sexta-feira, janeiro 25, 2008

Níquel Náusea, de 2 de janeiro de 2008



Do Fernando Gonzales, na Folha de São Paulo de 02/01/2008.

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Criação de Adão



Falando em criacionismo, imagem da Capela Sistina, a Criação de Adão, feita por Michelangelo, copiada no Art and the Bible.

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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Workaholic = Trabalhólatra

A definição veio de um colega, depois que eu inventei de corrigí-lo na pronúncia da palavra "workaholic". "Tá bom, então, trabalhólatra!"; "trabalhólatra?"; "Sim, não estamos falando de alguém viciado em trabalho?"; "É!..."; "Workaholic é viciado em trabalho, assim como alcoholic é alguém viciado em álcool. E nós chamamos viciados em álcool de alcoólatras. Assim, trabalhólatra."
É isso aí.

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terça-feira, janeiro 22, 2008

A vaca esfriando: E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?) - 3

Felizmente a nova edição da revista CartaCapital, número 479, foi honesta com a publicação da correspondência dos leitores. Foram seis correspondência publicadas sobre a reportagem Fé, família e dinheiro, e as seis reclamando da reportagem. Inclusive a sogra do jogador Kaká, reclamou que foi citada sem ter sido consultada.
Me chamou a atenção a correspondência de Leandro Octávio de Almeida, de São Gonçalo, RJ:

"Paolo não conseguiu manter o bom nível habitual da revista. Quando fez menções às 'intrigas familiares' de Kaká, a matéria partiu para a futilidade. Como evangélico, sinto-me ofendido pela afirmação de nossos fiéis 'defendem cegamente seus líderes'. Cego é o jornalismo que nos trata com simplificações e generalizações. Somos uma diversidade tão grande que não podemos ser tratados com a preguiça ou a má-fé habitual de nossa imprensa. Se tal fato tivesse ocorrido em outra publicação, não mereceria a menor indignação. Mas, quando um texto como esse ganha a chancela de CartaCapital, aí não dá pra dizer que não tem importância."

Gostei do que este outro leitor disse, a faria minhas parte das palavras dele.
A revista também publicou a enquete da semana em que perguntava "O que você acha de Kaká doar cerca de 2 milhões à Igreja Renascer?". Entre as hipóteses propostas pela revista, "o dinheiro é dele, ele faz o que quiser"; "ele encurtaria seu caminho para o céu se doasse o dinheiro para instituições de caridade"; "ele está sendo enganado pelos dirigentes de sua igreja"; "natural, já que é o costume dos fiéis da igreja em questão", 47% dos leitores optaram pela primeira hipótese. E quase 16% optou pela última. Outros 16% foram pela terceira, esses eu acredito que acreditam na ingenuidade do jogador. Por fim, pouco mais de 20% optou pela segunda opção; esses não conhecem, ou não querem conhecer, a versão do cristianismo protestante-evangélico para "o caminho para o céu". Claro. Tudo interpretação minha. Certamente haverá quem discorde.
Mas após este pequeno montante de críticas, a revista, provavelmente pela pena do diretor Mino Carta, se esconde atrás da publicação da "verdade factual", expressão cara ao diretor, bem como pela ampla repercussão que a reportagem causou mundo afora.
Mesmo que, segundo a redação, a revista não fez mais que publicar a "verdade factual", para mim, isto foi apenas dar a repercussão a um promotor de justiça em busca de publicidade.

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Religião?

Em que medida o sr. compartilha a percepção de Walter Benjamin de que o capitalismo é uma religião?

Em O Capital, Marx comparava o capitalismo a uma religião. As mercadorias são percebidas como ídolos, que têm vida própria e decidem o destino dos homens. Esse argumento foi utilizado pelos teólogos da libertação, como Hugo Assmann, Franz Hinkelammert, Jung Mo Sung, para desenvolver uma crítica radical do capitalismo como religião idólatra. A teologia do mercado, de Thomas Malthus ao último documento do Banco Mundial, é ferozmente sacrificial: exige que os pobres ofereçam suas vidas no altar dos ídolos econômicos. Walter Benjamin, ao escrever sobre isso em 1921, não havia lido O Capital. Ele se inspira no sociólogo Max Weber para analisar o caráter cultual do sistema. Na religião capitalista, a cada dia se vê a mobilização do sagrado, seja nos rituais na Bolsa, seja nas empresas, enquanto os adoradores seguem com angústia e extrema tensão a subida ou a descida das cotações. As práticas capitalistas não conhecem pausa, dominam a vida dos indivíduos da manhã à noite, da primavera ao inverno, do berço ao túmulo.

