizadas como no idioma inglês, quando se tratam de datas. Mil novecentos e vinte e um vira algo que, traduzido literalmente para o alemão, fica dezenove centenas, um e vinte. No idioma inglês ficaria um misto dos dois, traduzido como dezenove centenas, vinte e um.

Os italianos e os alemães escrevem numerais por extenso que tiram o fôlego de qualquer um, pois não colocam espaços entre as palavras que compõem o número. Três mil e novecentos e oitenta e sete vira um desses dois horrores, quando traduzido para o italiano ou o alemão, respectivamente: tremilanovecentoottantasette e dreitausendsechshundertsiebenundachzig. Com milhões e bilhões ficam ainda melhores.

Eu pensei que o pior vinha da França. Por alguma razão, eles só foram até o sessenta, com as dezenas faladas. O que gera inevitáveis confusões quando um francês informa o preço de alguma coisa a quem não conhece os numerais deles. Setenta, por exemplo, é soixante dix – sessenta dez. Noventa, vira quatre vingt dix – quatro vinte dez. Há quem atribua essa adoração pelo vinte a um sistema numérico céltico baseado nesse número.

Creio que ocorreu alguma reforma numérica na China, pois a dona da loja, na qual compro meus bilhetes, não vende mais três bilhetes, desde que a aposta subiu de R$ 1,50 para R$ 1,75. Pareceu-me que o número três sumiu. Desde que aos três bilhetes passaram a custar R$ 5,25, dificultando o troco, ela vende um, dois ou quatlo – Yi, er, si. Tlês – San - não! Tlês, só tomando um café.

prheuser@gmail.com

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sábado, julho 26, 2008

Papa diz a premiê iraquiano que cristãos precisam de proteção

Papa diz a premiê iraquiano que cristãos precisam de proteção


Por Philip Pullella


CASTEL GANDOLFO, Itália (Reuters) - O papa Bento 16 disse ao primeiro-ministro Nuri al-Maliki na sexta-feira que a minoria cristã no Iraque precisa de mais proteção, mas o líder iraquiano garantiu a ele que os cristãos não estão sendo perseguidos.


Maliki se reuniu com o papa por 20 minutos na residência de verão do pontífice, no sul de Roma. Ele convidou o papa para visitar o Iraque, dizendo que a viagem ajudaria no processo de paz e reconciliação.


"Nós renovamos nosso convite à Sua Santidade para visitar o Iraque. Ele ficou feliz com o convite. Esperamos que ele nos visite assim que puder", disse Maliki a repórteres depois da visita.


"Sua visita representaria apoio aos esforços de amor e paz no Iraque", acrescentou o premiê.


O papa João Paulo 2o queria visitar o Iraque no ano 2000, mas não recebeu permissão do governo de Saddam Hussein.


Maliki disse que ele e o papa também falaram sobre a situação da minoria cristã no Iraque, e o premiê pediu aos cristãos que deixaram o país devido à invasão norte-americana de 2003 que retornassem e ajudassem a reconstruir o Iraque.


"Também pedi à sua Santidade que encorajasse os cristãos que deixaram o país a retornar e voltar a ser parte da estrutura social do Iraque", disse.


Em um comunicado, o Vaticano disse que o diálogo inter-religioso é importante para o futuro do Iraque.


A minoria cristã iraquiana tenta se manter à distância da violência entre xiitas e sunitas, que matou dezenas de milhares de iraquianos desde 2003. Mesmo assim, igrejas e clérigos critãos são alvo de grupos militantes como a Al Qaeda.

Notícia do G1.


