segunda-feira, junho 21, 2010

A Copa e o tempo

A Copa e o tempo

AS RUAS estão enfeitadas de verde e amarelo: é a Copa do Mundo, mais uma. Competição e patriotismo à parte, cada Copa serve de referência, de baliza temporal para medir os anos que passam. Valem mais do que o simples Réveillon que comemoramos anualmente: afinal, o tempo ganhou uma dimensão nova e o espaço de 12 meses é curto para as grandes perspectivas interiores.
Quatro anos não é muito nem pouco: é bastante. Chegará o dia em que mediremos nossa verdadeira idade interior pelas Copas e não pelos anos. Aliás, na Antiguidade media-se o tempo histórico pelas Olimpíadas.
E independente do resultado de cada torneio mundial, fica o espanto pelo tempo que foi passando. Custo a absorver os 60 anos que me separam da Copa de 1950, aqui mesmo no Rio, a primeira depois do intervalo provocado pela Segunda Guerra Mundial.
Evidente que tudo era estranho: Getúlio ainda não se suicidara, ninguém conhecia JK, Pelé era um menino de várzea, a Lua, inatingível, o Brasil não sabia fabricar uma tesourinha de unha. No plano particular, algumas mulheres que amei nem tinham nascido ainda.
Os livros que escrevi não estavam sequer na cabeça. Enfim, se um terremoto matasse os 200 mil torcedores que se espremiam no Maracanã naquele Brasil x Uruguai de 1950, eu simplesmente não teria sido eu.
Não é o caso de perguntar se valeu a pena esta sobrevida de 60 anos. No plano estritamente esportivo, evidente que valeu: não vi o Brasil campeão em 1950, mas desforrei a frustração em 58, 62, 70, 94 e 2002.
No campo geral da vida, desaprendi algumas coisas e aprendi outras, não necessariamente melhores. Casei, descasei, tive filhos, escrevi livros, fui preso, desci aos infernos e não subi aos céus.
Cada Copa me traz, assim, um referencial completo, inadiável, de minha passagem pela vida e pelo mundo -e já não ouso invocar aquela piedosa imagem da oração católica que chamou esta vida e o mundo de "vale de lágrimas".
Não, não houve tantas lágrimas assim. As últimas, em certo sentido, foram deixadas no próprio Maracanã, quando acabou o jogo e a multidão, atônita, sentiu que o sonho acabara.
Anos depois, um cara de Liverpool que se julgava mais importante do que Jesus Cristo, também proclamou que o sonho acabara. Bolas, o sonho não acaba: afinal, cada despertar é o noviciado para novo sonho e assim vamos, de sonho em sonho, de Copa em Copa, levando o barco para frente.
De qualquer forma, é confortador que em 1982, na Copa da Espanha, eu estava de malas prontas para as férias de Positano, que Mila -minha setter de olhos cor de mel- acabara de chegar em minha vida.
Bom lembrar que em 1970 eu iniciava um tumultuado período de vida. Enfim, cada Copa, como cada dia, segundo as escrituras, tinha a sua malícia: "Sufficit diei malitia sua" (a cada dia bastam as suas preocupações). Imagino quantas Copas ainda terei pela frente. Duas, três, quatro? Talvez nenhuma. Bem, o problema, de tão meu, não chega a ser meu: é do destino.
E aí está o que desejava dizer desde o início da crônica: cada Copa é um encontro com o destino, não apenas no estádio, mas no campo minado de incertezas de cada mente, de cada coração.
A cada Copa ela se torna mais presente na vida de todos, nos becos e nas ruas, asfalto e favela reagem do mesmo jeito, até o mercado aquece, vende-se mais, bebe-se mais. Mesmo comparando a de 1950, que foi no Brasil, com o Maracanã novinho, não havia tanto comprometimento social, mercadológico e sentimental como hoje.
O simples futebol é um pretexto temporal e factual para um encontro, breve, mas profundo, com os outros e até conosco. De repente nos descobrimos autênticos, sofrendo ou gozando por nada mesmo, por um sentimento geral que desperta em cada um de nós um estágio de pureza infantil, egoísta e coletiva ao mesmo tempo.
Evidente que a esperança (ou a confiança) no resultado final é o reagente químico para um tipo de festa que nem sempre acontece. Não importa. Cada Copa funciona como um tranco dentro de nós mesmos e, por mais paradoxal que seja, uma pausa na verdadeira Copa da vida onde sempre perdemos.

Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, de 18 de junho de 2010.


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Escritor português José Saramago morre aos 87 anos

Escritor português José Saramago morre aos 87 anos

O escritor português José Saramago morreu nesta sexta-feira em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, Espanha, aos 87 anos.

Saramago, criador de obras como O Evangelho Segundo Jesus Cristo, A Viagem do Elefante e Ensaio sobre a Cegueira, se tornou, em 1998, o primeiro e único escritor em língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.

O escritor passou recentemente vários períodos hospitalizado devido a problemas respiratórios.

A Fundação José Saramago informou que o escritor morreu às 12h30 (hora local, 7h30 em Brasília) em sua casa em Lanzarote "em consequência de falência múltipla dos órgãos, após uma prolongada doença. O escritor morreu acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila", segundo o jornal português.

De acordo com o jornal português Público, o estado de saúde do escritor, que estava doente, era "estável", mas a situação teria se agravado de acordo com o editor de Saramago, Zeferino Coelho.

'Estável'

Saramago nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga no dia 16 de novembro de 1922 e, apesar de se mudar aos dois anos de idade com a família para a capital, Lisboa, a aldeia teve uma importância constante em sua vida e foi citada em 1998, quando Saramago tinha 76 anos de idade, no discurso perante a Academia Sueca pela atribuição do Nobel de Literatura.

Seu primeiro livro foi publicado em 1947, Terras do Pecado, um fracasso comercial que contava a história de um camponês em crise.

O título original proposto por Saramago, Viúva, foi alterado por imposição da editora, que o considerava pouco comercial. Esta seria uma das razões pela qual Saramago resistia a incluí-lo na sua bibliografia.

O romance seguinte, Claraboia, foi recusado pelo editor e permanece inédito até hoje.

O escritor trabalhou então como crítico literário e, a partir de 1968, entrou para o Partido Comunista Português, no qual militou até sua morte.

A partir da década de 60, Saramago também desenvolveu um intenso trabalho jornalístico, trabalhando em jornais em jornais como Diário de Notícias e Diário de Lisboa.

Em 1975 o escritor chegou ao cargo de diretor-adjunto do Diário de Notícias, mas foi demitido naquele mesmo ano e decidiu virar escritor em tempo integral.

Volta à literatura

A partir da década de 80, Saramago lança seus romances mais famosos. É de 1980 o livro que é considerado uma das obras fundamentais do escritor, Levantado do Chão, uma história sobre os trabalhadores da região do Alentejo, que fala sobre assuntos como reforma agrária.

O livro que rendeu fama internacional ao escritor, Memorial do Convento, foi lançado em 1982 e se tornou um dos mais estudados e discutidos trabalhos do escritor.

Em seguida, Saramago lançou outras obras famosas como o Ano da Morte de Ricardo Reis, em 1984, História do Cerco de Lisboa, em 1989.

Em 1991 o escritor lançou um dos mais polêmicos livros de sua carreira, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, com uma abordagem polêmica da história de Jesus.

Logo depois do lançamento deste livro, em 1993, Saramago se muda para Lanzarote, devido à oposição ao romance por parte do governo de direita de Portugal, que o considerou ofensivo aos católicos.

O governo do Partido Social Democrata, na época, vetou o romance para o Prêmio Europeu de Literatura.

Em 1995, Saramago lança Ensaio Sobre a Cegueira, que seria adaptado para o cinema pelo cineasta Fernando Meirelles em 2008.

Em setembro de 2008 Saramago lançou seu blog, chamado de O Caderno de Saramago.

Na época, o escritor afirmou que o espaço iria trazer "o que for, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que vier a talhe de foice".

A compilação dos posts de Saramago no blog foi publicada em 2009, trazendo textos nos quais o escritor criticava o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e o papa.

O último livro de Saramago, Caim, também foi lançado em 2009.