Trecho de entrevista do sociólogo Michael Löwy ao jornal O Estado de São Paulo, de 13 de janeiro de 2008, vista no Diário Gauche.

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Criacionismo Reloaded

Pobre ministra Marina Silva. Resolveu professar suas idéias sobre a Criação, e relacioná-las com a sua visão ecológica, bem como afirmar que a digamos, hipótese criacionista, também devesse ser ensinada aos alunos do ensino geral, para que vários adeptos da ortodoxia científica lhe caíssem sobre a cabeça.
Primeiramente eu vi o assunto no blog do jornalista Marcelo Leite, divulogador de ciências da Folha de São Paulo. Lá o jornalista basicamente diz que a ministra pode professar a sua fé, mas não expor como se verdade científica fosse, suas idéias sobre criação. Não sei se a ministra disse que a hipótese criacionista era uma verdade científica. Mas também nsão sei porque chamam verdade científica uma hipótese inventada para tornar o universo mais natural. Agora dizemos que Deus não age no universo, e divinizamos a natureza, por vezes dizendo que "ela é sábia", ou que "ela criou" tais e tais mecanismos nos seres vivos.
Devo ter visto o assunto em algum outro veículo que já não me lembro mais.
E agora, a Folha de São Paulo, em seu editorial deste domingo, 20 de janeiro de 2008 (para assinantes), censurando novamente a ministra por suas crenças e idéias.
Cuidado! A verdade precisa ser preservada!

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segunda-feira, janeiro 21, 2008

E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?) - 2

Vi no saite Comunique-se, que o repórter Paolo Manzo se enganou, e que o sr. Mendroni, na verdade, é promotor de justiça.
Isto reforça minha impressão de um promotor querendo se destacar, e usando uma celebridade para isso. E a revista CartaCapital deu ampla cobertura ao promotor.
Mino Carta, diretor da revista, em seu blog, afirma que a reportagem é relevante, e de interesse público, tendo sido acolhida em outros veículos de comunicação mundo afora. Então tá.

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sábado, janeiro 19, 2008

E a CartaCapital teve sua semana de Veja (ou quem sabe Contigo?)

- Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas?
- Os acusados costumam frequentar sua casa na Itália e no Brasil?
- O senhor costuma frequentar a casa deles no Brasil e nos Estados Unidos?
- A partir de 31 de julho de 2006, quando teve início a acusação por crime de lavagem de dinheiro, quantas vezes os acusados frequentaram sua casa?
- O senhor tem conhecimento do fato que Estevam Hernandez e Sônia Haddad Moraes Hernandez tiveram prisão decretada?
- Durante o período do decreto de prisão, as duas pessoas ficaram hospedadas em sua casa, na Itália ou no Brasil?
Acima a primeira bateria.
A segunda bateria:
- O senhor contribui com a Igreja do ponto de vista financeiro?
- Desde quando?
- Com dinheiro ou com outros bens?
- Quanto deposita por mês?
- Quanto já depositou desde que começou a colaborar com eles - nos dê um total ainda que aproximado?
- De que forma fez suas doações?
- O senhor tem conhecimento do destino que foi e é dado ao dinheiro que deposita?
Há mais:
- O senhor se dirigiu à imprensa brasileira (primeira página do jornal Folha de São Paulo, do dia 12 de setembro [de 2007, eu suponho]) para defender a Renascer. O senhor sabe de suas atividades e do que é acusada?
Eis o interrogatório encaminhado pelo juiz da 1a. Vara Criminal de São Paulo, Marcelo Batlouni Mendroni, ao jogador Kaká, do Milan. E amplamente divulgado pela revista CartaCapital em texto assinado por Paolo Manzo, o qual, por sinal, não consegui localizar no quadro da redação da revista, localizado na página 81, desta edição, n. 478. Como a reportagem informa que a revista "teve acesso", e o interrogatório foi produzido por um juiz só posso pensar que foi o mesmo juiz que "deu acesso" às perguntas. E por quê? Onde está o "segredo de justiça" que levou a justiça do Mato Grosso do Sul, por exemplo, a proibir veículos de comunicação daquele estado de divulgarem o nome de jovens acusados de estupro? Na minha vã ignorância só posso pensar que o Sr. Mendroni queira se promover em cima do craque do Milan.
E por conta do "momento Quem" da CartaCapital, a revista ainda divulga as diferenças de fé e os conflitos decorrentes entre Kaká e sua sogra, a bonita e elegante (no vestir) Rosângela Lyra. Como leitor de CartaCapital, fiquei pensando qual o interesse do público em saber que Caroline, esposa de Kaká, e filha de Rosângela, teve uma discussão ríspida com sua mãe a respeito da veneração de Santa Maria por parte dos católicos, e a quase indiferença dos protestantes com relação à santa?
Fiquei pensando, eu, protestante e evangélico, respondendo ao questionário proposto pelo senhor juiz:
"Qual é seu grau de amizade e que relação tem com as pessoas acusadas? Bem, excelência somos amigos íntimos e fraternos, nos visitamos quando podemos e trocamos telefonemas"; "Os acusados costumam frequentar sua casa na Itália e no Brasil? Como eu disse, excelência, somos amigos íntimos e fraternos, quando temos a oportunidade nos encontramos"; "O senhor costuma frequentar a casa deles no Brasil e nos Estados Unidos? Excelência, acho que aqui cabe repetir a resposta anterior"; "A partir de 31 de julho de 2006, quando teve início a acusação por crime de lavagem de dinheiro, quantas vezes os acusados frequentaram sua casa? Isto faz cerca de um ano e meio, não excelência? Eu só poderia responder diversas"; "O senhor tem conhecimento do fato que Estevam Hernandez e Sônia Haddad Moraes Hernandez tiveram prisão decretada? Sim, excelência, a imprensa deu ampla divulgação ao decreto de prisão deles"; "Durante o período do decreto de prisão, as duas pessoas ficaram hospedadas em sua casa, na Itália ou no Brasil? Não tenho certeza, excelência, mas é possível que sim"; "O senhor contribui com a Igreja do ponto de vista financeiro? Sim, excelência"; "Desde quando? Desde que comecei a frequentar a igreja, há ene anos atrás, excelência"; "Com dinheiro ou com outros bens? Com dinheiro certamente, excelência. Que tipos de outros bens o senhor pergunta?"; "Quanto deposita por mês? O equivalente a 10% de meus rendimentos mensais, excelência. Isto é variável. A minha mais recente contribuição foi de tantos euros"; "Quanto já depositou desde que começou a colaborar com eles - nos dê um total ainda que aproximado? Não sei excelência, são muitas contribuições através dos anos. Seria melhor pesquisar na contabilidade da Igreja"; "De que forma fez suas doações? Sempre que posso ir a um templo, entrego lá minha oferta, excelência. Às vezes faço transferência bancária"; "O senhor tem conhecimento do destino que foi e é dado ao dinheiro que deposita? Excelência, a Igreja tem contador e contabilidade, mas tenho certeza que o dinheiro é usado para divulgar a fé"; "O senhor se dirigiu à imprensa brasileira para defender a Renascer. O senhor sabe de suas atividades e do que é acusada? Excelência, não li o processo, mas como eles são meus amigos e alegam sua inocência, confio neles, até porque eles ainda não foram condenados pela justiça brasileira".

Não sei o que o jogador Kaká responderá. O que vai acima é apenas a minha cogitação.

E por que eu penso que o juiz Mendroni quer se promover? Porque a Igreja Renascer em Cristo deve ter milhares de fiéis, por todo o Brasil, certamente alguns milhares somente no estado de São Paulo, que é onde acredito que fique a comarca onde corre o processo contra os líderes da Igreja Renascer. Toda esta gente está perfeitamente ao alcance do juiz. Muitos desta gente devem colaborar financeiramente com a Igreja. Por que, então. enviar um questionário para um membro da igreja que está na Itália? Pelos supostos milhões doados por Kaká? Ou seja, uma testemunha é mais importante que outras pela quantidade de dinheiro que fornece? Não sei. Só especulo.