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quinta-feira, julho 24, 2008

Professor da rede pública terá piso de R$ 950

Professor da rede pública terá piso de R$ 950

Valor será o patamar mínimo de salário para professores da educação básica com jornada semanal de trabalho de 40 horas

Governo federal também quer criar universidade pública para receber estudantes de países que falam a língua portuguesa


ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem a lei que cria o piso salarial dos professores da educação básica (ensino infantil a médio). A partir de 2010, os professores da rede pública terão que receber, no mínimo, R$ 950.
A lei foi proposta pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e integra o chamado "PAC da Educação", lançado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, no ano passado. O texto original previa que o valor teria que começar a ser pago ainda neste ano, com data retroativa a janeiro, mas o presidente vetou esse dispositivo.
Com isso, Estados e municípios terão até 2010 para pagar o valor integral de R$ 950, mas já no ano que vem terão que bancar o equivalente a dois terços da diferença do salário atual para o valor do novo piso. Segundo Haddad, o veto se deve à proibição legal de aumentar o salário do funcionalismo em período eleitoral e ao fato de a Lei de Responsabilidade Fiscal impedir o aumento de despesas sem previsão de receita adicional.
O piso vale para professores, orientadores educacionais e diretores, para uma jornada de 40 horas semanais. O professor terá que dedicar no mínimo um terço da jornada a atividades extra-classe, como correção de provas e planejamento de aula.
A medida fará com que o número de professores nos Estados aumente cerca de 20%, de acordo com estimativa da presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Maria Auxiliadora Seabra.
De acordo com estimativas do MEC, 40% dos professores do país ganham menos que o piso. No evento de ontem, Lula sancionou também o projeto que cria 49 mil cargos de professores e técnicos para universidades federais e institutos de educação profissional. Ele também enviou ao Congresso o projeto que cria 38 institutos de educação tecnológica.

Nova universidade
O governo federal quer criar uma universidade pública para receber estudantes de países de língua portuguesa, principalmente da África.
O projeto de lei que cria a Unilab (Universidade Federal de Integração Luso-Afro-Brasileira) deverá ser enviado ao Congresso nas próximas semanas, de acordo com o ministro da Educação. A sede da instituição deverá ser a cidade de Redenção, no Ceará. O projeto político-pedagógico está sendo discutido pelo MEC com a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Segundo Paulo Speller, reitor da Universidade Federal do Mato Grosso e coordenador do projeto, metade dos estudantes e do corpo docente deverá ser composta por brasileiros. A outra metade, por estudantes dos outros países de língua portuguesa. O processo seletivo ainda não foi definido. Estão previstas 5.000 vagas. Os cursos deverão ser nas áreas de ciências agrárias, saúde, formação de professores e gestão.
A idéia é que o orçamento da instituição seja bancado pelo governo brasileiro, mas que existam pólos da universidade em outros países da CPLP. A Unilab deverá ser a 15ª universidade federal criada na gestão do presidente Lula.


Colaborou SIMONE IGLESIAS

Texto da Folha de São Paulo, de 17 de julho de 2008. R$ 950,00 ainda é pouco, mas já é um avanço.

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JOSÉ ALFREDO SILVA FILHO (1933-2008)

JOSÉ ALFREDO SILVA FILHO (1933-2008)

As transmissões do cronista Joe Silva

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Joe Louis tornou-se famoso por encher os adversários de porrada nos anos 30 e 40. Foi campeão mundial dos pesos pesados. Joe Silva não precisou bater em ninguém para ficar conhecido no Paraná. Bastou ser radialista e cronista esportivo.
O nome artístico, porém, revela que José Alfredo Silva Filho gostava de uma boa briga quando jovem. O Joe veio do boxeador dos EUA. O Silva era dele mesmo. Da junção, nasceu o apelido.
Natural de Dores do Indaiá (MG), mudou-se para Maringá (PR) na casa dos 20, atraído pelas perspectivas que o tio via na região graças ao "ouro verde" (café). Passou por várias rádios no Estado, foi dono de algumas, mas a paixão era pela crônica esportiva -chegou a ser presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do PR.
Nos anos 60, escalado para comentar um jogo no interior de SC, topou com dificuldades: com apenas uma linha de som na cidade, a narração de sua equipe não chegaria ao PR. Às pressas, recorreram a um transmissor de ondas curtas como quebra-galho. Trabalho feito, quando voltaram para casa, descobriram que ninguém havia ouvido o jogo. A gambiarra não funcionou.
Usuário do bordão "bem amigos" antes mesmo de Galvão Bueno, como garante o filho, Joe morreu na madrugada de anteontem, aos 74 anos, em Curitiba, em conseqüência de um AVC (acidente vascular cerebral). Deixa três filhos e sete netos.