Falando à BBC em junho de 2009, o escritor afirmou que "posso ter três, quatro anos de vida, talvez menos".

"Toda vez que termino um livro, espero por outra ideia, que pode não vir desta vez, vamos ver."


Notícia da BBC Brasil.

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sexta-feira, junho 18, 2010

Uma certa vista de Porto Alegre


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Originally uploaded by Ze Alfredo

quarta-feira, junho 16, 2010

Copa do Mundo: Kaká contra a Coréia do Norte

“E o Kaká não tá 100%. Porque 10% vai pra bispa Sônia.”


José Simão, o Macaco Simão, na Folha de São Paulo, comentando a atuação do meia da seleção brasileira. Faz sentido...



Atualização: Kaká 90%

“E o Kaká nunca vai ficar 100%. Porque 10% sempre vai pra bispa Sônia. No máximo, o Kaká vai ficar 90%! O futebol do Kaká tem que Renascer! Rarará!”

Novamente o José Simão, na Folha de São Paulo, agora na edição de 18/06/2010.

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terça-feira, junho 15, 2010

Copa do Mundo 2010 (II)


Largo Glênio Peres - 15/06/2010 - por volta de 13 h 45 min...

Copa do Mundo 2010 (I)


Quinta-feira passada, dia 10, foi a cerimônia de abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2010, que se realiza na África do Sul.
Uma série de jogos já aconteceu.
Hoje é o primeiro jogo da seleção brasileira.
Brasil x Coréia do Norte.
Vejamos...


Atualização: Brasil 2 x 1 Coréia do Norte.

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sexta-feira, junho 11, 2010

Se passam os dias. Hoje é 11 de junho de 2010

Se passam os dias. Hoje é 11 de junho de 2010

E assim este weblog vai ficando largado.


Não é que haja falta de atividades da vida, é apenas falta de inspiração do que escrever.


E como eu gosto de escrever, por exemplo, sobre cinema, sobre filmes, é possível dizer que nesta área há um monte de atividade.


Estou assistindo um ciclo de cinema sobre as guerras dos Estados Unidos. Este ciclo é promovido por alguns alunos e professores do curso de História da UFRGS. No final de semana passado, o filme exibido foi “Hair”. No final de semana anterior a este, o filme foi “Apocalipse Now” (Ei! Será que foi no ataque de helicópteros deste filme que James Cameron se inspirou para a frota que faz o ataque ao povo Na'vi em Avatar?). Antes de “Apocalipse Now”, o filme foi “M.A.S.H.”. E antes de “M.A.S.H.”, foi exibido “A Um Passo da Eternidade”. O ciclo vem cobrindo guerras dos Estados Unidos desde a independência daquele país. O primeiro filme exibido foi “Revolução”, com Al Pacino.


Além deste ciclo de cinema, há a ida às salas comerciais para conferir alguns dos arrasa-quarteirões (“blockbusters”) que vão sendo lançados. Por exemplo, no mesmo final de semana passado, foi a mais recente versão de “Robin Hood”, dirigida por Ridley Scott, com Russell Crowe no papel título, e Kate Blanchet como Marian. No final de semana anterior, havia sido “Sex and the City 2”. E anteriormente, “Fúria de Titãs”, com Sam Worthington. E na primeira quinzena de maio foram “Alice no País das Maravilhas” e “Homem de Ferro 2”.


Pois é. Filmes sobre os quais falar não faltam. Falta só inspiração para dizer alguma coisa. Mas, enfim, fica o registro.

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terça-feira, junho 01, 2010

O homem que estava lá

O homem que estava lá

Morto anteontem, o ator e diretor norte-americano Dennis Hopper participou de grandes momentos do cinema

MÁRIO BORTOLOTTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Anteontem, perdemos Dennis Hopper. Ele estava com 74 anos e foi vítima de um câncer de próstata.
Hopper jamais morreria de tédio. Assim como o poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930), o excêntrico e intenso ator e diretor americano, imortalizado em trabalhos como "Sem Destino" e "O Selvagem da Motocicleta", estaria disposto a morrer de vodca -jamais de tédio.
No cinema, colecionou encrencas, amigos e inimigos leais, além de elogios e críticas destruidoras. E sempre esteve em todos os lugares onde sua presença parecia se fazer necessária.
Foi dos últimos grandes anti-heróis do cinema. Dessa linhagem, ainda temos Jack Nicholson, que estava com Hopper recentemente, quando o ator teve inaugurada sua estrela na calçada da fama de Hollywood.
Nossos heróis definitivamente estão nos deixando.