Com o que escrevo aqui não quero dizer que os casal Hernandez seja inocente. Perante a justiça brasileira são inocentes até que sejam condenados em última instância. Nos Estados Unidos eles já estão cumprindo pena por contrabando de dinheiro. Uma pena leve, que aqui no Brasil, se chegassem a ser condenados pelo mesmo motivo, provavelmente seria convertida em prestação de serviços à comunidade, pois não temos penitenciárias adequadas para o cumprimento de penas para crimes, digamos, de pequena monta.

Talvez o casal Hernandez venha a ser culpado por contabilidade ilegal (se não tiverem uma contabilização adequada das entradas, saídas e bens pertencentes à Igreja), falsidade ideológica (se usaram outras pessoas ["laranjas"] para abrir empresas), e quaisquer outros delitos que venham a ser provados contra eles. Por enquanto ainda não.

Anos atrás a revista Época fez uma reportagem sobre o casal, relatando o caso de ex-membros da Igreja que foram prejudicados por se tornarem fiadores em aluguéis de prédios que a Igreja utilizava, e deixou de pagar. Se a história é verdadeira, e o casal Hernandez for condenado será um caso de estelionato. Mas só quando forem condenados.

E por que escrevo isto? Bem, o primeiro motivo é que não esperava ver isto na capa da CartaCapital, revista que assino e tenho por honesta. A reportagem me parece sensacionalista demais para a revista, mas, pelo jeito, como dizia a propaganda, terei que rever meus conceitos.

O segundo é que sou protestante e evangélico, e todas as igrejas protestantes e evangélicas funcionam mais ou menos da mesma maneira com relação às suas finanças. Todas elas dependem das ofertas de seus membros, e estes membros normalmente confiam na direção da Igreja para lidar com isto. O que acontece é que com a população evangélica crescendo, e estas igrejas neopentecostais têm crescido com bastante vigor, o valor das ofertas vai se tornando muito grande, de maneira que o valor arrecadado é muito mais que suficiente para a manutenção de templos e sustento do seu, digamos, clero. O que elas fazem com o dinheiro que sobra? Investem em comunicação. Um exemplo acabado disso é a Igreja Universal do Reino de Deus. Não esqueçamos que tempos atrás o bispo Edir Macedo foi preso sob a acusação de charlatanismo, e outras sandices. Acusações das quais acabou inocentado. Pois quando o canal de notícias Record News foi inaugurado, recentemente, com a presença do presidente da república e do governador do estado de São Paulo, lá estava, apresentado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, o agora "empresário" Edir Macedo. O que mais? Compram imóveis com os quais edificam templos, por vezes com amplos estacionamentos, para conforto dos membros da igreja. Também provêem confortos para a sua liderança: automóveis, combustível, moradia, coisas que vão do simples ao luxuoso, dependendo da quantidade de dinheiro que uma igreja consiga arrecadar, e que, por conta disso, gera a velha questão: isto é uma maneira de facilitar a vida da liderança da igreja, ou uma mordomia imerecida? Cada igreja tem a sua maneira de avaliar isto. Algumas têm colegiados de bispos, algumas decidem por simples assembléias, mais ou menos como reunião de condomínio, embora tendendo a ser um pouco mais pacatas. Nem sempre.

Por fim temos a velha pergunta do protestante: por que não investigam as entradas da Igreja Católica? Por que não informam como a instituição se sustenta aqui no Brasil? Por que é a da maioria? Bom, mas o estado de direito não deve servir para oprimir minorias. Não que eu aqui esteja dizendo que a Igreja Católica tenha algo errado. Longe disso. A Igreja Católica nos oferece belos templos, verdadeiros tesouros arquitetônicos. E os tesouros do Vaticano, esculturas, pinturas, manuscritos antigos, eu sempre advogo que permaneçam por lá, abertos à visitação e à pesquisa.

Mas acho o interrogatório do juiz Mendroni totalmente impróprio, uma desnecessária invasão à privacidade do jogador Kaká. E achei também um imenso desperdício da capa da revista CartaCapital.

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

Das Crônicas do Heuser: Amphitheatrum Flavium

Amphitheatrum Flavium

Por Paulo Heuser

Quem chega a Paris, quer ver a Torre Eiffel, quem chega a Roma, quer ver o Coliseu. Quem chega pelo metrô, descendo na estação Colosseo, sobe ansioso o lance de escadas que leva a Piazza Del Colosseo – Praça do Coliseu. Ao deixar a estação, os turistas vêem o cartão postal de Roma. Está lá, do outro lado da avenida. Lá os temidos motoristas romanos mudam um pouco seu comportamento. Sensibilizam-se com aqueles pobres coitados estrangeiros que insistem em atravessar a Via dei Fori Imperiali sem olhar para os lados. A construção iniciou em 72 d.C., durante o império de Vespasiano e foi concluída em 80 d.C., por Tito.