Texto da Folha de São Paulo, de 17 de julho de 2008. Por que está aqui? Óbvio. É um homônimo do blogueiro.


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quarta-feira, julho 23, 2008

Antigo manuscrito da Bíblia estará disponível na internet

Antigo manuscrito da Bíblia estará disponível na internet

Cópia das Escrituras em grego tem mais de 1.600 anos e poderá ser vista de graça na web.
Codex Sinaiticus é um dos mais velhos volumes com livros do Antigo e Novo Testamento.

Mais de 1.600 anos depois de ser escrita em grego, uma das cópias mais antigas da Bíblia se tornará globalmente acessível via internet pela primeira vez nesta semana. A partir de quinta-feira, partes da Codex Sinaiticus, que contém o Novo Testamento mais velho e completo, estarão disponíveis na web, afirmou a Universidade de Leipzig (Alemanha), um dos quatro conservadores do texto antigo.

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Imagens em alta resolução do Evangelho de Marcos, diversos livros do Velho Testamento e observações dos trabalhos feitos ao longo de séculos estarão em www.codex-sinaiticus.net, num primeiro passo para a publicação online integral do manuscrito até julho próximo.


Ulrich Johannes Schneider, diretor da Biblioteca da Universidade de Leipzig, afirmou que a publicação online do Codex permitirá que qualquer um estude uma peça "fundamental" para os cristãos. Alguns textos estarão disponíveis com traduções em inglês e alemão, acrescentou.


Especialistas acreditam que o documento, datado de aproximadamente do ano 350, possa ser a cópia mais antiga conhecida da Bíblia, junto com o Codex Vaticanus, outra versão antiga da Bíblia, afirmou Schneider. "Acho que é fantástico que graças à tecnologia agora podemos tornar acessíveis os artefatos culturais mais antigos -- aqueles que de tão preciosos não poderiam ser vistos por ninguém -- numa qualidade realmente alta", explicou Schneider.

Texto e imagem do G1. Ótima notícia!

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terça-feira, julho 15, 2008

Palavras ao vento

Palavras ao vento

Ofício de traduzir influencia não só o sucesso da obra mas também a imagem de um país diante de ideologias locais

PETER BURKE
COLUNISTA DA FOLHA

Os problemas e perigos da tradução já foram discutidos muitas vezes, e não foi preciso esperar pelo encantador filme de Sofia Coppola de 2003 para nos darmos conta do que é "perdido na tradução" [Lost in Translation, lançado no Brasil como "Encontros e Desencontros"].
O filósofo espanhol José Ortega y Gasset [1883-1955] certa vez descreveu o projeto da tradução como sendo "utópico", e, na Alemanha, Johann Gottfried Herder já tratava do assunto no final do século 18.
Herder imaginou alguém tentando traduzir a obra do poeta francês setecentista Prosper de Crébillon para a língua dos lapões, e esse experimento mental o levou a indagar se algumas idéias ou mesmo textos não seriam "unübersetzbar" -"intraduzíveis".
Neste artigo -traduzido de minha versão inglesa original- eu gostaria de examinar esses problemas a partir de um ângulo particular: o das palavras intraduzíveis.
Muitas pessoas gostam de dizer que certas palavras de suas línguas maternas são intraduzíveis. Os franceses às vezes afirmam que "esprit" [espírito], "galanterie" [galanteria] e até mesmo "politesse" [polidez] não têm equivalente reais em outros idiomas.
Os ingleses não sabem ao certo se estrangeiros compreendem o que eles querem dizer quando falam num "sportsman" [esportista, pessoa com espírito esportivo] ou "gentleman" [gentil-homem, cavalheiro]. No caso do alemão, vêm à mente termos como "geist", suspenso no espaço lingüístico em algum lugar entre "espírito", "mente" e "cultura".
Em português, palavras como "saudade", "jeitinho", "malandro", "sacanagem" e "safadeza" criam problemas especiais para aqueles que gostariam de traduzi-las.