Texto da Folha de São Paulo, de 31 de maio de 2010.

Figura difícil, Hopper se confundia com personagens

Em grandes filmes ou em "bombas", o ator construiu tipos inesquecíveis

Com o sucesso de "Sem Destino", virou um megalômano insuportável, brigou de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado

ESPECIAL PARA A FOLHA

No programa "Fishing With John" (disponível no YouTube), o músico John Lurie levava alguns amigos para pescar com ele. Com Dennis Hopper, foram necessários dois programas.
E não era uma pesca comum. Hopper não aceitaria sair de casa para sentar com uma vara na beira de um rio. O que eles queriam era pescar a lula gigante.
É claro que não conseguiram, mas o programa se tornou um tratado sobre como transformar o tédio em uma experiência fascinante.
Hopper sempre esteve na cena -não exatamente no centro da cena. Mas estava lá, atento e imprescindível, mesmo como coadjuvante.
Com James Dean em "Juventude Transviada" (1955), lendo Stanislavski enquanto aguardava para filmar. Com Peter Fonda e Jack Nicholson no mítico "Sem Destino" (69). Chapado com Marlon Brando em "Apocalypse Now" (79).
Vivendo o pai bêbado e filósofo de Matt Dillon e Mickey Rourke em "O Selvagem da Motocicleta" (83), ou o barman insidioso de "Indian Runner" (91), do amigo Sean Penn. Interpretando o psicopata mais estranho dos anos 1980 em "Veludo Azul" (86).

MEGALÔMANO
Hopper nunca foi uma figura fácil. Enlouqueceu durante as filmagens de "Sem Destino" e, como um relâmpago, passou de louco a gênio após o sucesso do filme.
Virou um megalômano egoico e insuportável, brigou de porrada com suas mulheres e foi ridicularizado por aqueles que o haviam idolatrado. Tudo muito rápido, quase meteórico.
Hopper se confundia propositalmente com os personagens que interpretava. Não tinha medo de colocar sua personalidade na frente do trabalho de ator e, com isso, construiu uma galeria de personagens inesquecíveis, com sua marca indiscutível e facilmente reconhecível.
Em "O Selvagem da Motocicleta", ele diz que seu filho nasceu do lado errado do rio. Me parece a definição exata para Hopper. O cara que aparentemente fazia tudo errado e do jeito mais torto possível.
Mas, quando interpretava, fazíamos questão de prestar atenção até para tentar identificar onde começava e terminava o trabalho de ator.
E era sempre muito difícil conseguir identificar, porque ele sempre fez questão de confundir, mesmo atuando nas piores bombas.
Como esquecer, em "Waterworld" (95), o vilão Deacon líder dos Smokers por exemplo? Sua risada característica, seu olhar alucinado, tudo estava lá, de novo a serviço de sua aparentemente desgovernada atuação.

ATOR PROBLEMA
Hopper sabia onde queria chegar, só que sempre pegava a estrada mais acidentada. Parece que ele tinha que fazer jus à fama de "ator problema". Levava a sério a fama de mau.
E se era isso que Hollywood estava precisando, já sabia para que lado olhar, desde o dia que subiu naquela Harley em direção a Nova Orleans, em "Sem Destino".
Quando aquele caipira o derrubou de sua moto com um tiro fatal, a história não estava acabando. Para Dennis Hopper e toda um legião de sujeitos inquietos e propositalmente desgovernados e inclassificáveis, a história estava só começando.
(MÁRIO BORTOLOTTO)

MÁRIO BORTOLOTTO é ator, diretor e dramaturgo.

Também da Folha de São Paulo, de 31 de maio de 2010.

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Do Liniers, na Folha de São Paulo.

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