A vizinhança do Coliseu é tão ou mais fantástica do que o próprio. Do Arco de Constantino ao Foro Romano, cada passo é um mergulho na história. A vista do Foro a partir da Casa das Vestais é impressionante. O Templo de César, o Circo Máximo, o Templo de Saturno, de Antonio e Faustina, o Arco de Tito, tudo está concentrado no centro de Roma. Poderíamos perambular durante meses por ali, sempre descobrindo algo novo, muito velho. Dos arcos externos do Coliseu vê-se o monumento a Vittorio Emanuele II, muito mais recente, mas igualmente impressionante.

Quem viveu a época dos grandes épicos cinematográficos, como eu, lembra-se do Coliseu de Roma como arena de lutas. O povão ficava sentado naquelas arquibancadas, dividido conforme a cor do cartão de crédito, enquanto os leões devoravam cristãos e os gladiadores se matavam na arena. Spartacus (1960) de Stanley Kubrick, com Kirk Douglas, foi um clássico cinematográfico sobre gladiadores. Os gladiadores foram escravos que sonhavam com a liberdade, conseguida após vencerem as lutas no Coliseu. Eram zeros à esquerda que podiam ser alçados ao sucesso, graças ao gládio. Os combates faziam parte da política panis et circensis – pão e circo -, concebida para distrair o povo. Segundo os filmes de época, o destino dos gladiadores incapacitados pelos ferimentos era decidido pelo imperador, que sinalizava ao vencedor após consultar o público presente. Como o público queria mesmo ver sangue, o final era previsível. O Coliseu chegou a abrigar 50 mil espectadores, número muito expressivo até nos dias de hoje. Cinqüenta mil pessoas certamente têm poder de opinião.

Chegamos a 2008 d.C., e o Coliseu ainda está de pé. Meio descascado e faltando alguns pedaços, porém de pé. Alguns sentem estranhas sensações ao percorrer aquelas arquibancadas. Sentem-se parte da história. Ouvem sons vindos de quase dois mil anos atrás. Quem percorre as ruínas do Foro Romano, com seus palácios e templos, tem mais paz. Há menos turistas andando por lá. Na Colina Palatina, local do nascimento de Roma, pode-se ficar quase sozinho. Menos turistas se aventuram por lá, talvez pela ausência de lojas de lembranças ou de cafés. Sentado sobre uma pedra, observando o Circo Máximo, me ocorreu que a história se perpetua. Foram-se as lutas de gládio, proibidas por Constantino I, ficou o Big Brother Brasil, com seus paredões. Se você deseja que o gladiador 1 morra, disque qualquer-coisa-1. Se deseja que o gladiador 2 morra, disque qualquer-outra-coisa-2. Só não deixe ambos viverem. O público não gosta de finais muito felizes, passando a exigir mais pão. Procuro a tecla correspondente ao Foro Romano, no controle remoto, mas não consigo localizá-la.

prheuser@gmail.com

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

Libertem Carla Bruni!



Uma brincadeira que vi na Luz de Luma. :)

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segunda-feira, janeiro 14, 2008

Natal 2007 Atrasado - Bem Atrasado - A Árvore RBS / TAM / Casas Bahia



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quinta-feira, janeiro 10, 2008