Saudade
Afirmações desse tipo não devem ser aceitas incondicionalmente. Em russo e em turco, assim como no português, um dos termos dos quais mais comumente se alega que é intraduzível -"saudade", "toska" ou "hüzun" (uma das palavras favoritas do escritor turco Orhan Pamuk)- significa algo como "nostalgia", "anseio" ou "melancolia".
Talvez seja mais exato dizer que determinadas palavras são especialmente difíceis traduzir para outras línguas.

Mestiço
A palavra "mestiço", por exemplo, não é fácil de traduzir ao inglês, pois aparentes equivalentes como "half-breed" ou "half-caste" soam pejorativos -resíduos lingüísticos de preconceitos antigos. Mesmo assim, essas afirmações sobre intraduzibilidade têm, sim, algo de importante a nos revelar sobre os valores das diferentes culturas em que são feitas.
Foi por essa razão que a escritora russa expatriada Svetlana Boym pediu recentemente um "Dicionário de Intraduzíveis", enquanto o narrador de "Shame" [Vergonha, 1983], romance do anglo-indiano Salman Rushdie, que passou sua vida na fronteira entre culturas e línguas, observa que, "para decifrar uma sociedade, observe suas palavras intraduzíveis".
Entre essas palavras, aprende o leitor, está "sharam", um termo em urdu que, segundo nos é dito, não é adequadamente traduzido por "vergonha".
Para serem compreendidas por estrangeiros, palavras desse tipo requerem uma tradução não apenas lingüística, mas também aquilo que hoje é conhecido como "tradução cultural".
O sociólogo húngaro Karl Mannheim [1893-1947], que, como Rushdie, viveu na fronteira entre culturas e línguas -depois de refugiar-se na Grã-Bretanha na década de 1930 e tornar-se professor na London School of Economics-, queixou-se certa vez da "urgente necessidade e grande dificuldade de traduzir uma cultura em termos de outra".

Domesticação
Essa metáfora foi adotada por antropólogos e outros acadêmicos interessados no estudo dos encontros culturais. Hoje, "tradução" exprime o que os escritores oitocentistas queriam dizer quando escreviam sobre "ocidentalizar" ou "anglicizar" ou Gilberto Freyre, quando falava em "abrasileirar" ou "tropicalizar".
Poderíamos falar igualmente bem em "domesticar", mas a metáfora da tradução possui a vantagem de nos lembrar da importância da língua nos encontros e nos intercâmbios culturais. Tome-se o caso, bastante comum nos últimos dois séculos da história mundial, de uma cultura em que alguns indivíduos que exercem liderança desejam seguir modelos estrangeiros.
Foi o caso, por exemplo, no Japão após 1868, quando a restauração do poder do imperador, que durante muito tempo fora mera figura representativa, estava vinculada ao desejo da elite política de modernizar o país, adotando modelos estrangeiros.
Uma parte da elite esperava por uma monarquia constitucional ao estilo britânico, enquanto outras desejavam um sistema mais autoritário.
Foi nessa época, em 1871, que o ensaio do filósofo inglês John Stuart Mill "Sobre a Liberdade" (1859) foi traduzido ao japonês.
A tradução foi feita por Nakamura Keiu, um estudioso confuciano empregado pelo governo que se convertera ao cristianismo e era um intelectual japonês destacado da época.
Nakamura visitara a Inglaterra em 1866 e ficara impressionado pelo fato de que, em suas palavras, uma nação pequena governada por uma mulher tinha sido capaz de derrotar o antes poderoso império chinês. Ele endereçou um memorial ao imperador, "Sobre a Imitação dos Ocidentais", e traduziu "Self-Help" (Auto-Ajuda), um manual para o sucesso escrito por outro inglês vitoriano, Samuel Smiles.
As conseqüências que se seguiram à publicação da tradução de Nakamura ilustram com clareza especial o problema do que Roberto Schwarz, famosamente, já descreveu como "idéias fora do lugar". Um dos problemas mais sérios para o tradutor do ensaio de Mills era a ausência, no japonês, de um termo equivalente ao inglês "liberty" (liberdade).
Algumas pessoas usavam a palavra inglesa, pronunciando-a "riberuchi", ou optavam por "freedom", que pronunciavam "furidomi".
Mas o tradutor optou pelo termo japonês tradicional "jiyu". A decisão de Nakamura teve a vantagem de fazer o conceito inglês parecer menos exótico, mais fácil de assimilar. Seu livro popularizou-se rapidamente, vendendo milhares de cópias.