Ratzinger fala sobre o Inferno

Não tenho especial apreço pelo papa e pela instituição medieval mais longeva do mundo, a mais duradoura monarquia por direito divino. Mais do que isto: dirigida ao empíreo pelo próprio Deus. O preâmbulo é necessário ao dizer que li ontem no Corriere della Sera, o melhor diário em circulação (embora mirrada) no País, um texto assinado por Joseph Ratzinger em março de 1968. Faz parte de um livro recém-lançado na Itália pela Editora Rizzoli, intitulado Porque estamos ainda na Igreja. Reúne discursos e aulas do papa atual, pronunciados e ministradas ao longo de quarenta anos na Academia católica da Baviera. E agora confesso: trata-se de um texto magistral, na forma e no conteúdo. Tese central: o Inferno é a solidão. O homem teme a morte porque ela é o momento extremo da vida, aventura irremediavelmente solitária. Até na cruz, o próprio Jesus desce ao Hades, aos Ínferos, com seu grito de morte: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. “Deus – escreve Ratzinger, – não é somente a palavra compreensível, ele é também a causa silenciada e inacessível, incompreendida e incompreensível”. E mais adiante: “Ao conhecermos Deus como silêncio, poderemos esperar ouvir a fala que emana do seu silêncio”.O teólogo não desdenha citar Sartre e Ernst Kasermann, na referência à “aparente ausência de Deus", revelada pela realidade terrena. E vem a pergunta: “Que é realmente a mortre e que acontece depois, quando alguém morre e entra portanto no destino da morte?”. E volta ao apelo desesperado de Cristo crucificado. “O núcleo mais profundo da sua paixão não é a dor física, e sim a radical solidão, o abandono completo”. O autor recomenda então dilatar o alcance da pergunta, para concluir: Inferno significa “uma solidão na qual não mais se ouve a palavra do amor, significa a verdadeira suspensão de existência”. De fato, algo é certo: “Há uma noite em cujo abandono não chega voz alguma”. Por isso um único vocábulo quer dizer ao mesmo tempo inferno e morte no Antigo Testamento: scheol. Enfim a palavra da esperança, que ao teólogo não poderia faltar: ao viver a morte como qualquer mortal, Cristo está “onde voz alguma pode alcançar”. No “coração da morte fica a vida, fica o amor”. Acho que crentes e não crentes haverão de concordar: o texto desvenda uma alma poética e um pensamento filosófico atilado.

Do blog do Mino Carta.

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quarta-feira, janeiro 09, 2008

Photochopp

BBB 8

E a definição definitiva de reality show: um monte de gente sem nada pra fazer assistindo um monte de gente fazendo nada.
Ou, como definiu a Grazi: "O "BBB" é muito bom para o auto-conhecimento de si mesmo".

José Simão, comentando o Big Brother Brasil, que este ano está chegando à sua oitava edição, na Folha de São Paulo, de 9 de janeiro de 2008.

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Gilberto Gil: Tempo Rei

Tempo Rei
Não me iludo
Tudo permanecerá
Do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando
Todos os sentidos...

Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva
E pelo eterno vento...

Água mole
Pedra dura
Tanto bate
Que não restará
Nem pensamento...

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...

Pensamento!
Mesmo o fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos...

Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas
De repente ficam sujas...

Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo...

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...(2x)

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domingo, janeiro 06, 2008

Viver com as Imagens

Aos 26 anos de idade, Adolfo Bioy Casares (foto) escreveu seu primeiro romance, “A invenção de Morel” (publicado no Brasil pela Cosac Naify, com tradução de Samuel Titan Jr., prólogo de Jorge Luís Borges e posfácio de Otto Maria Carpeaux). Para Borges, uma ficção de índole policial. Para Carpeaux, uma história de ficção científica que trata da construção de uma máquina fantástica. Escrito em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, o livro de Casares é um bom texto para iniciar 2008, em um mundo saturado cada vez mais pela imagem e pelas fantasias de potência e imortalidade a um preço bem baratinho. Ao refletir sobre a invenção de Morel, o narrador afirma:

“Viver com as imagens é uma felicidade! A eternidade rotativa (das imagens) pode parecer atroz ao espectador, é satisfatória para seus protagonistas. Livres de más notícias e de enfermidades, vivem sempre como se fosse a primeira vez, sem recordar as anteriores. Para as imagens não existe uma próxima vez (todas são iguais à primeira)”.

“O fundamento do horror de ser representado em imagens, que alguns povos sentem, está na crença de que, ao se formar a imagem de uma pessoa, a alma passa para a imagem e a pessoa morre” (...) “Seria o caso de inventar um aparelho que permita averiguar se as imagens sentem e pensam – ou, ao menos, se têm os pensamentos e as sensações que passaram pelos originais durante a exposição; é claro que não será possível averiguar a relação de suas consciências (?) com esses pensamentos e sensações”.

Borges resume o argumento do livro de Bioy Casares com um trecho de uma música de Dante Gabriel Rossetti:

Estive aqui antes,

Mas quando e como não sei.