Formação de elite
O preço da decisão tomada por Nakamura Keiu foi que os leitores de sua tradução provavelmente entenderam "jiyu" em termos de suas associações tradicionais negativas, por exemplo com voluntariosidade e também com egoísmo.
O resultado lingüístico do debate em torno da tradução da palavra "liberty" pode ter afetado o resultado político do debate sobre a nova Constituição japonesa, algo que encorajou a elite em sua opção coletiva por uma forma de monarquia menos autoritária.
Uma moral dessa história é que os tradutores carregam uma responsabilidade pesada, pois suas escolhas em termos de palavras podem ter conseqüências sérias.
Mesmo assim, o ônus não cabe unicamente a eles. O estudo dos intercâmbios culturais e da tradução cultural sugere que, quanto maior a distância entre duas culturas e, especialmente, entre seus valores fundamentais, mais difícil se torna a tarefa do tradutor.
Além de certo ponto, traduzir se converte em "Missão Impossível".


PETER BURKE é historiador inglês, autor de "O Que É História Cultural?" (ed. Zahar). Escreve na seção "Autores", do Mais!.
Tradução de Clara Allain.

Publicado no caderno Mais! da Folha de São Paulo, de 13 de julho de 2008.

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sábado, julho 12, 2008

Gonsales, em tempos de China...

sexta-feira, julho 11, 2008

Laerte



Na Folha de São Paulo.

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quarta-feira, julho 09, 2008

Como a chama de uma vela

Como a chama de uma vela

ALGUMAS PESSOAS TÊM a felicidade de morrer com a tranqüilidade de uma vela que se apaga repentinamente soprada por uma lufada de vento. Ela, a vela, estava segura e feliz, gozando sua chama que fazia o trabalho de luz. E, de repente, não mais que de repente...
Não houve agonias nem dores. A chama morreu tranqüila. Como se ela, a morte, fosse uma mãe que coloca a mão sobre os olhos da criança para que ela se entregue ao sono...
Acho que foi assim que aconteceu com dona Ruth Cardoso. Muitos anos atrás, um repórter perguntou ao então presidente Fernando Henrique: "Como é que o senhor gostaria de morrer?" Ele respondeu: "Dormindo..." Seu desejo se realizou na dona Ruth: ela morreu como se estivesse dormindo...
Se, por acaso, houver entre meus leitores algum que, para se livrar do medo, deseje fazer amizade com a morte, eu aconselharia a leitura do maravilhoso grande livrinho de Bachelard -"A Chama de uma Vela". Volto sempre a esse livrinho quando desejo meditar sobre o mistério da minha vida, que também se apagará como a vela.
Mas eu tenho medo. Quando eu era jovem, era medo puro. Medo metafísico, do escuro do nada...
Vinicius escreveu o seu poema "O Haver" como um consolo diante da morte. "Resta essa obstinação em não fugir do labirinto / Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente / E essa coragem indizível diante do grande medo / E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva..."
Jovem ainda, minha primeira viagem aos Estados Unidos, eu atravessava a Broadway com um amigo japonês, Kunio Goto. As separações, quaisquer separações, são sempre metáforas da Grande Separação. A saudade dos meus queridos no Brasil era muita e eu falava sobre meu medo de morrer. Ele me ouviu, fez alguns segundos de silêncio e observou: "Já pensou, Rubem, em como seria horrível não morrer?" Essa observação chamou-me à razão, mas não diminuiu o sentimento. O medo foi transfigurado pela saudade.
Rilke tem um verso que diz: "Quem assim nos fascinou para que tivéssemos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?" Imagino que a Cecília se inspirou nas palavras de Rilke ao escrever esse lamento na ode à avó: "Tudo em ti era uma ausência que se demorava; uma despedida pronta a cumprir-se..."
Mas, para outras pessoas, a morte é cruel e sádica. Comporta-se como um torturador que faz o seu trabalho de dor vagarosamente na vítima, que não tem como livrar-se das suas mãos de ferro.
Não sei que critérios usa a morte para determinar o seu estilo de trabalho. Diante do contraste entre essas duas mortes, as pessoas que não acreditam em Deus sofrem uma dor apenas, a dor da dor. Elas não se perguntam sobre as razões divinas por detrás dessas duas faces da morte que a imaginação cria. Elas simplesmente lamentarão que a vida seja assim irracional e sem cuidados para com os seres humanos, indiferente e ignorante de dores e prazeres. Ninguém é culpado.
Mas o que terão de pensar aqueles que acreditam em Deus, Deus que os teólogos definiram como onipotente e, por isso mesmo, fonte última de tudo o que acontece, inclusive das duas faces da morte? Por acaso haverá dois deuses, um de rosto maternal e outro com rosto de torturador?