Conheço a relva além da porta,

O perfume doce e penetrante,

As luzes pela costa, os sons murmurantes...

No mundo espetacular das imagens, há cores, formas, sons e odores. Só falta a consciência da presença, da mortalidade. É um mundo povoado pela ausência e por uma fracassada ambição de imortalidade. Sem a consciência de si mesma, a imagem assume a forma de um fantasma a flanar pelo mundo, descolado daquilo que foi um dia (ou que poderia ter sido).

Marco Aurélio Weissheimer, no RS Urgente, em momento filosófico-literário.


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quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Palestina do Espetáculo Triunfante e o Tempo


A Katarina, no blog dela, o Palestina do Espetáculo Triunfante, escreve um texto com o título “Limite à Idéia de Uso I”, em que divaga (?) sobre uma série de coisas. Uma série de coisas pode ser quase tudo, e quase nada, assim vou destacar o que mais me chamou a atenção, que foi a condenação da idéia de advento, bem como da nomeação de gurus, e por fim, a questão do tempo.


Já ouvi falar, ou talvez eu tenha lido em algum lugar que bons livros, ou bons filmes, são aqueles que temos vontade, às vezes necessidade, de reler, ou rever. Pois este “post” da Katarina já foi lido umas três ou quatro vezes por mim. O que traz algumas conseqüências. Por exemplo, apesar de ter lido este tanto, sabe lá se eu realmente entendi o que ela quis dizer. Ou, quando será que virá o próximo “post” a respeito do assunto, ou continuando o assunto? Eu já comentei que os textos do blog dela tem um quê de sublime, e algo de difícil de compreender, o que poderia resultar em obscuridade e prolixidade, mas acredito que não seja isso, mas sim a questão de tentar domar os conceitos e aplicar precisão ao que se está querendo dizer, nos limites do possível. Ainda mais que ela cita como leitora no momento de Anscombe, que, se entendi corretamente é uma filósofa analítica britânica, leitora e intérprete de Wittgenstein, e, curiosamente, católica. Isto tudo está versão em inglês da Wikipédia. O verbete da Wikipédia em português sobre a filósofa é da pobreza de uma única frase.


Quanto à questão de gurus, eu não poderia concordar mais com ela. As pessoas não deveriam procurar por gurus, mas procurar elas mesmas os caminhos que devem seguir em suas vidas. Claro que seguir um guru pode tornar as coisas mais fáceis, mas também pode levar a grandes decepções. E como se poderia esperar, ela mesma se exime de ser, mesmo eleita por terceiros, guru, ou gurua como ela diz.


Quanto ao advento, bem aí é uma questão mais complicada. Eu continuo adepto de um ramo desta religião, que surgiu de uma seita do judaísmo antigo, isto é, o cristianismo. Porém, diferentemente da filósofa Elizabeth Anscombe, eu acabei por me converter a um dos tantos ramos protestantes desta fé. Mas o surgimento de Jesus, para os cristãos em geral, é um advento. O cristianismo propõe alguns eventos que o senso comum pós-iluminista estabelece, na melhor das expectativas como “mitos”. E estes eventos, para os cristãos que estabeleceram uma ortodoxia, dizem que Jesus nasceu de uma virgem, e o caso aqui fica mais complicado, pois a criança gerada no ventre de (Santa) Maria, foi gerada pelo Espírito Santo. Não foi uma inseminação artificial com o sêmen de (São) José, que tecnicamente poderia funcionar sem comprometer a virgindade de Maria. Pois o nascimento de Jesus é um “advento”, por assim dizer. Os Evangelhos canônicos que falam da infância de Jesus, comentam que Ele é o Salvador do mundo, com o livro de Lucas narrando muitos eventos “gloriosos” (fantásticos? maravilhosos?) que acompanham a concepção, o nascimento e a infância de Jesus. O cristianismo então, estabelece, no início de seu surgimento um advento fantástico, e em seu final, um Juízo Final, com um julgamento de vivos e mortos, e, inclusive, crêem alguns, um “rapto”, o arrebatamento dos cristãos próximo da tempo da volta de Jesus ao mundo. Adventos marcam o início, e prevêem o fim do cristianismo. Este grande balão para iniciar a discussão do advento.


Mas acho que o advento dela tem a ver com a mesma questão dos gurus. Se não queremos gurus, não deveríamos aguardar o advento de algo que venha a romper com o universo, ou com a sociedade humana mais ou menos tal qual ela existe hoje. É improvável, pelo que pude compreender da Katarina, que de nossa ordem, digamos natural, coisas sobrenaturais possam acontecer, de maneira a transformar a essência (opa!) dos seres humanos. (Claro que um crente pode continuar acreditando que uma intervenção sobrenatural, divina, venha a realizar esta transformação essencial, mas isto não é a questão aqui.) Acho que a Katarina gostaria de nos relembrar que em nome do “advento”, pequenas e grandes sociedades, crentes ou agnósticas, já perpetraram grandes crimes em nome da nova sociedade adventícia. Todo cuidado então é pouco ao se falar de advento.


E eu nem pensava em falar sobre advento.


A minha grande questão era sobre o tempo. Sim, foi sobre o tempo que eu acabei fazendo comentário ao “post” dela. Lá pelo final, o “post” informa: “Então é isto: este post se chama, na real, Em defesa da realidade do tempo.”, e eu perguntei, o que, afinal, entre tantos conceitos, significa o tempo? Pois, nós humanos estamos acostumados a medir o tempo na nossa escala natural: um dia é uma volta do planeta Terra, em que vivemos, em torno de si mesmo; um ano solar é a soma de 365 dias, mais algumas horas, ou aproximadamente o tempo em que o planeta Terra leva para dar uma volta em torno da estrela chamada Sol; ou um ano lunar que são doze ciclos lunares completos, e as horas são nossa medida para o aparente avanço do sol sobre nossas cabeças, mais o período que ele demora a aparecer após se pôr. Esses ciclos geravam o que viemos a chamar de estações do ano, nas sociedades de clima mais temperado (temperado, huummmm...) em que havia o melhor momento para plantar, para colher, etc, etc. Isto tudo antes da revolução científica. E antes de Einstein e suas teorias da Relatividade.


A vulgarização das teorias da Relatividade informa que a passagem do tempo depende da velocidade do observador, em relação ao objeto observado, sendo que, eventualmente, o observador seja parte do quadro observado. Mas tais coisas só seriam sensíveis ao ser humano comum, se esta velocidade pudesse chegar próxima da velocidade da luz, os tais aproximados 300.000 km/s. Assim, digamos que existissem dois irmãos gêmeos, um foi ser astrônomo, e o outro foi ser astronauta. Este último conseguiu fazer parte de uma missão que iria da Terra a Titã, um satélite de Saturno que fica a quase 1,3 milhão de quilômetros da Terra. Esta missão seria realizada com uma nova espaçonave que alcançaria hipotéticos 255.000 km/s, ou 0,85 vezes a velocidade da luz. A missão estabeleceria que a nave após alcançar Titã, permaneceria 72 horas terrestres em órbita do satélite, e, se fosse possível pousar, 24 horas terrestres coletando material do solo e da atmosfera de lá. Mas que tal? Depois que saísse da atmosfera terrestre a poderosa nave alcançaria Titã em 5 segundos, e levaria outros 5 segundos na viagem de volta. A missão demoraria 96 horas e alguns segundos, mas estes segundos será um período muito maior de tempo para o irmão astrônomo que permaneceu na Terra.


Pois é, Katarina. Que tempo? Qual tempo? O que é tempo?


P.S. Um colega me ajudou com o cálculo. E chegou a conclusão que a diferença de tempo passada entre os dois irmãos gêmeos seria de apenas alguns segundos a mais, e isto se deveria à “pequena” distância existente entre a Terra e Titã. No exemplo clássico, o irmão astronauta iria para fora do Sistema Solar, para um planeta junto à estrela mais próxima da terra, e quando retornasse continuaria relativamente jovem, e o seu irmão seria um homem idoso, quando não já falecido. Mas, insisto, de acordo com as teorias da Relatividade, o tempo ainda passaria mais devagar para um dois.


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Natal 2007 Atrasado - Fogos no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre



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Natal 2007 Atrasado - Decoração do Meu Local de Trabalho



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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Último Dia de 2007

E Porto Alegre estava calma. Parecia um sábado esta segunda-feira, que suportava mal a espera pelo novo ano que se avizinhava.

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