Texto de Rubem Alves, na Folha de São Paulo, de 8 de julho de 2008.


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terça-feira, julho 08, 2008

Em defesa da Internet brasileira


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segunda-feira, julho 07, 2008

Ambiente escolar influi mais que o nível econômico no aprendizado de crianças latino-americanas

Ambiente escolar influi mais que o nível econômico no aprendizado de crianças latino-americanas
Cuba se destaca em prova de matemática e leitura realizada em 16 países


Manuel Délano
Em Santiago do Chile


Os resultados dos alunos de 16 países que participaram do estudo sobre capacitação educacional na América Latina (semelhante ao levantamento Pisa da OCDE, mas apenas na região e feito pela Unesco), voltaram a assinalar as enormes desigualdades que se registram no continente. Acima de tudo, destacam-se os resultados dos estudantes cubanos de 3º (8 anos) e 6º (11 anos) anos do primário. Poucos alunos receberam as notas mais baixa. Mais da metade obteve o nível mais alto (o 4) em matemática e 44% em leitura.

Bem atrás, também obtiveram resultados acima da média, Chile, Costa Rica, México e Uruguai. Já os piores resultados vieram do Paraguai, Equador e dos países da América Central. Em ciências, que foi avaliada em apenas 10 países, Cuba voltou a se destacar novamente, em 6º lugar.

Mas além das médias de pontuação, talvez o mais importante do estudo sejam suas conclusões, que dizem que o principal fator que incide sobre a aprendizagem dos estudantes do ensino básico é a existência de "um ambiente de respeito, acolhedor e positivo" nos colégios, acima inclusive do nível sócio-econômico e cultural médio das escolas, fator esse mais determinante segundo o informe Pisa, da OCDE.

Segundo o estudo, que avaliou entre 2004 e 2008, cerca de 200.000 alunos de 3.000 escolas de 16 países da América Latina, além do Estado mexicano de Nuevo Leon, a influência exercida pelas condições existentes no interior das escolas demonstra a importância dos colégios para diminuir as desigualdades relacionadas às diferenças sociais. O Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo, realizado pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação, com o apoio da Oficina Regional de Educação da Unesco para a América Latina e Caribe, foi apresentado na sexta-feira passada em Santiago do Chile.

Nele ficam evidentes as desigualdades quanto à qualidade da educação dos países, assim como no interior deles, de acordo com os estratos sócio-econômicos e o local de moradia. A igualdade na distribuição do aprendizado continua como uma disciplina pendente. Quanto maior a desigualdade na distribuição da renda, menor é o rendimento médio dos estudantes da América Latina e do Caribe, diz o estudo. Mas o fator que tem maior incidência no aprendizado é a qualidade das escolas de uma região, que explica entre 40% e 49% dos resultados, continua o estudo. Também influi sobre os resultados a localização da escola: os centros rurais obtêm em quase todas as provas resultados inferiores aos dos colégios urbanos nos mesmos países. É no Peru que tais diferenças entre as zonas urbanas e rurais são mais agudas.

Tradução: Claudia Dall'Antonia
Texto do El País, publicado no UOL.

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